Artigo: "Lixão Sideral" na Órbita da Terra Acende o Alerta Para Acidentes
Olá leitores e leitoras do BS!
Pois então, segue abaixo um artigo publicada no dia 02/04 no site do ‘Jornal
Correio Braziliense’, tendo como destaque o problema do ‘Lixo Espacial’.
Brazilian Space
ESPAÇO
"Lixão Sideral" na Órbita da Terra Acende o
Alerta Para Acidentes
A órbita terrestre está dominada por detritos de
satélites e naves que podem provocar colisões e graves acidentes. Cientistas
querem um tratado internacional para eliminar a poluição do espaço
Por Paloma
Oliveto
Postado em
02/04/2023 - 06:00
Fonte: Jornal
Correio Braziliense - https://www-correiobraziliense-com-br
(crédito: Mark A.
Garlick / markgarlick.co/Divulgação )
Ao voltar os
olhos para o céu, muitas pessoas não têm ideia de que, além de estrelas,
planetas e meteoros, o espaço está cheio de lixo. Assim como ocorre no solo
terrestre e nos oceanos, a atividade humana polui a órbita com detritos que
colocam em risco a segurança da Terra. Desde 1957, quando começou a corrida
espacial, quase 11 mil toneladas de restos de naves e satélites artificiais
foram acumulados, sem contar os mais de 100 milhões de objetos não rastreados
(veja quadro). Com a futura expansão das incursões, especialmente no setor de
telecomunicações, as expectativas são de que o problema se agrave.
A estimativa é de
que os satélites em atividade saltem dos 9,7 mil de hoje para mais de 60 mil em
2030. Temendo que a situação se descontrole, como ocorreu com o acúmulo de
plástico nos oceanos, os cientistas, agora, querem um tratado internacional que
proteja a órbita da Terra. Recentemente, um grupo de especialistas em
tecnologia e meio ambiente publicou, na revista Science, um apelo para que,
inspirados pelo instrumento juridicamente vinculativo que deverá garantir a
saúde dos mares após 20 anos de negociações, governos de todo o mundo olhem
para cima.
"Passei a
maior parte da minha carreira trabalhando no acúmulo de lixo plástico no
ambiente marinho, os danos que podem trazer e as possíveis soluções. É muito
claro que grande parte da poluição que vemos hoje poderia ter sido evitada.
Quanto ao acúmulo de detritos no espaço, há muito que pode ser aprendido com os
erros cometidos em nossos oceanos", destaca Richard Thompson, chefe da
Unidade Internacional de Pesquisa de Lixo Marinho da Universidade de Plymouth,
no Reino Unido, e um dos pesquisadores que assinam o artigo. No texto, o grupo
sustenta que, sem medidas de impacto, "grandes partes dos arredores
imediatos do nosso planeta correm o risco de ter o mesmo destino do alto-mar,
onde a governança insubstancial levou a pesca predatória, destruição de
habitat, exploração mineira e poluição plástica."
Os cientistas
reconhecem os benefícios dos satélites artificiais e dizem que muitas
indústrias começam a se preocupar com soluções sustentáveis na produção desses
objetos. Porém, destacam que boa parte da órbita terrestre pode ser inutilizada
com o avanço dos detritos artificiais. Até porque os próprios instrumentos
lançados no espaço com diversos fins, desde meteorológicos a telecomunicações,
podem ser prejudicados caso colidam com o lixo.
Segundo a Agência
Espacial Europeia, mesmo fragmentos de 10cm podem provocar estragos, destruindo
espaçonaves milionárias ou atingindo a Estação Espacial Internacional, que é
tripulada. Isso já ocorreu. O supertelescópio Hubble, por exemplo, sofreu um
dano a uma das antenas atribuído ao lixo espacial. Em 2019, o satélite militar
chinês Yunhai foi destruído depois de colidir com um objeto com diâmetro
estimado entre 10cm e 50cm.
Taxa de Uso
Para Imogen
Napper, pesquisadora da Universidade de Plymouth, líder do grupo de cientistas
que publicou o artigo na Science, não há tempo a perder. "Com o acúmulo de
detritos espaciais, estamos em uma situação semelhante à da poluição de
oceanos. Considerando o que aprendemos em alto-mar, podemos evitar cometer os
mesmos erros e trabalhar coletivamente para evitar uma tragédia no espaço. Sem
um acordo global, poderemos nos encontrar em um caminho semelhante ao da
poluição plástica", disse, em um comunicado. Para a especialista, um
acordo internacional deve incluir medidas para responsabilizar dos fabricantes
aos responsáveis pelo lançamento dos satélites a partir do momento em que
chegam ao espaço.
Uma das possíveis
soluções que devem constar de um acordo internacional é cobrar taxas de uso
orbital das operadoras para cada satélite lançado, defende Mathew Burgess,
pesquisador do Instituto Cooperativo de Pesquisa Ambiental da Universidade de
Colorado, em Boulder, nos Estados Unidos. O economista é um dos autores de um
artigo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences
(Pnas) no qual diz que essa é a maneira mais eficaz de resolver o problema do
lixo espacial.
Para o
pesquisador, a remoção de detritos espaciais pode motivar os operadores a
lançarem mais satélites, aumentando ainda mais o lixo na órbita baixa da Terra
(menos de 1,2 mil quilômetros) e, consequentemente, o risco de colisão. A
cobrança de taxas estimularia as companhias a retirarem do espaço os
instrumentos que não são mais necessários, acredita. O valor aumentaria com o
tempo do objeto em órbita. No modelo dos especialistas da Universidade de
Colorado, haveria um reajuste de 14% por ano-satélite, até 2040.
A preocupação com
o acúmulo de lixo na órbita levou um grupo de pesquisadores da Universidade de
Warwick, no Reino Unido, a criar um Centro de Conscientização do Domínio
Espacial. A ideia é pensar estratégias sobre o uso sustentável do espaço,
incluindo o desenvolvimento de métodos para rastrear os detritos. "A maior
parte da sociedade moderna depende do espaço. Mas, agora, temos um problema de
tráfego espacial. Mais cedo ou mais tarde, tudo isso se tornará um grande
problema. Do nosso ponto de vista, a ideia é começar a pensar em soluções muito
antes que isso aconteça", argumenta Don Pollacco, diretor do novo centro e
professor do Departamento de Física.
Uma das
preocupações, segundo Pollacco, é que pouco se sabe sobre a realidade do lixo
espacial. "Não sabemos sobre a distribuição orbital, mas sabemos que
existem algumas órbitas que contêm detritos significativos. São materiais que
estão se movendo muito rápido, e mesmo algo muito pequeno pode derrubar uma
espaçonave inteira."
Comentários
Postar um comentário