'A Gente Queria Ter Chegado Lá', Diz Brasileiro em Missão de Israel Que Tentou Pouso na Lua
Olá leitor!
Segue abaixo uma
interessante matéria publicada ontem (12/04) no site do jornal “Folha de São
Paulo” destacando que segundo engenheiro brasileiro que participou da missão da
sonda lunar israelense ‘Beresheet’, eles queriam ter chegado lá e foi uma grande
frustração não terem conseguido.
Duda Falcão
CIÊNCIA
'A Gente Queria Ter Chegado Lá', Diz Brasileiro
em Missão de Israel Que Tentou Pouso na
Lua
Engenheiro
aeroespacial paulista participou da equipe da nave
israelense Beresheet, que
falhou na alunissagem
Por Daniela
Kresch
Folha de São
Paulo
12 de abril de 2019
às 18h38
TEL AVIV
- O engenheiro aeroespacial Sérgio Levi, 58, não deixou a frustração
desanimá-lo. Nascido em São Paulo e morando em Israel há quatro décadas, Levi
trabalha há dois anos na equipe de dinâmica de pouso da SpaceIL, a startup
israelense que tinha como objetivo levar uma espaçonave não tripulada à Lua. A
missão, porém, falhou na última hora. A poucas dezenas de metros do satélite, o
motor da espaçonave falhou e ela se espatifou em solo lunar.
“Senti
frustração. A gente queria ter chegado, ser o quarto do mundo [a
pousar na Lua], mas às vezes é melhor saber que essas coisas não são fáceis”,
diz Levi.
Arquivo pessoal
A equipe de Levi
determinou quando o motor da Beresheet (gênesis,
em hebraico) —um módulo com apenas 180 kg que custou US$ 100 milhões (R$ 380
milhões) em verba de doações— deveria ser acionado para realizar as manobras
necessárias para fazer espaçonave ser capturada pela órbita da Lua e
“alunissar” (pousar na Lua). Sua equipe funcionou com pouquíssimos
contratempos. Para ele, os objetivos da missão foram alcançados, apesar de
tudo.
Por que a
Beresheet não conseguiu pousar como deveria na Lua? O que deu errado?
Ainda vai haver
uma investigação, mas parece que foi algo ligado ao sistema IMU (Inertial
Measurement Unit), necessário para o controle da espaçonave. Houve uma falha,
que acabou gerando problemas no computador da nave e ordenando o
desligamento do motor principal. E nessa fase da alunissagem é proibido
desligar o motor. Poucos segundos depois que o motor se desligou, já não dava
mais para brecar a espaçonave e ela acabou não realizando o pouso
suave como tinha sido planejado.
Não deu para
identificar essa falha do IMU a tempo?
Não. Uma vez que
faltou comunicação com a espaçonave por causa de um problema de comunicação,
não deu para determinar em questão de segundos o que estava acontecendo e
mandar uma ordem para uma possível correção.
A navegação,
da qual o senhor participou, deu problema?
Não, mas foi bem
desafiadora. Era um assunto no qual eu tinha uma certa experiência, mas
nunca tinha ido tão longe assim, à Lua. Calculamos a órbita da espaçonave para
saber qual é o apogeu, a altura máxima e outros dados. Encomendamos equipamento
de uma empresa sueca para fazer essas medidas, mas elas estavam chegando com
muita interferência. Mas, felizmente, com tempo, a situação melhorou.
Quando chegamos à órbita da Lua, tínhamos uma precisão excelente, de 100 metros
de altura.
Não dá para
esconder a frustração do pouse desastrado, certo? As pessoas choraram?
Não, não vi
ninguém chorando. Mas eu mesmo senti frustração... A gente queria ter chegado
lá, ter sido o quarto país do mundo [a pousar na Lua], mas tudo bem.
Às vezes é melhor saber que a gente está avançando, que essas coisas não são
fáceis. Os soviéticos, que foram os primeiros a pousar na Lua com sondas
não tripuladas, não conseguiram de primeira. Ninguém conseguiu. Não há
dúvida de que há frustração, mas estamos recebendo apoio. Todos dizem:
"valeu, vamos para a próxima". Então já estou saindo rápido
dessa frustração e contente de ter realizado uma espécie de acrobacia
espacial: levar a nave, através de manobras realizadas por minha equipe, de
forma perfeita para chegar exatamente ao lugar do pouso na altura certa, com a
precisão correta.
A missão foi
um fracasso, ao seu ver?
Infelizmente o
pouso não deu certo, não deu. Mas a missão foi um sucesso pelo fato de que
chegamos em condições de pouso. É como cumprir 95% da missão.
O que foi
alcançado?
Esse projeto
tinha um objetivo científico. Um pesquisador do Instituto Weizmann, na cidade
de Rehovot, o doutor Oded Aharonson, queria obter medidas do campo
magnético perto da superfície da Lua. E conseguiu. Ele reuniu a nossa equipe de
engenheiros logo depois de sabermos que a alunissagem não foi realizada até o
fim e disse: saibam que eu vi os dados de telemetria do campo magnético na
descida e foi a primeira vez que esse campo foi registrado tão próximo ao solo.
Teve outras vitórias também.
Quais?
A educacional,
por exemplo. A ideia central era despertar na juventude o interesse para
estudar, para se dedicar ao estudo de física, de matemática. Assim como houve o
“efeito Apollo” nos EUA, aqui temos o “efeito Beresheet”. As pessoas falam na
rua sobre isso. Tive várias oportunidades de dar palestras sobre esse projeto
para crianças, jovens e idosos. E o objetivo, talvez o principal para a
ciência, foi a cooperação entre uma startup, a SpaceIL, e o governo através da
Indústria Aeronáutica de Israel. Esse tipo de modelo pode ajudar a levar
adiante pesquisas nesse campo.
Será que o
Brasil poderia também se voltar para esse tipo de missão?
O Brasil tem um
programa espacial muito bonito. Tive a oportunidade de visitar o Inpe (Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais) e conversar com pesquisadores. Fiquei bem
impressionado. Seria interessante se houvesse algum tipo de colaboração com o
Brasil em um projeto futuro.
Fonte: Site do Jornal
Folha de São Paulo – 12/03/2019
Comentário: Eng.
Sérgio Levi, não desanime, vocês chegarão lá, tenho certeza disso. O senhor bem
deve saber que falhas não são incomum nas atividades espaciais, faz parte do jogo
e tenho certeza que em breve vocês darão a volta por cima. Uma informação para
o senhor, o Brasil já tem uma missão lunar em curso, chama-se Garatéa-L, uma missão
orbital que deverá chegar na órbita da LUA em 2021/22, fruto da iniciativa do
Eng. Lucas Fonseca, CEO da Airvantis, uma startup espacial brasileira. Quanto a
parceria espaciais futuras com Israel creio eu que isto já esteja em pauta no
Governo Bolsonaro. Aproveitamos para agradecer a nossa leitora Mariana Amorim
Fraga pelo envio dessa matéria.
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