O CLA Fará Lançamentos de Grande Porte a Partir de 2014

Olá leitor!

Segue abaixo uma entrevista publicada hoje (28/07) no jornal “O Estado do Maranhão” com o Diretor do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), Coronel César Demétrio Santos, onde o mesmo diz que o CLA fará lançamentos de grande porte a partir de 2014.

Duda Falcão

Geral

Coronel César Demétrio - Diretor do CLA

“O CLA Fará Lançamentos de
Grande Porte a Partir de 2014”

Diretor do Centro de Lançamento de Alcântara, coronel César
Demétrio Santos, em entrevista exclusiva a O Estado, fala sobre
medidas adotadas para preparar a base para lançamento do
Veículo Lançador de Satélite e outros, como Cyclone 4.

Bruna Castelo Branco
Da equipe de O Estado
28/07/2013

Foto: Biaman Prado

Quase 10 anos após o acidente que destruiu a Torre Móvel de Integração (TMI) e matou 21 técnicos do Comando Técnico Aeroespacial (CTA), em agosto de 2003, o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) se prepara para fazer o primeiro lançamento do projeto em 2014. No início do ano, devem ser feitos testes definitivos do desempenho da TMI para que o lançamento ocorra com segurança.

Segundo o diretor do CLA, coronel César Demétrio Santos, este ano será determinante para que testes e alguns procedimentos de segurança na nova TMI sejam feitos para que ainda no primeiro semestre de 2014 seja lançado o primeiro Veículo Lançador de Satélites (VLS). A atividade de grande porte, programada para 2014, marca uma fase definitiva do Programa Espacial Brasileiro, que tem o Centro de Lançamento, localizado em Alcântara, como o carro-chefe do projeto.

Para atender a essa demanda, o CLA passou nos últimos cinco anos por um processo intenso de modernização que substituiu todos os sistemas de monitoramento e rastreio das atividades de lançamento. Essas mudanças fizeram com que o Centro de Lançamento voltasse a ser o foco de grandes parcerias internacionais, a exemplo da binacional Alcântara Cyclone Space (ACS) que está em fase de construção da sede e do sítio de lançamento em área que pertence ao CLA e fará lançamentos de grande porte, como o foguete Cyclone 4, desenvolvido com tecnologia ucraniana.

Em entrevista a O Estado, o diretor do CLA, César Demétrio Santos, disse que, antes de assumir a direção, foi gerente de reconstrução do projeto da Torre Móvel de Integração e coordenou a elaboração do novo modelo do Veículo Lançador de Satélites, falou sobre mudanças tecnológicas e a preparação do Centro de Lançamento para reiniciar atividades com foguetes de grande porte.

O Estado- A nova Torre Móvel de Integração já foi concluída. Qual a previsão de um novo experimento com o VLS?

César Demétrio - A Torre Móvel de Integração se encontra em fase de recebimento definitivo. Explicando de uma maneira simples, este é um momento extremamente importante, em que a empresa contratada para reconstrução da nova TMI precisa comprovar que todos os itens especificados no contrato acordado foram atendidos conforme determinação do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) que realiza a gerência do projeto envolvendo a Torre Móvel de Integração. Há a expectativa de realizarmos, a partir do primeiro semestre do próximo ano, mais um teste com o VLS na nova TMI antes de um voo real propriamente dito. Nesse teste, será acoplado um mock-up [simulador] do VLS-1, ou seja, veículo real sem o combustível, mas com todas as interfaces de redes elétricas. Esse procedimento testará uma série de componentes como a rede de controle, serviço, telemetria e as interfaces com as redes pirotécnicas já na nova Torre Móvel de Integração. Essa operação será denominada Santa Bárbara. A Operação Salina, realizada em 2012, em que foram feitos testes físicos e mecânicos do VLS na TMI e das construções de prédios operacionais na área do Setor de Preparação e Lançamento (SPL), tais como o Prédio de Depósito de Propulsores e o Prédio de Segurança do SPL, e a nova operação são base para darmos início ao lançamento real do VLS-1, previsto para 2014.

O Estado- Quantos lançamentos estão previstos para serem realizados no Centro de Lançamento de Alcântara? Há alguma atividade que envolva um foguete de médio porte?

César Demétrio - Neste ano, estão previstos cinco lançamentos, sendo quatro com foguetes de treinamento. Foi lançado um Foguete de Treinamento Básico (FTB) no dia 23 de maio, dentro das atividades da Operação Falcão I/2013 e um Foguete de Treinamento Intermediário (FTI) no dia 13 de junho durante a Operação Águia I/2013. O próximo lançamento será de um Foguete de Treinamento Básico (FTB) e deverá ocorrer de 5 a 9 de agosto na Operação Falcão II/2013 simultaneamente com a realização da 7ª Escola do Espaço no CLA. A atividade é organizada pelo programa AEB Escola [programa da Agência Espacial Brasileira] e capacitará mais de 100 professores e educadores em geral da rede pública de ensino nas áreas de astronomia e astronáutica. O outro lançamento de foguete de treinamento deverá ser de um FTI na Operação Águia II, em novembro. Além disso, também em novembro está previsto iniciarmos a Operação Raposa com o lançamento do veículo de sondagem VS-30 com experimentos científicos e tecnológicos embarcados para realização e aprimoramento de estudos em distintas áreas.

O Estado- Com os treinamentos constantes em atividades de lançamentos, é possível afirmar que o CLA está pronto para um lançamento de grande porte?

César Demétrio - Tais treinamentos são essenciais para manter a operacionalidade das equipes e meios associados às atividades de lançamento de veículos aeroespaciais. Somente no ano passado, lançamos seis Foguetes de Treinamento Básico (FTB), um Foguete de Treinamento Intermediário (FTI) e um veículo de sondagem VS-30/ORION. Além disso, há uma interação constante das equipes do CLA com o Centro de Lançamento de Barreira do Inferno (CLBI) e do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) nas campanhas de lançamento o que potencializa um treinamento conjunto entre os profissionais dessa área. Por exemplo, um servidor do CLA além de participar normalmente dos lançamentos realizados em Alcântara, pode também dos feitos no CLBI ou de projetos em desenvolvimento no IAE, entre várias outras atividades relacionadas ao Programa Nacional de Atividades Espaciais. Assim, a preparação para lançamentos de grande porte não ocorre somente com as atividades realizadas em Alcântara e sim no Programa Espacial Brasileiro como um todo.

“A ACS representa
uma possibilidade
interessante ao Brasil
de alavancar o Programa
Espacial Brasileiro”

Coronel César Demétrio, diretor do CLA

Foi feita a modernização de todos os postos operacionais do CLA, a exemplo do Centro de Controle, Casamata, Segurança de Voo e Superfície. Fizemos também a aquisição e manutenção preventiva e corretiva das antenas de rastreio e telemetria, implantação do Circuito Fechado de TV e Controle de Acessos e de sistemas de telecomunicações e de controle de operações e disparo que colocam o CLA em condição de igualdade com qualquer importante centro de lançamento no mundo. Assim podemos afirmar que tem ocorrido uma preparação intensa do nosso pessoal e aperfeiçoamento de todos os sistemas visando lançamentos de veículos de porte mais elevado como o VLS-1 e o Cyclone 4.

O Estado-Dentro do panorama do desenvolvimento do Programa Espacial Brasileiro qual o grau de importância da Alcantara Cyclone Space (ACS)? Qual o andamento da empresa hoje?

César Demétrio - As parcerias internacionais são de suma importância para o aperfeiçoamento e desenvolvimento do Programa Espacial Brasileiro (PEB). Possuímos acordos estratégicos no setor aeroespacial com os Estados Unidos, Rússia, China, Comunidade Europeia e Argentina nas mais distintas áreas que potencializam, por exemplo, o desenvolvimento e lançamento de satélites, o monitoramento da temperatura das águas oceânicas, lançamento no exterior de foguetes fabricados no Brasil, assessoria técnica para aperfeiçoamento das atividades aeroespaciais e facilidades para aquisição de equipamentos e componentes ligados ao setor. Aqui estão apenas alguns exemplos de como as parcerias internacionais são estratégicas para o andamento do PEB.

A Alcântara Cyclone Space é fruto de acordo celebrado entre o Brasil e a Ucrânia com objetivo de lançar o veículo Cyclone 4 de Alcântara e entra dentro das ações previstas no Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE) até o ano de 2021. Portanto, a ACS tem sua importância dentro do PNAE, mas não pode ser vista como a única atividade em desenvolvimento atualmente dentro do programa. Assim, posso dizer que a ACS representa uma possibilidade interessante ao Brasil de alavancar o Programa Espacial Brasileiro concomitantemente às outras ações já em execução ou em fase de desenvolvimento ou aperfeiçoamento. Em relação à binacional Alcântara Cyclone Space, ela se encontra em fase de obras estruturais, ao mesmo tempo em que prepara toda a documentação administrativa e técnica, além da conclusão do próprio veículo para lançamento partindo de Alcântara.

O Estado- Qual o orçamento previsto para atividades no CLA este ano? O que será desenvolvido além dos lançamentos?

César Demétrio - Este ano, trabalhamos com um orçamento de R$ 27 milhões, que não é todo destinado exclusivamente aos lançamentos, mas também para a gestão de todo o CLA. Para se ter uma ideia, somente a conta de luz mensal do Centro gira em torno de R$ 290 mil. Assim temos que administrar muito bem os recursos que chegam do Ministério da Defesa por meio do Comando da Aeronáutica ou do Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação via Agência Espacial Brasileira. Devemos iniciar algumas obras importantes, como a construção das novas sedes da Escola Caminho das Estrelas e do Posto Médico que possibilitarão a ampliação do número de alunos e pacientes atendidos, respectivamente. Estamos trabalhando junto ao IBAMA para obtenção da licença de instalação da construção do Prédio de Depósito de Propulsores e do Prédio de Segurança do SPL na área de lançamento, sendo os dois últimos mandatórios para realização da missão do VLS no Centro de Lançamento. Estamos aperfeiçoando nossos sistemas de combate a incêndio, ampliando a capacidade da pista de pousos e decolagens e pátio de aeronaves além de reformas em todos os refeitórios. Tudo visa propiciar uma melhor satisfação de nossos servidores tanto civis quanto militares para o cumprimento de suas atividades e desempenho de suas funções, sejam elas relacionadas diretamente aos lançamentos ou não.

Dados da TMI

Investimento: R$ 44 milhões
Altura: 30 metros
Previsão do primeiro Lançamento: 2014


Fonte: Jornal “O Estado do Maranhão” - pág. 06 – 28/07/2013

Comentário: Pois é leitor, devemos agradecer a jornalista Bruna Castelo Branco por essa esclarecedora entrevista com o Diretor do CLA, pois já havia tentado contado com o mesmo através do site do centro sem sucesso. Note que a entrevista ao mesmo tempo em que é esclarecedora é também bastante frustrante, pois literalmente detona a parte da lista das “Quase Certezas” relacionadas com as missões de lançamento do território brasileiro apresentadas pelo blog no artigo de ontem, demonstrando uma vez mais o total descaso do Governo DILMA ROUSSEFF para com o verdadeiro Programa Espacial do país. Fica claro nessa entrevista que pelo que o Cel. César Demétrio Santos diz a tal “Operação Santa Bárbara” do VLS-1 que estava inicialmente prevista para o primeiro semestre de 2013, não mais se realizará este ano, ficando para algum momento do primeiro semestre de 2014, no que ele chamou de ‘expectativa’. Isso significa que numa ‘expectativa otimista’ o lançamento do VLS-1 VSISNAV (primeiro voo tecnológico dos dois previstos para o VLS-1) ficará para o primeiro semestre de 2015, já que a preparação de um voo como esse leva em média 6 meses, sendo assim um prazo muito apertado. Além disso, para piorar as coisas, pelo que o Diretor do CLA disse, a tão esperada “Operação VS-40/SARA Suborbital I” também não será mais realizada em 2013, a não ser que seja realizada do CLBI, o que eu sinceramente acho difícil. A única missão significativa citada pelo Cel. Demétrio  ou seja, a do VS-30 da tal “Operação Raposa”, pode se tratar ou não da operação do VS-30 do voo de qualificação do SAMF com o motor L5 acoplado citado pela Cap. Cristiane Pagliuco em sua recente entrevista ao blog (veja aqui). Mas a verdade leitor é que com um orçamento de R$ 27 milhões (só para se ter uma ideia o LABSIA recentemente inaugurado custou R$ 40 milhões), temos de entender como é difícil se fazer qualquer previsão do uso do CLA em grandes lançamentos. Sabe leitor, eu poderia até continuar escrevendo e analisando a entrevista do Cel. Demétrio  mas estou tão chateado que não farei isso, além do que ela é muito esclarecedora por si só, resumindo tudo a uma simples de constatação, ou seja, o Governo DILMA ROUSSEFF não tem o menor compromisso com o verdadeiro Programa Espacial do país. Em outras palavras, se alguém lhe tentar dizer o contrário, essa pessoa será um completo iludido ou um debiloide mentiroso e irresponsável integrante da trupe dessa presidentA petista. Lamentável! Aproveito para agradecer ao leitor maranhense Edvaldo Coqueiro pelo envio dessa matéria.

Comentários

  1. Pois é... eu havia postado isso 2 anos atrás. Essas meia certezas não passam de mentiras.
    O projeto VLS começou efetivamente em 1989, logo após o lançamento do último sonda4 (pt04) e foi lançado em 1997. Ou seja, levamos 8 anos para sair do zero e lançarmos um veículo completo. Agora se fala em lançar o VSISNAV que é metade do VLS (na verdade um foguete de sondagem) em 2015 - 12 anos depois do V03. Um absurdo sem tamanho que não pode ser explicado apenas por falta de verbas. Há algo muito errado nisso e o governo precisa intervir se quiser ter um lançador nacional.

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    1. - não é so falta de verbas...
      - é falta de recursos humanos..
      - é falta de uma legislação adequada....
      - é falta de vontade política...
      - é a existência de uma lei 8666 que é um grande entrave e totalmente inadequada para aquisição de bens e serviços de complexidade tecnológica....que ganha quem apresenta o menor preço independente da qualidade...
      - é a existência de órgãos como CJU que colocam obstáculos em todas as aquisições....hoje, para se comprar um simples parafuso são gastas diversas folhas de papel em documentos e assinaturas desnecessários...a tal da desburocratização que se tentou implantar nesse país há alguns anos, foi totalmente esquecida....
      - e por aí vai....

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  2. Parece que as aplicações dos novos laboratórios pouco visam o Programa Espacial e se destinam mais para outras áreas militares. O Brasil não será potencia espacial tão cedo, se é que um dia chegará a ser com governos desse genero.

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  3. As atitudes do governo podem ser vistas de outra maneira. Não acreditando que vá realmente acontecer, fica fingindo que apoia mas está apoiando outras iniciativas. Em vez de agir energicamente e colocar a situação nos trilhos novamente, fica agindo de forma dissimulada, com ACS, inova defesa etc. Olhando sob esse prisma percebe-se que não se trata de falta de recursos e sim onde e como eles estão sendo aplicados. Com o desempenho pífio do segmento lançador o PEB já deveria ter sido redirecionado faz tempo.

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