Redução do Desmat. com Aumento da Produção Agrícola
Olá leitor!
Segue abaixo um artigo postado hoje (16/01) no site da “Agência
FAPESP” destacando que pesquisa internacional, com participação de brasileiros,
aponta que desmatamento no Mato Grosso diminuiu e a produção de soja no estado
cresceu nos últimos anos por meio de mudanças no uso da terra.
Duda Falcão
Especiais
Redução do Desmatamento com
Aumento da Produção Agrícola
Por Elton Alisson
16/01/2012
Agência FAPESP – A produção de soja no Mato Grosso aumentou mais
de 30% entre 2006 e 2010, saltando de 15,6 milhões para 20,5 milhões de
toneladas. Em paralelo a esse crescimento da produção agrícola, o desmatamento
no estado, que é responsável por 31% da soja produzida pelo país e liderou a
derrubada de árvores na Amazônia no início dos anos 2000, também diminuiu 30%
no mesmo período, atingindo 850 km² em 2010 – o que representa 11% de sua média
histórica de 7.600 km² registrada entre 1996 e 2005.
A mudança foi obtida por meio do aumento na produtividade e na
utilização de áreas já desmatadas para o cultivo da oleaginosa, dispensando a
necessidade de desmatar mais áreas de floresta, aponta um estudo internacional
com participação brasileira.
Os resultados da pesquisa foram publicados nesta semana no site e
em breve sairão na edição impressa da revista Proceedings of the National
Academy of Sciences (PNAS).
O trabalho teve a participação de Yosio Shimabukuro, da Divisão de
Sensoriamento Remoto do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), de
Cláudia Stickler, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), e de Márcia
Macedo, da Universidade de Columbia, além de cientistas da agência espacial NASA
e do Woods Hole Research Center, dos Estados Unidos.
Combinando dados de satélite com estatísticas governamentais de
desmatamento e de produção agrícola no Mato Grosso nos anos 2000, os
pesquisadores constataram que a queda nos índices de desmatamento na região no
período de 2006 a 2010 – em um período histórico de expansão da agricultura no
estado – foi causada, principalmente, por mudanças no uso da terra.
Segundo eles, o aumento da produção de soja em Mato Grosso de 2001 a
2005 foi devido, majoritariamente, à expansão do cultivo da leguminosa em áreas
anteriormente dedicadas à pastagem (74%), seguidas de áreas de florestas (26%).
Já de 2006 a 2010, 22% do aumento da produção foi obtido pelo aumento da
produtividade da cultura e 78% à expansão da área de cultivo, em sua maioria
(91%) em áreas que já haviam sido desmatadas. Por sua vez, o desmatamento para
expansão de áreas de plantio no estado caiu de 10% para 2% entre os períodos de
2001-2005 a 2006-2010.
“A pesquisa mostra uma desvinculação entre o crescimento da produção de
soja e o desmatamento no Mato Grosso que poderia servir de modelo para outros
estados da Amazônia”, disse Shimabukuro à Agência FAPESP.
“Seria possível evitar o desmatamento nesses estados por meio da melhor
utilização de áreas de plantio já disponíveis e aumentando a produtividade da
cultura, que é o que ocorre, por exemplo, na região Sudeste, onde as técnicas
agrícolas são melhores”, comparou.
O cientista coordena o projeto “Uso de dados orbitais para determinar a área de fogo ativo e modelagem
numérica da injeção de gases traços e aerossóis a partir da energia radiativa
do fogo”, apoiado pela FAPESP, e é um dos pesquisadores
principais do Temático“Land use change in Amazonia: institutional analysis and modeling at
multiple temporal and spatial scales”.
Segundo ele, outra constatação do estudo foi que o declínio do desmatamento
no Mato Grosso entre 2006 e 2010 coincidiu com a implementação de diversas
iniciativas governamentais para reduzir o desmatamento na região.
Em 2004, por exemplo, o governo federal estabeleceu o Plano de Ação para
Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAM) e incumbiu os
estados amazônicos de desenvolver e implementar seus próprios programas de
controle de desmatamento.
Já em 2006, foi criada a “moratória da soja” entre as principais
entidades representativas dos produtores de soja, ONGs e governo. O pacto
ambiental estabeleceu o compromisso de não comercializar o grão originário de
áreas desmatadas do bioma amazônico.
Finalmente, em 2008, foi criada uma “lista negra” dos municípios
amazônicos com maiores índices de desmatamento, que impôs uma série de sanções
aos desmatadores dessas regiões. Entre elas, a eliminação de subsídios, redução
de crédito agrícola e a exclusão da cadeia de fornecedores dos grandes
exportadores, entre outras medidas.
“Parte da queda do desmatamento foi causada por um controle mais rígido
do governo das atividades que podem causar desmatamento, que funcionaram para
todos os estados da Amazônia”, disse Shimabukuro.
Segundo o pesquisador, diferentemente do que poderia ocorrer, não foram
encontradas evidências de que a redução do desmatamento no Mato Grosso resultou
em um aumento da produção de soja e da derrubada de árvores em outros estados
da Amazônia que compõem o “arco do desmatamento” , como Rondônia e Pará.
O estudo indicou que o desmatamento nesses dois estados também caiu no
mesmo período. “Isso prova que o problema não foi transferido para o outro
lado”, avaliou.
Sensor Modis
Os pesquisadores utilizaram no estudo dados do sensor Modis (sigla em
inglês de Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer), que integra o
satélite Terra (conhecido como EOS-AM), lançado pela NASA em 1999.
De acordo com Shimabukuro, o sensor é um dos melhores do satélite Terra
para analisar grandes regiões, porque visualiza e capta imagens de toda a
superfície do planeta quase que diariamente e, portanto, dispõe de dados da
região do Mato Grosso desde 2000 – o período inicial de avaliação da pesquisa.
“O sensor permitiu verificarmos se as novas áreas de plantação de soja
no estado estavam localizadas nas áreas previamente desmatadas ou não”,
explicou.
Shimabukuro participou do estudo por meio de uma colaboração que iniciou
com uma das principais pesquisadoras do projeto, Ruth DeFries, da Universidade
de Columbia, por meio de projetos do Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera
na Amazônia (LBA), coordenado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
(INPA), e por meio de projetos de pesquisa sobre sensoriamento remoto do Mato
Grosso, realizados com apoio da FAPESP.
O artigo Decoupling of deforestation and soy production in the
southern Amazon during the late 2000s (doi: 10.1073/pnas.1111374109), de
Yosio Edemir Shimabukuro e outros, poderá ser lido em breve por assinantes da PNAS
em www.pnas.org/cgi/doi/10.1073/pnas.1111374109.
Fonte: Site da Agência FAPESP
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