Brasil Reconhece Violação de Direitos e Pede Desculpas a Comunidades Quilombolas de Alcântara (MA)
Olá leitores e leitoras do BS!
Segue abaixo uma notícia postada no dia de ontem (27/04) no
site da ‘Advocacia Geral da União (AGU)’
informando que o Brasil reconheceu na Corte Interamericana a violação de direitos e pediu desculpas às
Comunidades Quilombolas de Alcântara (MA). Saibam mais sobre essa questão
pela nota oficial abaixo.
Brazilian Space
Direitos Humanos
Brasil Reconhece Violação de Direitos e Pede Desculpas
a Comunidades Quilombolas de Alcântara (MA)
A cargo do advogado-geral da União, manifestação oficial
ocorreu hoje (27/04) em audiência da Corte Interamericana de Direitos Humanos
(CIDH), em Santiago, Chile
Publicado em 27/04/2023 17h30
Atualizado em 27/04/2023 18h19
Fonte: Site da Advocacia Geral da União (AGU) - https://www.gov.br/agu/pt-br
O Estado Brasileiro reconheceu, de forma oficial, que
violou os direitos de propriedade e de proteção jurídica das comunidades
quilombolas de Alcântara (MA). A admissão ocorreu hoje (27/04) durante
audiência pública da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), em
Santiago, Chile. Na mesma audiência, o país fez um pedido de desculpas formal
aos quilombolas do município maranhense, e informou ao Tribunal que as escusas
constarão de declaração pública que será divulgada e
permanecerá disponível durante um ano em página oficial do governo federal.
A posição brasileira mostra uma guinada no entendimento
sobre o caso, e reflete as diretrizes do atual governo de buscar uma solução
definitiva para a questão que assegure os direitos das comunidades ao
território e, ao mesmo tempo, possibilite a continuidade do Programa Espacial
Brasileiro (PEB), por meio do desenvolvimento do Centro de Lançamento da
Alcântara (CLA).
O novo posicionamento do Estado brasileiro foi
manifestado pelo advogado-geral da União, Jorge Messias, a quem coube a
realização das alegações orais perante a CIDH. “Como consequência dessa
violação, e ciente da natureza própria de que se revestem as medidas de
reparação por violações ao direito internacional, em nome do Estado brasileiro
manifesto nosso mais sincero e formal pedido de desculpas à senhora Maria
Luzia, ao senhor Inaldo Faustino e aos demais membros das comunidades
quilombolas de Alcântara”, afirmou Messias em seu pronunciamento, com menção
aos declarantes do caso que participaram da audiência.
Em suas alegações, Messias também informou à Corte
algumas das medidas concretas já tomadas, e em curso, pelo Estado brasileiro no
sentido de atender aspectos, apontados no relatório da Comissão Interamericana
de Direitos Humanos, que mostraram a existência de violações de prerrogativas
dos quilombolas. A principal delas, a criação de um Grupo de Trabalho
interministerial, formalmente constituído ontem, pelo presidente da República,
por meio do Decreto n. 11.502/2023.
Coordenado pela Advocacia-Geral da União (AGU), o Grupo
de Trabalho terá o objetivo de buscar soluções para a titulação territorial das
comunidades remanescentes de quilombos. Com a participação de representantes de
13 órgãos governamentais e dos quilombolas, o Grupo deverá concluir os
trabalhos em até um ano. Por determinação do presidente da República, após o
término das atividades do grupo, a titulação progressiva das terras
pertencentes à União deverá ocorrer em até dois anos após a publicação da
portaria de reconhecimento territorial.
Adicionalmente, de acordo com o decreto, o Grupo também
deverá formular proposta de ato normativo que regulamente o protocolo de
consultas prévias, livres e informadas às comunidades remanescentes de
quilombos, em harmonia com a Convenção n. 169 da Organização Internacional do
Trabalho (OIT). Tal mecanismo é uma obrigação do Estado brasileiro de
perguntar, adequada e respeitosamente, aos povos originários sobre sua posição
quanto a decisões do Poder Público capazes de afetar suas vidas e seus
direitos. Trata-se da implementação de uma prerrogativa dos povos a serem
consultados e participarem, por meio de diálogo intercultural, de decisões
estatais.
Compensação financeira
Na parte inicial das alegações, o advogado-geral da União
ressaltou aos juízes da Corte que a análise do caso era uma oportunidade única
para o Brasil reencontrar o passado e projetar o seu futuro. Lembrou dos traços
escravocratas que orientaram a formação do país desde o descobrimento. Falou
sobre o reflexo desse passado sobre as atuais gerações, incluindo os efeitos
nefastos da desigualdade racial ainda presente na sociedade brasileira.
Jorge Messias destacou também os avanços na proteção dos
direitos das comunidades afrodescendentes ocorridos a partir da promulgação da
Constituição de 88, com a adoção de medidas executivas, judiciais e
legislativas que garantiram o efetivo exercício de direitos previstos na Carta
Magna.
Ele sublinhou a recente criação, pelo atual governo, do
Ministério de Igualdade Racial, pasta que criou, em sua estrutura, uma
secretaria dedicada à promoção de políticas públicas específicas para as
comunidades quilombolas e, ainda, destinadas à superação da desigualdade racial.
Durante sua exposição, o advogado-geral informou à Corte
que o governo federal está comprometido em viabilizar a destinação de recursos
financeiros para compensação das violações. Esses recursos serão destinados à
implementação de políticas públicas que beneficiem diretamente as comunidades
em entendimento com seus representantes. O objetivo, explicou ele, é viabilizar
montante financeiro, equivalente ao valor solicitado pelas comunidades, a
título de reparação coletiva. Como contrapartida, o Estado brasileiro espera
que os quilombolas reconheçam perante o Tribunal o atendimento integral de seu
pedido, com o consequente pronunciamento da Corte IDH de que a medida de
reparação foi plenamente atendida.
Para Jorge Messias, o reconhecimento realizado hoje, perante
a Corte Interamericana, mostra, com o anúncio das medidas tomadas, o respeito
do Estado brasileiro à jurisdição do Sistema Interamericano de Direitos Humanos
e o compromisso inequívoco do atual governo de resolver uma controvérsia de
mais de quatro décadas. “Estou seguro de que demos hoje um passo histórico.
Mostramos à Corte, com atos concretos, nossa disposição de resolver o caso”,
disse. “Vamos agora trabalhar para mostrar que é plenamente possível chegar a
uma solução que respeite os direitos dos quilombolas à sua terra e suas
tradições e que assegure o desenvolvimento do nosso Programa Espacial”,
completou.
Além de Messias, participaram das alegações finais
representantes dos ministérios dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC) e das
Relações Exteriores (MRE). O embaixador do Brasil no Chile, Paulo Roberto
Soares Pacheco, fez a introdução as alegações finais orais do Estado
brasileiro. A secretária-executiva do MDHC, Rita Cristina de Oliveira, destacou
a prioridade da política do atual governo com a titulação de áreas quilombolas
por meio do programa Aquilomba Brasil. O secretário de assuntos multilaterais
políticos do MRE, embaixador Carlos Cozendey, reforçou o compromisso
internacional do Brasil com a proteção dos direitos humanos.
A audiência pública da CIDH ocorreu na sede do Tribunal
Constitucional do Chile, em Santiago. No caso sob análise, após as alegações
orais e oitiva de testemunhas realizadas hoje e ontem, haverá ainda a fase de
alegações finais escritas. Ainda não há prazo definido para a prolação da
decisão final da Corte.
Sobre a Corte
A Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) é
um dos três tribunais regionais de proteção de direitos humanos, juntamente com
as cortes Europeia e Africana de Direitos Humanos. É uma instituição judicial
autônoma cujo objetivo é aplicar e interpretar a Convenção Americana, também
conhecida como Pacto de São José da Costa Rica - tratado internacional que
estabelece direitos e liberdades que devem ser respeitados pelos Estados-parte,
dentre os quais se inclui o Brasil. O Tribunal exerce competência contenciosa,
o que confere a atribuição de resolução de litígios e supervisão de sentenças.
Também exerce função consultiva, além de proferir medidas provisórias.
A Convenção Americana estabelece que a Comissão
Interamericana e a Corte IDH são órgãos competentes para conhecer de assuntos
relacionados ao cumprimento de compromissos contraídos pelos Estados Partes
signatários do tratado.
Sobre o Caso
O caso refere-se à suposta afetação da propriedade
coletiva de 152 comunidades quilombolas localizadas em Alcântara (MA), devido,
entre outras questões, à suposta falta de titulação das terras por elas
ocupadas, à instalação do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) e à falta de
consulta prévia dessas comunidades quanto a medidas estatais que lhes afetem.
Também trata da suposta falta de recursos judiciais para remediar tal situação.
Segundo informações extraídas do caso, em 12 de setembro de 1980 foi declarada
como sendo de “utilidade pública” uma área habitada por 32 comunidades
quilombolas. Promovida pelo Estado brasileiro, a desapropriação da área foi
feita com o objetivo de implementar o CLA, e desenvolver o programa espacial
brasileiro. Essas comunidades quilombolas foram reassentadas em sete agrovilas,
enquanto o restante das comunidades da região continuou em seus territórios
tradicionais.
Em relação a essas últimas, a Comissão observou que,
apesar das ações realizadas para obtenção de títulos de propriedade coletiva de
suas terras e territórios tradicionais, as comunidades não têm conseguido usar
e usufruir delas de maneira pacífica . Em relação às comunidades das agrovilas,
a Comissão indicou que elas não possuem título de propriedade de suas terras e
territórios, e que o processo de reassentamento não teria cumprido os
parâmetros exigidos pelo direito internacional. Além disso, observou que o
Estado brasileiro descumpriu suas obrigações internacionais com a construção do
CLA e o reassentamento das 32 comunidades quilombolas, ao não ter garantido que
as restrições ao direito de propriedade respeitassem o direito à propriedade
ancestral dos quilombolas. Também observou que não foram realizados estudos
ambientais e sociais adequados, o que gerou um processo de reassentamento com
graves deficiências.
Comentários
Postar um comentário