Matéria do UOL: Sem Recursos, Programa Espacial Brasileiro Empaca e Vive Atraso Tecnológico

Olá leitores e leitoras do BS!
 
Por Duda Falcão
 
Segue abaixo uma matéria postada hoje (07/08) no website ‘UOL Notícias’, tendo como tema o conhecido atraso vivido pelo Programa Espacial Brasileiro (PEB) que, segundo o seu autor, com poucos recursos literalmente empacou.
 
Bom leitor, sinceramente não sei quem é esse colunista Carlos Madeiro, mas infelizmente a sua matéria, apesar de ter alguns pontos positivos, se apega erroneamente na crença de que principal problema do PEB nesses anos todos de desmandos tenha sido o baixo investimento, o que não é verdade e beira o choro da incompetência e do oportunismo, ou seja, o mesmo blá-blá-blá de sempre.
 
É claro que o baixo investimento foi um dos problemas, mas nunca foi um empecilho para se realizar conquistas significativas nessa área, pois, por exemplo, outros países com recursos ainda menores assim, o fizeram.
 
Na verdade o que ocorreu foi uma serie de problemas, a começar pela falta de visão e compromisso político/estratégico do governo e de um Fórum Politico’ que é uma verdadeira “Casa da Vergonha”, e também aliado a isso:
 
* A falta de vergonha na cara;
 
* O egocentrismo exacerbado (sempre o ‘eu’, nunca o ‘nós’ como deve ser);
 
* A legislação inadequada;
 
* O Regime Jurídico Único;
 
* A catastrófica gestão militar do IAE e em alguns momentos do próprio INPE;
 
* As ações políticas e de inteligência de outras nações com a conivência de servidores do alto escalão, coisa que constitui crime contra a nação e deveria ser punido exemplarmente.
 
E tantos outros problemas menores de gestão e planejamento operacional que juntos levaram e continuarão levando em minha opinião o nosso ‘Patinho Feio’ ao fundo do poço, mesmo após o recente aumento de recursos para o setor (pois as mesmas pessoas oportunistas que contribuíram para esse fracasso, são as mesmas que se apoderarão desses recursos), coisa que como já dissemos, nunca foi o grande problema do PEB, apenas um deles, e o mais facilmente equacionado, caso o investimento feito até hoje tivesse dado o resultado esperado. Afinal amigos, quem ‘fecha as portas é o fracasso’, ‘o sucesso abre portas’, rsrsrsrsrsrs, iria me dizer nesse momento um grande e respeitado profissional do setor.
 
Na matéria em questão o autor traz algumas opiniões (segundo ele) de profissionais deste setor, alguns dos quais merecem o meu respeito e outros nem tanto, e confesso, fui surpreendido com a visão do Sr. Ronaldo Carmona quanto ao motivo que levou a FAB nesse momento a escolha acertada pelos satélites finlandeses, já que como ele deixou claro, tínhamos necessidades para já.
 
Quanto ao que disse o Sr. Ricardo Galvão, outro dos entrevistados, que me perdoem os seus defensores, mas o mesmo perdeu uma grande oportunidade de contribuir de verdade com a bandeira do país que ele deveria defender.
 
Já amigos, quanto ao risonho e marqueteiro presidente da AEB, todos que acompanham o BS conhecem a minha opinião sobre esse inconsequente, e neste momento, quando o mesmo diz reconhecer que o Brasil perdeu competitividade nos últimos anos, eu imediatamente lhe perguntaria o que de efetivo ele fez desde que assumiu a AEB para diminuir essa perda de terreno? Ora leitor é muita ‘cara de pau’, mas ele teve um bom professor.
 
E finalizando, entre os citados está também o Prof. Carlos Brito, que é coordenador do Curso de Engenharia Aeroespacial da UFMA e chefe do projeto CubeSat Aldebaran-I, uma pessoa que tem a minha confiança, mas que fez (segundo o autor da matéria que fique bem claro) a afirmação de que esse ‘Lançador de Pequeno Porte‘ do recente edital proveniente das verbas extras do FNDCT, estaria previsto para ter o seu voo inaugural para 2025, afirmação esta que não contribui em nada para aumentar a credibilidade o PEB, pois não passa de pura falácia, mas enfim...
 
Outras coisas também são citadas nessa matéria do colunista do UOL, mas vamos deixar para debater esse assunto com mais propriedade durante a nossa próxima coluna semanal (Espaço Semanal) da próxima quinta-feira, fiquem atentos.
 
REPORTAGEM
 
Sem Recursos, Programa Espacial Brasileiro Empaca e Vive Atraso Tecnológico
 
Por Carlos Madeiro
Colunista UOL
07/08/2022
Via: Website UOL Notícias - https://noticias.uol.com.br 
 
Imagem: FAB/Divulgação
Centro de Lançamentos de Alcântara (MA) ainda não tem uso comercial.

A redução do orçamento ao longo dos últimos anos fez o programa espacial brasileiro encolher e enfrentar um atraso tecnológico em relação a outros países do mundo. Especialistas ouvidos pela coluna e a AEB (Agência Espacial Brasileira) afirmam que o Brasil deixou de tentar a soberania nessa área e hoje tem uma dependência de serviços estrangeiros.
 
Com baixo orçamento e sem grandes satélites em produção, o programa mudou de foco e investe em nanossatélites. Também pretende finalmente dar uso comercial ao Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, como se prometia após a assinatura do acordo de salvaguarda tecnológica com os EUA, em março de 2019. Desde então, nenhuma empresa lançou foguete na base.
 
A previsão é que, no fim deste ano, a sul-coreana Innospace faça o primeiro lançamento privado de Alcântara. Com esse uso comercial da base, espera-se que haja uma captação de recursos para reinvestir no programa espacial brasileiro. "Nós estamos procurando reposicionar e criar um setor econômico espacial", diz o engenheiro e coronel Carlos Moura, presidente da AEB. 
 
Cortes Severos 
 
Em 2011, o PNAE (Programa Nacional de Atividades Espaciais) 2012-2021 previa uma série de projetos e um gasto de R$ 5,7 bilhões. Encerrado o ciclo, só R$ 2 bilhões foram destinados ao plano (sem descontar a inflação). Em 2021, por sinal, o programa teve o menor orçamento de sua história recente: R$ 87 milhões.
 
 
Para esta nova década, a agência lançou um novo PNAE, que vai de 2022 a 2031. No documento, trabalha com cinco cenários orçamentários possíveis: desde R$ 1,2 bilhão a 13,2 bilhões —valor que levaria o Brasil a ser "o país sul-americano líder no mercado espacial". Hoje, por exemplo, estamos atrás da Argentina.
 
Com os cortes, o último grande projeto nacional foi para o espaço no último dia 28 de fevereiro, quando o Brasil comemorou o lançamentodo primeiro satélite 100% nacional, o Amazônia 1. Com recursos pingados, a produção do satélite levou duas décadas e foi feita pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
 
A ideia do plano decenal 2012-21 era fazer outros dois satélites da linha (o Amazônia 1B e o Amazônia 2), mas eles não saíram do papel. Estão previstos (se houver boa verba) no novo plano decenal.
 
Imagem: Reprodução/YouTube/inpemc
Lançamento do Amazônia 1, da Índia, em fevereiro.
 
Erro Estratégico 
 
Para Ronaldo Carmona, professor da ESG (Escola Superior de Guerra) e da pós-graduação de engenharia aeroespacial da UFMA (Universidade Federal do Maranhão), a falta de recursos é que fez o Brasil deixar de evoluir na área, já que tem expertise e mão de obra.
 
"Quando o nosso programa surgiu, nos anos 1960, ele era do mesmo porte da Índia, e hoje eles estão muitas vezes à nossa frente. Nós estamos empacados", afirma.Para Carmona, o país hoje é dependente de tecnologia espacial estrangeira. "Isso é um erro estratégico que abrange muitos setores. A área espacial tem implicações na atividade econômica, na vida social, sem falar em assuntos de defesa", diz.
 
"Um país do porte do Brasil precisa ter um programa espacial completo. Isso é algo latente, tendo em vista como evoluem as tecnologias e as forças produtivas e de ver como está a situação geral do mundo", diz.
 
Um dos serviços dependentes é o de GPS, fornecido pelos EUA. "Não por acaso, China, Rússia, Índia e União Europeia passaram a constituir sistemas próprios. É um risco muito grande ficar na mão de uma potência, que pode fazer uso geopolítico dessa tecnologia. A guerra da Ucrânia está aí para provar isso", explica. 
 
Compras Recentes 
 
Sem investir na produção de satélites, recentemente as Forças Armadas compraram dois satélites radar de uma empresa da Finlândia por R$ 175 milhões.
 
O primeiro deles, o Carcará 1, foi lançado em maio doCentro Espacial Kennedy, no Cabo Canaveral, nos EUA. As imagens captadas por eles, afirma o governo, serão utilizadas em apoio no combate ao tráfico de drogas e da mineração ilegal na Amazônia.
 
Imagem: Divulgação/Forças Armadas.
25.mai.2022 - Lançamento do satélite Carcará 1 foi acompanhado por militares de Brasília.
 
“Precisamos fomentar a indústria nacional, mas temos uma contradição: as necessidades urgentes. Precisamos de investimentos regulares por um longo período para desenvolver a capacidade nacional de produção, mas temos necessidades para já e precisamos comprar fora." Ronaldo Carmona, da ESG.
 
O ex-diretor do Inpe Ricardo Galvão afirma que a compra revela que falta interesse em produzir satélites no principal órgão civil do programa. "O Inpe não tem hoje nenhum recurso para desenvolvimento de satélites. Isso é algo inédito", diz.
 
Ele diz que satélites como os comprados pelo Ministério da Defesa poderiam ter sido feitos aqui. "Com o programa CBERS [em parceria com a China] e o desenvolvimento do satélite Amazônia, o Inpe dominou todo o ciclo de produção de satélites, com uma equipe de 60 engenheiros", ressalta.
 
Segundo ele, usar o instituto para produzir apenas nanossatélites é um desperdício para a nação. "Um nanossatélite tem o tamanho de uma caixa de sapato, é pouco para um Inpe. Sem contar que isso as universidades aqui já fazem. Esses equipamentos não atendem às nossas demandas de satélite", diz.
 
Imagem: Inpe
Satélite Amazônia 1 em desenvolvimento no Inpe.

Retomada de Competitividade
 
Carlos Moura, presidente da AEB, concorda que o país perdeu competitividade nos últimos anos. "Se pensarmos mais em mercados e indústria, estamos aquém", afirma.
 
A ideia, diz, é mudar isso a partir de agora. "A nossa ideia é explorar o mercado de nanossatélites e a vantagem geográfica que temos em Alcântara. Nós podemos atuar competitivamente nesse nicho e eventualmente crescer também no transporte espacial ou na produção de satélites. A partir de 2018, aumentou muito essa tendência de equipamentos menores."
 
Para isso, ele comemora o anúncio de verbas extras do FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) para o programa, que vai financiar dois projetos em um valor total acima de R$ 300 milhões.
 
Um deles é o desenvolvimento do primeiro veículo lançador de pequenos satélites, que terá R$ 190 milhões em investimento. "O outro projeto que teremos é de produção de um satélite de sensoriamento remoto ótico, que atende requisitos de defesa, meio ambiente e outros setores", diz.
 
Carlos Brito, coordenador do curso de Engenharia Aeroespacial da UFMA e chefe do projeto CubeSat Aldebaran-I, afirma que esse lançador previsto tem promessa de voo inaugural para 2025 e deve ser um marco para o programa nacional. 
 
“O projeto sinaliza a mudança de estratégia do Brasil para se adequar às transformações do mercado espacial mundial que ocorreram na última década."Carlos Brito, da UFMA.
 
Para ele, a estratégia de buscar se inserir no novo mercado espacial é uma decisão acertada. "Os negócios feitos com pequenos satélites geraram uma receita de cerca de US$ 4 bilhões em 2020. Há previsões de que em 2031 essa receita aumente para até US$ 12,9 bilhões", afirma.
 
É preciso estruturar Alcântara Para que esse mercado se desenvolva, diz Brito, é preciso melhorar o entorno da base de Alcântara. "Apesar de estar preparado para receber essas empresas, há alguns desafios a serem trabalhados em conjunto e com determinação, como a logística para o município", diz.
 
Ele cita que a cidade precisa dar condições melhores de comércio para suprir as necessidades dos estrangeiros, sem que dependam da capital São Luís.
 
"Esperamos que a Federação das Indústrias, o governo do Estado e outras autarquias —como a AEB e a UFMA— possam se sensibilizar e apoiar as implantações e reformas para melhorar as condições de acesso e da própria infraestrutura."
 
Imagem: Arte/UOL.

Sobre Alcântara, Carlos Moura, da AEB, diz que gostaria que o centro já estivesse operando há mais tempo, mas há questões burocráticas a serem levadas em conta, como a falta de uma empresa pública para "vender" a área.
 
"Talvez a maior dificuldade esteja nos nossos arranjos de governo. Há coisas mais fáceis, como a AEB, que atualizou seu regramento de segurança e o colocou em linha com o que quer a agência americana. Mas é preciso ter uma empresa governamental que possa fazer a comercialização do centro", explica.

Comentários