Proposta de Pesquisadora Brasileira do Uso de Um Cabo Preso em Um Asteroide Pode Ser Usada Para Impulsionar Veículos Espaciais
Olá leitor!
Segue abaixo um artigo publicado hoje (14/08) no site da
Agência FAPESP, destacando que proposta de pesquisadora brasileira de um Cabo preso
em asteroide pode ser usada como estilingue para impulsionar veículos espaciais.
Duda Falcão
Notícias
Cabo Preso em Asteroide Pode Ser Usado Como Estilingue
Para Impulsionar Veículos Espaciais
Por André Julião
Agência FAPESP
14 de agosto de 2019
Um veículo espacial é conectado a um cabo de 100
quilômetros de comprimento, ancorado em um asteroide. Preso por esse space
tether, como é chamado esse tipo de cabo espacial, o veículo pode ter sua
trajetória alterada em muitos quilômetros, ganhando energia durante o processo
de rotação, até finalmente se desconectar, sendo impulsionado em outra direção
e podendo até mesmo sair do Sistema Solar.
A viabilidade teórica dessa manobra espacial foi
apresentada na Sixth International Conference on Tethers in Space, realizada na
Universidad Carlos III, em Madri, na Espanha, de 12 a 14 de junho. O trabalho rendeu à autora, Alessandra
Ferraz Ferreira, o prêmio Mario Grossi, criado para homenagear o jovem
cientista que apresentasse o projeto mais inovador durante a conferência.
Ferreira realiza estágio de pós-doutorado na Faculdade de
Engenharia de Guaratinguetá da Universidade Estadual Paulista (FEG-Unesp),
com bolsa da
FAPESP. O estudo tem supervisão de Rodolpho
Vilhena de Moraes, professor da FEG-Unesp, e integra o Projeto Temático
“A
relevância dos pequenos corpos em dinâmica orbital”, coordenado
por Othon
Cabo Winter.
O artigo premiado estabelece os parâmetros para uma
manobra desse tipo em espaço tridimensional e será submetido a uma edição
especial da revista Acta Astronautica. A manobra é chamada de
Tethered Slingshot Maneuver (TSSM), ou manobra de estilingue com cabo, em uma
tradução livre.
“A ideia é fixar uma das pontas de um cabo na superfície
de um corpo, como um asteroide, e na outra extremidade ter um dispositivo de
recebimento. Então lança-se, por exemplo, um satélite ou outro objeto na
direção desse corpo e, quando chegar à posição em que está o dispositivo de
recebimento, ele se conecta. A velocidade com que o objeto chega obriga o cabo
a fazer uma rotação, gerando um efeito similar ao que temos se girarmos uma
pedra amarrada em um barbante”, disse Ferreira.
O modelo aproveita corpos de massa menor do que planetas
e satélites naturais para ganhar energia. No caso de corpos maiores, há
manobras do tipo swing-by, em que o campo gravitacional empurra o
satélite ou veículo espacial, poupando combustível, um fator crítico nas
missões.
O trabalho de Ferreira busca dar viabilidade para o uso
de pequenos corpos como asteroides, que não têm campos gravitacionais tão
poderosos como os planetas, na realização de manobras que gerem impulso e
economizem combustível.
Levando em conta as condições iniciais estudadas do
espaço e as velocidades possíveis de serem alcançadas por um veículo espacial,
os pesquisadores concluíram que o objeto precisaria chegar ao dispositivo de recebimento
a 68,7 quilômetros por segundo (km/s) – o equivalente a 247.320 quilômetros por
hora (km/h) – para se conectar ao cabo, obter o impulso desejado e, então,
maximizar o ganho de energia. Isso ocorreria com inclinação da órbita próxima
ao plano.
O trabalho também analisou outros cenários. No caso de se
aproximar a 7,7 km/s (27.720 km/h), por exemplo, o corpo minimizaria o ganho de
energia. Por volta dos 15 km/s (54.000 km/h), ele seria capturado pela órbita
do asteroide, gravitando em torno dele indefinidamente.
“Todos esses cenários precisam ser previstos. Servem,
inclusive, para outros fins como, por exemplo, se o objetivo for enviar um
satélite para orbitar o asteroide”, disse Ferreira.
Além disso, o cabo pode também desviar o veículo espacial
da sua rota, naturalmente elíptica. Em vez de orbitar indefinidamente em torno
do Sol, ao ser preso ao cabo ele passaria a traçar uma rota hiperbólica, pela
qual sairia completamente do Sistema Solar.
Depois de impulsionado pelo cabo, que no cenário
estabelecido no estudo teria 100 quilômetros de comprimento, o veículo se
desconectaria, ganharia energia e teria a rota alterada em relação àquela em
que foi lançado.
“O cabo substitui o efeito que a gravidade teria se
aquele fosse um corpo maior, como um planeta, o que também acaba economizando
combustível”, explicou.
Elevador Espacial
Usados em missões desde a Gemini 11, lançada pela NASA, a
agência espacial dos Estados Unidos, em 1967, os cabos espaciais têm geralmente
entre 20 m e 1 km, com raras exceções, como a de uma missão de 1996, também da
NASA, que usou um de 19,6 km.
O conceito, porém, data pelo menos de 1895, quando o
russo Konstantin Tsiolkovsky (1857-1935) descreveu um elevador espacial,
composto por um cabo que levaria cargas para uma estação fora da atmosfera
terrestre. No entanto, cabos espaciais na escala de tantos km, como o proposto
pelo artigo, nunca chegaram a ser usados.
Tampouco se sabe como fixar um desses em um asteroide,
nem o método e os materiais para a fabricação do cabo e do dispositivo de
recebimento. O objetivo do estudo feito pelos cientistas brasileiros foi
estabelecer os parâmetros para que uma manobra do tipo possa ser feita em um
cenário em que todas essas questões já estarão resolvidas.
“Usamos como base um sistema de asteroides genérico, mas
baseado em dados de um sistema existente. Calculamos os dados de aproximação do
satélite a partir dos parâmetros desse sistema. Bastaria alterá-los para os de
uma condição real para aplicá-los”, disse Ferreira.
O sistema de asteroides usado como referência foi o 99942
Apophis, localizado a 11.602.976 km da Terra.
O resumo do artigo Three-Dimensional Tethered
Slingshot Maneuver in the Elliptic Restricted Problem, de Alessandra F. S.
Ferreira, Rodolpho V. de Moraes, Antonio F. B. A. Prado e Othon Cabo Winter,
pode ser lido na página 60 do livro da Sixth International Conference on
Tethers in Space em: https://eventos.uc3m.es/_files/_event/_17669/_editorFiles/file/Book_of_Abstracts.pdf.
Fonte: Site da Agência FAPESP - http://agencia.fapesp.br
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