Sindicalismo na Berlinda
Olá leitor!
Segue abaixo um interessante artigo postado na da edição
de nº 26 do “Jornal do SindCT” de novembro de 2013, escrito que foi pelo
sociólogo Moacyr Pinto.
Duda Falcão
ORGANIZAÇÃO E LUTA COLETIVA
Sindicalismo na Berlinda
Moacyr Pinto*
Jornal do SindCT
Edição nº 26
Novembro de 2013
Sindicato
é coisa para peão”. Certo? Errado! Assim como na sociedade escravista
brasileira o quilombo se constituiu na única real saída para o conjunto dos
trabalhadores subjugados naquele sistema social... Assim como na sociedade
feudal ocorreram a luta pela reforma agrária no campo (como na Revolução
Francesa) e a demanda pelas cidades, onde os trabalhadores puderam avançar na
organização das guildas e corporações de ofícios, com o objetivo de se livrarem
do jugo dos senhores...
Na
sociedade capitalista, sistema baseado na compra e venda de mão-de-obra no
mercado “livre”, a experiência do estica-e-puxa das lutas e conflitos entre as classes
sociais, e entre estas e o próprio Estado, terminou engendrando o sindicalismo
como principal instrumento de organização e luta coletiva dos trabalhadores,
além de dar origem a códigos legais que regulam a relação entre capital e
trabalho, ou entre patrões e trabalhadores (no Brasil, esse código é a
Consolidação das Leis do Trabalho, ou CLT; voltaremos a ela em outra
oportunidade).
A
luta pelo fim do próprio capitalismo, apesar de poder também passar pelo
sindicalismo, já é outra história. Do mesmo modo, nos três sistemas (até no escravista)
houve/há gente que tentou/tenta se dar bem individualmente.
Isso
também é uma outra boa história, cheia de mitos Não haveria nenhuma novidade e
o “blábláblá” acima apresentado seria completamente desnecessário, no Brasil de
2013, não fossem os seguintes senões: 1. As escolas não ensinam/ não debatem
seriamente esses assuntos no período de formação básica da nossa juventude;
menos ainda no período de formação superior, principalmente nos cursos voltados
para o “mercado”, como os de Engenharia, Medicina, Direito, Jornalismo etc.
Os
destaques são para a competição, o individualismo, o “empreendedorismo”, o
sucesso no mercado profissional. 2. Como a maioria esmagadora da população
brasileira saiu da roça nos últimos 50 a 60 anos, aqueles que entre nós e, mais
ainda entre os nossos filhos, avançaram nos estudos, compondo uma pretensa
elite de formação superior (mesmo que tenham frequentado péssimas faculdades),
não querem ser confundidos com gente “feia”, de macacão, que fala alto, obstrui
o trânsito e bate panela. Daí a rejeição ao sindicalismo e outras formas de
lutas coletivas.
A
mídia comercial, por sua vez, aborda o mundo sindical com desprezo, atacando a
ideia de organização independente dos trabalhadores, forjando estereótipos
negativos e reforçando preconceitos. 3. Por uma série de injunções — inclusive
por termos amargado 21 anos de Ditadura Militar, que estimulou e ajudou a
forjar um sistema nacional de comunicação (TV à frente) conservador e altamente
alienante — saímos da roça, a partir dos anos 1950, diretamente para a
sociedade de consumo de massas. Viramos consumidores sem nos tornarmos
cidadãos.
É
assim que nos tratam na escola, no serviço público de saúde, no Sesi, Sesc etc.
4. Quinhentos anos de colonialismo, reforçados por décadas de um determinado
comportamento nas universidades mais elitizadas do país (onde tem gente que já
pensa em inglês, gosta de falar na Europa e nos EUA com intimidade, mas não
conhece o Nordeste brasileiro, do qual tem andado com certa má impressão,
depois que o governo criou essa tal de “Bolsa Família”), moldaram em boa
parcela da minoria melhor situada social e economicamente da nossa sociedade um
tipo de avaliação que o sociólogo Emir Sader resumiu bem, ainda que por outras
razões, em artigo postado recentemente no seu blogue em www.cartamaior.com.br.
Com
ironia, Emir, entre outras coisas, escreveu o seguinte, em relação à direita
política e à elite conservadora brasileira: “O que fazer diante do sucesso do
Lula, dentro e fora do Brasil? Diante da sua capacidade para eleger e reeleger
sua sucessora?
Refugiar-se
na melancolia. (...) Fazer o discurso escatológico de que o mundo está pior do
que nunca, que o Brasil vai pro brejo, que o povo nunca aprende, que tudo pode
ainda ficar pior... Desencontrados do Brasil que melhora, da América Latina que
avança — na contramão dos seus queridos EUA e Europa — só lhes resta um final
resignado e resmunguento...”
Resumo da Ópera
Quem
pertence à classe trabalhadora, ou seja, vive uma relação de emprego no mercado
de trabalho, seja ele público ou privado, e ainda que o empregador se disfarce
de “organização não governamental” (ong) ou “organização social” (OS) e o trabalhador
seja obrigado a passar-se por “pessoa jurídica” (PJ), não adianta pensar pela
cabeça dos “especialistas” da mídia, nem achar que a Internet veio para
substituir, magicamente a velha e boa organização dos trabalhadores nos
locais de trabalho.
As
novas tecnologias e mídias devem ser utilizadas sim, mas para reforçar,
amplificar e qualificar a mobilização e a luta das categorias. Quem não pensa
assim patina, como infelizmente estão patinando, por exemplo, os empregados da
Embraer, que desde 1985 não tiveram uma hora sequer de redução na sua jornada
de trabalho; situação muito diferente dos empregados das concorrentes pelo
mundo afora.
Nos
Estados Unidos, centro maior do capitalismo, trabalhadores que ganham altos
salários não têm vergonha de sair às ruas para lutar por seus direitos. Os
controladores de voo americanos, muito melhor remunerados do que os seus
colegas brasileiros (que, diga-se de passagem, travaram uma luta heroica em
2007 e foram implacavelmente perseguidos e punidos pela Aeronáutica), sempre
que necessário se mobilizam e entram em greve. Em 2007, os roteiristas de
Hollywood fizeram passeatas, empunharam cartazes, e após quatro meses de luta
conseguiram derrotar os poderosos estúdios. Um movimento histórico, liderado
pelo sindicato da categoria. No Brasil, porém, quem ganha salários melhores tem
aversão a sindicato e acha que manifestação de rua é baderna. Ou
seja: pensa pela cabeça do patrão.
*Moacyr Pinto é
sociólogo, educador e escritor
Fonte: Jornal do SindCT - Edição 26ª - Novembro de 2013
Bom, nem vou me estender muito pra não me aborrecer. Não sei qual é a desse senhor Moacyr, mas boa parte do texto me parece coisa de PTralhas.
ResponderExcluirComo trabalho em T.I. o sindicato que teoricamente me representa é o SindPD, uma das maiores piadas que eu já vi. Esse sindicato, foi criado pelos "poderes constituídos" para servir para calar a voz da categoria que ao menos em teoria é a mais poderosa de todas.
Antes da existência dele, já tinha passado por Comerciante, Bancário e Petroleiro, tudo dependendo do ramo da empresa onde eu estava trabalhando na época. Depois criaram esse sindicato fantoche. Agora parem e pensem 0,5 segundo. Imaginem que todas as pessoas que trabalham em T.I. resolvem fazer uma greve de advertência de apenas 1 dia. Vocês imaginam um país inteiro e todo tipo de serviço público e privado paralisados? Pois é isso. Hoje em dia, a Tecnologia da Informação está presente em absolutamente TUDO ! No entanto, eu me sentia muito melhor representado e "poderoso", quando o sindicato que me representava era o dos petroleiros, que em termos de T.I. é relativamente pequeno, pois apesar de lidar com muita grana, os processos envolvidos são bem simples.
Por outro lado, vejo no texto uma certa apologia contrária à "livre iniciativa", além disso, comparam coisas completamente diferentes, como controladores de voo Norte americanos e brasileiros, e de uma forma mais ampla, comparar uma sociedade que "evoluiu" de um sistema de capitanias hereditárias, que se manifesta até os dias de hoje, que conseguiu a independência e a república através de conchavos, com outra que conquistou a liberdade e a república através de muita luta, literalmente.
Eu não estranho o SindCT, patrocinar esse tipo de texto, e dá uma demonstração clara do porque as coisas estão como estão.
E depois de muito bla bla bla, voltamos ao ponto de partida. Funcionários públicos, uma das castas que por aqui habitam, com estabilidade de emprego e direito a aposentadoria justa, devem estar bastante satisfeitos com os seus salários no fim do mês, bancados pelos nossos impostos, e dificilmente vão sequer pensar em tomar alguma atitude mais enérgica contra o estado de coisas do nosso PEB.
Eu continuo afirmando: são os três poderes contra nós. Sem uma mudança radical na nossa organização social, nada vai mudar. porém atitudes enérgicas do pessoal envolvido, poderiam dar um alento, melhorando situações pontuais.
Então prezados, mais uma vez questiono: cadê a ATITUDE !!!
Não consigo me conter, então vou fazer mais alguns comentários sobre trechos específicos desse "artigo". Primeiro a foto que o ilustra, dando conta de que "Jornalista e radialistas da EBC entraram em greve em 7/11".
ResponderExcluirTudo bem, mas o que a EBC tem a ver com Ciência e Tecnologia? Cadê a greve que importa? Cadê a greve do INPE? Cadê a greve do DCTA?
A partir do segundo parágrafo, o autor discorre sobre a visão dele sobre o sistema capitalista e se estende num tom Marxista definindo muito bem a sua posição socialista ou comunista, seja lá qual for não poderia ser distante disso em se tratando de matéria publicada por um sindicato provavelmente já tragado pelos conceitos disseminados pelos PTralhas.
ResponderExcluirIsso tudo desagua num parágrafo que chega a ser trágico, principalmente com seus mentores PRESOS e com os que estão de fora fazendo um esforço enorme para passar para o lado de lá (vide os recentes escândalos na administração de São Paulo), on se lê:
Os destaques são para a competição, o individualismo, o “empreendedorismo”, o sucesso no mercado profissional. 2. Como a maioria esmagadora da população brasileira saiu da roça nos últimos 50 a 60 anos, aqueles que entre nós e, mais ainda entre os nossos filhos, avançaram nos estudos, compondo uma pretensa elite de formação superior (mesmo que tenham frequentado péssimas faculdades), não querem ser confundidos com gente “feia”, de macacão, que fala alto, obstrui o trânsito e bate panela. Daí a rejeição ao sindicalismo e outras formas de lutas coletivas.
Só pode ser piada. E de mau gosto.
No parágrafo seguinte, ele fala sobre a mídia, mais uma vez com o conhecido tom PTralista, dizendo que a mídia forja estereótipos negativos do sindicalismo.
ResponderExcluirSó faltou enaltecer a forma como os governos Venezuelano e Argentino "deram um jeito" no assim chamado PROBLEMA.
Bem típico.
O que vem a seguir, é ainda mais estarrecedor. O autor, no mesmo tom Marxista, discorre sobre como, na visão dele, o colonialismo trata mal os "movimentos sociais". Chega ao cúmulo de citar como referência o blog de um "sociólogo" claramente comunista. E como uma espécie de "cereja do bolo" ainda tenta enaltecer de forma sarcástica esse programa populista de voto de cabresto chamado singelamente de "Bolsa Família".
ResponderExcluirÉ o fim da picada.
Já que o assunto caiu nesse contexto, gostaria de declarar aqui o meu total apoio à iniciativa deste aluno. Deixando bem clara a minha posição.
ResponderExcluirE o autor finaliza falando sobre a "classe trabalhadora". Num país que evidentemente privilegia "castas". Acho que nem na Índia existem tantas castas quanto aqui. É o que os "sociólogos" de plantão chamam de preconceito social.
ResponderExcluirMas esse é o ponto: aqui estamos falando de apenas uma dessas castas, a dos funcionários públicos que atuam na área de Ciência e Tecnologia. Entendam, não estou questionando o mérito ou competência de quem quer que seja. Em todos os regimes, existem bons e maus profissionais, existem aqueles comprometidos e aqueles que não dão a mínima, mas o fato é que funcionários ou "servidores" públicos no Brasil pertencem a uma daquelas castas, com direito a garantia de emprego, aposentadoria justa, sistema de saúde diferenciado. e vários outros benefícios aos quais a "população comum" não tem direito.
Então, quem, em sã consciência pode esperar que os membros dessa casta tomem alguma atitude contra o "status quo" atual?
Pronto falei !
Tenho que me manifestar prestando meu total apoio a visão apresentada pelo Marcos Ricardo.
ResponderExcluirPrimeiramente, estudei a disciplina de sociologia numa academia de outro país e, diferentemente daqui, lá não ensinam que essa disciplina foi criada como forma das "elites" controlarem a população. Pelo tom socialista que o tal sociologo Moacyr apresenta parece-me óbvio de onde se tira esse tipo de idéias.
Em segundo lugar, a palavra sindicato me trás logo a mente "braço representativo socialista". Trabalhei em uma empresa aqui no Brasil e no meu primeiro salário foi descontado (sem qualquer autorização) a minha contribuição automática para o sindicato, que pelo que percebi fazia "acordos" que benificiavam mais a empresa do que os empregados. Num caso específico uma empregada que sentiu-se lesada pela companhia, e procurando a ajuda do sindicato, simplemente descobriu que se tinha metido numa enrascada: o lider sindical foi fofocar a situação para a chefia da empresa.
Creio piamente que deveriam fazer votações para alguém representar os empregados, assim como acontece com o síndico num prédio, para representarem associações simples, não sendo assim nada profissionalizado. E pronto.
Mesmo alguns sindicatos que existem atualmente e que dizem representar categorias profissionais completas são autenticos braços representativos de certos partidos. A exemplo fica a OAB que na mesma semana que convidou o mensaleiro José Dirceu para um jantar de honra, ameaçou processar o Feliciano e o Bolsonaro, e agora recentemente emitiu uma nota contra a prisão dos PTralhas.
E um exemplo de sindicato sério, a Ordem dos Médicos, teve suas diretivas e vontades totalmente atropeladas pelo governo em prol dos médicos de Cuba.
E as coisas vão andando nesse ritmo e o governo vai dizendo que esses braços do poder representam os cidadãos. Deve ser por causa de fenomenos como esse que certos lideres se sentem a vontade para falar de "poder do povo", como Lula, que falou que "lá na Venezuela existe democracia em excesso". E para lá caminhamos.