Desenvolvimento de Massa Crítica para o PEB
Olá leitor!
Segue abaixo um artigo escrito por Jarbas Caiado de Castro Neto e publicado na nova edição da Revista Espaço Brasileiro (Abr. Mai. Jun. de 2010), destacando o desenvolvimento da massa crítica para a pesquisa na área espacial no Brasil.
Duda Falcão
Desenvolvimento de Massa Crítica para a Pesquisa,
Produtos e Aplicações na Área Espacial no Brasil
Jarbas Caiado de Castro Neto*
O desenvolvimento do setor espacial no Brasil, quando comparado ao setor Aeronáutico, por exemplo, teve um crescimento muito pequeno ao longo dos anos. Os programas estratégicos deram suporte ao desenvolvimento da indústria aeronáutica, mas deixaram a indústria espacial à mercê do mercado internacional. Assim, o empenho do governo pela criação de uma escola – o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) – de institutos de pesquisas, do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), foram capazes de fortalecer o setor aeronáutico, mas não obtiveram o mesmo sucesso no setor espacial. Para o desenvolvimento industrial na área espacial é necessário que haja vínculo forte entre o estado e as empresas, dando garantia de continuidade. Isso ocorre em todos os países que atuam competitivamente na área espacial.
Desde 2004, a Opto Eletrônica S.A. desenvolve câmeras para serem utilizadas no Programa de Cooperação Brasil-China. Consolidada na área a empresa desenvolve uma câmera multiespectral (MUX) em sua totalidade e desenvolve em consórcio com outra empresa brasileira o Wield-Field Imager (WFI), no qual é responsável pelo projeto, fabricação e integração do bloco opto-mecânico e da eletrônica de interface do Charge Coupled Device (CCD, em inglês) – Dispositivo de Acoplamento de Carga (CCD). Com o sucesso obtido, outros projetos aeroespaciais foram incorporados, tais como a câmera Advanced Wild-Field Imager (AWFI) para o satélite da Plataforma Multi-Missão (PMM) do INPE e um projeto da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) para desenvolver técnicas e procedimentos de produção de filmes especiais para uso espacial.
Pra tal a OPTO reestruturou seu departamento de pesquisa e desenvolvimento, no qual atualmente trabalham cerca de 60 engenheiros, físicos e técnicos de montagem aeroespacial. São sete doutores, 11 mestres, e 29 graduados pesquisando em tempo integral soluções eletrônicas, mecânicas, ópticas, de software e de produção para a área espacial brasileira. A empresa nasceu em 1985 como spin-off da Universidade de São Paulo (USP), Seu objetivo inicial era produzir no País o primeiro laser em escala industrial. Em meados de 1993, entrou no mercado médico-oftálmico no qual é projetista e fabricante de equipamentos, e oferece serviços de pós-venda aos profissionais de medicina. Mediante parcerias com a FINEP, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), juntamente com o apoio de outras iniciativas relacionadas à Lei de Inovação, a empresa já introduziu no mercado vários produtos de alta tecnologia para as áreas médica, industrial, militar e espacial perfazendo um crescimento médio de 15% até 2003. Em 2004, ao vencer a licitação do INPE para o desenvolvimento da câmera MUX a empresa cresceu 26%. A partir de então novos projetos foram iniciados, os quais fazem com que hoje 40% do faturamento seja representado por projetos aeroespaciais.
Se por um lado, isso representa a importância da área espacial na empresa por outro lado representa a preocupação com as políticas públicas que podem garantir a continuidade dessas ações. Atualmente a empresa conta com cerca de 400 funcionários contra 250 de cinco anos atrás. Desde 2005 realiza esforço para a qualificação de fornecedores de peças, materiais e processos de fabricação mecânica e eletrônica na região central paulista, a qual não tinha qualquer tradição industrial em espaço e aeronáutica. Hoje são cerca de 15 fornecedores qualificados, entre pequenas e médias empresas que já fornecem para outros parceiros do INPE.
No Brasil, as características territoriais e geopolíticas tornam a tecnologia espacial a única alternativa viável para atender necessidades como telecomunicações, levantamento e prospecção de recursos naturais, acompanhamento de alterações no meio ambiente, e vigilância das fronteiras. Hoje, no País, o desafio é ampliar as fontes internas de financiamento e democratizar o acesso ao crédito para o investimento, a produção e o consumo, de forma a incentivar a inovação tecnológica nas cadeias produtivas em geral. Na área espacial, isso passa pela criação de um plano de longo prazo objetivando desenvolver e utilizar tecnologias espaciais.
A manutenção do Programa Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS), da PMM e de outros é essencial para a manutenção do pessoal, infraestrutura e tecnologias já desenvolvidas. Outros satélites e programas também são necessários, tais como o desenvolvimento de um satélite meteorológico nacional, bem como um satélite SAR (Synthetic Aperture Radar) – Radar de Abertura Sintética – para vigilância de fronteiras. Com a tecnologia de câmeras espaciais ópticas já desenvolvidas no país e toda a infraestrutura e pessoal treinado e presente em diversas companhias, o investimento para o desenvolvimento de uma câmera de alta resolução e outra meteorológica não seria tão grande e traria inegável independência ao Brasil.
*Presidente a Opto Eletrônica S.A.
Fonte: Revista Espaço Brasileiro - num. 9 - Abr. Mai. Jun. de 2010 - pág. 23
Comentário: A preocupação demonstrada aqui pelo presidente da Opto Eletrônica faz muito sentido, pois a classe política brasileira não é merecedora de qualquer demonstração de confiança ou de competência política administrativa, fora é claro o já tão conhecido desinteresse da mesma pelo Programa Espacial Brasileiro. Apesar disso as empresas brasileiras desse setor tem se desenvolvido e não atingiram a sua maturidade ainda por falta de incentivo ao PEB. Resta aguardar agora para vê se as coisas irão mudam no próximo governo, o que eu sinceramente não acredito.
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