Equipe de Pesquisadores Brasileiros Descobrem Segundo Anel ‘Fora do Comum’ ao Redor do Objeto Transnetuniano 'Quaoar'
Olá leitores e leitoras do BS!
Segue abaixo uma notícia postado ontem (28/04) no site da
'Universidade Tecnológica Federal do
Paraná (UTFPR)’ destacando que uma equipe de pesquisadores brasileiros, com participação de Astrônomos da UTFPR, anunciou a descoberta de um segundo anel ao
redor do ‘Objeto Transnetuniano Quaoar’.
Brazilian Space
NOTÍCIAS - Descoberta
Equipe de Cientistas Anuncia Segundo Anel ‘Fora do Comum’
no Sistema Solar
Pesquisa é liderada por Chrystian Luciano Pereira, mestre
pela UTFPR e doutorando do Observatório Nacional (RJ), sob orientação do
professor do Campus Curitiba, Felipe Braga Ribas
Por UTFPR
Publicado: 28/04/2023 - 08h02
Última modificação: 28/04/2023 - 08h35
Fonte: site
da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) - http://www.utfpr.edu.br
Uma equipe de pesquisadores brasileiros, com participação
de astrônomos da UTFPR, anuncia mais uma descoberta no Sistema Solar. Trata-se
de um segundo anel ao redor do objeto Transnetuniano Quaoar. A pesquisa é
liderada pelo pesquisador Chrystian Luciano Pereira, mestre pela UTFPR e
doutorando do Observatório Nacional (RJ), sob orientação do professor do Campus
Curitiba, Felipe Braga Ribas.
O artigo ‘The two rings of (50000) Quaoar’ foi publicado
pela revista Astronomy & Astrophysics Letters, no último dia 28. Em
fevereiro deste ano, a equipe já havia divulgado na Revista Nature o primeiro anel ao redor de
Quaoar e que ele, assim como esse novo anel descoberto, fica além do limite
de Roche – contrariando uma teoria do século XIX, quando Edouard Roche
constatou, em 1948, que existe uma distância para que um corpo se mantenha coeso,
sem se desintegrar devido às forças de maré, causada pela atração
gravitacional; teoria que ficou conhecida como ‘Limite de Roche’.
Diferente dos anéis observados em Chariklo, Haumea e nos
quatro planetas gigantes, o anel de Quaoar se encontra em uma região
inesperada, muito além do Limite de Roche para o corpo (para Quaoar, esse
limite é estimado em 1.780 km do centro do corpo). O Limite de Roche é uma
região em que as forças de maré do corpo central estão em equilíbrio com a
atração mútua das partículas que compõem um anel, impedindo então a acreção
dessas partículas em satélites. Outra propriedade interessante e não usual do
anel de Quaoar é a variabilidade na sua largura e opacidade, sendo muito
estreito e denso em uma região, enquanto tênue e extenso em outra.
Histórico das Descobertas
Em 2017 um anel foi descoberto ao redor do planeta-anão
Haumea. Em fevereiro de 2023, a mesma equipe divulgou a descoberta do terceiro
sistema de anéis, agora ao redor do objeto Transnetuniano Quaoar. Agora, a
equipe anunciou que o sistema de Quaoar é mais complexo do que se pensava,
possuindo um segundo anel mais interno ao divulgado no início do ano. Estas
descobertas foram feitas com o uso da técnica de ocultações estelares, quando
um objeto do Sistema Solar passa em frente a uma estrela e bloqueia a sua luz
por alguns instantes.
Anéis ao redor de corpos do Sistema Solar foram
observados primeiramente por Galileu Galilei ao apontar sua luneta para
Saturno, em 1610. Nos séculos seguintes, anéis seriam descobertos ao redor dos
outros três planetas gigantes: Júpiter, Urano e Netuno. Até 2013, não se sabia
que anéis poderiam orbitar pequenos corpos do Sistema Solar. A surpresa ocorreu
quando um sistema com dois anéis foi descoberto ao redor do objeto Centauro (10199)
Chariklo.
Ocultação Estelar
Para obter mais informações de Quaoar e seu anel, a
equipe organizou uma campanha observacional para uma ocultação estelar em 9 de
agosto de 2022, envolvendo telescópios amadores e profissionais, como o Gemini
Norte e Canadá-França-Hawaii Telescope (CFHT), com diâmetro de 8,1 e 3,6
metros, respectivamente. Os resultados dessa campanha observacional foram
publicados neste último artigo da revista Astronomy & Astrophysics Letters.
A alta performance dos instrumentos acoplados nos
telescópios Gemini Norte e CFHT, as cameras 'Alopeke e WIRcam respectivamente,
aliado a sua localização no topo do Mauna Kea, no Hawaii, permitiram a obtenção
de curvas de luz com qualidade ímpar. A região densa e estreita do anel
previamente descoberto (preliminarmente nomeado Q1R) foi sondada por essa
ocultação, revelando uma estrutura estreita confinada com aproximadamente 5 km
de largura e com grande profundidade óptica (bastante densa).
“Esse núcleo estreito do anel é cercado por um envelope
de material disperso com cerca de 60 km, se assemelhando em estrutura ao anel F
de Saturno ou o arco observado nos anéis de Netuno", comentam os autores
no trabalho.
A região mais extensa e tênue desse anel também foi
detectada, tendo uma largura média de 90 km e com menos de 1% da opacidade da
região mais densa. A distância calculada entre Quaoar e esse anel é de 4.060
km.
Estes dados ainda revelaram a presença de um segundo anel
orbitando Quaoar, previamente denominado de Q2R. Esse anel possui cerca de 10
km de largura e, apesar de estar mais próximo de Quaoar, também se encontra
fora do limite de Roche, orbitando 2.520 km do centro do objeto. Isso revela o
quão curioso e complexo o sistema de Quaoar pode ser.
O anel mais externo, orbita Quaoar a uma distância muito
próxima a região de estabilidade gerada pela ressonância spin-órbita 1:3,
significando que enquanto Quaoar completa três rotações, as partículas do anel
completam uma órbita. Já o anel mais interno se encontra próximo a região de
ressonância spin-órbita 5:7, ou seja, enquanto Quaoar completa sete rotações,
as partículas do anel completam cinco órbitas. Esse comportamento dinâmico é
observado nos anéis ao redor de Chariklo e Haumea, que também se encontram
próximos à região de ressonância 1:3. Isso sugere que as ressonâncias podem
estar intimamente relacionadas com a manutenção e localização desses anéis.
Outro fator que pode causar o confinamento desses anéis é a presença de
pequenos satélites “pastores” que ainda não foram descobertos.
O trabalho foi realizado como parte do projeto
"Lucky Star", sob a liderança do pesquisador Bruno Sicardy do
Observatório de Paris (Paris, França) e foi viabilizado através de uma
colaboração mundial envolvendo astrônomos profissionais e amadores. Este estudo
contou com a participação de pesquisadores da UTFPR e de diversos institutos
internacionais, como Instituto de Astrofísica de Andalucía (Granada, Espanha),
Observatório Nacional (Rio de Janeiro, Brasil), Laboratório Interinstitucional
de e-Astronomia (Rio de Janeiro, Brasil), Instituto Espacial da Flórida
(Orlando, Flórida), entre outros.
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