Artigo: Como a 'Guerra na Ucrânia' Se Torna Espacial e Incentiva Novos Investimentos em Satélites Por Todo o Mundo

Olá leitores e leitoras do BS!
 
Segue abaixo um interessante artigo publicado ontem (25/11) no site do ‘Jornal Gazeta do Povo ’ de Curitiba-PR, abordando como a Guerra na Ucrânia se tornou espacial vindo a incentivar novos investimentos em satélites por todo o mundo. 
 
Brazilian Space 
 
Mundo - Guerra Espacial
 
Como a Guerra na Ucrânia Se Torna Espacial e Incentiva Novos Investimentos em Satélites Por Todo o Mundo 
 
Por Mariana Braga
25/11/2022 - 21:31
Fonte: site do Jornal Gazeta do Povo - https://www.gazetadopovo.com.br 
 
Foto: Reprodução/Youtube NASA
Lançamento de satélites Starlink em 2020.
 
A Guerra na Ucrânia vai muito além de terra, céu e mar. Os conflitos estão no espaço e tendem a acontecer cada vez mais a quilômetros de distância do solo. Além disso, a invasão russa incentivou outros países a investirem ainda mais nesse setor, que está na base das disputas no Leste Europeu.
 
Os ucranianos só não perderam totalmente a conexão com a internet, por exemplo, devido ao sistema Starlink, da Space X do bilionário Elon Musk, tendo em vista que a quase totalidade da infraestrutura tecnológica do país foi bombardeada.
 
“Starlink é o único sistema de comunicação que continua a funcionar. Todos os outros estão mortos”, tuitou o bilionário em meados de outubro.
 
Em termos de defesa, o Starlink permite que as forças ucranianas calculem a trajetória de seus mísseis e geolocalizem seus alvos. Por isso, Musk também publicou que “a Rússia está tentando destruir o Starlink”.
 
Existe uma diferença substancial entre o sistema da Space X e outros espalhados pelo mundo. Tradicionalmente, satélites de comunicação estavam a mais de 20 mil km de distância, além do alcance dos mísseis. Mas a SpaceX mudou essa ordem. Hoje, a constelação da empresa de Elon Musk evolui em órbita baixa, até 550 km de altura, ou 60 vezes mais baixa que os satélites convencionais. A vantagem é uma latência mais curta (tempo que os dados levam para chegar ao destinatário). A desvantagem é uma exposição maior aos mísseis vindos do solo.
 
Além de ter o Starlink, a inteligência ucraniana está em contato direto com especialistas de empresas privadas americanas de tecnologia espacial, como a Maxar Technologies, Planet Labs e BlackSky. As imagens permitem identificar o avanço das tropas e do equipamento militar do adversário, bem como registrar os abusos russos.
 
Em Mariupol, por exemplo, poucas horas após o bombardeio de um teatro que abrigava civis, a Maxar havia publicado instantaneamente uma imagem mostrando que a palavra "crianças" estava escrita no chão em enormes letras brancas, para sinalizar a presença de menores a possíveis pilotos de caça. 
 
Movimentação Mundial 
 
Esse cenário de corrida espacial fez outros países apertarem o passo nos investimentos no setor, que já estavam em crescimento.
 
Nesta semana, os 22 ministros dos países membros da Agência Espacial Europeia (ESA) se encontraram para definir o orçamento da instituição para os próximos três anos e dividi-lo entre os diferentes programas. Para o período 2023-2025, a ESA pede aos seus membros 18,5 mil milhões de euros, um aumento de 25% em relação ao período 2020-2022.
 
Um salto nunca visto antes. “É necessário para permanecer na corrida com os americanos e os chineses, cujos meios estão aumentando nesse ritmo”, garantiu o gerente-geral Josef Aschbacher. O desenvolvimento do foguete Ariane 6 é uma das metas para a independência espacial europeia.
 
Mas não é de hoje que a Europa está de olho nas disputas espaciais. Ainda em 2018, a então ministra das Forças Armadas da França, Florence Parly, denunciou a atividade de um satélite russo que se aproximou muito de um satélite militar franco-italiano para ouvir suas transmissões. A França, então, criou um comando específico em 2019 e inflou seu orçamento em 30% em sua última lei de programação militar, elevando-o para 600 milhões de euros anuais.
 
Já os chineses dobraram seu orçamento em dez anos para se preparar para uma guerra espacial, elevando os gastos para mais de US$ 3 bilhões.
 
O Reino Unido, por sua vez, formalizou com o ex-premiê Boris Johnson sua ambição de se tornar um ator espacial “significativo” até a década de 2030.
 
Quanto à Itália, o país desenvolveu o sistema de observação mais poderoso da Europa com o Cosmo-SkyMed.
 
E os americanos lançaram em 2019 com Donald Trump um comando espacial militar, o Spacecon, planejando um “exército espacial”. "Somos os melhores do mundo no espaço hoje, mas nosso nível de superioridade está diminuindo", declarou o general John Raymond, nomeado chefe da Spacecom, na ocasião. "Queremos nos mover rapidamente e ficar à frente."
 
Com a invasão russa, a preocupação mundial cresceu. Ainda no início de março, o Ministério das Forças Armadas da França já estava alertando para o perigo de propagação do conflito a dezenas de milhares de quilômetros da Terra. “O que imaginávamos está chegando”, alertou o general Michel Friedling, chefe do Comando Espacial Francês.
 
“Estamos em constante vigilância e em conexão com nossos parceiros e aliados sobre o que pode acontecer no espaço, que ainda é uma zona cinzenta”, concluiu. 
 
O Que Está Acontecendo e o Que Pode Acontecer
 
Em fevereiro, um dia antes da invasão da Ucrânia, milhares de europeus se viram sem conexão de internet. O satélite Viasat tinha sido alvo de um ciberataque, privando o acesso às comunicações por satélite em determinadas zonas da Europa e em particular na Ucrânia. Para o general francês Friedling, esse incidente foi indiscutivelmente causado por um ataque russo.
 
Ao mesmo tempo, hackers afiliados ao Anonymous (movimento de hackers anônimos) alegaram ter colocado toda a Roscosmos, a agência espacial russa, fora de serviço para que Moscou “perdesse o controle de seus satélites espiões”.
 
Negando a informação, o diretor da Roscosmos, Dmitry Rogozin, lembrou que “desativar grupos de satélites de qualquer país geralmente constitui um casus belli, ou seja, um motivo para ir à guerra”. Por sua vez, Elon Musk, CEO da SpaceX, disse que era regularmente alvo de tais ataques e teve que gastar recursos significativos para repeli-los.
 
Mas guerra espacial reserva muitos outros métodos de ataque. “Desde o rompimento de um satélite até sua destruição física, há uma série de ações possíveis”, observou Xavier Pasco, diretor do FRS, ao jornal Le Monde.
 
“É impossível para a Rússia destruir completamente a rede”, concluiu Paul Wohrer, pesquisador de espaço da Fundação para Pesquisa Estratégica (FRS) ao jornal francês Le Figaro. Ele ainda alertou para o risco, a longo prazo, da “síndrome de Kessler”: a chegada de inúmeros detritos poluindo o espaço. “Seria um desastre ecológico e um grande problema para o uso do espaço nos próximos anos”, alertou o especialista, segundo o qual “a Rússia se exporia a graves consequências internacionais ao assumir tal responsabilidade”.

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