'Estamos Elencando Projetos Que Caibam no Bolso', Diz Presidente da Agência Espacial Brasileira
Olá leitor!
Segue abaixo uma
interessante entrevista com o novo presidente da AEB, o Sr. Carlos Moura, postada
ontem (11/05) no site do jornal “O Globo”. Vale a pena conferir e dar a sua opinião.
Duda Falcão
SOCIEDADE
'Estamos Elencando Projetos Que Caibam no Bolso', Diz Presidente da Agência Espacial Brasileira
Carlos Moura
assumiu cargo em janeiro disposto a racionalizar recursos e revisar projetos
sem capacidade de mobilizar a indústria
Roberto Maltchik
11/05/2019 -
16:58
Atualizado em
11/05/2019 - 16:59
Foto:
Reprodução/Gleice Oliveira/AEB
O presidente da Agência Espacial Brasileira, Carlos
Moura, na cerimônia de posse, em janeiro.
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No setor
espacial, a nova prioridade é o chamado "new space", o mercado de
microssatélites lançados em órbita baixa. E, depois de sucessivos fracassos, a
Agência Espacial Brasileira (AEB) se dedica ao desafios de construir um novo
foguete que atenda a essa demanda. A garantia é do presidente da AEB, Carlos
Moura, que assumiu em janeiro disposto a racionalizar recursos e a revisar
projetos sem capacidade de mobilizar a indústria.
Em entrevista ao
GLOBO, ele afirma que a agência vem "elencando projetos que estejam
atualizados tecnologicamente e que permitam que a indústria tenha um papel mais
proeminente". Ele ainda fala sobre encerramento do programa de satélites
Cbers, uma parceria entre Brasil e China, e as possibilidades que surgem com a
assinatura do acordo de salvaguardas tecnológicas com os Estados Unidos.
Qual deve ser
o enfoque dos investimentos no programa espacial?
Vivemos um
momento interessante. Estamos discutindo o plano para os próximos quatro anos e
queremos dar uma virada no que a gente fazia. Estamos estudando os programas, o
cenário tecnológico mudou muito. Muitas coisas já podemos fazer com satélites
menores. O nicho de pequenos lançadores para órbitas baixas é o preferencial.
Vamos precisar de muitos recursos, mas não dá para imaginar que teremos todos
os recursos necessários. Ainda não podemos falar em valores. Neste momento,
estamos fazendo uma revisão das missões e identificando quais estão em linha
com o novo cenário. Estamos elencando projetos que caibam no bolso, que estejam
atualizados tecnologicamente e que permitam que a indústria tenha um papel mais
proeminente.
O que deve
continuar e deve ser desativado?
O que já estava
sendo feito, pretendemos concluir. O satélite Cbers-4A será concluído. O
satélite Amazônia-1 também é importante para que possamos testar em condições
de órbita a plataforma multimissão (um equipamento de suporte técnico que
serviria para diferentes satélites). No setor de lançamentos, nós temos o
programa do VLM (Veículo Lançador de Microssatélites), que está calcado em um
motor inovador, que é o S-50, um motor de material composto. A Avibrás deve
realizar teste com tiro em banco ainda este ano para verificar a capacidade
propulsiva deste motor. Esses projetos devem prosseguir. No ano passado, foi
estudado o que seriam os projetos mobilizadores da indústria. O objetivo é
viabilizar os recursos para os projetos mobilizadores.
Até que ponto
o projeto do VLM, que tem problemas na parceria com a Alemanha, é viável?
Realmente,
enfrentamos dificuldades com os alemães. Eles têm certas limitações que talvez
não os permitam investir da forma como nós gostaríamos. É um projeto que foi
estabelecido há alguns anos, e ele vai nos servir como demonstrador de conceito
para avaliar se o motor S-50 terá o desempenho que a gente espera. Tudo indica
que ele vai ter um desempenho muito bom. Estamos trabalhando no projeto do
veículo lançador de microssatélites, que é o programa Aquila, baseado no motor
S-50. O que é um passo essencial, isso sim, é desenvolver o motor S-50. Tudo
está focado nisso.
É possível
alcançar o Áquila sem passar pelo VLM?
Seria muito bom
se a gente conseguisse o VLM rapidamente e, com base na experiência, atacar o
Áquila. Mas isso vai demorar, e é difícil recuperar o atraso. Fazer todos os
ensaios em solo e voar este motor são dois gargalos importantíssimos que devem
ser vencidos o mais rapidamente possível. Com essas informações, nós já temos
mais confiança no que será o projeto do Áquila. Até o VS-50 (voo experimental
do motor S-50) , o Aquila e o VLM estão agregados. A partir do VS-50, você tem
o VLM e o Aquila, que ou desenvolveremos sozinhos ou vamos agregar alguma
parceria para transformá-lo em um veículo competitivo. O VLM, do jeito que está
hoje, os estudos mostram que ele tem uma baixa capacidade de satelitização.
Precisamos de mais energia para colocar satélites em órbita.
Quando será
possível ter confiança no motor S-50? Há recursos para este programa
prioritário?
O nosso desejo é
conseguir fazer o primeiro voo do VS-50 no final do ano que vem. Para a
primeira contratação da Avibrás, os recursos estão garantidos. Agora, para o
desenvolvimento do programa serão necessários novos recursos. O mais importante
hoje não são os recursos, mas sim os gargalos tecnológicos que precisam ser
vencidos. Esse é um projeto prioritário. Além de recursos, precisamos de
pessoas e superar os obstáculos da governança do projeto, especialmente para a
realização de despesas. O motor S-50 é essencial. Em ordem de grandeza, para
voar o Aquila, a gente precisa de até US$ 150 milhões. Não é muito para um
programa espacial.
Qual é o
plano para não repetir insucessos, como foi o caso do VLS e do programa Cyclone
4?
Queremos um
veículo que, além do bom desempenho, ele tenha um custo satisfatório, que a
gente possa usar não só em lançamentos governamentais como também em
lançamentos comerciais. Quase todos os programas espaciais hoje contam, de uma
forma ou outra, com operações internacionais. Fazer sozinho, às vezes, demora
demais. No nosso caso, ao longo do tempo, a gente acabou dispersando demais ou
esforços e as equipes. A ideia é que a gente tenha um lançador que possa
permitir a derivação de outros produtos (novos foguetes).
Por que o
Brasil continua a perseguir um lançador de satélites próprio?
Caso contrário,
a gente só vai conseguir desenvolver satélites para fins acadêmicos. Posso dar
o exemplo do ITAsat, que ficou dois anos aguardando um lançamento. Sem um lançador
próprio, você não consegue lançar quando você quer, nem necessariamente na
órbita que você deseja. Por isso, acreditamos que vale a pena explorar o filão
de lançadores mais dedicados a pequenos satélites ou a microssatélites. Não
apenas para aplicações nacionais, mas também aplicações no exterior. Tudo leva
a crer que vão crescer projetos de constelações de satélites (vários satélites
que atuam em conjunto). E, para manter a constelação, são necessários
lançamentos de reposição. Lançadores de pequeno porte são adequados para este
tipo de atuação.
O que o
Brasil ganha de perspectiva com o chamado "new space"
Ele nos dá um
novo livro para o programa espacial brasileiro. Nós perdemos oportunidades
grandes nos anos 80 e 90 de fincarmos o pé no mercado espacial, como fizeram
China, Índia e Coreia. Agora, o "new space" é um avanço tecnológico
que veio a nosso favor. É um mundo de possibilidades para vários tipos de
empresas. É um desafio nosso é não atrapalhar. Criar ambiente de negócios que
acompanhem o "new space". A gente vai se favorecer muito com essa
nova tendência. Agora, o lançador de pequeno porte não é mais uma escola. Ele é
utilizável e vai ser demandado.
Qual é a
utilidade dos microssatélites?
Se nós
investirmos bem em aplicações de pequenos satélites ou de cubsat podemos usar
melhor a indústria nacional e atender uma série de demandas que são estagnados
por falta de oportunidade. Segurança, meio ambiente, monitoramento dos mares.
Demandas não faltam, o que falta é capacidade. Como podemos trabalhar com
satélites de pequeno porte ou constelações de satélites, nós certamente vamos
ter mais órgãos de governo ou agregados ao governo somando-se a nós. Há uma
série de usurários fortes no mercado governamental e na esfera privada.
Acredito que vamos conseguir desenvolver uma indústria de pequenos satélites e
de aplicações baseadas nesses produtos.
Como superar
o descrédito que o programa espacial passou a ter com a sucessão de fracassos?
O que aprendemos com os fracassos?
Dos programas
que não evoluíram adequadamente, como o VLS e o próprio Cyclone 4, tivemos
planejamentos que talvez não tenham sido os mais adequados, que não foram
readequados a tempo, sofrendo ainda com a falta de recursos. Cria-se uma pecha
de descrédito com a sociedade muito grande. O programa espacial sofre com o
descrédito. Não é bem assim. Cada vez que você faz um projeto, você aprende muita
coisa. O problema é que acaba-se dispersando esforços. Mas, de fato, é muito
frustrante você fazer um projeto, investir recursos e o projeto não ir adiante.
Mas acreditamos que, agora, com projetos com escopo mais adequado, em um
cenário de "new space", até com menos recursos, a gente consiga botar
Alcântara para funcionar de forma mais contínua e com qualidade para, daí sim,
virar a página dos projetos que acabaram não vingando.
Quando o
texto do Acordo de Salvaguarda Tecnológica com os Estados Unidos deve chegar ao
Congresso?
O texto do
acordo de salvaguarda deve chegar ao Congresso na próxima semana. Ele já está
na Casa Civil para ajustes finais e será levado ao Congresso nos próximos dias.
Isso é uma boa notícia. Agora, a gente tem que convencer os nosso
representantes que isso é realmente importante. Esse acordo nos abre a
possibilidade de apagar parte de nossos insucessos e entrar de vez no mercado
espacial. A expectativa no Congresso é positiva. Pelo menos nas comissões
temáticas, a grande maioria entende que é uma condição necessária para
ambicionar um mercado maior. Ele sozinho não garante nada, mas remove
obstáculos que abrem a possibilidade ambicionar um mercado maior.
E quando o
senhor espera vê-lo aprovado?
Sobre prazo de
aprovação, é difícil estipular datas com o Congresso, ainda mais com a agenda
relevante para o país que está sendo discutida. Mas percebemos que é bem
possível que o Congresso possa fazer a análise desse acordo de forma rápida, em
poucos meses. Nós já estamos sendo consultados sobre o depois. Empresas e
instituições que estão se preparando para o dia seguinte à aprovação do acordo.
Quais são os
primeiros passos, após a aprovação do acordo?
Do ponto de vista
da agencia espacial, temos as questões de certificações da empresas e do
próprio centro para assegurar questões segurança espacial. Temos ainda as
questões relativas ao ambiente de negócios. A situação jurídica de lançamentos
também está sendo discutida. Temos que introduzir as regulamentações que dizem
respeito à participação da iniciativa privada. Para isso, temos que ter um
arcabouço jurídico para os lançamentos. As empresas estão ávidas para serem
inseridas nesse processo, mas elas têm muitas dúvidas. Queremos discutir como
utilizar o marco legal da Inovação para o desenvolvimento da área espacial e
como fazer efetivamente negócios nessa área. Agora, para fazer os primeiro
lançamentos, nós já temos uma infraestrutura disponível. Isso será importante
para virar a página e dizer que temos um centro de lançamento de satélites.
Para dar a
partida no centro de Alcântara, qual é o investimento mínimo necessário? O
governo federal deverá investir mais?
O governo
federal deverá, sim, ser o indutor desses investimentos. Para começar, a gente
precisaria de muita pouca coisa. A gente acredita que com R$ 100 milhões
consiga implementar as principais coisas para ter uma operação de lançamento
mais confiável. Para o VLM voar hoje no Centro de Lançamento de Alcântara
seriam necessários R$ 100 milhões. Agora, isso é melhoria básica do que já
existe. Para implantação de coisas novas, cada projeto tem um volume razoável.
A implantação do aeroporto são R$ 70 milhões. Se for pensar em serviço de
hotelaria, os valores são mais altos. Se for falar no porto, são mais altos
ainda.
O satélite
CBERS 4-A será o último da série?
Nós temos
reuniões já no segundo semestre para verificar como avançaremos nessa
cooperação. Ao que nos parece, esse modelo de cooperação já foi muito
frutífero, mas talvez hoje ele não tenha a melhor relação custo-benefício. O
nosso diretor do INPE esteve na China recentemente. O nosso grupo voltou de lá
com algumas propostas interessantes em termos de compartilhamento de
informações. Eles têm diversos satélites em órbita e nos propuseram
compartilhar informações para a gente investir no processamento de informações.
Uma coisa é ter o satélite. A outra é saber tirar o melhor proveito das
informações que são captadas. Queremos continuar essa parceria.
Como seria
essa nova parceria?
Nós temos poucos
recursos para investir em satélites de médio ou grande porte. então, Nós temos
queremos investir em nanossatélites. Nós precisamos fazer adequações na nossa
plataforma multimissão. A gente quer discutir com os chineses propostas que
estejam adequadas à tendência no "new space". Dentro do escopo de
discutir possibilidades com a China, eles nos ofereceram a possibilidade de
utilizar informações que eles já recebem de outros satélites para serem usadas
pelo INPE e outras instituições em proveito dos nossos estudos ambientais. O
leque de possibilidades está aberto. O importante é que a China é um grande
parceiro. Eles têm algumas demandas parecidas com as nossas. Já cooperamos. A
parceria tem que caber no nosso bolso e deve ser a mais interessante possível
para os dois lados.
Fonte: Site do
Jornal o Globo - http://oglobo.globo.com
Comentário: Pois é leitor, tá ai a esclarecedora entrevista
com o novo presidente da AEB. Com a palavra a comunidade espacial brasileira.
Excelente visão do Cel. Moura! Atual, racional e principalmente realista!
ResponderExcluirTambém gostei da entrevista. Parece uma visão bem lúcida e com os pés no chão. Mas ainda fico triste em saber que a burocracia brasileira destrói muitos sonhos. Como conceber que o acordo de salvaguardas demore tanto para ser aprovado? O Cel. Moura, com sua visão otimista, estima que demore ainda alguns meses para que o acordo seja aprovado. Só após a aprovação, o CLA se tornará um canteiro de obras para adequação. Sabe lá Deus quanto tempo mais demorará para que fique pronto para lançamentos da envergadura do que sugere o acordo. 2021? 2022? Aí já chega outra eleição e voltamos a insegurança jurídica que paira em toda final de gestão e inicio de outra. Ou nossa sociedade, de alguma forma, evolui e começa a pensar no longo prazo ou seguiremos com muitas boas ideias que só duram 4 anos e que muitas vezes não vingam, tal qual o VLS, Cyclone 4 e tantos outros. Boa semana, pessoal.
ResponderExcluireu não posso afirmar, porquê o projeto VLS-1 era militar, mas levo a crê que não houve lançamentos anteriores do primeiro lançamento com satélite a bordo, que pela lógica de funcionalidade, primeiro deveria os primeiros lançamentos serem feitos sem satélites a bordo, para se testar primeiro o lançador por inteiro antes e só depois de lançamentos positivos 100% aí sim deveria por satélites a bordo, mas não foi isso que foi feito na época, eu achei um desperdício , se perderam 5 satélites nos 3 vôos programados.
ResponderExcluirQue pena eu estava aguardando o lançamento do VS-50 para o final deste ano, agora a promessa é só no final do próximo ano. Nuca cumprem o cronograma previsto.
ResponderExcluirPois é , a área de lançadores devia ter prioridade absoluta , estamos atrasaderrimos em lançadores.
ExcluirPara esclarecer, os VLS foram lançados com satélites do INPE, verdadeiros e caros, o SCD-2A, SACI-2 e SATEC.
ResponderExcluirAlguém percebeu que o texto está cheio de erros de digitação, alguns grosseiros como "usurário"?
As justificativas para termos um lançador estão mal argumentadas, eu participei da compra do lançador do Amazonia-1 e escolhemos órbita e outros detalhes. Nosso presidente da AEB precisa preparar-se mais.
um abraço Duda!
Olá Dr. Mário!
ExcluirInfelizmente erros de português e técnicos sobre o PEB da mídia brasileira não é algo de novo e ocorre muito frequentemente, inclusive por parte da assessoria de imprensa da própria Agência. Também concordo que o novo presidente da AEB precisa se preparar melhor e acho até que esteja buscando isso, mas esse é um outro erro que não é de agora, o ultimo presidente por exemplo era um completo tapado, e pior, pesa sobre seus ombros dúvidas sobre a sua gestão que precisam ser minunciosamente investigadas.
Abs
Duda Falcão
(Blog Brazilian Space)