Cientistas Paulistas Se Unem a Consórcio Internacional Para Lançamento de Pequenos Satélites
Olá leitor!
Segue abaixo um interessante artigo publicado dia (04/06) no site da
Agência FAPESP, destacando que um grupo formado por cientistas paulistas se unem a
consórcio internacional para lançamento de pequenos satélites.
Duda Falcão
Notícias
Cientistas Paulistas Se Unem a Consórcio Internacional
Para Lançamento de Pequenos Satélites
Por Maria Fernanda Ziegler
Agência FAPESP
04 de junho de 2019
(imagem: RLS)
Pesquisadores do Estado de São Paulo vão integrar um
consórcio internacional que visa o lançamento de pequenos satélites de
observação da Terra. A expectativa é que o conjunto de equipamentos – menores
do que caixas de sapato – forme uma rede de sensores em órbita capaz de
fornecer imagens 3D de alta qualidade sobre o relevo terrestre, a formação de
nuvens e seu conteúdo.
Graças à tecnologia espacial, grandes satélites
multifuncionais giram ao redor da Terra, possibilitando o funcionamento da
internet, do GPS e a observação terrestre. No entanto, satélites menores e
capazes de trabalhar em conjunto vêm ganhando força recentemente. Eles permitem
a troca de informações com o solo de maneira mais eficiente e a obtenção de
imagens com boa qualidade.
“A maior vantagem dos mini e nanossatélites é que, por
estarem em altitudes mais baixas [a 300 quilômetros da superfície terrestre],
eles têm menor latência. Dessa forma, é possível que o fluxo de dados seja
feito em tempo real, ao contrário dos satélites geoestacionários. Outra
vantagem considerável é que o custo do lançamento de um satélite costuma ser
calculado pela sua massa”, disse Klaus Schilling, professor do Zentrum Für
Telematik (Alemanha) e líder do projeto, durante a reunião anual do Regional Leadership Summit
(RLS), realizada nos dias 27 e 31 de maio no Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (Inpe), em São José dos Campos (SP).
O RLS é um fórum composto por cientistas de sete regiões:
Bavária (Alemanha), Geórgia (Estados Unidos), Quebec (Canadá), Shandong
(China), Upper Áustria (Áustria), Western Cape (África do Sul) e São Paulo. O
objetivo é impulsionar a colaboração bi e multilateral para o desenvolvimento
de novas tecnologias.
Um dos acordos firmados no encontro realizado em São José
dos Campos – no âmbito do projeto Telematics International Mission (TIM) –
prevê lançar satélites com cerca de 3 quilos à órbita terrestre em 2021,
provavelmente de uma base chinesa.
Durante o evento, apoiado pela FAPESP, pesquisadores puderam trocar
experiências e planejar ações futuras.
“A reunião dá aos cientistas do RLS uma
oportunidade-chave para trocar experiências e impressões sobre seus trabalhos.
Permite ainda definir o que será discutido na 10ª Cúpula de Líderes Regionais,
que será realizada em Linz, na Áustria, no próximo ano”, disse Euclides de Mesquita Neto, membro da coordenação
adjunta para Programas Especiais e Colaborações em Pesquisa da FAPESP.
Inovação Colaborativa
De acordo com Geilson Loureiro, chefe do Laboratório de Integração e
Testes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (LIT-Inpe), a reunião
permitiu reunir empresas, institutos e universidades do Estado de São Paulo
para impulsionar o andamento da parte paulista do projeto de pequenos
satélites.
“Temos a tecnologia e a intenção de participar da
empreitada, que deve reunir, além de pesquisadores da Bavária, cientistas das
províncias de Shandong, Quebec e Western Cape. Reunimos integrantes das
empresas paulistas Visiona, Orbital e Cron e pesquisadores do Inpe, do Instituto
Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e da Universidade Federal do ABC para discutir
nossa participação e formular uma proposta de financiamento do projeto”, disse
Loureiro à Agência FAPESP.
A expectativa é ter até nove pequenos satélites
trabalhando em conjunto no projeto TIM, que vai permitir abordagens inovadoras
em áreas como observação da Terra, exploração científica e telecomunicações.
Embora já existam vários pequenos satélites orbitando a Terra, explicou
Loureiro, pesquisas de ponta na área atualmente se valem de equipamentos sendo
controlados a partir do solo. O projeto prevê que os satélites trabalhem em
formação, trocando informações de órbita e de atitude (orientação de um corpo
em relação a um referencial inercial) entre si.
Por enquanto, espera-se que a Bavária, líder do projeto,
contribua com três satélites. A província do Quebec deve participar do programa
com um satélite, e Western Cape, com uma câmera. Já a província chinesa de
Shandong está comprometida com o local de lançamento e um ou mais satélites.
São Paulo deve participar com um ou mais satélites e realizar no LIT-Inpe a
montagem, integração e testes dos satélites da formação.
“É algo completamente novo. Estamos agora tentando
coordenar a comunicação entre os satélites para ter uma cooperação real em
órbita. Quanto mais satélites temos em órbita, melhor. E com tantas regiões
cooperando, é mais fácil atingir essa meta. Fala-se muito em internet das
coisas e espera-se que 25 bilhões de objetos estejam conectados até 2020.
Porém, para prover isso é preciso que mini e nanossatélites tornem possível a
internet do espaço”, disse Schilling.
Loureiro destaca o potencial inovador do projeto
colaborativo. “Ainda não existem no mundo satélites trabalhando dessa forma,
com um controle mútuo, que se comunicam para controlar de forma coordenada a
órbita e atitude. A manutenção da atitude e posição relativa dos satélites
também é algo muito importante e inovador. Há ainda a propulsão iônica dos
pequenos satélites. Isso é importante para viabilizar o reposicionamento do
equipamento”, disse.
Quatro Áreas de Pesquisa
A reunião do RLS ocorre anualmente com a participação de
cientistas e empresas. A cada dois anos, participam também chefes dos Estados
participantes. Um dos objetivos do fórum é fomentar intercâmbios acadêmicos,
científicos e tecnológicos, bem como projetos multilaterais em quatro áreas de
pesquisa: RLS-Energy Network, o RLS-Expert Dialogue on Digitization, o
RLS-Global Campus Aeroespacial e o RLS-Small Satellites.
“São sete regiões do mundo colaborando em quatro grandes
áreas que se intercambiam – energia, digitalização, aeroespacial e pequenos
satélites – e trabalhando em três níveis: científico, empresarial e político”,
disse Fiona Rumohr, gerente de projetos do Bavarian Research Alliance GmbH, que
atua na colaboração entre Bavária e Quebec e no escritório do RLS Sciences.
Além de facilitar o desenvolvimento de pesquisas em
colaboração internacional e criar uma estrutura para o desenvolvimento
inovativo entre pesquisadores das sete regiões, o RLS busca auxiliar os
cientistas participantes a identificar oportunidades de financiamento.
“São regiões muito heterogêneas que têm
complementaridades e objetivos interessantes. Há alguns anos fizemos um
planejamento para a área de energia, mostrando no que cada região é mais forte
em termos de energia, em que lugar há mais desenvolvimento e em qual
tecnologia”, disse Gilberto Jannuzzi, presidente da RLS.
De acordo com Jannuzzi, na parte de energia foram
debatidas questões e projetos sobre cidades inteligentes. “Trouxemos para a
discussão o projeto que está sendo realizado na Unicamp [Universidade Estadual
de Campinas], o campus sustentável. O trabalho foi bem aceito nas discussões.
Existem projetos parecidos em Quebec, por exemplo. A ideia é aprender a gerir
uma cidade inteligente, gerenciar a rede elétrica do campus como uma pequena
cidade e integrar transporte [incluindo ônibus elétricos]”, disse Jannuzzi.
Ainda no campo da energia, há uma colaboração entre
pesquisadores alemães e brasileiros para estudar o impacto das fontes renováveis
de energia no meio ambiente e a interferência da natureza no processo, bem como
um estudo multilateral sobre armazenamento de energia.
“Podemos contribuir com a visão de várias disciplinas.
Temos engenheiros, economistas, cientistas sociais que formam um grupo capaz de
gerar subsídios científicos para decisores políticos. Estamos pensando nas
necessidades de cada região para a transição energética”, disse Sebastian
Goers, pesquisador do Departamento de Economia Energética da Universidade de
Linz, na Áustria. O economista participa de um grupo de pesquisa sobre
armazenamento energético.
No campo aeroespacial, as regiões estão se organizando
para fazer um campus virtual de aeronáutica. “Além das colaborações bilaterais,
com parcerias em pesquisas, estamos desenvolvendo um projeto chamado Mini
Campus Aerospace. É uma universidade totalmente virtual na área de ensino e
pesquisa em nível de graduação e pós-graduação”, disse Mesquita Neto.
Outro interesse do consórcio é o desenvolvimento
econômico gerado a partir da pesquisa. "É um fórum com diferentes regiões
que têm interesses comuns e complementaridades em termos de pesquisa. Quanto
mais houver colaborações que aumentem a inovação, melhor. Colocando diferentes
equipes de pesquisadores trabalhando juntas é possível acelerar a
inovação", disse Patrick Hyndman, diretor da área de parcerias do
Ministério da Economia e Inovação de Quebec.
Quebec sediou a reunião do ano passado, que, além do
corpo técnico, contou com a participação dos chefes de Estado das regiões.
"No próximo ano, o tópico do encontro será smart regions (regiões
inteligentes). Temos muito a oferecer nesse campo, pois Quebec tem evoluído
muito em inteligência artificial. Queremos integrar as tecnologias de smart
regions também para os campos de manufatura e supply chain [gestão
da cadeia de suprimentos]. No campo de digitalização, temos interesse na área
relativa ao e-government, ou seja, em como implementar mais
informação e digitalização no governo como forma de ser mais transparente e
eficiente", disse Hyndman.
(Imagem:
RLS)
Tamanho do satélite em comparação a um copo. |
Fonte: Site da Agência FAPESP - http://agencia.fapesp.br
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