Astrônomos Amadores Mineiros Descobrem Mais Dois Novos Cometas 'Brasileiros'
Olá leitor!
Segue abaixo uma nota postada hoje (10/05) no site do “Olhar
Digital” destacando que Astrônomos Amadores mineiros descobriram mais Dois Novos Cometas
'Brasileiros'.
Duda Falcão
CIÊNCIA E ESPAÇO
Astrônomos Amadores de MG Descobrem Mais Dois Novos Cometas
'Brasileiros'
Cometas C/2020 J1 (Sonear) e P/2020 G1 (Pimentel) foram
descobertos pelo Observatório SONEAR, localizado na cidade mineira de Oliveira
Por Liliane Nakagawa
Olhar Digital
10/05/2020 - 05h00
Por Marcelo Zurita*
Era início da noite de 13 de abril. De Belo Horizonte
(MG), o astrônomo amador Cristóvão Jacques aciona remotamente a abertura da
cobertura do Observatório SONEAR, em Oliveira (MG). Com o
telescópio apontado na direção da Constelação de Órion, Jacques iniciou a noite
em busca por asteroides próximos à Terra, algo que o SONEAR faz
sistematicamente desde 2014, quando foi fundado. Mas aquela noite, aquela
primeira sequência de fotos do céu seria especial. Elas traziam as primeiras
imagens do mais novo cometa brasileiro, o P/2020 G1 (Pimentel).
Créditos: SONEAR
Primeiras imagens do Cometa P/2020 G1.
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Para descobrir um asteroide, o observatório faz uma
sequência de três fotos da mesma região do céu, dando um certo tempo entre uma
foto e outra. Caso exista nessas imagens algum objeto se movendo em relação ao
fundo de estrelas, é feita uma consulta a uma base de dados de asteroides para
ver se não se trata de nenhum objeto conhecido. Caso não seja identificado
cometa ou asteroide conhecido naquela posição, o objeto é reportado para o
Minor Planet Center como um novo asteroide descoberto. O Minor Planet Center é
um organização ligada a IAU (União Astronômica Internacional) responsável por
coletar e manter dados observacionais de cometas e asteroides.
E quando analisava as imagens captadas naquela noite,
Eduardo Pimentel, também astrônomo amador do SONEAR, percebeu que aquele objeto
se tratava de um cometa. Esse corpo celeste se diferencia visualmente dos
asteroides por possuir uma coma e uma cauda, ambas formadas pelos gases
emitidos pelo cometa quando se aproxima do sistema solar interior. E nas
imagens analisadas por Pimentel, notou-se a presença de uma pequena coma e uma
tênue cauda. Logo, o astrônomo reportou a descoberta com características
cometárias ao MPC.
Quatro dias depois, diversos observatórios ao redor do
mundo já haviam reportado a observação do novo objeto. Foi então que a Minor
Planet Center divulgou a circular "MPEC 2020-H06", oficializando a descoberta do cometa, agora nomeado de P/2020 G1
(Pimentel).
Créditos: Ernesto Guido e Adriano Valvasori
No centro da imagem, o Cometa P/2020 G1 (Pimentel) e sua
pequena coma e cauda.
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Confira abaixo o vídeo de divulgação da descoberta
apresentado por Cristóvão Jacques, do SONEAR e do Canal AstroNeos.
O Cometa
Um cometa é um tipo de corpo celeste formado basicamente
de rocha, gelo e gases congelados, e que normalmente se origina de áreas mais
afastadas do sistema solar, mas que se aproximam do Sol ao menos uma vez. Ao
fazê-lo, parte do gelo e dos gases que o constituem sublimam e formam uma
atmosfera difusa chamada de "coma", que brilha devido ao efeito de
ionização. Em alguns casos, os ventos solares arrastam esses gases formando uma
cauda ionizada, a qual pode se estender por milhões de quilômetros no espaço.
Créditos: Adam Block
Cometa C/2012 S1 (ISON).
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No caso do P/2020 G1 (Pimentel), trata-se de um cometa de
curto período que leva cerca de sete anos para completar uma vota em torno do
Sol. Ele também foi classificado como JFC, ou Cometa da Família de Júpiter,
cujos cometas são de curto período (período orbital menor que 20 anos) e de
baixa inclinação, passando por uma região do sistema solar onde há forte
influência gravitacional do planeta gigante. Além disso, em seu momento de
maior aproximação do Sol, o cometa cruza a órbita da Terra, e por isso, é
classificado também como NEO (Objeto Próximo à Terra) ou NEC (Cometa Próximo à
Terra).
Fonte: JPL/NASA
Órbita do Cometa P/2020 G1 (Pimentel).
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Sim, ele é um cometa que passa próximo à Terra, mas não
se ‘animem’ pensando que o fim está próximo! A maior aproximação possível com o
nosso planeta será pelo menos a 40 milhões de quilômetros. Os dados da órbita
ainda estão sendo refinados, mas já sabemos que ele não oferece risco nenhum à
Terra.
Nomenclatura
Existe uma regra no MPC para nomeação de cometas que leva
em conta o tipo de órbita do cometa, a data de seu descobrimento e o nome do
descobridor.
1 - Os cometas chamados "periódicos", ou
seja, que levam menos de 200 anos para completar uma volta em torno do Sol,
devem ter seu nome iniciado por "P/", os demais cometas, iniciam por
"C/".
2 - O prefixo deve ser seguido pelo ano da
descoberta, com quatro dígitos, e uma letra representando a quinzena do ano em
que o cometa foi descoberto. "A" para o período entre 1 e 15 de
janeiro, "B" para o período entre 16 e 31 de janeiro, e assim por
diante.
3 - Essa letra deve ser seguida por um número, que
representa a contagem de cometas descobertos nessa quinzena. São utilizadas as
letras de "A" a "Y", excluindo-se a letra "I"
para evitar confusões com o numeral "1". Assim, após a letra
"H" para representar a segunda quinzena de abril, é usada a letra
"J" para representar a primeira quinzena de maio.
4 - Por último, o "sobrenome" do cometa
deve ser o mesmo sobrenome do seu descobridor.
De acordo com essas regras, o nome "P/2020 G1
(Pimentel)" indica que é um cometa periódico descoberto por Pimentel,
sendo o primeiro cometa descoberto na primeira quinzena de abril (letra G). No
caso, Pimentel é considerado o descobridor do cometa porque, mesmo não sendo o
primeiro a observar o objeto, foi o primeiro a perceber que se tratava de um
cometa.
Descobertas do SONEAR e a Importância do Seu Trabalho
O Cometa P/2020 G1 (Pimentel) é o oitavo cometa
descoberto pela equipe do Observatório SONEAR e o segundo periódico. O primeiro
deles foi o C/2014 A4 (SONEAR) descoberto em janeiro de 2014. E, em agosto do
ano seguinte, Pimentel descobriu o primeiro cometa periódico do observatório, o
P/2015 Q2 (Pimentel), o qual possui um período orbital de 19 anos.
Créditos: SONEAR
Alguns cometas descobertos pelo SONEAR.
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O SONEAR também já descobriu 63 asteroides, sendo 32
próximos à Terra e, dentre eles, oito são considerados potencialmente
perigosos: significa que são asteroides que passam perigosamente próximos ao
nosso planeta e que, um dia, podem atingir a Terra caso haja algum desvio em
sua órbita. Esses objetos são sistematicamente monitorados por observatórios em
todo mundo, para que possamos saber, com a maior antecedência possível, caso
algum deles sofra algum desvio que o coloque em rota de colisão com nosso
planeta.
Créditos: SONEAR
Observatório SONEAR.
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SONEAR é uma sigla para "Southern Observatory for
Near Earth Asteroids Research" ("Observatório Austral para Pesquisa
de Asteroides Próximos à Terra"). O nome já deixa claro o principal
objetivo do observatório, mas é importante lembrar sempre que ele está inserido
em um esforço global para identificar e rastrear os asteroides que rondam a
nossa vizinhança.
Sempre que vemos notícias relacionadas a asteroides que
passarão próximos à Terra, achamos que esse monitoramento é um trabalho da Nasa
(Agência Espacial Norte Americana). Há também aqueles que acreditam na
existência de um asteroide gigante mantido em segredo pela agência americana, e
o qual vai se chocar com a Terra em breve. Mas o fato é que, mesmo tendo grande
participação nessa pesquisa, a Nasa não é a única no mundo a trabalhar nisso.
Em vários países, diversos observatórios monitoram o céu
sistematicamente em busca desses objetos que podem trazer algum risco à Terra.
E desde 2014, o SONEAR também participa desse esforço, mas com um grande
diferencial em relação aos maiores observatórios do mundo: ele está no
Hemisfério Sul do planeta.
Por ser um observatório austral (localizado no hemisfério
sul), o SONEAR tem acesso a regiões do céu que os grandes observatórios da
América do Norte, Europa e Ásia não têm. Isso permite que os brasileiros possam
cobrir essas regiões, que então não eram exploradas, o que contribui de forma
significativa com esse esforço global, descobrindo asteroides que antes
passariam desapercebidos.
Tecnologia Nacional, Reconhecimento Internacional
O Observatório SONEAR é um motivo de orgulho para o
Brasil, e não apenas pelos resultados apresentados desde que foi inaugurado.
Para torná-lo real, os recursos partiram dos próprios colaboradores, além
desses utilizarem tecnologias nacionais para auxiliá-los no trabalho de
descoberta.
Desde que João Ribeiro Barros, Eduardo Pimentel e
Cristóvão Jacques iniciaram a construção do observatório em 2013, cada tijolo,
cada saco de cimento e cada equipamento instalado, foram comprados com recursos
dos próprios astrônomos. Mas além disso, uma boa parte dos equipamentos e
softwares utilizados pelo SONEAR são tecnologias 100% nacional. A começar pelo
telescópio principal, cujo espelho foi confeccionado sob medida pelo fabricante
amador de telescópios Sandro
Coletti, do Paraná, e o tubo óptico por Marcelo Moura, de Minas Gerais.
Créditos: SONEAR
Telescópio principal do Observatório SONEAR.
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Nos bastidores, processando as imagens captadas pelos
telescópios, está o SkySift, um software desenvolvido pelo também astrônomo
amador Paulo Holvorcem,
de Campinas (SP). O software criado por Holvorcem já foi utilizado em inúmeras
descobertas astronômicas, entre elas, todas as do SONEAR.
Graças a essa união de investimentos privados,
tecnologias nacionais e os esforços dos astrônomos amadores brasileiros, o
observatório e seus associados, já receberam diversas premiações mundo afora em
reconhecimento às suas contribuições com a ciência.
Créditos: Douglas Magno/VEJA.com
Cristóvão Jacques, Eduardo Pimentel e João Ribeiro, no
observatório SONEAR.
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Além disso, o SONEAR vem se mantendo, desde 2014, como o
mais importante observatório amador no mundo na descoberta de asteroides
próximos à Terra. Mesmo sem nenhum centavo de investimento público, a
produtividade do observatório só não é superior aos grandes observatórios
profissionais existentes no Hemisfério Norte. E, no ano de 2019, só os superou
por estar com uma de suas duas câmeras em manutenção.
Nesse mesmo ano, o Observatório
Campos dos Amarais, também brasileiro, operado pelo Leonardo Amaral, foi o
observatório amador que mais descobriu asteroides no mundo.
A descoberta pelo SONEAR do seu oitavo cometa, o P/2020
G1 (Pimentel) só mostra o quanto nós brasileiros devemos valorizar a dedicação
e o esforço realizado por Ribeiro, Jacques e Pimentel, verdadeiros
representantes da contribuição dos astrônomos amadores brasileiros para a
ciência do Brasil e do mundo. Esperamos que o trio e os novos astrônomos
amadores que, assim como o Leonardo Amaral, comecem suas contribuições nessa
pesquisa, e possam encontrar cada vez mais incentivos e motivações para que
continuem, de forma voluntária, a proteger nosso planeta.
Atualização: após o fechamento deste artigo, e antes
de sua publicação, o P/2020 G1 (Pimentel) deixou de ser o último cometa
descoberto por brasileiros. Na noite de 4 de maio, o Minor Planet Center, pela
circular MPEC 2020-J37 anunciou o Cometa C/2020 J1 (SONEAR),
descoberto em 1° de maio, também pelo Observatório SONEAR. Dados preliminares
indicam uma órbita retrógrada e hiperbólica, com periélio em 3,2 UA (1 UA =
distância entre a Terra e o Sol). Esse tipo de órbita indica que o corpo orbita
o Sol em sentido contrário aos planetas, e por ser hiperbólica, após sua
aproximação do Sol, o cometa será lançado para fora do Sistema Solar.
Fonte: JPL/NASA
Órbita do Cometa C/2020 J1 (SONEAR).
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* Marcelo Zurita é presidente da Associação
Paraibana de Astronomia, membro da SAB - Sociedade Astronômica Brasileira e
diretor técnico da Bramon - Rede Brasileira de Observação de Meteoro
Fonte: Site Olhar Digital - https://olhardigital.com.br
Comentário: Pois é leitor, veja o exemplo dado pela ciência
Astronômica no Brasil, e neste caso a Astronomia Amadora, esta que ao lado da
Profissional vem há pelo menos uma década também contribuindo para colocar a
Astronomia Brasileira no mapa mundial dessa fantástica ciência. O trabalho que
vem sendo realizado pelos Observatório SONEAR e pelo Observatório Campos dos
Amarais são bastantes significativos e extraordinários, e não é por acaso que
ambos tem tido o reconhecimento internacional pelos seus feitos. Entretanto
leitor, a outra vertente desta ciência, muito importante para
mesma, e muito utilizada por cada vez mais países do mundo, que infelizmente ainda
deixa muito a desejar no Brasil. Trata-se da chamada Astronomia Espacial,
aquela que trata de missões astronômicas no ambiente espacial, e que no Brasil
ainda não teve nada de realmente efetivo concretizado, sendo a única real iniciativa
no momento conduzida pela startup espacial brasileira CRON Sistemas, ou seja,
um nanosatélite denominado pela empresa de CRON-1 e denominado no INPE como NanoMIRAX.
Afinal leitor a tão esperada e desejada missão lunar GARATEA-L entrou em ‘standby’
e a fantástica missão ASTER sequer saiu do papel. Existem outras missões brasileiras
desejadas pela comunidade, mas que não passam no momento de puro exercício de ‘faz
de conta’. Parabenizo os astrônomos amadores brasileiros e seus fantásticos observatórios,
vocês são “GENTE QUE FAZ”.
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