Um Mártir dos Foguetes

Olá leitor!

Segue abaixo um interessante artigo escrito pelo fogueteiro pioneiro Paulo Gontran o (Príncipe de Pelotas) e enviado hoje (29/05) ao nosso Blog. Vale a pena dar uma conferida, principalmente aqueles brasileiros interessados com a história do uso de foguetes no Brasil.

Duda Falcão 

UM MÁRTIR DOS FOGUETES 

Por Paulo Gontan
Pelotas - 29/05/2020

O acidente ocorrido no dia 22 de agosto de 2003, na base de Alcântara (MA), assinala a maior tragédia ocorrida no PEB, onde 21 técnicos e engenheiros perderam a vida, carbonizados em seus postos de trabalho graças a uma ignição intempestiva e não programada de um dos motores do VLS. Tais pessoas certamente serão sempre lembradas como nossos mártires da Pesquisa Espacial Brasileira, com muita justiça, reconhecimento e respeito de todos nós.

Não obstante, passamos a relatar outra vida perdida, não menos importante e ocorrida no séc XIX, a do Tenente Siegener, que foi subtraída à atividade com foguetes e que foi homenageado pelo Exército Brasileiro como mártir desta atividade. Tal mártir nos era desconhecido e, acredito, até aqui o seja da maioria dos que se dedicam aos foguetes, quer seja de forma profissional quer amadora, como nós próprios.

Fizemos tal descoberta em uma viagem à cidade gaúcha de Bagé em 25/06/2016, distante um pouco mais de 50 Km da cidade brasileira de Aceguá, na fronteira com o Uruguai.

Ocorre que no caminho para o Aeroporto da cidade, que se situa em um de seus limites, como é comum, avistamos o ginásio de esportes Gen. Emílio Garrastazu Médici (apelidado de “Militão”) e resolvemos parar o carro para uma visita. O motivo não era a construção em si, mas um foguete original X-40 que se encontra exposto na praça ao lado do ginásio, sobre uma base de pedra, já necessitando de vários reparos e vítima da depredação, pelo que pudemos constatar.

O dia estava muito frio, com temperatura de 3 º C e vento “Minuano”, o que dava a sensação de -6ºC, como se pode perceber nas fotos em que apareço com o rosto crispado ,como se estivesse sentido alguma dor, e estava mesmo, porque lá se diz que é “frio de cortar”, e essa é bem a sensação.

Não obstante o clima adverso, acompanhado de minha esposa, filho pequeno e a família de amigos, que nos acolheu na cidade com um gostoso churrasco típico. Fiz várias fotos e algumas descobertas que lhes passo a relatar. A primeira, e mais revoltante, foi o péssimo estado de conservação em que se encontra o monumento, apresentando muita oxidação, depredação, pichação e castigado pelo inclemente clima do Sul. A segunda que o monumento foi erigido pela empresa Avibras, de São José dos Campos e, finalmente o terceiro, motivo desse artigo, foi a surpreendente história contada na placa que, por sorte, ainda não tinha sido roubada ou destruída, onde se podia ler: 

“Na direção indicada por este foguete, encontra-se a região das cabeceiras do arroio LEXIGUANA onde, ao entardecer do dia 7 de fevereiro de 1827, às vésperas da Batalha do PASSO DO ROSÁRIO, teve lugar a primeira experiência com foguetes no Exército Brasileiro, dela resultando bravamente ferido o Ten Siegener, que a realizava, vindo o mesmo a falecer dois dias depois em Caçapava do Sul.

O sacrifício do Ten Siegener, oficial alemão a serviço do Império, assinala o ingresso da tecnologia militar brasileira na era dos foguetes e constituindo-se em marco histórico a ser ressaltado como um exemplo de abnegação profissional em prol da maior eficiência do Exército Brasileiro.      Bagé - RS 1983 

Homenagem da Avibras Indústria Aeroespacial S.A
São José dos Campos – SP” 

Logo, o Exército Brasileiro, e por último todos quantos se dedicam às pesquisas espaciais no nosso país, tiveram um mártir à época do Império: o Ten Siegener, de naturalidade alemã, falecido em ação experimentando foguetes em 08 de fevereiro de 1827,  considerado “mártir dos foguetes” para aquela força armada.

Acredito que muitos dos leitores não sabiam disso, nem eu.

Passei então a pesquisar na internet e descobri ter sido o foguete que explodiu, um do tipo Congreve conforme narra, com o português da época, a relíquia histórica abaixo, que comprova com extrema precisão o ocorrido:

Foguete Congreve.

Fonte: “Foguetes no Brasil – do foguete Congreve ao VLS”- Adler Homero Fonseca de Castro.  Disponível em <https://ecsbdefesa.com.br/foguetes-no-brasil-do-congreve-ao-vls-2a-parte/> acesso em 29/05/2020 – 15:49

Adicionalmente no youtube há uma dramatização em vídeo antigo (com poucos recursos, mas esclarecedor) acerca da batalha do “Passo do Rosário”. 


Fotos do Local:


* Paulo Gontran Ramos - Fogueteiro pioneiro do Foguetemodelismo brasileiro, fundador do Centro Gaúcho de Pesquisas Aeroespaciais (CEGAPA), conhecido carinhosamente pelo apelido de "Príncipe de Pelotas" desde que deixou a sua cidade natal de Porto Alegre para morar ao lado de sua senhora nesta cidade do interior gaúcho, formado em Eng. Elétrica e Software, passando pela Segurança de Voo, e Aeronautic Information Service, áreas em que atua atualmente, além de informações meteorológicas. Em 2001 fez treinamento no IPV (atual ICEA) do CTA de São José dos Campos-SP, e atualmente compõem o quadro operacional da INFRAERO desde 2002, atuando no Aeroporto Internacional João Simões Lopes Neto, em Pelotas-RS, como Operador de Estação Aeronáutica.

Comentários

  1. Parabéns ao Sr. Paulo Gontran pelo excelente artigo!

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    1. Obrigado Luiz. Bagé é uma cidade pequena, aqui da região (eu moro em Pelotas) que preserva suas tradições Gaúchas. Não obstante está ligada em alguns fatos interessantes ligados à pesquisa espacial, com ou sem intenção. Esse foguete X-40, por exemplo, já me chama a atenção faz muito tempo e felizmente o Duda me deu essa oportunidade de divulgar ao Brasil de sua existência e do evento histórico, no período imperial, que o monumento assinala e que narrei no artigo. Creio que até o Exército Brasileiro não tenha conhecimento sobre isso, pelo menos fora de Bagé.

      Outro fato ligado à Bagé é que lá existe a única amostra da Lua no Brasil. Eu pretendia escrever sobre isso também, porém já encontrei reportagem neste Blog do Duda a respeito. Particularmente eu acho que tanto o X-40, mal cuidado e esquecido, com sua placa histórica, quanto a amostra lunar, deveriam estar em local mais protegido e de maior destaque nacional, como no MAB, em São José dos Campos. Isso porque o Brasil todo merece ver essas relíquias e inclusive há o risco de sumirem com, por exemplo, a amostra lunar, que é avaliada em mais de US$5 milhões de dólares, no mercado negro que, infelizmente, comercializa ilegalmente tais tipos de amostras (até meteoritos).

      Mas há outras conexões de Bagé (RS) e região ligadas aos foguetes, pesquisa espacial e até UFOs. Espero poder contribuir com o Duda sobre fatos ocorridos sobre tais assuntos, embora não seja pesquisador de UFOs, como era meu querido amigo, falecido, Cap.Baranoff.

      Grande abraço !
      Gontran

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