Anomalia do Atlântico Sul: Conheça o Triângulo das Bermudas Espacial
Olá leitor!
Segue abaixo um artigo postado ontem (09/07) no
site do “Olhar Digital” tendo como destaque o Triângulo das Bermudas Espacial,
ou seja, a Anomalia do Atlântico Sul.
Duda Falcão
CIÊNCIA E ESPAÇO
Anomalia do Atlântico Sul: Conheça o Triângulo das
Bermudas Espacial
O campo magnético mais fraco em uma região que se estende
do Chile até o Zimbábue faz com que satélites e espaçonaves tenham que ser
desligados para prevenir dados aos seus sistemas
Por Renato Mota
Olhar Digital
Fonte: Space.com
09/07/2020 - 13h07
Existe uma região na órbita terrestre onde o nosso campo magnético é mais fraco, e como resultado satélites e
espaçonaves estão mais vulneráveis a tempestades solares e radiação cósmica. A área, conhecida como Anomalia do Atlântico Sul, ganhou o apelido de
"Triângulo das Bermudas espacial", em referência à região do
Atlântico Norte onde mais de 50 navios e 20 aviões desapareceram desde meados
do século 19.
"Não gosto do apelido, mas nessa região a menor
intensidade do campo geomagnético acaba resultando em uma maior vulnerabilidade
dos satélites a partículas energéticas, a ponto de ocorrerem danos às
espaçonaves enquanto eles atravessam a região", explica o professor de
geofísica da Universidade de Rochester, John Tarduno, em entrevista à revista All
About Space.
A menor intensidade do campo magnético na região que se
estende do Chile ao Zimbábue permite que o cinturão de radiação da Terra, o
Cinturão de Van Allen, se aproxime da superfície. Normalmente, os cinturões se
estendem a uma altitude entre 1 mil km e 60 mil km, mas nesta área, os raios
solares chegam a 200 quilômetros de altura, e a radiação solar mais intensa
resulta em um aumento do fluxo de partículas energéticas.
"Assim, os satélites que passam por essa região
experimentam quantidades mais altas de radiação a ponto de ocorrerem danos. É
como uma descarga elétrico súbita. Com mais radiação recebida, um satélite pode
ser sobrecarregado e sofrer danos graves", afirma Tarduno. Na Anomalia do
Atlântico Sul, os objetos em órbita são bombardeados por prótons que excedem as
energias de 10 milhões de elétron-volts a uma taxa de 3 mil "acertos"
por centímetro quadrado por segundo.
Vídeo: ESA/Division of Geomagnetism/DTU Space
Pontos brancos no mapa indicam eventos individuais quando
instrumentos registraram o impacto da radiação de abril de 2014 a agosto de
2019.
Esse "ataque" afeta os sistemas eletrônicos a
bordo das espaçonaves, o que dificulta a operação desses objetos e força as
agências espaciais e outros operadores de satélite a desligá-los ou colocá-los
em "modo de segurança". Até o telescópio Hubble é uma vítima
frequente: ele passa pela região dez vezes por dia, e é incapaz de coletar
dados astronômicos durante esses momentos (que representam 15% do seu tempo de
atividade).
A anomalia também parece afetar astronautas. A Estação
Espacial Internacional é especialmente reforçada nas suas áreas mais
frequentadas, como galerias e dormitórios. Alguns dos ocupantes já relataram
ter visto estranhas luzes brancas piscando diante de seus olhos quando passando
pela região. Desde então, os astronautas usam dispositivos que medem sua
exposição pessoal à radiação ionizante em tempo real, e enviam um aviso se
atingirem níveis perigosos.
Mas que causa a Anomalia do Atlântico Sul? O formato da
Terra é um dos fatores. O planeta não é perfeitamente redondo (mas está longe
de ser plano ou côncavo), mas ligeiramente achatado nos polos e mais larga no
equador. Além disso, o campo dipolo magnético é deslocado do centro em cerca de
500 km. É nessa diferença que os raios cósmicos conseguem chegar mais próximos
da superfície e o isolamento do espaço interplanetário é menor.
Imagem: ESA
Cinturões de radiação da Terra com a Anomalia do
Atlântico Sul ("South Atlantic Anomaly", ou SAA) indicada.
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Além disso, o movimento do metal líquido que flui no
núcleo da Terra (e que gera o campo magnético) faz com que os polos não sejam
permanentes. No momento, por exemplo, o campo magnético está enfraquecendo na
área da anomalia, fazendo com que ela cresça e, segundo alguns estudos, se divida em dois núcleos.
Esse aumento é preocupante, pois não apenas tornará mais
frequentes problemas com equipamentos eletrônicos, mas também poderá levar a
uma maior prevalência de câncer. De acordo com dados da Agência Espacial
Europeia (ESA), o campo magnético na região perdeu cerca de 15% de sua força
nos últimos 150 anos. Antes de 1994, o polo norte magnético movia-se a 10 km
por ano, mas acelerou para cerca de 65 km por ano desde 2001.
Vídeo: ESA/Division of Geomagnetism/DTU Space
Esta animação mostra a diminuiução da força do campo
magnético na superfície da Terra de 2014 a 2020, com base em dados coletados
pela constelação de satélites Swarm.
Pesquisadores também estão preocupados com uma possível inversão geomagnética. Neste fenômeno os polos
norte e sul mudam de posição (ou seja, o norte magnético ficará perto do sul
geográfico, e vice-versa), embora não haja consenso entre os cientistas se
estamos passando por este processo ou não. Cerca de 183 reversões ocorreram nos
últimos 83 milhões de anos, com a mais recente 780 mil anos atrás.
"O desaparecimento do campo magnético da Terra não é
uma preocupação até muitos bilhões de anos no futuro", avalia Tarduno.
"Mesmo durante tempos de reversões magnéticas, existe um campo magnético, embora
muito mais fraco e muito mais complexo do que o presente. O rápido declínio na
força do campo magnético dipolar nos últimos 160 anos e o padrão de decaimento
dão algum apoio à consideração disso como uma possibilidade, mas num curto
espaço de tempo isso ainda é especulação", completa o professor.
Fonte: Site Olhar Digital - https://olhardigital.com.br
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