Elemento Estratégico - Comunicações por Satélite
Olá leitor!
Segue abaixo uma interessante reportagem do André Mileski publicada
na edição de dezembro da revista “Tecnologia e Defesa” e postada dia (24/01) no
blog “Panorama Espacial”, destacando as comunicações por satélite como um
elemento estratégico.
Duda Falcão
Elemento Estratégico -
Comunicações por Satélite
Um panorama do SISCOMIS e as perspectivas do SGB
André M. Mileski
Revista Tecnologia & Defesa
24/01/2011
Desde o início da década de 2000 que, dentro do governo, se fala
sobre o Satélite Geoestacionário Brasileiro, também conhecido como Sistema
Geoestacionário Brasileiro, ou simplesmente pela sigla SGB. Em 2003, na edição n.º 103
de Tecnologia & Defesa, foi publicada uma reportagem até então
exclusiva, intitulada “Um Passo Fundamental - O Satélite Geoestacionário
Brasileiro”, que indicava os planos e objetivos para dispor de um satélite de
órbita geoestacionária que atendesse algumas necessidades do País.
Passados quase dez anos, o governo parece, finalmente, ter tomado a
decisão de seguir adiante com o projeto. O SGB de hoje, no entanto, focado em
comunicações, é bem diferente daquele desenhado anteriormente, que pretendia
dotar o Brasil de um sistema de controle de tráfego aéreo envolvendo satélites,
atendendo compromissos assumidos perante a Organização de Aviação Civil Internacional
(OACI) e, secundariamente, prover comunicações estratégicas e também
imageamento para fins meteorológicos.
A Viabilização
Com o ressurgimento da estatal Telebras, de telecomunicações, em meados
de 2010, especulava-se sobre a possibilidade de seu envolvimento no SGB, o que
acabou se materializando.
No final de agosto passado, o Governo Federal divulgou o Plano
Plurianual (PPA) 2012/2015 que, grosso modo, estabelece os principais projetos
e programas para um período de quatro anos, no caso, de 2012 a 2015. E um dos
que lá figuram é o do “lançamento de satélite para comunicações” pela Telebras,
com custo total estimado de R$ 716 milhões, iniciando-se em 1º de janeiro de
2012 e se encerrando em 31 de dezembro de 2015. No orçamento de 2012, constam
investimentos de R$ 55,7 milhões, com a expectativa de que um contrato para o
primeiro satélite seja assinado neste mesmo ano.
O satélite será destinado prioritariamente para atender o Plano Nacional
de Banda Larga (PNBL), sob a responsabilidade da Telebras, e também as
necessidades em comunicações das Forças Armadas, atendidas pelo Sistema de
Comunicações Militares por Satélite (SISCOMIS).
O objetivo é que o primeiro SGB seja lançado em 2014, com um segundo
satélite, com recursos ainda a serem obtidos, sendo colocado em órbita em 2019.
Muito embora ainda não tenha ocorrido a contratação do sistema, as informações
recebidas por Tecnologia & Defesa indicam que o satélite terá grande porte
– de 5 a 6 toneladas, contando com transpônderes em banda X, para uso exclusivo
militar, e Ka, focada no atendimento do PNBL, mas que também poderá ser usada
para a comunicação com veículos aéreos não tripulados.
Em evento sobre satélites realizado no início de outubro último, o
general-de-divisão Celso José Tiago (ver entrevista [nota do blog: a
entrevista será reproduzida no blog ainda essa semana]), responsável pelo
SGB no Ministério da Defesa, destacou a intenção de que o SGB ocupe uma posição
orbital que lhe permita cobrir o Atlântico, o continente africano e o
Mediterrâneo, regiões de interesse estratégico para o País.
Movimentações Empresariais
Definida a modelagem do programa SGB e a sua viabilização por meio da
Telebras, o governo, num processo coordenado por vários ministérios liderados
pelos das Comunicações e da Defesa, e em linha com a Estratégia Nacional de
Defesa, buscou inserir a indústria nacional no projeto, o que se deu de forma bastante
célere.
No início de novembro de 2011, a Embraer e a Telebras assinaram um
memorando de entendimentos visando a constituição de sociedade, na qual a
Embraer terá participação de 51%, e a Telebras de 49%, para atuar no plano de
desenvolvimento satelital para o Brasil, incluindo o PNBL e comunicações
estratégicas de defesa e governamentais. A joint-venture, cuja montagem estava
em fase de negociações finais até o fechamento desta edição, vai contratar,
integrar e operar o sistema em benefício dos usuários finais.
De acordo com Luiz Carlos Aguiar, presidente da Embraer Defesa e
Segurança, o SGB deverá contar com significativo envolvimento da Atech Negócios
em Tecnologias S/A, empresa da qual a Embraer adquiriu 50% de participação em
abril de 2011, em razão de sua grande expertise em integração de sistemas. A
Atech esteve envolvida no programa do Sistema de Vigilância e Proteção da
Amazônia (SIVAM/SIPAM), e também foi contratada, em 2010, para a elaboração do
projeto básico do Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (SISFRON),
do Exército Brasileiro. No final, o objetivo é que todos os sistemas
brasileiros, como o de controle de tráfego e defesa aérea, de monitoramento de
fronteiras e de comunicações via satélite estejam operando integrados.
Em paralelo a isso, os fabricantes de satélites também se movimentam, e
dois despontam como favoritos, ao menos nas informações que circulam nos
bastidores: a Astrium, do grupo europeu EADS, e a franco-italiana Thales Alenia
Space, não se descartando a possibilidade de uma proposta conjunta. A França e
a Itália, aliás, firmaram acordos de cooperação estratégica com o Brasil que
incluem possíveis iniciativas em comunicações militares por satélite,
facilitando as negociações e acordos comerciais.
Oportunidades também surgirão em outros segmentos além do espacial, como
o terrestre, com o fornecimento de estações de recepção e transmissão de dados,
lançamento e colocação do satélite em órbita final, por exemplo. Nesta área em
específico, a Telespazio Brasil, controlada pela Finmeccanica e Thales, já
demonstrou seu interesse em participar do projeto, inclusive dentro de uma
lógica de transferência de competências.
Muito embora esteja prevista a participação nacional, liderada pela
Embraer Defesa e Segurança, no projeto do SGB, fato é que isso se dará mais na
de aquisição e integração do sistema e não na fabricação do satélite
propriamente dita. No entanto, a possibilidade de que a indústria brasileira
esteja presente, no futuro, da construção de subsistemas e componentes para
novos satélites não é descartada. A atuação da Agência Espacial Brasileira
(AEB) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) nos comitês de
trabalho criados pelos ministérios das Comunicações e da Defesa é uma
sinalização dessa intenção.
SISCOMIS
O SGB, quando em órbita, também se integrará ao Sistema de Comunicações
Militares por Satélite (SISCOMIS), do Ministério da Defesa. A origem das
telecomunicações militares no Brasil, por sinal, data de 1985, a partir de um
trabalho interministerial elaborado pelo antigo Estado-Maior das Forças Armadas
(EMFA), que implantou o SISCOMIS. Buscava-se dotar o País da capacidade de
operar, desde o tempo de paz, uma rede de comunicações exclusivas e confiáveis
do Alto-Comando das Forças Armadas às mais altas autoridades civis do Governo
Federal e a Presidência da República.
Para tanto, foi criada em 9 de dezembro de 1991 a Comissão de
Desenvolvimento do Projeto e da Implantação do Sistema de Comunicações
Militares por Satélite (CISCOMIS), com atribuições para coordenação dos
trabalhos relativos, incluindo a implantação, avaliação e acompanhamento do
sistema.
Os estudos realizados pela comissão culminaram com a aprovação de um
projeto que levou em consideração, predominantemente, a interligação entre as
autoridades e os aspectos estratégicos do início a década de 1990, baseados na
importância geopolítica do Cone Sul. Sob este contexto, foram criadas três
estações terrenas, a de Brasília (DF), de Curitiba (PR) e no Rio de Janeiro
(RJ). A partir de 2000, houve um processo de expansão, com destaque à região
amazônica, sendo criadas outras cinco estações: Manaus (AM), Campo Grande (MS),
Belém (PA), Porto Alegre (RS) e Natal (RN). As estações terrestres estão
interligadas por meio de fibras ópticas ou enlaces rádio, dependendo das
características do terreno.
O segmento espacial é composto por dois transponders de banda X, de uso
exclusivo das Forças Armadas, a bordo dos satélites Star One C1 e C2, operados
pela Star One, subsidiária da Embratel. Também um canal em banda Ku é alugado
da Star One, do satélite Star One C1, complementando toda a rede pela qual
trafegam sinais de voz, fax, dados e vídeo (videoconferência). Pela banda X
operam as Estações Tático-Transportáveis (ETT), comumente utilizadas em
manobras e exercícios das Forças Armadas brasileiras.
Em 2011, o SISCOMIS recebeu e colocou em uso mais dois terminais
transportáveis e outros cinco terminais transportáveis leves. Até o momento,
foram recebidos, em fábrica, mais 29 terminais transportáveis, que serão colocados
em uso em março de 2012. Assim, o SISCOMIS contará com 88 terminais, que
atenderão satisfatoriamente às principais demandas das instituições militares.
O sistema possui uma área de abrangência que cobre toda a América do Sul, o
Caribe, a Antártida e proximidades da costa da África. Anualmente, conta com um
orçamento em torno de R$ 18,5 milhões, utilizado para a sua operação e eventual
complementação.
O SISCOMIS passou por um crescimento considerável nos últimos anos, não
apenas localmente, mas também no exterior. Três terminais transportáveis são
operados pela missão brasileira no Haiti, provendo comunicações com o Brasil.
No terremoto que assolou aquele país em janeiro de 2010, o SISCOMIS demonstrou
a sua importância, pois os primeiros contatos entre o comando, em Brasília, e a
missão brasileira foram providos pela rede.
O aumento do
emprego, que tem exigido do Ministério da Defesa a constante atualização e
complementação do segmento terrestre, aliado às expectativas de crescimento e
evolução com a chegada do SGB, tem aberto boas oportunidades comerciais. No
final de novembro passado, a empresa brasileira Arycom promoveu, na
capital federal, um seminário sobre novas soluções em comunicações militares
por satélite, ocasião em que, dentre outras, apresentou o terminal portátil
Panther Manpack, da estadunidense L-3 Communications, destinado para uso
exclusivo militar, capaz de operar nas bandas Ku, Ka ou X, atingindo
velocidades de transmissão superiores a 2Mbps.
Fonte: Revista Tecnologia & Defesa n.º 127- Dez de
2011 – via Blog Panorama Espacial
Comentários
Postar um comentário