Entrevista com Oswaldo Loureda - Diretor da Acrux
Olá leitor!
Dando seqüência a serie de entrevista com personalidades
do PEB, iniciada esse ano com a entrevista de um dos pioneiros do PEB, o Prof.
Félix Santana (reveja a nota: “Entrevista com o Prof. Félix Santana - Pioneiro do PEB”), trago agora para você leitor uma
entrevista com um dos mais promissores jovens da 'atual safra de realizadores privados' das atividades espaciais do país.
Entrevistado que foi pelo blog em janeiro do ano passado
(reveja a entrevista: “Blog Entrevista Diretor da Acrux Aerospace Technologies”) quando então ainda era servidor do
Laboratório de Propulsão Líquida da Divisão de Propulsão Espacial (LPL/APE) do
Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), o jovem Oswaldo Loureda nessa nova
entrevista nos fala alegremente sobre seus planos futuros, projetos e
principalmente da mais nova iniciativa de sua empresa, a Acrux Aerospace
Tecnologies, ou seja, o “1º Spacecamp do Brasil” que começará dia 23/01
em São José dos Campos (SP) com a presença do nosso blog.
Gostaríamos de agradecer ao senhor Oswaldo Loureda pela
atenção dispensada nessa nova entrevista, agradecendo também a Acrux na pessoa
do senhor Loureda e de seu sócio Waldir Vieira pelo convite feito ao nosso blog
para que participássemos desse 'evento histórico', que marca no Brasil uma nova
visão de educação direcionada a área de ciência e tecnologia ligada às
atividades espaciais. Segue abaixo a entrevista.
Duda Falcão
OBS: Informamos ao leitor que essa entrevista foi realizada antes da nomeação do Marco Antônio Raupp para o MCTI.
BRAZILIAN SPACE: Para aquele leitor que ainda não o
conhece senhor Oswaldo, nos fale sobre o senhor, sua formação, idade, onde
nasceu e se tem outra atividade além de ser o diretor da Acrux Aerospace
Technologies?
OSWALDO LOUREDA: Bom, tenho
formação técnica em Mecatrônica pela ETE Basilides de Godoy, graduação em
Mecânica de Precisão pela FATEC-SP, e mestrado em Engenharia Aeroespacial pelo
ITA/IAE. Atualmente além da diretoria da Acrux, me ocupo com as atividades de
um doutorado em Engenharia Aeronáutica-Mecânica no ITA. Sou natural de
Sorocaba, interior de São Paulo.
Oswaldo Loureda e Waldir Vieira Diretores da Acrux Aerospace Technologies |
BRAZILIAN SPACE: Como nasceu a
Acrux, quando surgiu a sociedade com o
Tecgo. Waldir Vieira, e o que os levou a criá-la?
OSWALDO LOUREDA: Criei a ACRUX em
2008 junto com uma brilhante jovem pernambucana, chamada Jéssyca Barbosa, desde
então a empresa vem crescendo e buscando atender os mercados mais desafiadores
em nosso pais. Em 2010, a empresa recebeu novas demandas de soluções
tecnológicas, e se fez fundamental a entrada de mais um sócio. Conheci então o
Tecgo. Waldir Vieira durante um curso de graduação na FATEC-SJC, e o mesmo se
apresentou como uma das figuras mais éticas e competentes que tive o prazer de
conhecer. O Sr. Waldir veio assim complementar o perfil acadêmico que tínhamos,
com uma visão e experiência industrial impar, tornando a Acrux ainda mais
competitiva.
BRAZILIAN SPACE: É sabido
senhor Oswaldo que nos próximos dias a Acrux estará realizando o “1º Spacecamp
do Brasil”, o que em nossa opinião é bastante louvável. Como surgiu a idéia de
realizar esse evento e porque a Acrux resolveu realizá-lo?
OSWALDO LOUREDA: O sonho do
Space Camp já é antigo... Desde muito jovem sempre sonhei em participar de
algum evento parecido, no entanto, nunca tive essa chance. Com o tempo, e com
as palestras que ministramos pelo Brasil a fora, conhecemos inúmeros jovens
alunos que nutriam este mesmo sonho. Além disso, começamos a nos envolver em
diversas discussões sobre a necessidade de mão de obra para o PEB, inclusive
com o Sr. Duda Falcão. O resultado mais lógico foi a idéia do Space Camp 2012,
que foi apoiado por diversos colaboradores na academia e na indústria. Temos em
mente que tal evento é bastante oneroso em tempo e recursos para uma empresa do
nosso porte, no entanto, acreditamos que esse evento pode tomar maiores
proporções com o tempo, e ser auto sustentando.
BRAZILIAN SPACE: Quais são suas
expectativas para com esse primeiro evento e quais serão as próximas, caso o
mesmo seja exitoso?
OSWALDO LOUREDA: Para esse
Space Camp 2012 a expectativa é muito grande, entre os monitores e palestrantes
hã uma ansiedade muito positiva, e temos a certeza que os participantes também
estão bastante ansiosos. A idéia já tem 2 anos, mas ela começou a ser executada
efetivamente a uns 8 meses atrás.Temos em mente que tal evento é bastante
oneroso em tempo e recursos para uma empresa do nosso porte, no entanto,
decidimos executá-lo por nossa conta com a expectativa de que o mesmo ajude a
formar mão de obra para as atividades do PEB e tecnologia em geral, assim como
também temos a expectativa de que o evento seja apoiado no futuro.
BRAZILIAN SPACE: Ainda na área de educação senhor
Oswaldo, é sabido que no ano passado a Acrux apoiou a “Equipe Montenegro” do
Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) durante a realização do 6 IREC
(Intercollegiate Rocket Engineering Competitions) nos EUA. É pensamento da
Acrux continuar apoiando essa equipe na competição desse ano?
OSWALDO LOUREDA: A Acrux esta apoiando a equipe MONTENEGRO novamente este
ano, através de fabricação de peças, doação de material e transferência de
tecnologia para o foguete. É possível notar que existe uma semelhança entre as
tecnologias aplicadas nos FOG5K da Acrux e no foguete da equipe Montenegro, da
qual faço parte. Temos um grupo de 22 jovens alunos de graduação e pós
graduação do ITA que se dedicam de forma extraordinária!
BRAZILIAN SPACE: Existe o interesse por parte da Acrux de
apoiar de alguma forma outras equipes universitárias do Brasil nesse evento, e
caso sim, o que os interessados devem fazer?
OSWALDO LOUREDA: A Acrux é um empresa bastante
democrática, e muito preocupada com o futuro do Brasil, assim com certeza temos
interesse em apoiar equipes de outras universidades, no entanto, dentro dos
limites econômicos de uma micro empresa, e de transferência de tecnologia.
BRAZILIAN SPACE: Qual é a sua opinião sobre o programa
“Ciência Sem Fronteiras” lançado recentemente pelo governo federal?
OSWALDO LOUREDA: Acredito ser
um programa sensacional, que terá grande impacto na produção científica
nacional, com certeza irá elevar ainda mais nosso nível tecnológico, no
entanto, temos outras barreiras talvez até mais graves em P&D no Brasil,
entre elas a máquina burocrática, a famigerada Lei 8.666, falta de
profissionais adequadamente treinados em gestão de projetos e pouco apoio a
microempresas de base tecnológica, problemas crônicos que podem ser detectados
pelas grandes devoluções de verbas não aplicadas e pelo alto índice de
mortalidade de micro empresas da mesma natureza da Acrux.
BRAZILIAN SPACE: Mudando agora
o foco para as atividades espaciais da Acrux senhor Oswaldo, é sabido que a
empresa vinha desenvolvendo um foguete chamado AATv3. Qual é a situação atual
desse projeto e qual o seu objetivo?
OSWALDO LOUREDA: O projeto
AATv3, conhecido hoje na empresa pelo nome comercial FOG30K é um foguete
monoestágio de propulsão sólida que possui diversas aplicações, no entanto, o
seu desenvolvimento e qualificação é bastante oneroso, assim estamos no aguardo
de liberação de verbas para esse desenvolvimento, nesse intervalo, estamos
apontando para outros mercados inexplorados nesse setor, que em breve poderemos
falar mais sobre.
BRAZILIAN SPACE: Também se sabe
do interesse da empresa no desenvolvimento de foguetes de sondagem e de um
pequeno lançador de satélites denominado “Montenegro”. Qual é a atual situação
desses projetos?
OSWALDO LOUREDA: No campo de
Foguetes de Sondagem, já possuímos domínio para um família bastante abrangente,
dentro das nossas propostas de aplicação, faltando apenas o investimento para a
certificação dela, no entanto, o Lançador de Nanosatélites Montenegro é um
projeto de grandes dimensões, que busca em primeiro lugar formar mão de obra
qualificada para o PEB, e em segundo gerar um veículo que possa colocar 20kg em
órbita baixa com um custo total menor que US$ 500 mil depois de qualificado.
Tal projeto é extremamente audacioso, principalmente pela meta econômica, que
obriga a utilização de quase 100% de componentes COTS (de prateleira),
aplicação ao extremo das filosofias Responsive
Space e Design for Manufacturing. Temos
a certeza que o Montenegro com o custo objetivado é um grande produto, no
entanto, a sua viabilidade é diretamente dependente do custo final, que só poderá ser precisado após o lançamento com sucesso de um protótipo.
BRAZILIAN SPACE: E na área de motores-foguetes,
existe algum projeto em andamento?
OSWALDO LOUREDA: Na área de
propulsão, a Acrux vem otimizando seus propulsores sólidos , realizando
pesquisas em Câmaras Ablativas para propulsão líquida (minha tese), e mais
recentemente a Acrux vem estudando a viabilidade de foguetes a propulsão
híbrida, mas ainda sem conclusões.
BRAZILIAN SPACE: A empresa
pretende atuar na área de desenvolvimento de motores-foguetes líquidos?
OSWALDO LOUREDA: Com certeza, só estamos a espera de
oportunidade, pois esse campo é muito delicado e necessita de investimentos
razoáveis, nada viável para uma empresa investir a fundo perdido e sem garantia
de contratos. Mas estamos ansiosos por mais este desafio.
BRAZILIAN SPACE: A Acrux senhor
Oswaldo, estaria interessada em desenvolver projetos espaciais conjuntamente com
outras instituições e empresas no Brasil ou no exterior?
OSWALDO LOUREDA: Com certeza
são conversações necessárias e muito positivas, sempre acreditamos no espaço
como um campo de atuação para a comunhão das nações, no entanto, temos ciência
que nem todos compartilham destes ideais, assim buscamos trabalhar sempre de
forma bastante cautelosa, principalmente no que diz respeito a propriedade
intelectual e transferência de tecnologias. Já existem diversas conversações
para cooperações, tanto no campo acadêmico como industrial, com instituições do
Brasil e do exterior, no entanto, por enquanto se resumem a reuniões de
diretorias, e cooperações com escolas e universidades, como tem sido feito com
o ITA.
BRAZILIAN SPACE: Existe algum
projeto em andamento na empresa ainda não comentado aqui que o senhor gostaria
de destacar para os leitores do blog?
OSWALDO LOUREDA: A Acrux é uma
empresa extremamente dinâmica, e temos nos adaptado muito bem ao mercado,
assim, além das áreas tradicionais da empresa, que são espacial, educacional e
consultoria em automação, a empresa vem dando largos passos no setor de energia
fotovoltaica, com Painéis Solares de até 180Wp dotados de células
monocristalinas de silício de alto desempenho, e Solar Trackers embutidos desenvolvidos e testados pela Acrux.
BRAZILIAN SPACE: Como
empresário do setor, qual é a sua opinião sobre o “Programa UNIESPAÇO” da AEB?
OSWALDO LOUREDA: É um programa
excelente! Realmente ele pode incluir muitos jovens no PEB, assim como
universidades inteiras. Vem angariando diversos alunos de pós graduação e tem
um potencial acadêmico realmente enorme, no entanto, em minha ótica tal
programa pode ser melhorado com duas ações essenciais, a primeira é um
incentivo maior á participação da industria, principalmente as de base
tecnológica, ações que podem ser articuladas com as incubadoras tecnológicas, a
AIAB, a AAB, SEBRAE e FIESP. A segunda e mais crítica, é a desburocratização do
uso desses recursos, participei de um projeto da última chamada e tivemos de
encerrar o projeto no meio e devolver as verbas pelo volume de trabalho
necessário para se conseguir usar o dinheiro. Parece uma piada trágica, mas
tínhamos o dinheiro, mas os empecilhos burocráticos eram tão desgastantes, que
o grupo optou por desistir do projeto e devolver o dinheiro. Infelizmente isso
não é raro no DCTA e INPE, não por incompetência técnica, mas por uma
burocracia tão enfadonha que o obriga a dedicar mais tempo com papelada do que
com pesquisa efetivamente.
BRAZILIAN SPACE: O senhor não
acha que se deveria criar novos editais direcionados para micro e pequenas
empresas estimulando o desenvolvimento de tecnologias críticas para o PEB, já
que são nesses tipos de empresas onde a inovação ocorre com mais facilidade?
OSWALDO LOUREDA: Nos EUA e na
Europa, as micro e pequenas empresas do setor espacial existem as centenas, e
isso não é coincidência, mas sim algo que o governo vem incentivando a várias
décadas, através da figura de grandes empresas mentoras, que são fortemente
incentivadas a subcontratar micro e pequenas empresas tecnológicas, além claro,
de editais e licitações pequenas de desenvolvimento tecnológico voltados as
MPEs. No Brasil, ainda não é possível observar claramente a figura de uma
empresa mentora, no entanto, esse papel vem sendo desempenhado de forma não
otimizada pelos órgãos executivos do programa, essencialmente DCTA e INPE de
forma que não é possível uma gerência realmente eficiente com o atual número
reduzido de servidores disponíveis, ficando ambas as funções , técnicas e
gerenciais comprometidas, resultando em grandes atrasos, falta de foco, riscos
diversos e não aplicação de verbas já solicitadas e liberadas. As poucas
empresas que trabalham como fornecedoras para o programa espacial brasileiro
são em sua maioria empresas de porte médio tipicamente, voltadas quase
exclusivamente para demandas governamentais, e sem concorrentes diretos,
resultando assim em um cenário bastante sensível e instável, com constantes
ameaças de falências e corte de pessoal, e custos que inviabilizam e atrasam
cronogramas. Com a criação de editais e licitações viáveis para micro empresas,
parques tecnológicos e incubadoras tecnológicas, o surgimento de dezenas de micro
e pequenas empresas de base tecnológica e spin-offs
será questão de tempo, e com o adequado apoio e incentivo governamental será
possível maior resposta e agilidade aos órgãos executivos do programa, ou mesmo
a futuras empresas mentoras, além de uma considerável redução de custos devido
a concorrências diretas.
BRAZILIAN SPACE: Finalizando
senhor Oswaldo, sendo um profissional da área, qual é a sua opinião sobre o
atual momento do Programa Espacial Brasileiro e quais são suas expectativas com
relação ao desempenho do governo DILMA no setor espacial?
OSWALDO LOUREDA: Acreditamos
que o PEB nunca recebeu tanto destaque como esta tendo agora, e temos a frente
desse programa um homem muito dinâmico e de visão realmente ampla,
academicamente e industrialmente. Infelizmente, sabemos que muitas decisões e
escolhas antigas não poderão ser mudadas pelo Dr. Raupp, mas acreditamos que se
alguém pode fazer esse programa decolar, esse é o melhor gestor e estamos
provavelmente no melhor momento, assim sendo, estamos vivendo um momento único
e singular do PEB. Entre amigos, com muito humor dizemos que se o PEB não
decolar agora, provavelmente será melhor começar a usar nossas máquinas para
fabricar carrinhos de cachorro quente, e os computadores de engenharia para
assar pizzas.
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