O Represent. Brasileiro no Setor Espacial da União Européia
Olá leitor!
Segue
abaixo uma matéria publicada na “Revista Espaço Brasileiro” (Jul – Dez de 2012), destacando que o Centro de Lançamento
da Barreira do Inferno (CLBI), é o representante brasileiro no Setor Espacial
da União Européia.
Duda
Falcão
CLBI
O
Representante Brasileiro no Setor
Espacial
da União Européia
Lançamentos
realizados a partir do Centro Espacial
Guianês,
que pertence a ESA, são rastreados pelo CLBI
Fotos: CLBI
Quando a Agência Espacial Européia (ESA),
ainda na década de 1960, iniciou os seus
projetos para o lançamento de foguetes
transcontinentais em trajetória equatorial,
implementou uma cadeia de rastreamento
ao longo do globo terrestre, a leste da Guiana
Francesa – local de partida dos veículos.
Nesse contexto, foi instalado em terras brasileiras, um parque de
antenas de Telemedidas e Telecomunicações para assegurar o rastreamento, a
gravação, a decomutação e a restituição dos dados provenientes das cargas úteis
embarcadas nos foguetes da família do Programa Ariane. A cidade de Natal, no
Rio Grande do Norte, foi escolhida devido à sua localização geográfica
privilegiada, que permite a visibilidade radioelétrica necessária à cobertura
da trajetória do veículo até à ilha de Ascension, no Atlântico Sul.
O Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI) acolheu esse
parque, denominado de Estação Natal, por meio dos Acordos e Protocolos firmados
entre o governo brasileiro e a ESA. Por se tratar de um centro de lançamento de
foguetes, os radares do CLBI foram incorporados à cadeia de rastreamento nos
primeiros 15 anos do Acordo. Atualmente, a Estação Natal é composta por um
conjunto de sistemas de Telemedidas, apoiado por dois outros sistemas distintos
de Telecomunicação via Satélite e meios de sincronização. Para que a Estação
funcione de forma esperada, o CLBI disponibiliza e mantém, ordinariamente, a
infraestrutura necessária e os recursos humanos especializados.
A União Europeia exige do CLBI um nível de qualidade compatível com os praticados
nas outras estações da ESA. A língua francesa é o idioma utilizado nas
cronologias operacionais e em toda troca de documentos técnicos. Além do mais,
a Estação de Natal é a única operada por um país não pertencente à ESA. As demais
estações são: Galliot (na Guiana Francesa), Ascension (na ilha inglesa situada
no Atlântico Sul), Libreville (no Gabão) e Malindi (no Quênia).
A ESA dá grande importância à Estação de Natal devido à sua localização
geográfica, à estabilidade e à quantidade dos recursos humanos. Destaca-se o
fato de que as equipes operacionais concluíram sem falhas todos os
rastreamentos na visibilidade de Natal. Outro ponto importante é o fato da
cidade pertencer ao mesmo fuso horário do Centro Espacial Guianês (CSG), o que
permite uma maior utilização da estação em proveito dos testes com as estações
guianenses.
Não se concebe a ideia de um lançamento europeu equatorial sem a Estação
Natal. Ela é a única estação remota que participa do rastreamento dos foguetes
em fase propulsada. Um exemplo é o ocorrido no voo V36, quando o foguete
alterou a sua trajetória caiu no mar,
apenas na visibilidade de Natal. Os dados da estação foram os únicos que explicaram
a trajetória anormal, o local e o porquê da queda.
O CLBI e o Programa Espacial Brasileiro também são favorecidos pelos
trabalhos da Estação Natal, uma vez que o Acordo prevê o seu aproveitamento nas
operações nacionais nas mesmas condições de uso, respeitando-se apenas os
calendários da cooperação internacional. Além de atender as operações locais, a
Estação também é utilizada como remota para os lançamentos realizados no Centro
de Lançamento de Alcântara (CLA). Ela poderá, também, ser disponibilizada para
os rastreamentos conjuntos com a Alcântara Cyclone Space (ACS).
O fato da Estação Natal ser mantida pela ESA garante ao CLBI contar com
os sistemas de melhor tecnologia já desenvolvidos e não disponíveis no mercado
nacional. A sua manutenção não se limita a intervenções pontuais. É parte
integrante de um programa plurianual de atualização dos meios de todas as
estações remotas pertencentes às cadeias operacionais dos programas europeus.
O valor maior da Estação Natal reside na condição de representar a porta
de entrada do conhecimento operacional dos meios de rastreamento para o CLBI e
para o CLA. Entre 1984 e 1989, 15 engenheiros e 25 técnicos do CLA foram
formados no CLBI. O aprendizado foi valioso para o CLA, que já na sua primeira
operação mostrou um aproveitamento de 75% de rastreamento dos foguetes
lançados. O intercâmbio operacional existe até hoje entre os três centros –
CLBI, CLA e CSG -, o que permite enriquecer os centros brasileiros com os
conhecimentos acumulados no centro europeu ao longo dos seus 50 anos de
existência.
Desde 1979, quando aconteceu o primeiro rastreamento conjunto, o CLBI
tem feito história ao lado dos seus parceiros europeus. Entre as operações de
maior destaque estão:
• Operação V14 que levou a sonda Giotto enviada para fotografar a
passagem do cometa Halley quando se
aproximou da Terra;
• As operações V12, V17, V66, V71, V105 e V131 tiveram como passageiros
os satélites destinados às telecomunicações brasileiras: Brasilsat 1 e 2,
Brasilsat B1, B2, B3 e B4, respectivamente;
• A operação V103 levou o satélite Equator-S, que foi colocado numa
órbita a 67.000 Km da Terra, destinado a estudar por dois anos a magnetosfera
equatorial do nosso planeta;
• As operações V138 e V173 que efetuaram experimentos tecnológicos para
estudar a abertura em voo da antena japonesa LDREX 1 e 2. Apenas Natal gravou
esse sinal;
• A operação V162 que levou a pequena sonda Smart 1 destinada a fazer várias viagens à Lua para testar o motor
iônico e mapear os polos lunares;
• A operação V188 que levou as sondas Herschell e Planck (observatório
espacial da ESA). As duas sondas viajaram dois meses até alcançar a sua posição
final sobre o ponto de Lagrange L2 a 1,5 milhão de quilômetros da Terra. A
missão das sondas era observar as anisotropias da radiação cósmica de fundo ao
longo de todo o céu, em uma alta sensibilidade e resolução angular;
• A operação V158B levou a sonda
Rosetta destinada a realizar uma viagem de 10 anos em busca do cometa Churiumov Gerasimenko. No final da
viagem, em 2014, a sonda deverá orbitar o cometa por 18 meses e, por fim,
pousar sobre o seu núcleo frio.
Serão estudados a estrutura e o comportamento do cometa, enviando dados
para validar modelos já existentes sobre a formação dos planetas e a origem da
vida na Terra. Atualmente, a sonda está em fase de hibernação no espaço
profundo e acordará em janeiro de 2014, a quase 800 milhões de quilômetros do
Sol, para começar as manobras finais de aproximação ao cometa.
O pouso está previsto para julho de 2014. A viagem já produziu
resultados fantásticos, como fotografar o asteroide Lutécia a uma distância de
pouco mais de três mil quilômetros, enviando uma enorme quantidade de dados científicos
de volta à Terra.
A população é a grande beneficiada pelas missões da ESA. O mérito do
CLBI é ter sido imprescindível nas operações que desencadearam verdadeiras
odisseias científicas e tecnológicas. O Brasil se faz representar nesses
projetos em igual posição com os outros países, sob o ponto de vista da
qualidade no domínio espacial.
Fonte: Revista Espaço Brasileiro - Num. 14 - Jul - Dez de
2012 - págs. 14 e 15
É bom o Brasil ir ganhando mais experiência e talvez tirar algumas vantagens na cooperação, mas sabemos que o verdadeiro sucesso virá mesmo quando o portugues for no CLBI a lingua de referência para a coordenação de veículos lançadores. Mas é uma ótima publicidade para a CLBI que se mostra apto para coordenar operações de monitoramento a nível de qualquer nação no mundo. Creio que aquele satélite estrangeiro da Telebrás foi lançado com a ajuda do CLBI também para cobrir o Brasil e outros vizinhos. Bom saber que estamos contribuindo para o avanço das pesquisas no que concerne às "odisseias científicas e tecnológicas" feitas pelo globo.
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