'Resultados Como Esse Podem Inspirar a Próxima Geração de Cientistas', Diz Brasileira Envolvida na 1ª Foto de um Buraco Negro
Olá leitor!
Segue abaixo uma notícia postada ontem (17/04) no site
“G1” do globo.com, destacando que segundo astrônoma brasileira que esteve
envolvida com 1ª Foto de um Buraco Negro, resultados como esse podem inspirar a próxima geração de cientistas.
Duda Falcão
CIÊNCIA E SAÚDE
'Resultados Como Esse Podem Inspirar a
Próxima Geração de
Cientistas', Diz Brasileira
Envolvida na 1ª Foto de um Buraco Negro
Lia Medeiros, astrônoma e física de 28 anos, explicou sua
colaboração no projeto.
Para ela, reconhecimento do trabalho das mulheres na
iniciativa
ajuda a mudar estereótipo do cientista.
Por Ana Carolina Moreno, G1
17/04/2019 - 05h00
Atualizado há um dia
Foto: Reprodução/TV Globo
Lia Medeiros participou do projeto que revelou
a primeira
imagem de um buraco negro.
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Mais de 200 cientistas de todo o mundo estão por trás de
um dos avanços mais significativos da astronomia nos últimos tempos: a
primeira fotografia de um buraco negro. Divulgada há uma semana, a
imagem, obtida por uma combinação de sinais capturados por oito
radiotelescópios e montada com a ajuda de um "telescópio virtual"
criado por algoritmos, já rodou o planeta, junto com o nome de muitos dos
participantes do projeto Evento Horizont Telescope (EHT).
Um desses nomes é o de Lia Medeiros, brasileira de 28
anos que se mudou na infância para os Estados Unidos, onde acaba de defender
sua tese de doutorado (conhecida lá fora como PhD) pela Universidade do
Arizona.
Filha de um professor de aeronáutica da Universidade de
São Paulo (USP), ela afirmou, em entrevista ao G1, que cresceu
perto de pesquisas científicas. Ela também precisou usar inglês e português nos
vários lugares em que morou e, por isso, viu na matemática uma linguagem que
não mudava.
"Ela [a matemática] parecia ser uma verdade mais
profunda, como se fosse de alguma forma mais universal que as outras
matérias", explicou a jovem, que nas próximas semanas começa um projeto de
pós-doutorado para o qual foi selecionada, além de integrar a equipe de
pesquisa do Instituto de Estudos Avançados, localizado na cidade de Princeton.
Especializada em testar as teorias da física nas
condições extremas do espaço, Lia encontrou no EHT o projeto ideal para o seu
trabalho. Ela atuou tanto na equipe que realizou as simulações teóricas quanto
em um dos quatro times do grupo de imagens. Os pesquisadores usaram diferentes
algoritmos para ter os pedaços da imagem do buraco negro captados pelos sinais
dos radiotelescópios e preencher os espaços vazios para completar a
"fotografia".
O feito de Lia recebeu destaque no site da Universidade
do Arizona, que listou o trabalho no projeto de mais de 20 estudantes da
instituição, começando pela brasileira.
Segundo a pesquisadora, embora os resultados do projeto
EHT tenham sido obtidos graças ao trabalho de mais de 200 pessoas, o foco que
as mulheres participantes do projeto receberam é positivo para mudar o
estereótipo de quem pode e deve ser cientista.
"É importante que garotas e jovens mulheres saibam
que essa é uma opção para elas, e que elas não estarão sozinhas se optarem por
uma carreira científica." - Lia Medeiros
Foto: Arquivo pessoal/Monica Hollenbeck
A astrônoma brasileira Lia Medeiros, especialista em
buracos
negros, no dia em que defendeu sua tese na Universidade
da Califórnia
em Santa Barbara.
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Leia abaixo a entrevista concedida pela pesquisadora
ao G1:
Como você se envolveu com ciência e, mais
especificamente, com a astronomia?
Meu pai é professor universitário e eu cresci perto da
pesquisa científica. Decidi que queria fazer um PhD desde cedo, mesmo antes de
saber o que eu queria estudar. Eu mudei muito durante a minha vida e ‘troquei’
de línguas entre português e inglês três vezes até os 10 anos. Quando era
criança, percebei que, mesmo que a leitura e a escrita fossem completamente
diferentes em países diferentes, a matemática era sempre a mesma. Ela parecia
ser uma verdade mais profunda, como se fosse de alguma forma mais universal que
as outras matérias. Eu mergulhei na matemática e amei.
No ensino médio, eu estudei física, cálculo e
astronomia ao mesmo tempo e finalmente entendi o real significado da
matemática. Eu fiquei maravilhada e atônita que nós, seres humanos, conseguimos
criar uma linguagem, a matemática, que não é só capaz de descrever o universo,
mas pode inclusive ser usada para fazer previsões.
Eu fiquei especialmente maravilhada pelos buracos negros
e a teoria da relatividade geral. Eu decidi então que queria entender os
buracos negros, que eu precisava entender os buracos negros. Eu me lembro que
perguntei a um professor que curso eu precisava estudar na faculdade para
trabalhar com buracos negros. Ele disse que provavelmente daria certo com
física ou astronomia. Então eu fiz as duas.
E como você se envolveu com o projeto do EHT?
Meus interesses de pesquisa estão focados no uso de
objetos e fenômenos astronômicos para testar os fundamentos das teorias da
física. Eu vejo a astronomia como um laboratório onde podemos testar teorias
nos cenários mais extremos que você possa imaginar. O EHT era o projeto
perfeito pra isso, porque as observações do EHT sondam a física gravitacional
no regime dos campos de força em maneiras que ainda não tinham sido feitas
antes.
Foto: Reprodução
Pela primeira vez, telescópios conseguiram captar
a
imagem de um buraco negro.
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Como foram os dias após a revelação da imagem?
Emocionantes, divertidos, vibrantes e um pouco
avassaladores. Sou muito grata que muitas pessoas estão animadas com o
resultado, nós tivemos uma resposta fenomenal, não só da comunidade científica,
mas do público em geral também.
Eu adoro pensar que resultados como esse podem
inspirar a próxima geração de cientistas a querer saber mais sobre o universo
ao seu redor.
Você viu a imagem antes? Quando? E quão difícil foi
guardar o segredo?
Minha pesquisa estava primeiramente focada nas simulações
teóricas, mas eu também estava envolvida no grupo de trabalho de imagem. Eu fiz
parte de um dos times de imagem e nós nos reunimos para fazer a imagem pela
primeira vez em junho de 2018. Foi difícil manter o segredo, porque eu estava
muito emocionada com esses resultados, mas, claro, eu entendia que precisávamos
checar tudo duas ou três vezes antes de divulgar o resultado publicamente.
Buraco negro: saiba o que é, como a imagem
foi feita e as
simulações do fenômeno.
No processo de divulgação dos resultados pelo projeto,
pelas instituições e pelos meios de comunicação, muito do foco foi dado às
colaboradoras mulheres. Qual é a sua opinião sobre isso?
Existem
mais de 200 pessoas envolvidas nesse resultado de muitas
instituições por todo o mundo. Eu acho que é crucial que a gente se lembre de
que esse foi um esforço em equipe e não focar apenas em poucas pessoas. Dito
isso, eu tenho dedicado uma porcentagem significativa do meu tempo durante meus
estudos em tentar expandir a representação das mulheres na ciência,
especificamente focando em dar às meninas jovens exemplos positivos nos modelos
femininos na STEM [sigla em inglês para ciências, tecnologia, engenharia e
matemática]. Por exemplo, eu frequentemente visito escolas de ensino médio e
outros locais para dar palestras públicas.
Na minha opinião, reconhecer que muitas mulheres estão
envolvidas nesse resultado pode ser muito benéfico para mudar o estereótipo de
quem pode e deve ser cientista. É importante que garotas e jovens mulheres
saibam que essa é uma opção para elas, e que elas não estarão sozinhas se
optarem por uma carreira científica.
Você enfrentou obstáculos na sua carreira pelo fato de
ser mulher? O que você aprendeu com isso e o que gostaria que as mulheres
começando carreiras científicas soubessem?
A maioria das mulheres que conheço na astronomia e física
(pelo menos nos Estados Unidos) tiveram que lidar com alguns “obstáculos” por
causa de seu gênero, inclusive eu. Isso pode incluir assédio sexual,
discriminação, ou mesmo alguns comentários grosseiros que, no decorrer de
alguns anos, podem acumular e ter um efeito significativo na sua felicidade e
entusiasmo pela pesquisa.
Acho que a principal coisa que quero que as jovens
mulheres saibam é que elas são capazes. É muito comum que mulheres nessas áreas
duvidem de si mesmas quando encontram frequentemente pessoas que duvidam de
suas habilidades.
É normal e comum ter dúvidas, mas não deixe que elas
tomem conta. No fim, a perseverança acaba sendo muito mais importante do que compreender
algum assunto complicado na primeira vez que você o estuda. Se você quiser
muito, você consegue.
Esse é o ponto alto da sua carreira até agora?
Até agora, sim. Eu acabei de defender meu PhD, estou
começando uma bolsa de pós-doutorado daqui a algumas semanas e estava envolvida
nesse grande resultado. Considerando tudo, é uma época bem emocionante.
O que você planeja fazer daqui pra frente?
Eu ganhei uma bolsa de pós-doutorado em astronomia e
astrofísica da Fundação Nacional de Ciências [NSF, na sigla em inglês]. É um
programa de três anos que inclui um salário e fundo para pesquisa. Também
recebi uma oferta para participar do Instituto de Estudos Avançados [IAS, na
sigla em inglês], e vou combinar esses dois cargos. Estou levando minha bolsa
para o IAS e, depois dos três anos iniciais, vou continuar mais um tempo como
membro do IAS.
Assista abaixo à entrevista de Lia Medeiros ao
Fantástico:
Entenda
como foi feita a primeira imagem
de um Buraco Negro.
Fonte: Site “G1” do globo.com - 17/04/2019
Comentário: Pois é leitor, tá aí mais um exemplo de uma
profissional brasileira de futuro que fará (pelo menos por enquanto) a sua
carreira fora do país, o que é uma pena para o país, mas enfim... Aproveitamos
para agradecer ao nosso leitor Jahyr Jesus Brito pelo vídeos enviados que
acompanha essa matéria.
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