A Era dos Pequenos, Micros e Nano Satélites (1)
Olá leitor!
Segue abaixo um artigo escrito pelo Sr. José Monserrat
Filho e postado hoje (20/11) no site da Agência Espacial Brasileira (AEB) dando
destaque a era dos pequenos, micros e nano satélites (parte 1).
Duda Falcão
A Era dos Pequenos, Micros
e Nano Satélites (1)
José Monserrat Filho*
A Era Espacial foi
inaugurada por um pequeno satélite. O Sputnik-1, lançado pela ex-União
Soviética em 4 de outubro de 1957, era uma esfera de 58 cm que pesava 83,6 kg.
Voou durante 22 dias a uma altitude entre 228 e 947km, sem nenhuma função
específica. Levava a bordo nada além de dois transmissores de rádio de 1 W, com
duas longas antenas, operando entre 20,005 e 40,002 MHz e emitindo um único e obstinado –
“bip,bip,bip” –, sintonizado por qualquer rádio-amador. Era, portanto,
absolutamente inofensivo. Mas causou pânico nos EUA. Por que?
Porque
a parte mais importante desse lançamento espacial pioneiro não era o satélite.
O Sputnik I não passava do “escada”, como se diz em linguagem teatral, para o
personagem principal, o foguete lançador (19 m de altura, dois estágios, 240
ton na decolagem) batizado com o nome de R7, o temido “Semyorka”, que emergia
no palco da política mundial, em plena Guerra Fria, como poderoso míssil
balístico intercontinental, capaz de lançar ogivas nucleares no outro lado do
Terra, ou seja, nos EUA, rompendo, assim, a decantada invulnerabilidade do
território norte-americano.
Daí
que um pequeno satélite, instalado nos ombros do gigante R7, gerou uma grande
mudança global. As potências rivais tinham agora que sentar-se à mesa de
negociações para discutir a nova situação geopolítica do mundo e atender, até
onde permitissem seus planos estratégicos, aos ardentes anseios de paz de todo
um planeta à beira da catástrofe nuclear.
Antes,
dizia-se abertamente, o país que dominar o espaço, dominará o mundo. Inaugurada
a Era Espacial por quem menos se esperava fosse capaz de tamanho feito,
passou-se a apregoar o uso pacífico do espaço.
Mas
essa visão não durou muito. De certo modo, serviu para acalmar a opinião
pública, alarmada com a ameaça da terceira guerra mundial, fadada a ser um
choque de extermínio total. Apesar da perspectiva atordoante, a Guerra Fria não
iria parar simplesmente porque os humanos tinham, enfim, chegado ao espaço.
Já
em 1956, antes, portanto, do lançamento do Sputnik-1, os EUA aprovavam o
projeto do primeiro satélite de reconhecimento, o Corona (resolução de 12m),
que viria revolucionar os sistemas de inteligência a partir de 1960,
substituindo o avião de espionagem U-2. Um desses aparelhos, pilotado por
Francis Gary Powers, funcionário da CIA, foi abatido pela URSS e exibido no
desfile de 1º de maio daquele ano. Em 1961, a URSS lançava seu primeiro
satélite de reconhecimento, o Zenit (resolução de 10-15m).
A
Guerra Fria crescia e se aperfeiçoava. Contudo, por acordo mútuo as duas
grandes potências decidiram deixar de lado o espaço exterior como zona de
conflito bélico – a mesma situação criada para a Antártida pelo Tratado de
1959, em vigor ainda hoje.
Não
por acaso, apenas dez anos após o lançamento do Sputnik-1, o Tratado do Espaço,
de 1967, foi capaz de proibir a colocação em órbita de armas de destruição em
massa (nucleares, químicas e biológicas) e desmilitarizou totalmente a Lua e
demais corpos celestes. Mas não logrou fechar o espaço para os voos suborbitais
dos mísseis balísticos de grande alcance portadores de ogivas nucleares, nem
para o emprego de outros tipos de armas, e muito menos regulamentar o chamado
uso militar passivo do espaço (reconhecimento, comunicação, mapeamento,
precisão de tiro etc.), de modo a impedir que ele vá além das ações de defesa e
se torne uma forma de agressão.
Hoje,
o uso de pequenos, micros e nano satélites é tendência universal sem volta. Os
satélites militares são todos apresentados como sendo de defesa. Mas quantos o
são efetivamente? E como adotar critérios imparciais e objetivos,
reconhecidamente justos e válidos para toda a comunidade internacional,
separando o joio do trigo? É aí que a porca torce o rabo.
(O próximo artigo
abordará a variedade dos pequenos, micros e nano satélites. Até lá.)
* Chefe da Assessoria de Cooperação Internacional da AEB,
Vice-Presidente da Associação Brasileira de Direito Aeronáutico e Espacial, e
Diretor Honorário do Instituto Internacional de Direito Espacial, Membro Pleno
da Academia Internacional de Astronáutica.
Fonte: Agência Espacial Brasileira
(AEB)
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