O Programa Espacial e o Acordo de Salvaguardas
Olá leitor!
Segue abaixo um interessante e equilibrado artigo postado no final
de julho (22/07) no site “Monitor Mercantil” e posteriormente em outros sites da net,
tendo como destaque o nosso “Patinho feio” e o Acordo de Salvaguardas
Tecnológica (AST) assinado com os EUA.
Duda Falcão
OPINIÃO
O Programa Espacial e o Acordo de Salvaguardas
Por Allan Kardec Duailibe Barros Filho*
Monitor Mercantil
22 de jul de 2019 - 19:33
Faz 50 anos que Neil Armstrong pôs os pés na Lua, desembarcando da
Apolo 11, em 1969. Várias revistas especializadas ou não estão celebrando o
feito, enquanto novos desafios estão postos por conta do imenso avanço
tecnológico no último meio século. Igualmente, a dinâmica das relações de poder
mudou, assim como novos players se integram à realidade aeroespacial
inaugurando uma nova fase de comunicações e revoluções científicas e
tecnológicas no planeta.
A corrida espacial começou simbolicamente quando foi lançado o
primeiro satélite artificial da Terra, o Sputnik 1, em 1957, pela União
Soviética. Quatro anos depois, o Brasil iniciava suas atividades espaciais.
Corria o ano de 1961 quando foi criada a Comissão Nacional de Atividades
Espaciais (CNAE), vinculada ao CNPq.
Naqueles dias, brasileiros visionários compreenderam que no
desenvolvimento espacial está uma das maiores janelas de oportunidade para o
desenvolvimento em ciência, tecnologia e inovação de um país. Ou seja,
soberania. Afinal, nenhum país cede conhecimento de alto valor agregado
gratuitamente a outro.
Antes, em 16 de janeiro de 1950, sob inspiração do Brigadeiro
Montenegro, instalou-se o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) – nas
palavras de então, o “MIT brasileiro”. O grande marco histórico seguinte foi à
criação, em 1983, do Centro de Lançamento de Alcântara.
Hoje, 2019, em um novo contexto geopolítico, está lançado
novamente o desafio de prosseguir e dar nova oxigenação ao Programa Espacial
Brasileiro. Afinal, o acesso ao espaço continua sendo não apenas um grande
desafio tecnológico da humanidade, como é vetor chave para o desenvolvimento de
um país, tendo em vista a excelência científica e tecnológica envolvida e a
capacidade de transbordamento que lhe é intrínseca. Seu progresso envolve
sistemas de engenharia desafiadores que representam o desenvolvimento de uma
indústria de fronteira, além da formação de pessoal altamente qualificado.
Sem acordo, atividade brasileira tende
a apequenar-se ou mesmo inviabilizar-se
Uma breve olhada ao redor e reconheceremos que os desafios postos
nos dias atuais nos obrigam a fazer largo uso das tecnologias da informação.
Hoje, das cinco maiores empresas do planeta, todas as cinco são empresas de
informação: Microsoft, Apple, Amazon, Alphabet e Facebook. Para se ter uma
ideia, há apenas dez anos, quatro dessas empresas eram da área de petróleo e
gás e apenas uma da tecnologia da informação.
Hoje há satélites de várias altitudes e órbitas, servindo a
diferentes propósitos, sejam eles militares ou civis. Em seu conjunto, a
existência de uma constelação de satélites, com distintas funções, pode
representar relevante aporte ao planejamento do desenvolvimento tecnológico.
Não por acaso, Elon Musk, da SpaceX, planeja lançar uma constelação de 12 mil
satélites de baixa órbita nos próximos anos.
O Programa Espacial Brasileiro, ao longo de quase seis décadas,
teve muitos êxitos, mas também recorrentes percalços e obstáculos. Alguns que
travaram seu desenvolvimento são a inconstância e insuficiências no
financiamento, ou mesmo um sistema de governança com unidade precária de
propósitos, dispersado em diversos ministérios e, por vezes, planejamento realizado
com metas e objetivos pouco claros e inexequíveis.
Por fim, um dos principais impasses é o de natureza social e
fundiária, relacionado à expansão e ao desenvolvimento de sua principal
infraestrutura operacional, o Centro de Lançamento de Alcântara, no que
concerne às complexas negociações entre os quilombolas e o Estado brasileiro.
Não obstante as dificuldades, brasileiros perseguem a saga
iniciada em no século passado. No período mais recente, sinais de vitalidade
não cessam de se apresentar como o lançamento do Satélite Geoestacionário de
Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC), que se configura um aporte decisivo
para a autonomia e soberania de comunicações estratégicas do Brasil. Ou mesmo
exemplos exitosos de cooperação internacional, do qual se destaca o Programa
Cbers (China-Brazil Earth Resources Satellite), talvez o principal projeto
tecnológico de cooperação entre dois países em desenvolvimento.
Cabe também destacar a busca pela formação de recursos humanos de
alto nível – um dos fundamentos de um programa espacial exitoso. Em 2018, foi
criado, na Universidade Federal do Maranhão, o curso de graduação em Engenharia
Aeroespacial.
Acrescente-se a este o Mestrado em Rede em Engenharia Aeroespacial
formado pelo UFMA, UFRN, UFPE e Uema, dessa forma unindo o Centro de Lançamento
de Alcântara (CLA) ao Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI), e à
unidade do INPE no Rio Grande do Norte.
Essas instituições garantem, dessa forma, que a formação dos
recursos humanos tenha altíssima qualidade em termos nacionais e
internacionais. Essa política cumpre diretriz da Estratégia Nacional de Defesa
(END), que recomenda a desconcentração da Indústria Aeroespacial brasileira,
hoje centrada em São José dos Campos.
Os dois cursos – graduação e mestrado – aparecem como mecanismo de
desenvolvimento do Brasil, dado que são os primeiros da região, atendendo assim
a uma demanda de várias décadas e invertendo a lógica de concentração do
desenvolvimento através do combate às desigualdades regionais em Ciência e
Tecnologia.
É nesse contexto que se insere o Acordo de Salvaguardas
Tecnológicas (AST), hoje tramitando no Congresso Nacional. Considerando a nova
realidade da exploração do espaço por diferentes países, a proposta do MCTIC é
tornar Alcântara um local de exploração comercial de lançamentos de foguetes
para exploração do mercado de satélite. Isso implica a inauguração do Centro
Espacial de Alcântara (CEA).
Se uma empresa, de determinado país, se propuser a colocar em
órbita um satélite, o CEA – controlado pelo Estado brasileiro – poderá fazê-lo,
contratando uma empresa lançadora de foguetes. Esta empresa lançadora poderá
ser de qualquer país do mundo – não necessariamente norte-americana. Russos,
chineses, europeus ou indianos, por exemplo, teriam interesse em oferecer tal
serviço.
O AST trata basicamente de interesses comerciais entre países. De
fato, o AST é um mecanismo de proteção de tecnologias e patentes entre Brasil e
EUA contra o uso ou a cópia não autorizada nos lançamentos comerciais.
Uma metáfora mais conhecida seria a da Fórmula 1. Quando uma
empresa usa um box brasileiro – controlado por brasileiros – na corrida, ela
tem garantias de reserva de acesso àquele box. Uma vez encerrado o evento, as
empresas saem dos sítios que se instalaram provisoriamente. Ou seja, Interlagos
continua sendo brasileiro assim como Alcântara continuar sendo controlada pelo
Estado Brasileiro.
Em síntese, temos uma grande oportunidade de continuar avançando
na área espacial. Esse avanço depende, em larga medida, da aprovação de um AST
benéfico para o Brasil. Sejamos claros, sem algum entendimento que hoje se
traduz no AST, o Programa Espacial Brasileiro tende a apequenar-se ou mesmo inviabilizar-se,
pois o Brasil não possui o nível de amadurecimento tecnológico de grandes
potências como China, Rússia ou EUA. Temos uma oportunidade portanto de dar um
pequeno passo para Alcântara e um grande passo para o Brasil!
* Allan
Kardec Duailibe Barros Filho: Engenheiro, é professor titular, pró-reitor
de Pesquisa, Pós-graduação e Inovação e vice-reitor eleito da Universidade
Federal do Maranhão (UFMA).
Fonte: Site Monitor Mercantil - https://monitordigital.com.br
Comentário: Pois é leitor,
fora a questão levantada aqui pelo autor de que o projeto do SGDC tenha sido uma
ação positiva, quero parabeniza-lo pela artigo equilibrado que escreveu,
especialmente com relação a sua visão da importância do Acordo AST para o
Brasil. Parabéns Prof. Eng. Allan
Kardec Duailibe Barros Filho, gostei muito do seu artigo. Aproveito também para agradecer publicamente ao Dr. Waldemar Castro Leite pelo envio deste interessante artigo.
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