Fenômeno Semelhante a Um Arco-Íris Foi Detectado no 'Exoplaneta WASP-76b'

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Imagem: ESA
Cada glória é única, dependendo da composição da atmosfera do planeta e das cores da luz da estrela que o ilumina. O "sol" do WASP-76b é uma estrela amarela e branca da sequência principal, como o nosso Sol, mas estrelas diferentes criam glórias com cores e padrões diferentes.
 
No dia de ontem (08/04), o site Inovação Tecnológica noticiou que o 'Telescópio Espacial Cheops' detectou um 'Fenômeno' semelhante a um arco-íris no Exoplaneta WASP-76b, um planeta tão quente que experimenta chuvas de ferro derretido.
 
Observações recentes revelaram que esse gigante ultrachamativo apresenta uma discrepância entre a quantidade de luz observada em seu terminador oriental - a linha divisória imaginária entre seu lado noturno e diurno - e aquela observada no seu terminador ocidental.
 
Os astrônomos sugerem que essa peculiaridade pode ser atribuída a uma "Glória", um fenômeno luminoso semelhante a um arco-íris, que ocorre quando a luz da estrela ao redor da qual o exoplaneta orbita é refletida por nuvens compostas de uma substância completamente homogênea. Se essa suposição for confirmada, será a primeira detecção desse fenômeno fora do nosso Sistema Solar.
 
A glória é um fenômeno óptico que gera um halo quando os raios de luz atravessam o ar e interagem com partículas na atmosfera - neste caso, gotículas de água na Terra -, com parte dessa luz sendo refletida através de ressonância óptica.
 
"Uma glória nunca foi observada fora do nosso Sistema Solar devido às condições extremamente específicas que requer. Primeiramente, as partículas atmosféricas devem ser praticamente esféricas, totalmente uniformes e suficientemente estáveis para serem observadas durante um longo período. Essas gotículas devem ser diretamente iluminadas pela estrela hospedeira do planeta, e o observador - neste caso, o CHEOPS - precisa estar na posição adequada," explicou o professor Olivier Demangeon, da Universidade de Genebra, na Suíça.
 
Imagem: C. Wilson/P. Laven
Comparação entre uma glória de Vênus (esquerda) e uma glória terrestre (direita).
 
O WASP-76b é um planeta gigante que orbita sua estrela hospedeira a uma distância doze vezes mais próxima do que Mercúrio orbita o nosso Sol, recebendo mais de 4.000 vezes a radiação solar que atinge a Terra.
 
Uma face do planeta está permanentemente voltada para a sua estrela, resultando em temperaturas de até 2.400 graus Celsius. Os componentes que normalmente formariam rochas na Terra derretem e evaporam, para então se condensarem no lado noturno um pouco mais frio, gerando nuvens de ferro que acabam precipitando como chuva de ferro derretido.
 
Uma das observações mais intrigantes é a assimetria entre os dois terminadores do planeta, com um aumento na quantidade de luz no terminador leste em comparação com o oeste. Ao combinar os novos dados com os de outros telescópios (TESS, Hubble e Spitzer), os astrônomos agora especulam sobre a possibilidade de uma glória para explicar esse excesso de luminosidade no lado oriental do planeta.
 
As glórias são fenômenos comuns na Terra e já foram observadas em Vênus. O efeito, semelhante a um arco-íris, ocorre quando a luz é refletida por nuvens formadas por gotículas perfeitamente uniformes. No caso da Terra, essas gotículas são de água, mas a natureza das gotículas no WASP-76b ainda permanece um mistério - poderiam ser de ferro em estado líquido, já que esse elemento foi detectado na atmosfera extremamente quente do planeta.
 
Serão necessários mais dados para confirmar definitivamente se esse excesso de luz no terminador oriental do WASP-76b é de fato uma glória. Essa confirmação corroboraria a presença de nuvens formadas por gotículas perfeitamente esféricas e persistentes - o exoplaneta vem sendo observado há pelo menos três anos - ou que se renovam constantemente. Além disso, para que essas nuvens persistam, a temperatura da atmosfera também teria que permanecer estável ao longo do tempo.
 
Blibliografia:
 
Artigo: Asymmetry in the upper atmosphere of the ultra-hot Jupiter WASP-76 b
Autores: O. D. S. Demangeon, P. E. Cubillos, V. Singh, T. G. Wilson, L. Carone, A. Bekkelien, A. Deline, D. Ehrenreich, P. F. L. Maxted, B.-O. Demory, T. Zingales, M. Lendl, A. Bonfanti, S. G. Sousa, A. Brandeker, Y. Alibert, R. Alonso, J. Asquier, T. Bárczy, D. Barrado Navascues, S. C. C. Barros, W. Baumjohann, M. Beck, T. Beck, W. Benz, N. Billot, F. Biondi, L. Borsato, Ch. Broeg, M. Buder, A. Collier Cameron, Sz. Csizmadia, M. B. Davies, M. Deleuil, L. Delrez, A. Erikson, A. Fortier, L. Fossati, M. Fridlund, D. Gandolfi, M. Gillon, M. Güdel, M. N. Günther, A. Heitzmann, Ch. Helling, S. Hoyer, K. G. Isaak, L. L. Kiss, K. W. F. Lam, J. Laskar, A. Lecavelier des Etangs, D. Magrin, M. Mecina, Ch. Mordasini, V. Nascimbeni, G. Olofsson, R. Ottensamer, I. Pagano, E. Pallé, G. Peter, G. Piotto, D. Pollacco, D. Queloz, R. Ragazzoni, N. Rando, H. Rauer, I. Ribas, M. Rieder, S. Salmon, N. C. Santos, G. Scandariato, D. Ségransan, A. E. Simon, A. M. S. Smith, M. Stalport, Gy. M. Szabó, N. Thomas, S. Udry, V. Van Grootel, J. Venturini, E. Villaver, N. A. Walton
Revista: Astronomy and Astrophysics
DOI: 10.1051/0004-6361/202348270
 
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