Após a Missão Centenário

Olá leitor!

Segue abaixo um artigo opinião escrito pelo astronauta Marcos Pontes e publicado na nova edição da Revista Espaço Brasileiro (Abr. Mai. Jun. de 2010), falando sobre o após a Missão Centenário.

Duda Falcão

Opinião


Após a Missão Centenário


Marcos Pontes*


Três, dois, um, e “liftoff” do Soyuz TMA-8 transportando Jeff Williams, Pavel Vinogradov e Marcos Pontes para seu lar no espaço. São quatro anos desde aquela manhã fria no Cazaquistão, quando decolou a primeira missão espacial tripulada da história do Brasil. Como todo evento histórico, a Missão Centenário foi marcante para todos os brasileiros, com impactos positivos em vários setores da sociedade. Aliás, em quase 50 anos de atividades espaciais no país, aquele foi o evento de sucesso mais divulgado e comentado do nosso Programa Espacial, trazendo temporariamente seus projetos, necessidades e vantagens à luz da apreciação e conhecimento público.

Com tal visibilidade, durante os últimos quatro anos, muito foi dito, correta e incorretamente sobre a missão, sobre a minha carreira e sobre as atividades e usos de nosso programa espacial. Enquanto falavam, colhemos resultados práticos para o Brasil e o primeiro vôo espacial no contexto técnico, científico e cultural do País. Inicialmente lembramos que a Missão Centenário já é parte dos livros de história do Brasil. Foi criada e administrada pela Agência Espacial Brasileira (AEB) com os objetivos de fomentar pesquisas em Microgravidade, divulgar o Programa Espacial, homenagear Santos Dumont e motivar jovens para as carreiras de Ciência e Tecnologia (C&T). Foi parte da Participação Brasileira na Estação Espacial Internacional (ISS, sigla em Inglês) e executada dentro do previsto por mim, na minha função de astronauta brasileiro.

Houve críticas à AEB pela criação da Missão e pelo custo de 10 milhões de dólares. Contudo, as críticas não tinham autores qualificados, isentos de interesses pessoais e muito menos fundamentos lógicos, sendo facilmente descartadas pela simples comparação inteligente de valores no cenário de C&T e em face da sua importância científica e estratégica para o Programa.

Na ISS, junto a 82 experimentos de outros países foram executados dois experimentos educacionais, quatro científicos e dois tecnológicos, todos desenvolvidos por pesquisadores brasileiros. Os educacionais foram os mais divulgados. Os científicos chamaram a atenção e o interesse de instituições internacionais como a Agência Espacial Americana (NASA). Os tecnológicos geraram produto nacional para resfriamento e controle de temperatura de satélites, além também de poderem controlar fornos industriais e gerar novas empresas e empregos.

Quanto aos requisitos e a importância da carreira de astronauta, esses têm se tornado paulatinamente mais conhecidos. Após o retorno da Missão, o Comando da Aeronáutica acertadamente me transferiu para a reserva militar. O fato também foi alvo de notícias errôneas e críticas sem sentido, Nelas, a carreira de astronauta foi atrelada à carreira militar. O que não divulgaram era o fato de a carreira de astronauta ser civil, de continuidade incompatível com as funções militares e que todos os astronautas que voaram comigo e que eram militares também foram transferidos para reserva militar para poderem prosseguir de forma plena com as atividades civis de astronauta.

Após a Missão, retornei para meu trabalho normal, em Houston, no estado do Texas (Estados Unidos), para o Programa Espacial Brasileiro, A Participação Brasileira na ISS se manteve ativa até 2007, quando foi congelada tecnicamente pela NASA devido ao cronograma fechado de lançamento das partes que deveriam ter sido construídas no Brasil.

Hoje em dia vivo entre Houston e o Brasil. Em Houston, permaneço à disposição da AEB, como astronauta, aguardando escalação para outros vôos espaciais e como contato técnico, para possível coordenação com outras agências e instituições internacionais. No Brasil, atuo como Professor e Pesquisador Convidado da Universidade de São Paulo (USP), em São Carlos, onde estamos estruturando um curso de Engenharia Aeroespacial para a formação de recursos humanos para o Programa Espacial Brasileiro.

Atualmente, observa-se na AEB um excelente trabalho no sentido de focar e coordenar esforços da academia, com a participação do setor privado, no desenvolvimento de tecnologias críticas para os projetos de interesse do País na área espacial. Na minha opinião, esse esforço, associado a uma mudança no modo de propor e operar novos projetos, será a semente do maior salto que teremos no Programa Espacial nos próximos anos. Nessa nova metodologia de proposta de projetos, é necessário que, através de um grupo multidisciplinar composto por integrantes de todos os ministérios, a Agência receba as necessidades das várias áreas de desenvolvimento do país e que funcione como um gerador, integrador e gestor das soluções específicas necessárias.


*Primeiro astronauta brasileiro, engenheiro aeronáutico e mestre em Engenharia de Sistemas


Fonte: Revista Espaço Brasileiro - num. 9 - Abr. Mai. Jun. de 2010 - pág. 22

Comentário: O astronauta faz um relato fiel sobre o que aconteceu após a sua Missão espacial descrevendo as críticas sem sentido que recebeu de vários setores da sociedade mal informada e de pessoas inescrupulosas, demonstrando otimismo com o futuro do programa espacial. Confessamos que não compartilhamos desse otimismo com o astronauta, pois em nossa opinião nada mudou e pelo visto nada mudará, já que as mesmas pessoas continuarão no comando desse barco sem rumo chamado Programa Espacial Brasileiro. Esperamos e torcemos por estamos errados.

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