Espaço, Vôo Indispensável para o Desenvolvimento Brasileiro
Olá leitor!
Segue abaixo outro artigo do José Monserrat Filho postado
hoje (09/01) no site da Agência Espacial Brasileira (AEB) destacando que o espaço é um vôo indispensável para o desenvolvimento brasileiro.
Duda Falcão
Espaço, Vôo Indispensável para o
Desenvolvimento Brasileiro
“Os produtos espaciais estão entre os de maior
valor
agregado no mercado mundial.”
A Política Espacial Brasileira
– Parte I, Câmara dos Deputados, Conselho de Altos
Estudos e
Avaliação Tecnológica, Edições Câmara, Brasília, 2010, p.
19.
José Monserrat Filho*
09-01-2012
Um apelo pelo uso das aplicações espaciais para a
segurança, o desenvolvimento e bem-estar humanos foi lançado há mais de 10
anos, em 30 julho de 1999, pela III Conferência das Nações Unidas para a
Exploração e Uso do Espaço Exterior (UNISPACE III), reunida em Viena, Áustria, que
aprovou a Declaração sobre Desenvolvimento Espacial e Humano, também conhecida
como Declaração Espacial do Milênio (“The Space Millennium Declaration”).
Tive o privilégio de participar do histórico evento. O
Brasil desempenhou ali papel ativo, inclusive denunciando a pressão exercida
por uma grande potência sobre o governo da Itália para forçar a saída da
empresa italiana FiatAvio do consórcio que estava então sendo criado pelo
Brasil e pela Ucrânia para explorar comercialmente lançamentos do foguete
ucraniano Cyclone-4 a partir do Centro de Alcântara, no Maranhão. Os italianos
não hesitaram em abandonar o negócio na hora. Não obstante, em 2006,
brasileiros e ucranianos conseguiram formar a empresa binacional Alcântara
Cyclone Space, cujo primeiro lançamento está marcado para 2013.
Quase 13 anos após a Declaração do Milênio, a visão das
atividades espaciais como passaporte para o desenvolvimento teve bastante
ampliados seu prestígio e sua base de apoio.
Exemplo disso é o recém-lançado Livro Branco das
Atividades Espaciais da China, de 29 de dezembro de 2011, que afirma: “A
posição e o papel das atividades espaciais são cada vez mais importantes para a
estratégia de desenvolvimento geral de cada país ativo e aumentam sua
influência sobre a civilização humana e o progresso social”. O documento chinês
também diz:
# “O governo chinês faz da indústria espacial parte
importante da estratégia de desenvolvimento da nação em geral”;
# “As atividades espaciais desempenham papel cada vez
mais importante no desenvolvimento econômico e social da China.”
# “Os próximos cinco anos serão cruciais para a China...
acelerar a transformação do padrão de desenvolvimento econômico do país.”
# “A China concentrará seu trabalho nos objetivos
estratégicos nacionais; reforçará sua capacidade de inovação independente...”
No Brasil, grande esforço tem sido envidado no mesmo
sentido. Mas, para alcançar o êxito esperado, ainda precisamos convencer muita
gente a perceber no espaço os enormes benefícios e vantagens para nosso desenvolvimento
econômico e social, já descobertos e amplamente explorados por outros países,
inclusive parceiros importantes como a China.
Há que ter muita paciência, coragem e persistência, como
já tivemos várias vezes, para vencer o vício do imediatismo e da visão curta e
executar projetos de médio e longo prazo capazes de propiciar avanços
qualitativos ao país.
Vale o que conta Luiz Gonzaga Belluzzo, em “As refregas
do desenvolvimento”, publicado na revista CartaCapital, 11 de janeiro de 2012:
# “A economia brasileira reagiu com vigor à Grande
Depressão dos anos 1930... Entre 1930 e 1945, o "fazendão" atrasado e
melancólico do Jeca Tatu – a terra da hemoptise, do bicho-do-pé e da lombriga –
cedia espaço para a economia urbano-industrial incipiente.”
# Durante a 2ª Guerra Mundial, “o presidente Getúlio
Vargas negociou com os americanos a construção da siderúrgica de Volta Redonda”
– “empreendimento crucial para as etapas subseqüentes da industrialização
brasileira”. Foi o início da nossa indústria de base.
# “Eleito em 1950, Getúlio Vargas lançou, em 1951, o
Plano de Eletrificação, criou o BNDE, em 1952, a Petrobras, em 1953. O avanço
da industrialização, na concepção dos desenvolvimentistas daquela época, só
poderia ocorrer com a modernização da infraestrutura e a constituição dos
departamentos industriais que produzem equipamentos, insumos e bens duráveis de
consumo.” Daí que “Getúlio não teve vida fácil”. (Maiores detalhes em sua
carta-testamento, de 24 de agosto de 1954.)
Cabem também nesta lista, que está longe de ser completa:
# A mobilização, no fim dos anos 40 e começo dos 50, da
então nova e ativa comunidade científica, que resultou na criação de
importantes instituições: Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
(SBPC), em 1948, e Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), em 1949;
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), em 1951, que
lançaram as bases do apoio institucional à pesquisa científica e tecnológica no
Brasil. Essas instituições continuam movimentando e enriquecendo o país.
Destacaram-se nestas iniciativas, entre outros, o Almirante
Álvaro Alberto da Motta Silva (1889-1976), o educador Anísio
Teixeira (1900-1971), os físicos Cesar Lattes (1924-2005) e José Leite Lopes
(1918-2006); e o cientista da área de virologia e jornalista de ciência José
Reis (1907-2002).
# O programa (paralelo) nuclear brasileiro, responsável,
em 1987, dominou o ciclo de urânio, liderado por entusiastas como o Almirante
Othon Luiz Pinheiro da Silva e o físico Rex Nazaré Alves.
# A construção do Laboratório de Integração e Testes
(LIT) de satélites, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE),
construído em tempo recorde e inaugurado em 1987, graças ao empenho do primeiro
ministro da Ciência e Tecnologia do Brasil, Renato Archer (1922-1996), e
ampliado posteriormente.
# O grande salto do número de bolsas do CNPq – de 12 mil
para 44 mil –, conseguido em 1986 pelo ministro Renato Archer e pelo então
presidente do CNPq, o geneticista Crodowaldo Pavan (1919-2009), que ajudou a
formar milhares de pesquisadores, em especial nos anos 90.
# Defesa e preservação do acordo espacial com a China,
firmado em junho de 1988, quase cancelado pelo Governo Color (1990-1992) e
salvo pelo apoio firme e persistente da comunidade científica, dos técnicos e
engenheiros do INPE e, em especial, do então embaixador brasileiro em Pequim,
Roberto Abdenur, e do ministro da Ciência e Tecnologia do Governo Itamar Franco
(1992-1994), José Israel Vargas. A cooperação espacial China-Brasil, iniciada
em 1986 pelo ministro Renato Archer, já construiu e lançou três satélites de
recursos naturais da Terra (CBERS-1, CBERS-2 e CBERS-2B) e deverá lançar, em
novembro de 2012, o CBERS-3 e, em 2014, o CBERS-4.
# A criação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo, em 1960, 17 anos depois de ter sido prevista na Constituição
paulista de 1947, como fruto da tenacidade de um grupo de professores e
cientistas liderado por Adriano Marchini e Luiz Meiller.
# A luta pela inserção na Constituição Federal de 1988 de
norma permitindo a vinculação de parcela da receita orçamentária dos
Estados às Fundações de Apoio à Pesquisa (FAPs), em geral ligadas às
Secretarias de Ciência e Tecnologia estaduais. O pleito concretizou-se no § 50
do Artigo 218 da Carta Magna. Muitas das FAPs têm estimulado em muito o
desenvolvimento científico e tecnológico em suas regiões. Dos 26 Estados
brasileiros, 22 têm FAPs ativas.
Lembradas todas estas ações marcantes para o
desenvolvimento brasileiro, vale perguntar: o que fazer para que as atividades
espaciais passem a ter maior impacto no avanço econômico e social de nosso
país?
Uma boa resposta parece estar na forma concebida em 2011
para a construção do primeiro satélite geoestacionário brasileiro de
comunicações (SGB): abandonar de vez a idéia de comprar um satélite pronto e,
em lugar disso, criar um consórcio público-privado, liderado por empresa
privada de reconhecida competência para coordenar a construção e o lançamento
do satélite, de modo a trazer o máximo de benefícios possíveis ao
desenvolvimento industrial do país.
Se tudo sair como está sendo projetado, teremos em breve
uma conquista impar na história de nosso programa espacial, que certamente
renderá altos dividendos em dinamismo, eficiência, produtividade, senso de
iniciativa, auto-estima e ganhos reais, como poucas vezes tivemos até hoje.
* Chefe da Assessoria de Cooperação
Internacional da Agência Espacial Brasileira (AEB)
Fonte: Agência Espacial Brasileira
(AEB)
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