Mercado Mundial de Lançamento de Satélites
Olá leitor!
Segue abaixo um interessante artigo postado dia (18/05)
no novo Blog Space Economy tendo como tema o Mercado Mundial de Lançamentos de
Satélites.
Duda Falcão
Mercado Mundial de Lançamento de Satélites
Por Bruno Henrique Mattos*
Space Economy
Sábado, 18 de maio de 2019
Nos últimos anos, quem acompanha a indústria espacial
mundial vem percebendo a entrada da iniciativa privada no mundo dos lançadores
de satélites. O que era no século passado uma atividade majoritariamente
conduzida por governos e financiada sem promessas de retornos financeiros
diretos, agora atrai empreendedores no mundo todo. Nos EUA, os bilionários Jeff
Bezos, Ellon Musk e Richard Branson apostam parte de suas fortunas e reputações
no mercado de lançadores, e como consequência atraem a atenção de jovens
empreendedores e sonhadores do mundo todo, inclusive do Brasil. Mas afinal, que
mercado é esse? Qual é relação risco retorno que justificava essa nova corrida
espacial? Até onde vai a emoção e o entusiamo pela tecnologia e onde começa o
retorno financeiro?
Pois bem, para começarmos a analisar esse exótico
mercado, vamos fazer uso dos dados que temos disponíveis na internet com as
informações dos satélites colocados em órbita nos últimos anos para derivarmos
algumas estimativas e conclusões com relação ao mercado de lançadores.
Basicamente, utilizaremos as seguintes informações de
cada satélite colocado em órbita:
·
Data do lançamento;
·
Massa de lançamento do satélite (kg);
·
Tipo de órbita (LEO, MEO, GEO); e
·
Veículo lançador.
Ressalvo que a análise apresentada aqui é preliminar, com
os valores sendo estimados de forma simplificada e com base em várias premissas
que serão apresentadas ao longo do texto. Por hora, vamos focar no objetivo
exclusivo de obtermos a ordem de grandeza desse mercado e de seus principais nichos.
Visão Geral
O gráfico abaixo apresenta o número total de satélites
lançados anualmente nos últimos 11 anos com a diferenciação da massa de
lançamento. Além disso, o gráfico também apresenta o número total de
lançamentos ocorridos em cada um dos anos analisados (linha preta).
Percebemos claramente o aumento no número total de
objetos lançados ao espaço nos últimos anos, com destaque ao ano de 2017 que
teve 388 satélites lançados, correspondendo a um aumento de cerca de 160% com
relação ao ano de 2015.
Observa-se, no entanto, que o aumento do número de
satélites se deu principalmente devido a entrada dos satélites com massa
inferior a 10kg, os chamados nanossatélites. Só ano de 2017, por exemplo, a
empresa Planet Labs lançou mais de 150 nanossatélites 3U para compor sua
constelação de sensoriamento remoto, dos quais 100 foram lançados em um único
lançamento a bordo do lançador indiano PSLV.
Figura 1: Histórico de lançamentos de satélites (todas órbitas). |
Destaca-se também que, nos últimos anos, houve um
expressivo aumento do número de satélites lançados nas faixas 1-10kg, 10-100kg
e 500-1000kg. No entanto, o aumento na faixa de 500-1000kg ocorreu pontualmente
nos anos de 2017 e 2018, devido, principalmente, ao lançamento da constelação
de satélites Iridium Next com massa de lançamento de cerca de 900kg cada.
Outro ponto interessante para se observar é que boom da
demanda por lançamento de nanossatélites e microssatélites foi
absorvida majoritariamente pelos lançamentos conjuntos, ou seja, com esses
satélites sendo lançados como cargas secundárias (carona), o que manteve a
curva de número de lançamentos praticamente inalterada, com um crescimento
acumulado de aproximadamente 100% nos últimos 10 anos.
Muito bem, mas como todo esse crescimento no número de
satélites lançados ao espaço se apresenta na forma de receita?
Para chegarmos em um estimativa do valor de mercado de
lançamento, vamos primeiramente dividi-lo nas três principais categorias de
órbita: os de baixa órbita (até ~1,000km altitude), chamados aqui de LEO, os de
órbita média (~22000km), chamados de MEO, e os de órbita geoestacionária
(~36,000km de altitude), chamados de GEO.
Nota: de 2008 a 2018, apenas 1.7% dos satélites lançados
não foram posicionados em nenhuma dessas órbitas.
Além disso, vamos usar a massa de lançamento de cada
satélite lançado para estimar o respectivo custo de lançamento. Para
parametrizar o custo de lançamento por kg do satélite, além da diferenciação
nas categorias de peso, vamos diferenciar com relação a órbita final
posicionada, conforme apresentado na tabela abaixo.
Os custos publicados no site da empresa Space Flight foram
utilizados para chegar nos valores médios apresentados na tabela abaixo.
Sabemos que esses valores não representam com exatidão a
realidade dos custos de mercado de todos os lançamentos ocorridos no intervalo
estudado. Mas eles servem como uma boa base para estimarmos o valor teórico de
mercado com os custos médios comerciais praticados atualmente. Obviamente, com
o aumento da competitividade e com as melhores tecnologias empregadas nos
lançadores, esses valores continuarão a cair no futuro.
Vamos então, aos resultados:
Mercado de Lançamento de Baixa Órbita (LEO)
O gráfico da figura abaixo apresenta a estimativa da receita total dos
lançamentos de órbita baixa (LEO) ocorridos nos últimos 11 anos, com a
composição do mercado pelas categorias de massas de lançamento dos satélites.
Observa-se que, em contraste com o gráfico da Figura 1, o
gráfico da Figura 2 mostra que a categoria que mais contribuiu para o
crescimento dos últimos dois anos do mercado de lançamentos LEO foi a faixa de
500-1000kg apesar do forte crescimento do número de satélites da faixa de
1-10kg lançados no mesmo período.
Quando investigado, percebe-se que esse forte crescimento
da demanda por lançamento de satélites da categoria 500-1000kg ocorreu devido à
constelação Iridium Next, a qual lançou em 2017 e 2018 mais de 70 satélites de
aproximadamente 900kg cada. O que mostra, claramente o efeito da entrada de uma
grande constelação de baixa órbita com satélites de médio porte no mercado LEO.
Alias, é justamente isso que se espera para os próximos
anos, com a promessa do lançamento das grandes constelações de comunicação de
banda larga de baixa órbita, tais como, das empresas OneWeb, SpaceX e Telesat,
que juntas prometem colocar em órbita mais de 4400 satélites de baixa órbita
nos próximos anos.
Figura 2: Mercado LEO.
|
Na parte inferior do gráfico, destaca-se o mercado de
lançamento LEO dos pequenos satélites (até 500kg), o qual vem sendo o foco do
desenvolvimento de vários pequenos lançadores, inclusive do lançador VLM, em
desenvolvimento pelo Brasil em parceira com a Alemanha. Observa-se, que nos
últimos 2 anos esse nicho do mercado LEO ultrapassou a casa de 200 milhões de
dólares/ano.
Mas isso é retrato do passado, como anteriormente
mencionado, a entrada das grandes constelações tem o potencial de deslocar esse
mercado para outro patamar, assim como fez a constelação Iridium Next para a
faixa dos 500-1000kg. A constelação OneWeb, por exemplo, já lançou, em 2019,
seis dos 648 satélites que pretende lançar com massa de lançamento de 150kg por
satélite.
Mas cabe aqui uma ressalva: todos os médios e grandes
veículos lançadores comerciais existentes competem por esse nicho dos pequenos
satélites, com o lançamento de múltiplos desses satélites em um só lançamento.
Os novos entrantes, portanto, definitivamente, não vão encontrar um mar azul. A
disputa por menores preços de lançamento, maior confiabilidade e por menor
tempo de espera para lançamento seguirão sendo os fatores chaves para
competitividade.
Mercado de Lançamento de Órbita Média (MEO)
O mercado de órbita média, tipicamente, demandado pelas
constelações de navegação (GNSS), apresentou um expressivo crescimento nos
últimos anos, conforme apresentado no gráfico da Figura 3, girando em torno de
600 milhões de dólares em 2018.
Esse crescimento pode ser justificado com a entrada das
novas constelações de navegação por satélites em complemento a famigerada
constelação GPS, tais como: a russa GLONASS, a chinesa BeiDou e a europeia
Galileo.
Além das constelações de navegação, esse crescimento
observado na categoria de 500-1000kg, pode ser atribuído também ao lançamento
da constelação de órbita média de comunicação banda larga da empresa O3b.
Figura 3: Mercado MEO. |
Mercado de Lançamento de Órbita Geoestacionária (GEO)
Não há dúvidas que este é o mercado dos pesos pesados e,
consequentemente, das maiores receitas por lançamento. O gráfico da Figura 4
apresenta que o mercado de lançamento GEO teve uma média anual histórica dos
últimos 10 anos de cerca de 4 Bilhões de dólares, o que equivale a
aproximadamente quatro vezes ao mercado LEO, se tomarmos a média histórica de
2008 a 2016.
O gráfico também apresenta o que é atualmente ainda
sentido pelas fabricantes de satélites: um forte arrefecimento do mercado de
geoestacionários de comunicação (GeoCom) nos últimos anos e consequentemente no
número de lançamentos GEO.
Essa diminuição na demanda por novos GeoCom pode ser
explicada pelo menor crescimento econômico mundial, assim como, pelo aumento
abrupto da competitividade no setor de comunicações banda larga por satélite
gerado pela entrada das grandes constelações de órbita baixa e média, conforme
discutido anteriormente.
Figura 4: Mercado GEO.
|
Conclusão
O mercado global
de lançamento de satélites totalizou nos últimos anos um faturamento médio
equivalente a 6,5 bilhões de dólares por ano, dos quais, praticamente, 2 bi
foram direcionados para contratos de lançamento de órbita baixa, 0,5 bi para os
lançamentos de órbita média e 4 bi para o lançamento dos satélites
geoestacionários.
Vimos que o
mercado LEO foi impactado fortemente, nos últimos dois anos, com a demanda de
lançamentos da constelação Iridium Next, que colaborou sozinha com cerca de
U$2Bi do faturamento da empresa SpaceX, em 2017 e 2018, (a SpaceX foi a
principal contratada para os lançamentos da Iridium Next). O que nos mostrou
claramente que as futuras grandes constelações de órbita baixa com satélites de
massa acima de 150kg vão corresponder a maior fatia de faturamento e
crescimento desse setor nos próximos anos.
Vimos também que
o mercado MEO, apesar de sua menor significância histórica em comparação aos
mercados LEO e GEO, apresentou forte expansão nos últimos anos graças à entrada
das novas constelações GNSS, além da entrada da empresa O3b no mercado de
comunicações banda larga.
No mercado de
lançamentos GEO, vimos que apesar de seu maior tamanho histórico (cerca de
U$4Bi por ano), esse setor apresentou contração nos últimos anos e não tem no
curto/médio prazo a mesma potencialidade de crescimento que o mercado LEO.
Para complementar
nosso entendimento do mercado de lançadores, deixamos para as próximas
discussões os seguintes tópicos:
·
Qual é
o market share dos principais players desses
mercados?
·
Qual
fatia desses mercados é acessível para a "livre" competição?
·
Como
esse mercado se divide entre os centros de lançamentos espalhados pelo mundo?
* Profissional do setor espacial (Engenheiro Aeronáutico),
entusiasta por finanças corporativas e data science.
Fonte: Blog Space Economy - https://spaceconomy.blogspot.com
Comentário: Pois é leitor, um interessante artigo que inaugura as atividades de mais um Blog especializado na área espacial no Brasil, com enfoque mais específico em análise econômica do setor (lançadores, sítios de lançamento, fabricação de satélites até os serviços). Assim sendo eu gostaria de parabenizar ao Eng. Aeronáutico Bruno Henrique Mattos pela sua iniciativa e ao mesmo tempo lhe desejar sucesso.
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