Projeto MMM, a Proposta Israelense no Inova Aerodefesa
Olá leitor!
Segue abaixo uma matéria escrito pelo companheiro André
Mileski e postada ontem (18/07) no seu blog “Panorama Espacial”, dando
destaques ao Projeto MMM (Microssatélite Militar Multimissão), já abordado aqui
no blog, projeto esse apresentado pela empresa israelense AEL Sistemas em conjunto
com o governo gaúcho, no âmbito do Programa Inova Aerodefesa, da FINEP.
Duda Falcão
EXCLUSIVO
Projeto MMM, a Proposta
Gaúcha
no Inova Aerodefesa
André Mileski
18/07/2013
Na última semana, Tecnologia & Defesa / Blog Panorama
Espacial esteve em Porto Alegre (RS), na sede da AEL Sistemas e se encontrou
com Marcos Arend, Diretor de Tecnologia, para conhecer um pouco mais sobre a
proposta de desenvolvimento do Microssatélite Militar Multimissão (MMM),
apresentada pela companhia gaúcha em conjunto com outras empresas e
universidades do Rio Grande do Sul, no âmbito do Programa Inova Aerodefesa, da FINEP,
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Ministério da
Defesa e Agência Espacial Brasileira. Esta é também uma das primeiras
iniciativas do Polo Tecnológico de Sistemas Espaciais do Rio Grande do Sul,
criado no final de abril, e que conta com importante apoio do governo estadual
local.
A proposta foi elaborada tendo em vista a chamada do
Inova Aerodefesa para plataformas de pequeno porte, levando-se ainda em
consideração o crescimento do uso de pequenos satélites para aplicações no
setor de defesa, e a possibilidade do desenvolvimento de uma solução que não
seja classificada como COTS (commercial off-the-shelf) para atender o Programa Estratégico de Sistemas Espaciais (PESE), do
Ministério da Defesa, e a integração de capacitações espaciais disponíveis no
Rio Grande do Sul, tanto de empresas como universidades. Além dos recursos do
programa da FINEP, o projeto deve demandar ainda investimentos adicionais das
próprias empresas e de linhas de fomento do governo estadual. A proposta está
em análise e a divulgação da primeira seleção deve acontecer no próximo dia 22.
Caso aprovado, o primeiro passo do MMM envolveria o
desenvolvimento de uma pequena plataforma para colocação em órbita em 2015,
muito provavelmente no primeiro voo do lançador Cyclone 4, decolando do Centro
de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão. Esta primeira missão, denominada
MMM-1, teria cerca de 20 kg de massa e contaria com desenvolvimentos da AEL
Sistemas em matéria de sistemas de suprimento de energia - hoje uma de suas
especialidades no campo espacial, plataforma e sistemas de controle. À Digicon,
com sede em Gravataí (RS), caberia o fornecimento da parte estrutural e
integração dos painéis solares, além de todo o mecanismo de deployment das
antenas, representando o seu retorno ao setor espacial, uma vez que nas décadas
de oitenta e noventa participou dos projetos dos satélites SCD e da primeira
geração do CBERS. A companhia ucraniana Yuzhnoye, com planos de em breve se
instalar no Brasil, contribuiria com consultoria e suporte educacional. Note-se
que, muito embora a AEL Sistemas seja controlada pelo grupo israelense Elbit Systems,
sua capacitação em tecnologia espacial é local, independente da controladora.
Três universidades também integram o projeto: a UFRGS,
que deve contribuir com sua capacitação em análise de radiação para componentes
eletrônicos; a PUCRS, que tem grande expertise em radiofrequência, comunicações
e transpônderes digitais; e a UNISINOS, participando com suas habilidades em
microeletrônica, em particular, conhecimentos da tecnologia MEMS (Micro-Electro-Mechanical
Systems), que seriam aplicados no desenvolvimento de um propulsor elétrico. A
UNISINOS, aliás, tem colaborado com institutos da Coréia do Sul e da Suíça em
pesquisas e projetos desta tecnologia.
O MMM-1 disporia de uma plataforma básica, com controle
de atitude passivo, sem controle de órbita, destinado a operar a uma altitude
de 700 km. Ainda não há definição sobre qual seria a sua carga útil, e a
decisão ficaria sob a responsabilidade do Ministério da Defesa. Mas, dentre as
alternativas possíveis, estaria um dispositivo SIGINT (sigla em inglês para
inteligência de sinais), o que permitiria, inclusive, a criação de uma doutrina
no emprego desta capacidade pelas Forças Armadas brasileiras.
Passo seguinte do projeto MMM seria dado com um segundo
modelo, o MMM-2, com massa total próxima de 30 kg, não classificado como COTS.
Este modelo já contaria com controle de atitude, sendo que o próximo modelo, o
MMM-3 com propulsão elétrica baseada na tecnologia MEMS.
A AEL Sistemas no Setor Espacial
A AEL Sistemas possui 20 anos de experiência no campo
espacial, tendo desenvolvido e produzido diversos equipamentos eletrônicos para
satélites brasileiros, em particular, sistemas de suprimento de energia. A
empresa também participa do Projeto SIA - Sistemas Inerciais para Aplicação
Aeroespacial, no desenvolvimento, produção e testes do computador de bordo
(OBC).
Mais informações e detalhes sobre o MMM, o Polo Espacial
do RS e a indústria espacial no sul do país estarão em reportagem espacial na
edição de setembro de Tecnologia
& Defesa.
Fonte: Blog “Panorama Espacial“ - André Mileski
Comentário: O companheiro Mileski no trás nessa matéria uma
boa grade de informações quanto a esse projeto israelense com participação
brasileira. Entretanto eu pergunto: Israel irá contribuir com algo, ou os
recursos serão todos provenientes da FINEP? Após a realização do projeto, quem será
o/a detentor(a) do domínio da tecnologia, a AEL Sistemas, o governo brasileiro,
a DIGICON, as universidades envolvidas, quem? Além do mais, creio que já haja
conhecimento mais que suficiente no país para desenvolver esse tipo de satélite
e não seria necessário o envolvimento da AEL Sistemas. Talvez a própria DIGICON
poderia conduzir todo o processo com as universidades e o apoio do INPE. E
outra, lançar o satélite através do trambolho tóxico Cyclone-04, porquê? Nós já
temos o nosso próprio lançador de microssatélites em desenvolvimento no IAE que
tem como meta a realização do seu voo de qualificação em 2015, bastando para isso que esse
governo desastroso faça sua parte. Sugiro leitor que você adquira a edição de
setembro da Revista Tecnologia & Defesa e busque por maiores informações
sobre esse projeto. Entretanto desde já a minha opinião é que essa história não
me cheira bem.
Olá,
ResponderExcluirEu sou estudante de doutorado na UFRGS e estou participando desse projeto, dado que a minha tese é em componentes tolerantes à radiação. No grupo de Sistemas Embarcados do Instituto de Informática da UFRGS hoje são 4 professores, em torno de 8 doutorandos, diversos mestrandos e bolsistas de iniciação científica. O nosso grupo de pesquisa foi o primeiro no mundo a fazer a caracterização de uma placa gráfica GPU, hardware esse super complexo e de difícil estudo. Hoje estudamos também plataformas comerciais com dispositivos Android usadas em telefones celulares, caracterização sobre os efeitos da radiação em sistemas operacionais, compiladores, etc.
Resumindo, é inegável que o conhecimento gerado fica também para a sociedade brasileira tanto pela capacitação de estudantes do grupo de pesquisa quanto a capacitação das próprias empresas envolvidas, que, apesar de uma delas ser de capital israelense, paga imposto no brasil e contrata mão de obra brasileira. Mão de obra essa por sinal formada em numero substancial pelo nosso grupo de pesquisa na UFRGS.
Sobre a plataforma de lançamento, ainda não está definido qual seria utilizado e não posso confirmar qual seria. Eu pessoalmente adoraria que fosse a bordo da plataforma do IAE - acredito que opinião essa compartilhada por todos os leitores do blog.
Um grande abraço,
Ronaldo
Caro Ronaldo!
ExcluirPrimeiramente obrigado pelo contato e parabéns pela conquista alcançada pelo seu grupo. Precisamos de mais grupos como o de vocês para transformar esse país, não há duvida quanto a isso. Agora, quanto ao fato do conhecimento gerado ficar também para a sociedade brasileira tanto pela capacitação de estudantes, quanto a capacitação das próprias empresas envolvidas, também não há duvido quanto a isso, como também não há duvida de que mesmo que a AEL Sistemas não fizesse parte desse processo esse conhecimento seria gerado da mesma forma, e ficando integralmente dentro do país.
Além disso, o fato da AEL Sistemas pagar imposto no Brasil e contratar mão de obra brasileira não acontece por simpatia ao Brasil e sim por uma questão legal e por logística operacional. Afinal, para operar no Brasil ela tem de pagar impostos como todo mundo, e o caso de utilizar profissionais brasileiros, a mesma o faz por uma questão de custo, já que seria inviável economicamente e logisticamente trazer profissionais israelenses em quantidade para trabalhar no Brasil.
Caro Ronaldo, não sou contrário a atuação da AEL Sistemas no Brasil ou de qualquer outra empresa estrangeira, desde que com recursos próprios e não com recursos do povo brasileiro. Recursos públicos com envolvimento dessas empresas só em casos onde não exista conhecimento dentro do país, e assim mesmo em parceria com empresas genuinamente nacionais, garantindo assim a transferência de tecnologia e de conhecimento integralmente para onde a mesma deve existir e ser dominada, ou seja dentro das empresas nacionais que atuam no setor.
No caso em questão, não é isso que irá acontecer. Na realidade estaremos pagando-gastando (e não investindo) e trabalhando para desenvolver um produto (o MMM) para essa empresa israelense (praticamente sem custos para eles), e pior, com a intensão de ser comprado pelo Ministério da Defesa brasileiro. Isso é um absurdo e é inaceitável, principalmente quando sabemos que existe competência suficientemente nessa área no Brasil para desenvolvermos um produto similar, não existindo a necessidade da participação da AEL Sistemas.
Se AEL Sistemas quer desenvolver esse projeto, que o faça com recursos próprios e depois tente vende-lo ao Ministério da Defesa do Brasil, ou em qualquer outro lugar do mundo, mas não com recursos do povo brasileiro, isso é inaceitável.
Quanto a plataforma de lançamento meu comentário se baseou na possibilidade apresentada pelo autor do artigo. Lançar esse satélite através do Cyclone-4 seria a gota d' água, pois já estaríamos pagando e ajudando a desenvolver um produto que não é nosso, comprando-o pronto (pagando pela segunda vez), dando subsidio para que essa empresa desastrosa opere e ainda por cima ajudando a contaminar o meio ambiente. Um observador estrangeiro menos avisado poderia dizer que só poderia ser coisa de português, mas não, é coisa de brasileiro mesmo, ou seja, brasileiro estúpido, mas fazer o que?
Abs
Duda Falcão
(Blog Brazilian Space)