Astrônomos Se Rebelam Contra os 12.000 Novos Satélites de Elon Musk
Olá leitor!
Segue abaixo um
artigo postado ontem (17/06) no site do jornal “El País Brasil”, destacando que
Astrônomos de rebelam contra os 12.000 Novos Satélites de Elon Musk.
Duda Falcão
TECNOLOGIA
Astrônomos Se
Rebelam Contra os 12.000 Novos Satélites de Elon Musk
O projeto da
SpaceX de usar os dispositivos para levar a Internet ao mundo todo poderia
mudar a imagem do céu noturno
Por Javier Barbuzano
El País Brasil
17 de jun de 2019
- 23:31 CEST
Foto: SpaceX
Conjunto de satélites Starlink antes de serem liberados
pela segunda etapa do Falcon 9.
|
O mundo da
astronomia entrou em estado de alerta devido aos planos da empresa
aeroespacial SpaceX, fundada pelo bilionário Elon Musk, de
colocar em órbita uma constelação de cerca de 12.000 satélites antes do fim da
próxima década. O projeto, batizado de Starlink, permitirá conexões da Internet em
praticamente qualquer ponto do planeta, mas também poderá alterar
irremediavelmente a visão das estrelas para toda a humanidade.
Existem hoje
cerca de 18.000 objetos de mais de 10 centímetros orbitando a Terra. Desse
total, 2.000 são satélites em funcionamento e o resto é lixo espacial:
satélites desativados, sucatas de foguetes e fragmentos procedentes de colisões
e acidentes. De todos esses artefatos, apenas cerca de 200 podem ser observados
a olho nu.
Os planos de
Musk significariam quase duplicar o número de objetos na órbita baixa da Terra,
onde “habitam” a Estação Espacial Internacional (ISS) e
o telescópio espacial Hubble. Outras empresas, como Amazon,
Telesat e Oneweb já anunciaram sua intenção de criar constelações similares,
cada uma delas formada por milhares de satélites. Portanto, é possível que
dentro de 10 anos vejamos no céu noturno mais satélites artificiais do que
estrelas.
A SpaceX deu o
primeiro passo. Em 23 de maio passado, lançou os primeiros 60 satélites a bordo
do foguete Falcon 9, de fabricação própria. Cada satélite pesa 227 quilos e
conta com um painel solar que carrega as baterias, mas que também pode refletir
a luz do Sul para a Terra. Dependendo do ângulo de incidência da luz solar,
durante alguns instantes o brilho dos satélites poderia superar o de qualquer
outra estrela do firmamento. Embora os planos da SpaceX não sejam secretos,
pouco depois do lançamento começou a soar o alarme entre os aficionados da
astronomia e os astrônomos profissionais, à medida que viralizaram vídeos dos
satélites cruzando lentamente o céu noturno. Nesse momento, seu brilho era
semelhante ao da Estrela Polar.
Os planos de
Musk
significariam
quase
duplicar o
número de
objetos na
órbita baixa da
Terra, onde
“habitam” a
Estação
Espacial
Internacional
e o
telescópio
espacial Hubble
Enquanto a
indignação se propagava nas redes sociais, Musk afirmou no Twitter que os satélites
só seriam visíveis ao amanhecer e ao entardecer, quando ainda refletiriam a luz
solar devido à sua altitude; durante a noite, ficariam ocultos pela sombra da
Terra. Musk, contudo, pode estar errado.
“A preocupação é
que, em certos momentos do ano, os satélites possam ser vistos durante a noite
toda”, explicou ao EL PAÍS o cientista Patrick Seitzer, da Universidade de
Michigan (Estados Unidos), um dos principais especialistas em monitoramento do
lixo espacial. Segundo Seitzer, os satélites de Musk poderiam ser vistos
durante toda a noite em algumas ocasiões, dependendo da geometria de sua órbita
e da posição do Sol em relação à Terra. “No Hemisfério Norte, entre maio e
junho, podemos ver a Estação Espacial Internacional passar quatro ou cinco
vezes por noite, não só durante o crepúsculo”, afirma. “A ISS é um satélite
numa órbita. Se houvesse outros 10.000 ou 15.000... bem, você entende por que
estamos preocupados.”
Membro da
Sociedade Astronômica Americana (AAS), Seitzer analisa atualmente essa situação
a pedido da SpaceX. “A SpaceX entrou em contato conosco [a AAS] depois do
lançamento, por causa das visualizações de satélites muito brilhantes no céu”,
explica. Ele ainda não quer antecipar suas conclusões, já que só poderá
determinar a visibilidade dos satélites quando terminar a análise. Por
enquanto, esses dispositivos vêm perdendo brilho à medida que sobem até sua
altitude final de 500 quilômetros, ponto em que só são vistos com o uso de
binóculos.
Ainda assim, os
satélites da Starlink podem dificultar a astronomia de duas formas. A primeira,
mais evidente, é passando na frente dos telescópios. Durante as observações
astronômicas, costuma-se utilizar tempos de exposição longos, permitindo que os
telescópios absorvam luz durante minutos ou até horas. Assim, é possível ver
melhor objetos distantes ou pouco luminosos. Se um satélite passa na frente
justo nesse momento, o que aparece na imagem é uma linha brilhante, tal como os
faróis de um carro numa foto noturna. E se isso acontece, o mais comum é que a
imagem fique inutilizada para uso científico e que a observação tenha de ser
refeita, o que aumenta os custos e nem sempre é possível.
Os telescópios
mais sensíveis a essas interferências são os que observam grandes porções do
céu em cada imagem. Usados para monitorar muitos objetos ao mesmo tempo, eles
são úteis para a busca de exoplanetas e a detecção de asteroides próximos da
Terra, por exemplo. O maior do mundo desse tipo é o Large Synoptic Survey
Telescope (LSST), ainda em construção no norte do Chile, que poderia fotografar
a totalidade do céu em períodos de poucas noites.
Os responsáveis
pelo LSST já divulgaram nota expressando sua preocupação. Estimam que
praticamente todas as imagens que fizerem nas primeiras e nas últimas horas de
cada noite conterão pelo menos um satélite da Starlink. Felizmente, disseram
que possuem mecanismos automáticos que podem descartar os pixels poluídos sem
perder toda a imagem. Por isso, afirmam, a Starlink para eles não será mais do
que um “incômodo”. Mas avisam que outros telescópios não terão a mesma sorte.
O segundo tipo
de problema é mais difícil de avaliar e controlar. Trata-se da poluição
eletromagnética que esses satélites produzirão ao emitir ondas de rádio para se
comunicar entre si e enviar o sinal da Internet à Terra. Essas ondas poderiam
interferir nos radiotelescópios, grades antenas que captam os sinais de rádio
que chegam do cosmo até nós.
Um exemplo
desses aparelhos é o telescópio IRAM Pico Veleta em Sierra Nevada, Granada (Espanha),
uma grande antena de 30 metros integrante da rede global que obteve a primeira
imagem de um buraco negro, publicada em abril de 2019. Como os radiotelescópios
são muito sensíveis à poluição eletromagnética, procura-se construí-los em
regiões isoladas, longe de qualquer tecnologia humana. A Starlink ameaça a
existência dessas “zonas tranquilas”, já que os satélites darão cobertura a
todo o planeta.
O Observatório
Nacional de Radioastronomia dos EUA (NRAO) anunciou que já colabora com a
SpaceX para tentar mitigar o possível impacto na radioastronomia. Entre as
soluções em estudo, incluem-se a criação de “zonas de exclusão” onde os
satélites deixariam de emitir e a não utilização das frequências mais
interessantes para os cientistas.
Se as constelações
de satélites forem desenvolvidas sem controle, poderão ocupar frequências ainda
não utilizadas para a pesquisa, mas que seriam exploradas à medida que
surgissem novos instrumentos. “Na prática, corremos o risco de que essas
constelações preencham janelas de observação que não poderão ser exploradas no
futuro”, explicou ao EL PAÍS o pesquisador José Luis Gómez, do Instituto de
Astrofísica da Andaluzia (IAA). Segundo Gómez, a situação deveria ser discutida
entre as empresas interessadas e a União Astronômica Internacional (IAU),
principal associação mundial de astrônomos. “Eu pensava que isso teria sido
muito bem negociado, mas vemos que não foi assim”, diz.
Por sua vez,
tanto a IAU como a AAS se ofereceram para colaborar com a SpaceX e outras
companhias na busca de uma forma de minimizar os possíveis impactos. A IAU
manifestou seu compromisso com a defesa de um céu escuro e sem emissões de
carbono como um recurso “essencial para permitir o avanço do nosso conhecimento
do universo”, mas também “para a proteção da fauna noturna”. É que não se sabem
quais novos impactos ambientais poderiam surgir com a transformação do aspecto
do céu e das constelações.
Mesmo que se
chegue a um compromisso para evitar os danos às pesquisas, o fato é que algumas
empresas privadas têm capacidade de mudar, de uma vez só, o aspecto do céu
noturno para toda a humanidade. Até agora, só precisaram conseguir autorização
de um único Governo, sem que tenha havido nenhum tipo de debate público a
respeito. Segundo disse o próprio Musk no Twitter,
oferecer conexão da Internet a zonas remotas é o “bem superior”.
Fonte: Site do Jornal
El país Brasil- 17/06/2018 - https://brasil.elpais.com
Comentário: Pois
é, dizer o que? O Sr. Elon Musk é realmente um pessoa controversa e polemica, e
nada, nada que venha dele, de forma positiva ou não (e aqui não estou dizendo
que concordo ou não com esta posição dos Astrônomos) irá me surpreender.
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