Consórcios Internacionais Buscam Astrônomos e Financiamento Brasileiro
Olá leitor!
Segue abaixo um artigo postado hoje (28/11) no site da
“Agência FAPESP”, destacando que consórcios internacionais buscam astrônomos e
financiamento brasileiro.
Duda Falcão
Especiais
Consórcios Internacionais Buscam
Astrônomos e
Financiamento Brasileiro
Por Elton Alisson
28/11/2013
(ilustração GMT)
Comunidade astronômica do país avalia participação em projetos de dois megatelescópios, com início da construção previsto para 2014. |
Agência FAPESP –
A produção científica brasileira na área de astronomia tem crescido nos últimos
anos. O número de artigos científicos publicados anualmente subiu de 150, em
1995, para 230 em 2010.
Segundo pesquisadores da área, parte desse incremento na produção científica se
deve à participação do Brasil em consórcios internacionais que garantem o
acesso a instrumentos de observação competitivos.
As
principais iniciativas nesse sentido foram a participação em observatórios como
o Gemini, cujas operações iniciaram em 2004 com dois telescópios “gêmeos”, um
nos Andes chilenos e outro no Havaí, e o Southern Observatory for Astrophysical
Research (SOAR, na sigla em inglês), inaugurado nos Andes em 2005.
O Brasil
conta com 6% de participação nas observações do Gemini, cujos telescópios têm
espelhos principais com 8,1 metros de diâmetro. No SOAR, com espelho de 4,2
metros de diâmetro, a participação brasileira é de 30%. A participação de
pesquisadores brasileiros nos dois observatórios se dá com financiamento da
FAPESP e de outras agências de fomento à pesquisa no país.
“O aumento
no número de artigos publicados por astrônomos brasileiros nos últimos anos tem
relação absolutamente direta com a participação no Gemini e no SOAR”, disse
João Steiner, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências
Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo (USP), à Agência FAPESP.
“Estávamos
estagnados por quase uma década em termos de publicação de artigos científicos
e de formação de mestres e doutores na área e, quando o Gemini e o SOAR
entraram em operação, esses dois indicadores cresceram em um ritmo bastante
expressivo”, afirmou.
Atualmente a
comunidade de pesquisa da área está sendo convidada para participar e para
ajudar a financiar dois dos maiores projetos de construção de megatelescópios
em andamento no mundo: o Giant Magellan Telescope (GMT), projetado por um
consórcio de instituições dos Estados Unidos, Austrália e Coreia do Sul, e o
European Extremely Large Telescope (E-ELT), planejado pelo Observatório Europeu
do Sul (ESO, na sigla em inglês).
Ambos também
serão construídos no Chile em razão de o céu do Hemisfério Sul ser considerado
muito mais rico, em termos de possibilidades de observações astronômicas, do
que o do Hemisfério Norte, além de haver disponibilidade de lugares adequados
para fazer observações, como a cordilheira dos Andes, no norte do Chile.
Com início
da construção previsto para julho de 2014 em Cerro Las Campanas, o GMT será
composto por sete espelhos segmentados redondos, com 8,4 metros de diâmetro
cada um, que – reunidos como as pétalas de uma flor em torno de
seu botão central – formarão uma superfície óptica com uma abertura de 24
metros de diâmetro. O GMT está previsto para entrar em operação em 2019.
O projeto
está orçado em US$ 690 milhões (cerca de R$ 1,6 bilhão), com previsão de
aumento de US$ 30 milhões a cada ano que o início da construção for adiado. Por
isso, os idealizadores têm pressa em obter a aprovação de instituições que já
manifestaram interesse em participar do projeto. Entre elas estão as
universidades do Arizona, do Texas, de Chicago, e Texas A&M – todas nos
Estados Unidos – e da Universidade Nacional da Austrália (ANU).
Também já
confirmaram interesse no projeto o Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian e
o Instituto Carnegie para Ciência, ambos dos Estados Unidos, além do Instituto
de Ciências Astronômicas e Espaciais da Coreia do Sul e do Astronomy Australia
Limited (AAL).
“O desafio
mais urgente e crítico para o GMT hoje é obter financiamento para a fase de
construção”, contou Wendy Freedman, presidente do consórcio, durante um
workshop sobre o projeto, realizado nos dias 13 e 14 de novembro, na sede da
FAPESP, em São Paulo.
O evento faz
parte de um processo de avaliação pela FAPESP de uma solicitação de
financiamento para apoiar a participação no GMT feita por pesquisadores de
universidades e instituições de pesquisa no Estado de São Paulo. Para a análise
da proposta, após a obtenção de pareceres de assessoria, ficou clara a
necessidade de se aferir o interesse da comunidade de pesquisa paulista na
área, bem como o potencial para o envolvimento de empresas do Estado.
Pela
proposta, a FAPESP teria 4% de participação no projeto, o que asseguraria aos
pesquisadores de São Paulo um tempo cativo de observação no telescópio também
de 4% por ano. O financiamento solicitado à FAPESP é de US$ 40 milhões.
Os
astrônomos de São Paulo também teriam assento no conselho do consórcio, direito
a voto nas decisões sobre o projeto e poderiam participar da construção do
telescópio – que inclui desde a construção de partes do telescópio, como o
domo, que terá cerca de 4 mil toneladas de aço, até o desenvolvimento de
instrumentação científica.
No início de
novembro, engenheiros do GMT realizaram um “Dia da Indústria”, na FAPESP, para
apresentar às empresas brasileiras potenciais fornecedoras de equipamentos e
prestadoras de serviços as possibilidades de participação na construção do
telescópio.
“Não temos
dúvida da importância científica do GMT. Mas temos que ter claro o papel que
será desempenhado por pesquisadores do Estado de São Paulo e saber exatamente
quais as garantias e riscos, além de quais dados e tecnologias poderão ser
criados por meio desse projeto internacional”, disse Hernan Chaimovich,
assessor especial da Diretoria Científica da FAPESP, na abertura do segundo
evento, no dia 13 de novembro.
Adesão do
Brasil ao ESO
O ESO, por
sua vez, há alguns anos empenha esforços para que o governo do Brasil ratifique
sua adesão ao consórcio astronômico europeu e participe da construção do
megatelescópio E-ELT e de outros projetos da instituição.
Com o início
da construção também previsto para 2014, o telescópio situado em uma montanha
na região de Cerro Armazones, no Chile, e com um espelho com 39 metros de
diâmetro, deverá ser o maior entre os chamados de “extremamente grandes” (ELT,
ou “extremely large telescopes”). A conclusão da obra está prevista para 2023.
O espelho
principal deverá ser composto por cerca de 800 segmentos hexagonais, com 1
metro cada, que formarão uma colmeia de espelhos com capacidade de capturar 15
vezes mais luz do que o maior telescópio em operação hoje, o Gran Telescopio
Canarias, situado nas Ilhas Canárias, com 10,4 metros de diâmetro.
Para
participar da construção do telescópio, no entanto, o Brasil precisa ratificar
sua adesão ao consórcio astronômico europeu, que está em avaliação no Congresso
Nacional.
“Ao aderir
ao ESO, o Brasil tem a oportunidade de se juntar a um programa de pesquisa
astronômica de longa duração que talvez seja o melhor existente hoje no mundo e
no qual engenheiros, astrônomos e empresas de alta tecnologia têm a chance de
trabalhar juntos”, disse o holandês Tim de Zeeuw, diretor geral da organização
astronômica europeia, à Agência FAPESP, durante visita realizada por um
grupo de jornalistas brasileiros às instalações do ESO no Chile, no início de
novembro, a convite da organização.
Apesar de
ainda não ter se credenciado oficialmente, o Brasil já é tratado e citado como
membro oficial em diversos materiais de divulgação do consórcio astronômico
europeu – como, por exemplo, em sua página na internet – e há diversas referências ao país nas
instalações do ESO no Chile.
A bandeira
brasileira, por exemplo, está hasteada ao lado das flâmulas dos 14 países
europeus que já são membros oficiais do consórcio, na portaria do observatório
do ESO em Cerro Paranal – uma montanha com 2,6 mil metros de altitude,
localizada no deserto do Atacama, nas proximidades de Cerro Armazones.
A paisagem é
tão semelhante a Marte que, na primeira semana de outubro, a Agência Espacial
Europeia (ESA) realizou, próximo ao observatório, um teste com um robô –
chamado Bridget – para uma futura missão exploratória ao planeta vermelho.
O país
também é mencionado em um local bem menos visível do observatório: um túnel
subterrâneo com as cores verde e amarela, localizado no Centro de Controle do
telescópio Very Large Telescope (VLT), batizado de “Avenida Brasil”, em alusão
ao nome de uma telenovela brasileira exibida atualmente no Chile.
Os
astrônomos brasileiros têm realizado observações de forma esporádica nos
telescópios do consórcio europeu. “As propostas de pedido de tempo de
observação no VLT do Brasil não têm sido constantes. Do total de quase mil
propostas que recebemos por ano, só 2% são de colegas brasileiros”, contou
Claudio de Figueiredo Melo, potiguar que está no ESO no Chile desde 2003 e que
em abril foi nomeado a um dos cargos mais importantes na hierarquia do
consórcio de pesquisa astronômica: o de diretor científico.
A fim de
tentar acelerar a integração da comunidade científica de astrônomos brasileiros
com o ESO, em agosto, Melo e o paulista Dimitri Alexei Gadotti – que realizou doutorado e pós-doutorado com Bolsa da FAPESP e integra a equipe
permanente de astrônomos do consórcio – visitaram algumas universidades e
instituições de pesquisa no Brasil para apresentar as possibilidades de
pesquisa nos telescópios do observatório chileno e explicar como devem ser
formatadas as propostas de pedido de tempo de observação.
O ESO também
realizou em 2011 e este ano o “Dia da Indústria”, com o objetivo de apresentar
a empresas brasileiras oportunidades de desenvolvimento de instrumentação
científica para os telescópios. E, recentemente, aprovou um projeto para o
desenvolvimento do primeiro instrumento brasileiro para ser integrado a um dos
telescópios do VLT de Cerro Paranal.
O
instrumento, denominado Cubes, está sendo construído por pesquisadores do IAG,
da USP, em colaboração com colegas do Laboratório Nacional de Astrofísica
(LNA), em Minas Gerais.
Cubes é a
sigla em inglês de Cassegrain U-band Brazilian-ESO Spectrograph e consiste em
um espectrógrafo de baixa a média resolução, especializado em observações em
comprimento de onda no ultravioleta, que será voltado a estudos sobre a
composição química das galáxias. O projeto é financiado, inicialmente, pelo
próprio LNA e pelo IAG.
Atualmente,
os pesquisadores brasileiros envolvidos no projeto fazem ajustes no
equipamento, em colaboração com engenheiros do ESO, para aumentar seu
desempenho e inserir alguns componentes.
“O projeto
está caminhando muito bem e vamos apresentá-lo nessa segunda etapa, de
implementação, em diversas conferências com a participação de astrônomos e
engenheiros do ESO que devem ocorrer nos próximos meses”, disse Beatriz Barbuy,
professora do IAG e coordenadora do projeto.
A inserção
do equipamento em um dos telescópios do ESO, no entanto, dependerá da
ratificação do Brasil como membro efetivo do consórcio europeu de pesquisa
astronômica.
Caso o
Brasil não confirme sua integração ao ESO, o projeto do espectrógrafo poderá
ser descartado ou transferido para um dos 14 países europeus membros do
consórcio de pesquisa astronômica, disseram representantes do ESO. “No dia em
que a adesão do Brasil for ratificada, o projeto de desenvolvimento do Cubes
avançará”, disse Melo.
Experiência
Brasileira
Tanto no
caso do desenvolvimento do Cubes como na construção de instrumentação
científica para o GMT, a ideia é aproveitar a experiência brasileira nessa
área, acumulada pela participação de pesquisadores de universidades do Estado
de São Paulo com instituições de pesquisa do país, no desenvolvimento de
equipamentos para telescópios.
Por meio de
projetos apoiados pela FAPESP, grupos de pesquisadores do IAG, em parceria com
instituições de pesquisa do país, desenvolveram um espectrógrafo de alta resolução e um imageador para o SOAR, entre outros instrumentos
científicos.
“O SOAR nos
permitiu iniciar o desenvolvimento de instrumentação científica de classe
mundial para telescópios”, disse Steiner. “Se queremos, no futuro, estar na
fronteira do conhecimento em astronomia, temos que participar tanto do uso como
do desenvolvimento de instrumentação científica para esses novos telescópios.”
Fonte: Site da Agência FAPESP
Comentários
Postar um comentário