‘O Nosso Aluno é o Nosso Melhor Produto’, Diz Reitor do ITA

Olá leitor!

Segue abaixo uma entrevista com o Reitor do ITA, Carlos Pacheco, postada ontem (20/11) no site do jornal “O Estado de São Paulo” dando destaque aos planos de renovação da instituição.

Duda Falcão

ECONOMIA & NEGÓCIOS

‘O Nosso Aluno é o Nosso Melhor
Produto’, Diz Reitor do ITA

Reitor do ITA fala dos planos de renovação da instituição
para fazer com que o curso estimule o universitário a inovar

Marina Gazzoni,
De O Estado de S. Paulo
20 de novembro de 2013 | 9h 23

O Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) está preparando uma renovação no ensino de engenharia. A proposta é tornar o curso mais estimulante e motivar os alunos a inovar. A decisão foi tomada depois que a escola recebeu o aval do governo para duplicar o número de vagas para graduação em dois anos - hoje o ITA admite 120 alunos por ano no vestibular.

O ITA se aliou a parceiros de peso para estruturar o projeto, como o Massachusetts Institute of Technology (MIT). As duas universidades firmaram um acordo de cooperação no ano passado.

O reitor do ITA, Carlos Pacheco, também quer a participação das empresas no processo de renovação da escola, com o desenvolvimento de projetos para trazer a prática de engenharia mais perto dos alunos. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Por que vocês vão reformular o currículo do ITA?

É uma oportunidade que se abriu com a ampliação do ITA. Vamos contratar professores e receber recursos para criar uma estrutura nova de pesquisa. Tudo isso foi desencadeado pelo processo de expansão, que nos fez repensar nosso modelo de ensino.


O que vai mudar?

Queremos um ensino de engenharia renovado e que a inovação seja um carro-chefe do ITA. Para isso, precisamos incrementar as atividades "hands on", que envolvem os alunos em projetos práticos ao longo de cada disciplina. A intenção é tornar o ensino mais estimulante para o aluno e fazer ele desenvolver novas habilidades, como capacidade de trabalhar em grupo, comunicação e iniciativa. Na vida real, quando ele for exercer engenharia, tem de estar apto a buscar conhecimentos para resolver os problemas do dia a dia.

Quando isso será aplicado?

Essas atividades ‘hands on’ já existem em algumas disciplinas e foram criadas por iniciativa dos professores. Isso tem aumentado na medida em que estimulamos os professores a fazerem imersões em faculdades de ponta no exterior. É uma mudança progressiva.

Como o ITA está preparando os professores?

Talvez o maior desafio do ITA seja a contratação de novos professores. Estamos nesse momento convidando jovens talentosos da própria graduação do ITA para fazer mestrado integrado com a graduação, com a possibilidade de fazer doutorado em universidades de ponta no exterior. Nós queremos nos próximos 10 anos mandar uns 150 jovens para fazer doutorado em universidades parceiras, para formar uma nova geração de professores do ITA. A ideia é que eles tenham uma imersão escolar que já usam novas técnicas de ensino de engenharia e que possam aplicar no ITA depois.

O ITA vai abrir novos cursos de engenharia?

Essa foi uma questão que discutimos quando pensamos na ampliação da universidade. Decidimos que não. Existem cerca de 40 e poucos cursos de graduação em engenharia no País. Para nós, isso é uma especialização precoce. Decidimos não abrir novos cursos, mas queremos oferecer três "minors" eletivos, como existe no currículo americano. A ideia é oferecer especialização em engenharia de sistema, engenharia física e inovação.

As mudanças vieram do MIT?

Não. Elas vêm de um planejamento estratégico do próprio ITA. Mas obviamente temos olhado experiências internacionais para nos inspirarmos.

Quando os cursos começam?

Provavelmente daqui a dois anos. Quem entrar em 2014 já vai poder fazer. O aluno poderá escolher o minor depois que fizer as disciplinas básicas.

Como vai funcionar a parceria com o MIT?

Trabalhamos para desenhar um projeto de cooperação de cinco anos. Vamos identificar projetos de pesquisa que envolvam o ITA e o MIT e vários outros parceiros. Fizemos uma lista de 20 áreas de interesse que estamos avaliando, como controle do espaço aéreo, biocombustível de aviação e automação de manufatura. A nossa ideia é fazer uma chamada de cinco a dez projetos menores por ano para depois selecionar projetos maiores com maior potencial. Queremos projetos que tenham grande impacto, em múltiplas dimensões, como econômico e tecnológico.

Vocês ouviram as empresas na reestruturação do ITA?

Não de uma forma sistemática. Temos na nossa comissão de planejamento estratégico engenheiros de grandes parceiras, como da Embraer. Mas o mercado nem sempre tem clareza do que quer. Uma mudança curricular é um processo de longo prazo. Vamos começar a implementar isso para os engenheiros que vão entrar na universidade a partir do ano que vem e que vão chegar ao mercado daqui a cinco, seis anos. No mundo privado, a definição do engenheiro que você precisa está orientada no curtíssimo prazo. O tempo das empresas e das universidades é diferente. O que tentamos fazer é identificar quais as tendências do mercado e as necessidades futuras do profissional.

Como as empresas poderão se aproximar da universidade?

Vamos criar um centro de inovação no ITA. Nesse espaço, queremos criar projetos de tutoria com as empresas. A ideia é que os nossos parceiros principais, como Embraer e Boeing, tragam desafios de engenharia capazes de seduzir os alunos logo no primeiro e segundo ano de ensino.

O que as empresas ganham com as parcerias?

O nosso aluno é o nosso melhor produto. A primeira razão da decisão de onde uma pessoa vai trabalhar é entusiasmo. A segunda é salário. Estamos dando a oportunidade para os nossos parceiros de oferecer no centro de inovação projetos absolutamente desafiadores, que façam um aluno ficar apaixonado pelo tema e seja estimulado a trabalhar com eles.


Fonte: Site do jornal O Estado de São Paulo - 20/11/2013

Comentários

  1. Tudo bem, nada mais justo, o ensino deve ser dinâmico e os currículos dos cursos devem ser reformulados até com certa regularidade.

    Quanto à qualidade da instituição, acho que ninguém questiona, e realmente os alunos devem ser sempre o melhor produto de qualquer instituição de ensino.

    Agora, o que me preocupa efetivamente é o mercado de trabalho para os nossos engenheiros espaciais. Será que teremos condições de absorver profissionais dessa formação com o PEB sendo sistematicamente sabotado?
    Será que esse curso vai ter sustentação de mercado?

    Isso é preocupante.

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    1. Marcos, eu penso que de fato não há tanto mercado assim. As vezes existem bolhas, como agora para construção civil e petróleo, há 10 anos atrás a bola da vez era engenharia de telecomunicações. Mas ao longo de um tempo maior, na média, não existe tanto mercado quando estas reportagens do Jornal Hoje costumam mostrar.

      Porem, o que acontece com a profissão de engenharia no Brasil há décadas é que o profissional se forma em engenharia aeronáutica, mas ganha a vida como analista de risco no setor bancário, como executivo financeiro no setor de varejo, estuda e vira auditor da Receita Federal e por ai vai.

      E honestamente não vejo problema nisto é apenas um reflexo da enorme adaptabilidade que profissionais de engenharia costumam ter.

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  2. Acho ótima a decisão de modernizar currículos. Faculdades de engenharia no Brasil (publicas), formam bons engenheiros via de regra. Porem existe uma valorização excessiva ao meu ver de perfis acadêmicos.

    O aluno começa como bolsista de iniciação cientifica, produz um monte para um professor, depois vai pro mestrado, produz outro monte para o mesmo professor, depois doutorado, papers, papers e mais papers, ai abre um concurso e existe um loby para que ele passe naquela faculdade onde ele já é "de casa" e o ciclo se realimenta.

    Não existe estimulo para inovação, não existe sintonia com o mercado, nenhum professor orienta um mestrando ou doutorando fora da sua zona de conforto.

    Por fim, dobrar o número de vagas ainda mais em 2 anos me parece demagógico demais. Meu termor é que transformem o ITA em uma tipica universidade federal, onde o reitor precisa rezar a cartilha do MEC, abrir cotas daqui, vagas para o ENEM dali, tudo para ganhar "verbas".

    Posso estar errado, mas quantidade e qualidade, infelizmente são variáveis normalmente antagônicas.

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  3. Concordo com o Dallamuta quando ele diz: "existe uma valorização excessiva ao meu ver de perfis acadêmicos".

    Isso é um fato e sempre foi uma queixa dos alunos (no meu caso isso foi na década de 70). Enquanto nos Estados Unidos, Europa e Japão as faculdades formam para o mercado, com um foco muito mais prático que acadêmico, por aqui, o foco sempre foi acadêmico e muito pouco prático.

    Isso em termos de mercado de trabalho, coloca os formandos brasileiros em desvantagem. E uma desvantagem bem considerável.

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