Astrônomos Publicam Nova Descrição do Planeta-Anão Éris

Olá leitor!

Segue abaixo mais uma matéria esta publicada hoje (28/10) no site do jornal “Correio Braziliense” destacando a primeira descrição detalhada do “Planeta-Anão Éris” divulgada por uma equipe internacional de 62 pesquisadores e entre eles alguns brasileiros.

Duda Falcão

Ciência e Saúde

Pesquisadores Publicam a Primeira
Descrição Detalhada do Planeta-Anão Éris

A observação traz pistas sobre a origem do Sistema Solar

Carolina Vicentin
Correio Brazilienze
Publicação: 28/10/2011 - 08:31
Atualização: 28/10/2011 - 08:36

Observatório no Chile de onde Éris foi avistado:
corpo está situado a 15 bilhões de quilômetros da Terra

Uma equipe de 62 pesquisadores, entre os quais alguns brasileiros, revelou esta semana a “cara” de um objeto celeste que está nos confins do Sistema Solar. Éris, planeta-anão a cerca de 15 bilhões de quilômetros da Terra, tem tamanho e massa semelhantes aos do vizinho Plutão. Sua superfície, porém, intrigou os cientistas: ao analisar a luz do Sol refletida, eles concluíram que Éris é branco, algo incomum para corpos tão distantes das estrelas. E esse não é o único mistério que os astrônomos têm para resolver. O planeta-anão é considerado também uma espécie de fóssil da região, e seu estudo pode trazer novos dados sobre a formação do Sistema Solar.

Éris foi descoberto em 2005 e passou por uma “crise de identidade” até que a ciência conseguisse mais informações sobre sua composição. Foi chamado de décimo planeta (acreditava-se que ele era maior que Plutão) e somente no ano passado teve o diâmetro estimado. Como não existem telescópios potentes o bastante para enxergar o que há na superfície de Éris, as pesquisas dependem do acontecimento de um evento astronômico raro. Conhecido como ocultação estelar, ele ocorre quando o planeta-anão se põe em frente a uma estrela já analisada pela astronomia. “Como em um eclipse solar, o objeto projeta uma sombra sobre a Terra, e essa sombra se move à medida que o objeto se desloca no céu”, explica o pesquisador Felipe Braga Ribas, co-autor do artigo publicado na edição de ontem da revista Nature.

O tal fenômeno ocorreu em 6 de novembro do ano passado, quando o Éris ocultou uma estrela fraca da constelação Baleia. Chegar à data, contudo, foi uma das tarefas mais difíceis para a equipe, que inclui pesquisadores de países da Europa e da América Latina. “Prever um evento desse tipo é muito difícil, pois as posições da estrela e do planeta-anão não são conhecidas com a precisão necessária”, diz Ribas. “Estamos tentando avaliar esse tipo de coisa há 10 anos e, até agora, observamos apenas duas ocultações”, comenta Roberto Vieira Martins, pesquisador do Observatório Nacional e um dos líderes do estudo.

Para contornar o problema, os astrônomos formam uma verdadeira rede de colaboração, que conta, inclusive, com a ajuda de amadores. Dessa vez, eles reuniram o potencial de 26 telescópios, embora o evento só tenha sido visível em duas estações chilenas. No Brasil, o mau tempo prejudicou a observação do fenômeno — que dura cerca de 10 minutos, mas é capaz de fornecer uma imensa quantidade de dados. Por meio de uma técnica chamada de fotometria rápida, os cientistas medem o fluxo de luz emitido pela estrela antes, durante a após a ocultação. “De cada telescópio, obtivemos uma medida que chamamos de corda. Com duas ou mais cordas, conseguimos determinar o tamanho e a forma do planeta-anão com uma acuidade muito superior à de qualquer outra técnica observacional”, destaca Felipe Ribas. Além disso, a equipe conseguiu identificar a composição do Éris: primordialmente, gelos de nitrogênio e metano, tal qual o irmão Plutão.

Branco Misterioso

A análise da composição e da luminosidade também permitiu que os cientistas identificassem a cor do objeto. “Percebemos que ele é branco, brilhante, o que é muito estranho para corpos celestes que estão longe do Sol e sob baixas temperaturas”, conta o pesquisador Roberto Martins. Em geral, mesmo que uma névoa surja devido ao congelamento de gases na superfície, ela tende a escurecer por causa da radioatividade presente no espaço. Essa transformação é verificada em outros planetas ou mesmo por meio de experiências em laboratório. “A única maneira de explicar a brancura de Éris é que ela tenha saído de dentro do planeta, como um vulcão”, supõe o especialista.

O mais curioso é que o “fenômeno branco” também existe em um asteróide encontrado na mesma região de Éris e descrito no ano passado. O local, batizado de cinturão transnetuniano, abriga os objetos para além de Netuno, o oitavo e último planeta do Sistema Solar. Daquele lado, estão Éris e Plutão (tido como planeta durante mais de 70 anos), além de outros asteróides, cometas e, talvez, mais planetas-anões. “Cada vez mais, os astrônomos descobrem coisas no cinturão. Como a área está muito distante do Sol, pode haver vários corpos celestes ainda desconhecidos, uma vez que eles refletem pouca luz”, aponta o professor Roberto Costa, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP).

E o desconhecido não é o único atrativo da região. No cinturão transnetuniano, estão os objetos mais frios e, conseqüentemente, os que conservaram as propriedades físicas do início da formação do Sistema Solar. “Eles são como fósseis, o material do qual são formados deve ter a mesma característica da nebulosa que deu origem ao Sistema Solar”, afirma o pesquisador Felipe Ribas. “Esses corpos são a maneira mais viável de estudar o que aconteceu 4,5 bilhões de anos atrás”, reforça o professor da USP. Os cientistas esperam aumentar a compreensão sobre esse lado “obscuro” do espaço com a chegada da sonda New Horizons, lançada em 2005 e com previsão de chegada a Plutão daqui a quatro anos. Até lá, os pesquisadores seguirão olhando para o céu em busca de respostas.

Onde Começa o Fim?

O Sistema Solar não é como um país, com fronteiras definidas por construções ou por lagos e montanhas, por exemplo. Assim, não há um marcador que indique onde o “bairro” espacial chegou ao fim. Os astrônomos costumam dizer que o Sistema Solar acaba onde terminam os efeitos do Sol — não a luz solar, e sim os ventos solares, que lançam partículas por toda a região a sua volta.

Planeta da Discórdia

Foi a descoberta de Éris que fez com que os cientistas revissem a classificação de Plutão. Como os dois corpos são praticamente do mesmo tamanho, a União Astronômica Internacional (UAI) decidiu identificá-los como planetas-anões. O “rebaixamento” de Plutão foi questionado por alguns astrônomos (coincidentemente, Éris é o nome da deusa grega da discórdia). Além da dupla, há outros três objetos desse tipo no Sistema Solar: Makemake, Haumea e o grande asteróide Ceres.

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Fonte: Jornal Correio Braziliense - 28-10-2011

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