EEI - A História de Uma Crise Anunciada: AEB Versus NASA
Olá leitor!
Segue abaixo um interessante artigo postado hoje (07/11) no
site “www.defesanet.com.br“
dando destaque a mal fadada participação brasileira no projeto da Estação
Espacial Internacional (EEI), e a crise gerada entre a NASA e AEB que segundo o
artigo a agência brasileira está tentando resolver.
Duda Falcão
COBERTURA ESPECIAL - Especial
Espaço - Tecnologia
EEI - A História de Uma Crise
Anunciada: AEB Versus NASA
Júlio Ottoboni
Jornalista Científico
Especial para DefesaNet
07 de Novembro, 2013 - 12:25 ( Brasília )
A Agência Espacial
Brasileira (AEB) tenta atualmente reatar com a National
Aeronautics and Space Administration (NASA), sua
correspondente dos Estados Unidos. Uma missão das mais difíceis, principalmente
no momento que as políticas externas de ambos países estão envoltas em casos de
espionagens e acusações. Mas essa história de desencontros e desagrados vem de
longe, de pelo menos uma década de sucessivas atrapalhadas e dos famosos ‘contos
do vigário’.
Pela primeira
vez um veículo de imprensa passa a revelar pormenores desta que é a maior crise
já estabelecida entre os órgãos oficiais ligados ao setor espacial dos dois
países e que praticamente paralisou os intercâmbios e projetos entre ambos. E
desmanchou com o resto de credibilidade que o Brasil tinha na área.
“Estamos numa
reaproximação boa, voltaremos a fazer projetos conjuntos e nossa conversação
está sim fluindo muito bem”, declarou o ministro de ciência, tecnologia e
inovação, Marco Antonio Raupp, um dos responsáveis por essa aproximação quando
ainda exercia o cargo de diretor geral do INPE, na década de 80.
A trajetória
desta crise anunciada entre as duas agências espaciais surgiu logo após a
inclusão do Brasil no mega-projeto da Estação Espacial Internacional (EEI), em
outubro de 1997. A constante falta de repasse orçamentário para o projeto,
sucessivos atrasos de cronograma, corte de verbas pelo Congresso Nacional e o
descaso do governo com o compromisso assumido irritaram profundamente a direção
da NASA, que teve seu ápice em novembro de 2006.
O total de
investimentos necessários para construir a estação era estimado em US$ 100
bilhões. A parte brasileira seria de US$ 120 milhões, ou seja, 0,12% do
montante total. E isto foi conseguido em muito pela eficiência da gestão do
primeiro presidente da entidade, Luiz Gylvan Meira Filho, hoje no Instituto de
Estudos Avançados da USP e que mantinha um ótimo relacionamento com a
direção da instituição norte-americana.
Para isto foi
criado o Programa Brasileiro para a Estação Espacial Internacional. A gerência
do programa, desenvolvimento e execução dos seis equipamentos contratados
estavam sob a responsabilidade do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE) em parceria com indústrias brasileiras. Já que o órgão mantinha diversos
programas bem sucedidos com os pesquisadores na NASA no segmento ambiental.
O acerto de
participação na EEI era vantajoso em vários aspectos, como mostram os AC artigo
9.4 - Transporte de experimentos para e da Estação pagos pela NASA;
artigo 9.4 e 9.4 b - Oportunidade para experimentos brasileiros. E os itens do
artigo 10.1 e 10.2 garantiam a “possibilidade de enviar um astronauta
brasileiro para fazer parte da tripulação da Estação por um período padrão de 3
meses”. Além de qualificar a indústria nacional para esse novo e
emergente mercado.
O cronograma
previa a entrega da primeira peça brasileira em outubro de 2002 seguindo até
janeiro de 2004, segundo documentos constantes no site do INPE. A própria
direção da NASA chegou a informar que Pontes participaria de uma missão oficial
em 2007. Mas isto antes das incertezas geradas pela postura do governo federal.
Em 2002, mesmo
sem entregar qualquer peça, veio o colapso nas relações. Segundo fontes ligadas
ao Ministério de Ciência e Tecnologia, o Brasil só não foi expulso do consórcio
para se evitar uma crise generalizada. Então optou-se por diminuir
drasticamente a participação nacional e extinguir qualquer chance de se ter um
astronauta brasileiro no espaço. A NASA assumiu o que era de responsabilidade
brasileira e lançou uma pá de cal sobre o assunto.
Pelo termo de
adesão da AEB junto ao grupo de 15 Países construtores da estação espacial,
havia a contrapartida encabeçada pelos norte-americanos de treinar e enviar ao
espaço um ou mais astronautas brasileiros para as missões oficiais na EEI. Algo
pretendido e com intenção de ser recuperado na renegociação do contrato pelo
governo brasileiro.
Para minimizar a
quadro diante da opinião pública e a pressão de vários setores do governo, a
AEB argumentou que a revisão sobre a participação nacional na EEI se deu pelo
alto custo das peças incluídas no documento inicial, superior ao estimado. Além
do acidente com o ônibus espacial Columbia, que causou descontinuidade no cronograma
da estação espacial.
O relatório da
agência ao Ministério
da Ciência e Tecnologia, referente ao exercício de 2003, teve
um tópico sobre essa situação.
“Participação Brasileira na Estação Espacial Internacional - Significativos avanços foram alcançados nas
negociações com a NASA com vistas à revisão da participação brasileira no
programa da Estação Espacial Internacional - ISS. Em face de limitações
orçamentárias e das prioridades do PNAE, a AEB, diante da proposta de emenda
formulada pela NASA, apresentou contraproposta, elaborada em conjunto com o
INPE, na qual compromete-se inicialmente a fornecer apenas os itens denominados
FSE (“Flight Support Equipment”), com a possibilidade de inclusão de outros
itens, caso fontes adicionais de recursos venham a ser viabilizadas. Propôs,
ainda, que se busquem
identificar itens que sejam de interesse comum tanto da NASA quanto de outros
projetos prioritários do PNAE, como equipamentos de sensoriamento remoto.
Adicionalmente a AEB está trabalhando em conjunto com a NASA na identificação
de possíveis parcerias entre cientistas brasileiros e norte-americanos para a realização de pesquisas conjuntas que
explorem as facilidades da Estação. Técnicos do INPE já se encontram na NASA
realizando um trabalho conjunto de identificação de itens alternativos e novo
documento de emenda deverá ser preparado em breve, de modo que permita a
retomada da cooperação nestas novas bases “.
Segundo dirigentes da
NASA declararam à imprensa internacional em abril de 2006, desde 2004 os
contatos com a agência brasileira saíram por completo de cena. O Brasil
simplesmente se escondia de suas atribuições e cobranças. Embora em 2003, a AEB
discutisse sobre as alternativas disponíveis para concretizar o plano de ver
Pontes integrar uma missão espacial, na tentativa de acelerar o processo. Essa
era uma exigência do então ministro de C&T, Roberto Amaral, apoiado diretamente
pelo presidente Lula.
A insistência era
tamanha que Roberto Amaral passou a exigir, via imprensa, que a NASA colocasse
o astronauta Marcos Pontes em uma missão tripulada ao espaço tal era ‘o gasto
que o Brasil já tinha feito’ na formação do militar. O discurso de Amaral, que
pouco antes tinha defendido a construção de uma bomba atômica pelo país, soou
como anacrônico e beirando o grotesco. Os norte americanos não entendiam como
um país que não cumpria seus acordos contratuais podia vir a público exigir seu
astronauta em uma missão enquanto diversos outros candidatos estrangeiros
aguardavam a convocação e tinham seus países em dia com a Estação Espacial.
O marketing do governo
federal via a possibilidade de consolidar seu discurso nacionalista na figura
de um herói brasileiro, que sintetizasse a saga do operário humilde até se
tornar um astronauta. Uma estratégia utilizada no império soviético para
enaltecer as qualidades do homem comum, porém com uma defasagem de mais de 80
anos em relação as convicções promocionais brasileiras.
No rol das surpresa, uma
outra veio em outubro de 2005, quando o presidente da entidade, Sergio
Gaudenzi, anunciou o acordo com a Agência Espacial Federal da Rússia
(Rosaviakosmos), que tornaria viável a viagem de Pontes. Um custo elevadíssimo,
que arrebentaria com o programa CBERS 3, para levar um punhado de feijões para
germinarem no espaço a um custo de Us$ 10 milhões.
(Nota DefesaNet – O
efeito Pontes teve sérias consequências na indústria afetando empresas fornecedoras
do CBERS-3, como a Opto, de São Carlos –SP)
Turismo Espacial
A reação dos dirigentes
da NASA foi imediata. Na foto oficial do voo, no qual participou um astronauta
dos Estados Unidos e um cosmonauta russo, a imagem de Marcos Pontes foi suprimida
e a informação dada era que a ida do militar brasileiro se tratava de um “voo
comercial”. Ou seja, uma atividade ligada ao “turismo espacial”, que tem
bancado parte das deficiências orçamentárias dos projetos espaciais russos.
A transmissão pela TV
NASA, feita via internet, mostrou que as missões foram separadas em duas. A
missão 12, reservada aos dois outros integrantes do voo, e a missão 13,
denominada “Missão Pontes”. Essa divisão foi utilizada para desvincular
as atividades e finalidades na estação espacial.
Como foi no caso do
milionário Dennis Tito, que voou a bordo da Soyuz em 2001, e o africano Mark
Shutleworth, em 2002. Todos pagaram US$ 20 milhões pela aventura, foram
treinados na Rússia e tiveram atividades práticas dentro da EEI.
Fonte: Site www.defesanet.com.br
Comentário: Apesar de eu não concordar com alguns pontos
apresentados pelo autor do texto, esse artigo é interessante, pois faz uma
descrição bem próxima do que realmente aconteceu, sendo mais uma demonstração
de como o PEB vem sendo tratado com descaso há décadas por diversos governos.
Os americanos ainda nos levaram a sério na questão da politicagem feita pelo então ministro da Ciencia Tecnologia e Inovação, e simplesmente agiram como tinham que agir. Lembro também que os americanos perderam sua oportunidade de abocanhar o Centro de Lançamento de Alcantara, o que não os deve ter deixado muito felizes (visto que queriam o centro quase como uma base americana no nosso solo). E depois de todos esses anos, o ex-ministro Amaral, continuando sua atitude infantil e tentando "competir" com os EUA ainda procurou alianças com a Ucrânia mesmo que pusesse em causa todo o esforço genuinamente nacional. O resultado foi outra idiotice: o Alcantara Cyclone Space, que nem ainda está construido e já se perspectiva seu fracasso a nível de competição. Realmente, precisamos de muito melhores representantes.
ResponderExcluirAnimo cientistas de carreira, militares de carreira, e mesmo economistas e até pastores (qualquer que seja a especialidade), desde que tenham contribuido a vida inteira para fazer algo significativo a procurarem seu lugar nas bancadas de Brasília para que procurem tirar o opóbrio que a politicagem tem estabelecido até agora em cima dos brasileiros, sabendo nós que a maioria de nossa classe política vem de baixo com o intuito de entrarem para $airem ganhando. Deus salve nosso Brasil de tanta incompetencia.