Novos Dados Mostram Lado Oculto da Via Láctea
Olá Leitor!
Segue abaixo uma nota postada hoje (31/07) no site do
Laboratório Interinstitucional de e-Astronomia (LIneA) destacando que segundo
os astrônomos do consórcio Sloan Digital Sky Survey III (SDSS-III), que
envolve a participação brasileira, novos dados possibilitam aos astrônomos
explorar o lado oculto da Via Láctea.
Duda Falcão
Esta é Sua Galáxia: Novos Dados
Possibilitam aos Astrônomos Explorar
o Lado Oculto da Via Láctea
31/07/2013
Hoje,
astrônomos do consórcio Sloan Digital Sky Survey III (SDSS-III) lançaram um
novo banco de dados público que contém dados para 60000 estrelas, os quais
ajudam a contar a história de como a Via Láctea se formou. O destaque do “Data
Release 10″ marcado para hoje é um novo
conjunto de espectros estelares de alta resolução — medições da quantidade de
luz emitida por uma estrela em cada frequência eletromagnética — na luz
infravermelha, invisível aos olhos humanos mas capaz de penetrar o véu de
poeira que obscurece o centro da Galáxia. “Esta é a mais abrangente coleção de
espectros estelares no infravermelho jamais produzida,” disse Steven Majewski
da University of Virginia, o cientista que lidera o projeto APOGEE. “Estas
sessenta mil estrelas foram selecionadas por estarem em partes diferentes de
nossa galáxia, desde nossa vizinhança quase despovoada até o centro envolto por
poeira. Nossos espectros permitem-nos retirar as cortinas que fazem com que
parte da Via Láctea nos seja oculta.”
Os
novos espectros são os primeiros dados lançados pelo Apache Point Observatory
Galactic Evolution Experiment (APOGEE), um subprojeto do SDSS-III, que busca
criar um censo abrangente da população estelar da Via Láctea. “O espectro
estelar contém informações importantes para o conhecimento da estrela em si —
ele nos indica detalhes fudamentais como a temperatura e tamanho da estrela e
quais os elementos que estão em sua atmosfera”, disse Jon Holtzman da New
Mexico State University, que liderou os esforços para preparar os dados do
APOGEE para o Data Release 10. “Os espectros são uma das melhores ferramentas
de que dispomos para aprender sobre as estrelas, é como ter a foto de uma
pessoa em vez de apenas conhecer sua altura e peso”.
A
questão de como a Via Láctea se formou tem sido objeto de especulação
científica e debate já há centenas de anos. O mapa tridimensional do APOGEE
fornecerá informações chaves para a solução de questões centrais sobre como a
nossa Galáxia se formou e evoluiu ao longo dos muitos bilhões de anos de sua
história. Nos cenários atualmente aceitos pela comunidade científica, a Via
Láctea tem atualmente três partes principais: um bojo oblongo de alta densidade
no centro, o disco achatado em que vivemos, e uma componente esférica de baixa
densidade chamada de “halo” que se estende por centenas de milhares de
anos-luz. “Estrelas nessas diferentes regiões têm idades e composições químicas
distintas, o que significa que elas se formaram em momentos diferentes e sob
condições diferentes ao longo da história da nossa Galáxia”, diz Gail Zasowski,
uma pós-doutoranda da National Science Foundation, que trabalha na Ohio State
University e quem liderou o esforço crítico para maximizar o potencial
científico do APOGEE, selecionando a melhor amostra possível de estrelas. Se
você olhar para o céu a partir de um local escuro, longe do brilho esmagador
das luzes da cidade, a Via Láctea aparece como uma faixa luminosa no céu,
entrecortada por cortinas escuras. Esta faixa é o disco e bojo de nossa
galáxia, e as cortinas são formadas pela poeira que bloqueia a luz visível de
partes mais distantes da Via Láctea. Devido a essa poeira, estudos anteriores
de estrelas na Via Láctea eram limitados em sua capacidade de medir de forma
consistente estrelas na direção do centro da nossa Galáxia. A solução buscada
pelo APOGEE foi observar a luz infravermelha delas, que consegue atravessar com
mais facilidade as nuvens de poeira. Esta capacidade de explorar regiões
previamente escondidas da Galáxia permite ao APOGEE conduzir o primeiro estudo
abrangente da Via Láctea, desde o centro ao halo. Observar dezenas de milhares
de estrelas é uma tarefa demorada. Para conseguir seu objetivo de observar
100000 estrelas em apenas três anos, o instrumento APOGEE observa até 300
estrelas diferentes ao mesmo tempo usando cabos de fibra óptica ligados a uma
grande placa de alumínio com furos alinhados à posição de cada estrela. A luz é
levada através de cada fibra ao espectrógrafo APOGEE, onde uma rede prismática
distribui a luz por comprimento de onda. “A grade é a primeira e maior de seu
tipo já implantada em um instrumento astronômico”, disse John Wilson, da
University of Virginia, que liderou a equipe de design do instrumento APOGEE.
“Essa tecnologia é fundamental para o sucesso do APOGEE.” Espectros de estrelas
da Apogee ajudarão a desvendar a história da nossa Galáxia, e a chave para isso
é conhecer a composição química e o movimento das estrelas de cada região. Como
os elementos mais pesados que o hidrogênio e o hélio são produzidos em estrelas
e são disseminados pela Galáxia por explosões e ventos estelares, os astrônomos
sabem que as estrelas que tenham mais desses elementos pesados devem ter-se
formado mais recentemente, após gerações estelares anteriores terem tido tempo
para criar esses elementos pesados. “Em descobrindo quais partes da Galáxia
contêm estrelas mais velhas e quais contém estrelas mais jovens, e considerando
essa informação em conjunto com o modo como as estrelas estão se movendo,
podemos traçar uma história detalhada de como a Galaxia se formou, e como ela
evoluiu para o que vemos hoje”, disse Peter Frinchaboy da Texas Christian
University, que coordenou todas as observações do APOGEE. Os dados do APOGEE
também fornecem um contexto rico para investigar uma ampla gama de questões
sobre as próprias estrelas. Uma vez que o APOGEE observa cada estrela alvo
várias vezes, ele pode identificar mudanças em seu espectro ao longo do tempo.
Esta característica permitiu que a equipe do APOGEE descobrisse tipos incomuns
de estrelas variáveis de curto período, identificasse quantas estrelas são
realmente estrelas binárias com companheiros invisíveis e, até mesmo,
detectasse movimentos estelares sutis causadas por exoplanetas em órbita.
O
Data Release 10 também publica outros 685000 espectros de outro subprojeto do
SDSS, o Baryon Oscillation Spectroscopic Survey (BOSS). Esses novos espectros
vêm de galáxias e quasares distantes, cuja luz corresponde à época quando o
nosso universo era muito mais jovem, justamente quando a força misteriosa
conhecida como “energia escura” começava a influenciar a expansão do universo.
Os novos espectros coletados pelo BOSS e os espectros adicionais que o SDSS-III
vai continuar a obter nos anos finais da pesquisa ajudarão os cientistas em sua
busca para entender o que a energia escura possa ser. O SDSS-III é um
levantamento de seis anos voltado para estrelas próximas, a Via Láctea e o
cosmos distante. O telescópio de 2,5 metros de diâmetro da Sloan Foundation
situado no Observatório Apache Point, no Novo México, conduz observações todas
as noites que são usadas para alimentar ou o espectroscópico óptico do BOSS ou
o espectroscópio infravermelho do APOGEE. “Temos lançado distribuições de dados
desde 2001 e ainda não estamos perto de parar isso”, diz o porta-voz do
SDSS-III Michael Wood-Vasey da University of Pittsburgh. “Acesso público aos
dados sempre foi um objetivo central de nosso projeto, e estamos orgulhosos de
continuar essa tradição hoje com esta nova distribuição rica em informação
sobre nossa Galáxia”. Todos esses dados estão disponíveis, para pesquisadores e
para o público geral, em SDSS-III A participação do Brasil no
projeto é coordenada pelo Laboratório Interinstitucional de e-Astronomia. O
time brasileiro teve papel importante no desenho do experimento APOGEE ao
prover a equipe internacional com simulações de populações estelares da Via
Láctea, as quais permitiram a escolha das melhores posições do céu para apontar
o instrumento, de modo a ter uma boa cobertura da Galáxia. Atualmente, os
cientistas do LIneA participam do esforço de interpretação desses dados. Em
breve estes dados estarão também disponíveis para cientistas e público em geral
através do portal no Brasil no link a seguir SkyServer
Crédito:
Peter Frinchaboy (Texas Christian University),
Ricardo
Schiavon (Liverpool John Moores University) e a
colaboração SDSS-III. A imagem do céu no infravermelho foi
obtida
pelo 2MASS, IPAC/Caltech e University of Massachusetts.
Crédito: Dan Long (Apache Point Observatory)
CONTATOS:
Luiz Nicolaci da Costa, Coordenador do “Grupo de Participação
Brasileira do SDSS-III, Observatorio Nacional & Laboratório
Interinstitucional de e-Astronomia, Rio de Janeiro, RJ. ldacosta@linea.gov.br,
(21)3504-9172, (21)3504-9165
Steven R. Majewski,
University of Virginia, srm4n@virginia.edu, 1-434-924-4893
Jon Holtzman, New
Mexico State University, holtz@nmsu.edu, 1-575-646-8181
Gail Zasowski, The
Ohio State University, gail.zasowski@gmail.com, 1-614-292-3099
John Wilson,
University of Virginia, jcw6z@virginia.edu, 434-924-4907
Michael Wood-Vasey,
SDSS-III Spokesperson, University of Pittsburgh, wmwv@pitt.edu, 1-412-624-2751
Jordan Raddick,
SDSS-III Public Information Officer, Johns Hopkins University, raddick@jhu.edu,
1-410-516-8889
Fonte: Site do LIneA - http://www.linea.gov.br/
Comentários
Postar um comentário