Protótipo de Foguete de Capacitação (PFC): outro projeto indo para o ralo? (... e não foi por falta de avisos!)

Olá, Leitora! Olá, Leitor!


Enquanto nações ao redor do mundo avançam aceladamente em suas conquistas no espaço, nós nos encontramos no marasmo sem fim. Há muito tempo, o Brasil e suas atividades espaciais vivem presos em um ciclo vicioso de incompetência dirigida, má gestão planejada e desperdício de recursos públicos programado. O caso do Protótipo de Foguete de Capacitação (PFC), anunciado com pompa e circunstância há um ano e meio, é um exemplo gritante dessa triste realidade.


Logomarcas da Finep e da DeltaV (Fonte: Sites institucionais das instituições)

Lembrem-se daquele dia em fevereiro de 2022, quando o ex-ministro Marcos Pontes, com seu sorriso confiante, lançou o edital do PFC em São José dos Campos. Na época, muitos acreditavam que finalmente estávamos no caminho certo, que a seriedade e competência prevaleceriam na escolha da empresa vencedora. Que ingenuidade a nossa.

Desde o início, o processo foi marcado por um edital propositadamente mal elaborado e repleto de flagrantes vicissitudes. Como resultado (talvez o idealizado para atender alguns interesses), empresas sem histórico relevante na área espacial foram habilitadas enquanto outras, com anos de experiência e comprovada competência, foram deixadas de lado. A FINEP, ao invés de zelar pela transparência e mérito, parece ter se tornado avalista dos velhos lobbies que exaurem o Programa Espacial Brasileiro.

Ainda que com vícios patentes, a saga do PFC continuou com contestações, recursos e reviravoltas, mas o desfecho final não surpreendeu aqueles que acompanhavam atentamente o desenrolar dos eventos. O resultado final, anunciado após uma série de manobras duvidosas, só confirmou o que muitos já suspeitavam: o processo estava viciado desde o início (E não foi por falta de avisos, veja aqui, aqui e aqui).

Criada em 21/10/2020, ou seja, pouco mais de 1 ano antes da divulgação do edital, e com capital social de R$ 30.000,00 (veja aqui), a escolha da empresa DeltaV para o desenvolvimento do protótipo, levanta ainda mais questões. Sem histórico comprovado na área de foguetes, essa escolha levanta diversas dúvidas na comunidade espacial sobre os fatores que podem ter influenciado sua seleção.

Agora, passados 1 ano e meio da data da divulgação do resultado e quase 1 ano e 3 meses da assinatira do "Contrato" (Termo de Outorga) com a Finep, nenhuma informação sobre o andamento parcial do projeto é divulgada pela empresa (cujo site não possui nenhum menu com portfólio de produtos ou serviços), ou pela própria Finep, para prestar contas dos R$ 7.799.771,17 (sete milhões, setecentos e noventa e nove mil, setecentos e setenta e um reais e dezessete centavos) entregues a referida empresa e dos resultados alcançados.

O que se ouve nos bastidores é que a DeltaV, que deveria desenvolver um produto de inovação, por defasagem de pessoal e de estrutura (que todo mundo já sabia) para uma empreitada dessa monta, está agindo como "Prime Contractor" e quarteirizando todo o serviço, o que, na nossa opinião, desvia sobremaneira das premissas de inovação do edital da Finep. Das empresas que estáo sendo contratadas para quarteirizar a produção do PFC, temos a Turbomachines (que irá desenvolver os motores do foguete projetados pela DeltaV, apesar de dizerem oficialmente que serão somente as turbos bombas), para (segundo as nossas fontes) a Akaer (que foi contactada para confirmarção e, até o momento da publicação da matéria não nos retornou com uma resposta) que seria responsável por desenvolver toda aviônica e software de controle e para a Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (FINATEC) da Universidade de Brasília (UnB), instituição do Distrito Federal, que será a responsável pelo desenvolvimento das bancada e outras ferramentas de testes do motor.


Extrato de Convêncio da DeltaV com a FINATEC (Fonte: Diário Oficial da União - DOU)


Divulgação da DeltaV sobre parceria com a Turbomachine (Fonte: Redes Sociais da DeltaV)

Ainda segundo as fontes do BS, os requisitos originais foram reduzidos e o apogeu do futuro protótipo, caso esse voe, não deverá passar de 10 km, ou seja, um foguete de competição estudantil... a preço de, aproximadamente, 02 veículos de sondagem VSB-30 (R$ 4.030.286,00, com valores de 2015 convertidos para preços atuais).

Mais recentemente, por volta do dia 29/02/2024, a AEB publicou que uma comitiva da AEB e da Finep esteve em São José dos Campos para fazer "...visitas técnicas às sedes das empresas contratadas por meio de editais de subvenção econômica...", dentre elas a DeltaV.



Segundo a publicação da AEB "Na ocasião, a empresa Delta V Engenharia compartilhou os progressos do projeto para o desenvolvimento do foguete de treinamento". Quais progressos? Houve prograsso real? Como está o andamento físico-financeiro do projeto? E sobre a quarteirização do projeto?

Esses projetos deveriam ter um dashboard público nos sites das empresas e da AEB com um resumo das soluções / projetos e cronogramas aprovados e o andamento (gráfico de Gantt), no mínimo, das suas macroetapas para que todos que pagamos por isso possamos acompanhar.

No entanto, assim como na minha época a AEB finge que planeja, finge que executa e finge que fiscaliza, nesse esterno "jogo de comadres" que é o PEB e a sua gestão que não gerencia nada.

O caso do PFC é um reflexo do que acontece quando a falta de transparência e de seriedade prevalecem sobre o interesse público. Enquanto outros países avançam, o Brasil permanece estagnado, vítima de um sistema que privilegia os apadrinhados em detrimento do progresso genuíno.

Somado a isso, com um dos membros da DeltaV potencialmente assumindo o desenvolvimento do Veílculo de Sondagem e Treinamento (VST), do tenebroso e nubeluso edital da FUNCATE/DCTA/CLBI (veja aqui), como ficará e o projeto do PFC com essa situação?

Mas, como diz o ditado: "O tempo é o senhor da razão!"

Vamos aguardar mais um pouco e ver o que vai sair, se sair algo, disso a...

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