Artigo - Mudança de Sentido

Olá leitores e leitoras do BS!
 
Por Duda Falcão
 
Pois então, nesse domingo dia do trabalhador, após ir as ruas fazer a minha parte como cidadão brasileiro, estava em minha casa descansando, quando pelo celular recebi um interessante artigo, escrito que foi por um grande profissional do Programa Espacial Brasileiro (PEB), hoje aposentado e atuando como Cofundador, Sócio e CEO da startup brasileira 'CLC Consultoria', empresa esta que atua na área de Sistemas Guiamento, de Controle e de Navegação Inercial.
 
O artigo em questão, escrito pelo conhecidíssimo Dr. Waldemar Castro Leite Filho, foi postado hoje (01/05) no seu blog 'Memórias de Um Pesquisador', onde desde julho de 2020, este ex-servidor do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) vem publicando artigos interessantíssimos e bem esclarecedores sobre os bastidores da sua carreira profissional a serviço da Nação Brasileira, quando então atuava tanto pelo Instituto Militar de Engenharia (IME) como pelo próprio IAE.
 
Todos que me acompanham desde a minha primeira fase no BS (11 longos anos), sabem que sempre tive uma profunda admiração pelo IAE e seus pesquisadores, isto pelo fato de, bem ou mal, o IAE, sua versão anterior (Instituto de Atividades Espaciais) e seus servidores, serem os grandes responsáveis pelo avanço do Brasil na área de foguetes e suas tecnologias associadas, e por isso, sempre nutri um carinho especial por esta instituição e seu membros, principalmente aqueles que realmente contribuíram para esse avanço, como por exemplo, o fantástico Eng. Jayme Boscov (citado no artigo e já falecido), o Dr. Luis Eduardo Vergueiro Loures da Costa (hoje atuando no ITA), o saudoso Paulo Moares Jr. (infelizmente falecido) e é claro, o Dr. Waldemar Castro Leite Filho, entre outros, e alguns militares também, como o Brigadeiro Carlos Antônio de Magalhães Kasemodel e o Brigadeiro Francisco Carlos Melo Pantoja, que de forma indireta e as vezes até mesmo direta, colaboraram muito para o crescimento do blog perante aos nossos leitores.
 
No entanto amigos leitores, sempre fui independente, e nunca me furtei de fazer criticas ao IAE quando assim achava pertinente, e justamente nos últimos anos de minha primeira fase no BS, essas críticas se tornaram cada vez mais frequentes, se tornando esta uma das razões que colaboraram na minha decisão de me afastar do BS em agosto de 2020. Afinal, tinha naquele momento razões de sobra para não acreditar mais nas fantasias passadas pelo instituto, e o IAE que décadas atrás tanto nos trouxe com as suas pesquisas, já não vinha apresentando resultados significativos há alguns anos, e naquele momento entrava definitivamente numa época de total falta de resultados e sem qualquer possibilidade de mudança, e muito por culpa, infelizmente, da falta de atitude do próprio COMAER.
 
Portanto caros amigos leitores do BS, para que você possa entender melhor uma das razões da continua deterioração deste que foi um órgão militar historicamente importante no desenvolvimento espacial brasileiro, convido todos vocês a lerem com atenção este interessante artigo escrito pelo Dr. Waldemar, bem como também todos os artigos já escritos e postados em seu blog 'Memórias de Um Pesquisador' desde 09 de jullho de 2020. Vale a pena conferir!
 
MUDANÇA DE SENTIDO
 
Por Dr. Waldemar Castro Leite Filho
Blog Memórias de um pesquisador
Publicado em 01 de maio de 2022
Fonte: Blog Memórias de Um Pesquisador
 
Quando ingressei no IAE em 1985, já havia todo um processo de gestão em funcionamento.  Eu não entendia bem todos aqueles processos.  Me pareciam burocráticos e chatos.  Mas hoje eu os vejo como extremamente necessários.  Eles haviam sido trazidos pelo Eng. Boscov.
 
Para qualquer reunião havia uma convocação por escrito com local, data, horário e pauta do que seria discutido.  Vinha em uma tirinha de papel que cada participante recebia com antecedência.  A tirinha de papel era para economizar papel mesmo (afinal não havia e-mail nem Whatsapp).
 
Após a reunião, era imediatamente escrita uma ata que era assinada por todos os participantes (que assim concordavam com seu conteúdo) e cópias dessa ata encaminhadas para os mesmos.
 
Para cada viagem ao exterior (que era chamada de missão) havia uma exposição clara de motivos que se enquadravam nos objetivos do projeto que financiava tal viagem.  Quando houvesse mais de um missionário, um deles era designado como chefe da missão e responsável pelos demais.
 
Era exigido do missionário que demonstrasse competência na língua estrangeira que seria utilizada durante a missão, além da competência técnica.
 
No retorno da missão era feito um relatório detalhado, que descrevia tudo o que havia acontecido e quais as conclusões e recomendações.  Esses relatórios tinham a mesma importância dos relatórios de estudo e, por vezes, eram utilizados como referência dos documentos seguintes.
 
Havia também toda uma organização e controle de documentação.  Isso era feito através da descrição de uma árvore (na verdade o diagrama se parecia mais com uma raiz) de assuntos que montavam o WBS (work breakdown structure).  Esses assuntos traziam uma numeração específica e os relatórios eram numerados em função dessa estrutura.  No início de cada relatório, listava-se os documentos anteriores que orientavam como aquele relatório se enquadrava dentro do projeto.  Havia inclusive uma secretária responsável por cobrar a execução dos relatórios dentro das normas e controlar sua emissão e cópias.
 
Hoje até vejo com saudade esses tempos.  A tecnologia trouxe a possibilidade de documentos editáveis com figuras e fotos de alta qualidade.  Formatos digitais que permitem não apenas a correção de erros, mas principalmente a procura de palavras-chave e conexões (links) para outros relatórios.  Muito embora isso permitisse o aumento de produtividade, qualidade do trabalho e em seu arquivamento, de fato tal não ocorreu.
 
Na verdade, a tecnologia não trouxe aumento na produtividade e sim de burocracia.  Não via nenhum controle de configuração ou de edição dos relatórios.  Esses passaram a ser feitos de forma desleixada.
 
As missões passaram a ser realizadas de forma irresponsável.  O relatório de missão tornou-se uma única folha pré-preparada (template) com perguntas tipo: aconteceu algo diferente a ser relatado?  Não servem pra nada, são mero perfunctório.
 
As reuniões passaram a acontecer sem nenhum preparo e registro.  Tornaram-se uma perda de tempo ou mesmo um campo de disse-me-disse.  Sem atas que registrem o que foi decido não se pode cobrar ações e responsabilidades.  Sempre aparece aquela desculpa de que não foi bem assim ou não entendi desse jeito.
 
Houve claramente uma mudança de sentido – entenda-se tanto de significado como de direção.  Temos muito mais recursos e menos realizações e nem mesmo nos perguntamos o porquê.  Voltemos ao passado e reaprendamos com o que funcionava.

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