ESO: Três Anos Após Acordo, Cientistas Ainda Aguardam Adesão do Brasil
Olá leitor!
Segue abaixo uma matéria postada ontem (13/11) no “Portal
TERRA” destacando que três anos após acordo, cientistas ainda aguardam adesão
do Brasil ao ESO.
Duda Falcão
ESPAÇO
ESO: Três Anos Após Acordo, Cientistas
Ainda Aguardam Adesão
do Brasil
GHX Comunicação
13 de Novembro de 2013 - 08h15
Atualizado às 09h45
Firmado em dezembro de 2010, um acordo de participação do
Brasil no Observatório Europeu do Sul (European Southern Observatory, ESO), o
mais avançado do mundo, foi celebrado por grande parte da comunidade astronômica.
Quase três anos depois, no entanto, o projeto, que custará aproximadamente R$
1,1 bilhão ao longo de 11 anos, ainda espera aprovação do Legislativo.
Preocupados com a demora da concretização do acordo, 100
jovens estudantes de astronomia, entre mestrandos e doutorandos, escreveram uma carta pedindo
apoio dos deputados ao tema. "A adesão do Brasil ao
consórcio ESO representará um enorme passo para a Astronomia brasileira",
garante o documento.
"Os telescópios dessa organização têm uma
performance excelente. Eu já estive observando em telescópios do ESO e de
outras organizações e posso afirmar que não existe organização mais bem
estruturada que o ESO", afirma Ana Chies Santos, uma das idealizadoras da
carta e pesquisadora de pós-doutorado na The School of Physics and Astronomy da
Universidade de Nottingham, no Reino Unido.
Além de possibilitar o acesso a toda a infraestrutura do
ESO e de seus observatórios, o ingresso do Brasil permitiria uma possível
participação em contratos para a construção do European Extremely Large
Telescope (E-ELT), que será, segundo o consórcio, o maior telescópio
óptico/próximo infravermelho do mundo, com 39 metros de diâmetro e a capacidade
de procurar planetas exosolares com condições de vida, medir a propriedade das
primeiras estrelas e tentar desvendar a natureza da matéria escura e da ebergia escura.
"Ou seja, a adesão ao ESO significa investimento em
tecnologia e infraestrutura também. A indústria brasileira poderá competir
durante a licitação dos projetos no Chile", afirma Duilia Fernandes de
Mello, professora associada da Universidade Católica da América, de Washington,
e pesquisadora associada do Goddard Space Flight Center, da NASA.
Com o pré-contrato assinado em 2010, o Brasil tem acesso
aos telescópios no Chile, mas não pode participar das licitações do novo
telescópio nem das definições de sua construção antes de se efetivar como
membro. A demora preocupa a comunidade acadêmica brasileira e a organização do
ESO, que conta com o País para financiar o novo telescópio. Do custo de 1
bilhão de euros (aproximadamente R$ 3 bilhões), 1/3 viria da contribuição
brasileira.
Foto: ESO/L. Calçada / Divulgação
O aporte necessário para o Brasil ficaria em torno de R$
1,1 bilhão ao longo de 11 anos. O primeiro pagamento ocorreria em 2011. O valor
total se refere à taxa de admissão no ESO, de 130 milhões de euros – que poderá
ser paga parceladamente –, e à contribuição anual de cada membro, que varia
conforme o PIB do país – no caso do Brasil, 257 milhões de euros ao longo desse
período. Em julho, porém, em reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso
da Ciência, o ministro da Ciência, Marco Antonio Raupp, afirmou que faltam
verbas para o projeto. Contatada pelo Terra, a assessoria de imprensa do
ministro comunicou que Raupp não se pronunciará enquanto o projeto estiver
tramitando na Câmara.
Enviado pela Casa Civil ao Congresso apenas em fevereiro
deste ano, o projeto de decreto legislativo PDC 1287/2013 encontra-se
atualmente em análise em três comissões da Câmara dos Deputados: Ciência e
Tecnologia, Comunicação e Informática (CCTCI); Finanças e Tributação (CFT); e
Constituição e Justiça e Cidadania (CCJC). A CCTCI procura identificar no texto
os elementos que favorecem o desenvolvimento tecnológico e as pesquisas no
Brasil, de acordo com o presidente da comissão, Paulo Abi-Ackell (PSDB).
"O tema tem gerado uma grande mobilização e muito me
preocupa desde que fui alertado pela minha colega deputada Margarida Salomão,
ex-reitora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), e pelo professor do
Instituto de Astronomia da USP Marcos Diaz. Conversei longamente com o
professor, que me colocou a par da situação. Se não fizermos a adesão logo,
temo que ficaremos atrasados em relação a outros países com economias e
potencialidades menores do que a nossa", afirma.
Por isso, o deputado pretende colocar o projeto em
votação "ainda neste ano", assim que o relator, Jorge Bittar (PT),
der seu parecer. Caso o projeto seja aprovado então pela Câmara dos Deputados,
ele necessitará ainda do referendo do Senado Federal.
Como parte da verba necessária para a construção do
telescópio E-ELT advém da contribuição brasileira, questiona-se se a demora na
liberação da verba colocaria em risco a participação do País. "Não é uma
questão de quanto tempo o ESO pode esperar, e sim de quanto tempo o Brasil pode
esperar", avalia Tim de Zeeuw, diretor-geral do consórcio. Ele informa que
o ESO vai anunciar, até o fim do ano, a chamada para grandes contratos do
telescópio E-ELT, como o domo e a estrutura principal. "Mas contratos só
podem ser concedidos a empresas brasileiras quando o processo de ratificação estiver
concluído".
"A questão do timing é importantíssima!",
acredita Emille Ishida, pós-doutoranda do Instituto de Astronomia, Geofísica e
Ciências Atmosféricas da USP e outra das idealizadoras da carta de apoio ao
projeto. "Não sabemos se a parceria pode vir a ser quebrada por causa do
atraso, mas, quanto mais o tempo passa, perdemos oportunidades de entender como
um grande experimento funciona em seus estágios iniciais. Além do
constrangimento, claro. Não queremos apenas ser ótimos usuários do ESO.
Queremos, no futuro não muito longínquo, ter oportunidade de participar das
decisões e entender como uma grande colaboração internacional funciona por
dentro. Como membros com direito a voto, e não como espectadores. Nenhum outro
projeto considerado atualmente oferece oportunidade parecida nesse
sentido".
Divergência
Mas nem todos os astrônomos concordam que o Brasil deva
investir esse montante na adesão ao projeto. João Evangelista Steiner,
professor titular do Instituto de Astronomia e Geofísica da USP, acredita que a
participação no ESO seria benéfica, mas que existem maneiras mais baratas de
alavancar a astronomia no País. "Há formas de desenvolvimento pleno da
astronomia brasileira a um custo 10 vezes menor", afirma.
Para isso, ele aponta, como exemplo, um projeto, em
análise na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), de
participar em um telescópio extremamente grande, o GMT – Giant Magellan
Telescope, de 25 metros. "Com ele, teremos tempo cativo proporcional ao
investimento. No caso do ESO, pagaremos 10 vezes mais, e isso apenas dará o
direito de competirmos com os europeus em desigualdade de condições, já que
eles são proporcionalmente muito mais numerosos e com muito mais tradição em
pesquisa científica".
O ESO distribui o tempo de uso dos telescópios e
instrumentos entre os países parceiros com base no mérito científico, conforme
Marcos Diaz, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências
Atmosféricas da USP. "Em uma base de tempo longa, cada país-membro se
aproxima da fração de sua contribuição ao consórcio. Essa exposição da nossa
comunidade ao crivo de um painel avaliador internacional (no qual o Brasil já
faz parte como convidado), onde há uma grande competitividade, é benéfica para
qualidade da ciência. Não tenho motivos para pensar que as estruturas já
amadurecidas para manter a coexistência produtiva de 14 países-membros se
tornarão parciais com relação a nossa comunidade".
O diretor do ESO acrescenta: "Nossa experiência com
outros membros mostra que se associar ao ESO é uma maneira extremamente efetiva
de estimular a comunidade científica". O fato de haver a necessidade de um
período gradual de adaptação dos pesquisadores brasileiros foi considerado nas
contribuições acordadas – e há um grande desconto para o Brasil nos primeiros
10 anos de sua associação.
Uma pesquisadora brasileira que já teve acesso aos
telescópios do ESO é Ana Chies Santos, que fez doutorado na Holanda e hoje
cursa um pós-doutorado no Reino Unido. Ela contou com duas propostas de
observação aprovadas, como pesquisadora de universidades europeias, e descreveu
desta forma a experiência: "Tudo funciona maravilhosamente bem".
Construção do E-ELT
Steiner acredita também que o envolvimento brasileiro na
construção do E-ELT ficaria restrito a estradas e obras civis. "É uma
participação desprezível nos custos envolvidos e não implica em nenhum
desenvolvimento tecnológico e desenvolvimento de instrumentação, que já está
todo negociado e alocado para países europeus".
Diaz, por outro lado, vê possibilidade de participação da
indústria brasileira no processo. "Tenho uma forte convicção de que
existem setores da nossa indústria que podem competir efetivamente para que uma
fração do investimento retorne ao País na forma de contratos. Acompanhei a
visita técnica de uma comissão formada por representantes do ESO e
especialistas do País à Embraer em que ficou nítida a capacidade para
desenvolvimento de componentes de alta tecnologia associados a sistemas do
ELT", acredita.
Fonte: Portal Terra - 13/11/2013 -
http://noticias.terra.com.br/
Comentário: Em minha modesta opinião num país onde grande parte da população acredita que a LUA é a morada de São Jorge, dificilmente um governo populista como temos irá aprovar um projeto como esse. Em minha opinião o governo irá cozinhar a comunidade astronômica em banho maria e passar a bola para outro. Entretanto, vamos ver o que acontece.
Bom, nesse caso, são dois os problemas. Cada um mais lamentável que o outro.
ResponderExcluirComo venho me manifestando várias vezes, Ver que cientistas continuam placidamente "aguardando" a adesão do Brasil a esse ou aquele programa, a essa altura, chega a me dar raiva. Podem continuar "aguardando" sentadinhos em seus bancos escolares ou de laboratório esperando pela aposentadoria, OU TOMAR UMA ATITUDE !!!
Por outro lado, o segundo problema em questão é tão patético ou ainda pior que o primeiro. Ora, se nem o ramo da Astronomia consegue chegar a um consenso sobre um programa, sé ou não benéfico para o país aderir a ele, de que adiantou estudar tanto?
Isso chega a ser ridículo !!!