Os Pequenos Satélites Brasileiros na Pesquisa da Anomalia do Atlântico Sul
Olá leitor!
No dia 10/07 passado, postei aqui um interessante
artigo (reveja aqui) sobre a Anomalia do Atlântico Sul, também
chamada de "Triângulo das Bermudas Espacial", uma
região da atmosfera terrestre onde o nosso campo magnético é mais fraco,
e como resultado disso satélites e espaçonaves ficam mais vulneráveis a Tempestades
Solares e Radiação Cósmica.
Esta anomalia que também parece afetar astronautas, vem
sendo estudada já há algum tempo no espaço pela Comunidade Científica Internacional,
e por mais incrível que possa parecer até mesmo no Brasil (Brasil + Patinho Feio = 0,5), isto graças a uma
iniciativa do Centro Regional Sul (CRS) do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE) em parceria com a Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM).
NanosatC-Br1 |
A iniciativa em questão foi o ‘Programa NanosaC-BR’,
que desenvolveu um CubeSat 1U denominado ‘NanosatC-Br1 (NCBR1)’,
um pequeno satélite que ficou conhecido carinhosamente pela sua equipe de
desenvolvimento como “Canarino Verde e Amarelo”, lançado que foi com sucesso
em 19 de julho de 2014 da Base de
Yasny, na Rússia, a bordo de um foguete russo DNEPR, e atualmente
operacional, superando em muito a sua previsão inicial de vida de 2 anos no
espaço.
O NCBR1 leitor é uma missão científica que tem
como objetivo coletar dados do Campo Magnético Terrestre, principalmente
na região da Anomalia Magnética da América do Sul (AMAS) e do setor brasileiro
do Eletrojato Equatorial Ionosférico, missão está que também contou com
a crucial participação da startup espacial brasileira ‘EMSISTI Sistemas Aeroespaciais & Tecnologia’,
bem como também a LSITEC, empresas estas que assinaram em 2013 com o Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), um contrato para desenvolverem
conjuntamente o software de comunicação das Estações Terrenas do Programa
NanosatC-BR, bem como o seu Centro de Dados. Vale dizer leitor que,
o software em questão, este denominado de NanosatCS (Nanosatellite Control
System), é usado pelos operadores para enviar comandos ao satélite, receber
as telemetrias, decodifica-las e armazená-las em banco de dados. O sucesso da Missão NCBR1 comprova não só a excelência das equipes do CRS-INPE/UFSM,
bem como o dinamismo e a competente participação da EMSISTI/LSITEC em
cumprir a sua parte dentro de um prazo curto e a um custo coerente, bem
diferente do que acontece com essas empresas incompetentes ligadas ao ‘Old
Space’ que existem por aí, apadrinhadas que são pela nossa pífia Agencia
Espacial de Brinquedo (AEB).
Além disso leitor, o NCBR1 é também uma missão tecnológica,
pois teve como segundo objetivo testar em voo, Circuitos Integrados (CIs)
resistentes à radiação, projetados no Brasil e financiados pelo Projeto
CITAR-FINEP, tendo como objetivo maior de futuramente serem possivelmente
utilizados em missões com outros satélites Brasileiros de maior porte.
Em contato com um dos pesquisadores líderes na época desse
programa, o Dr. Otávio Durão, ex-servidor aposentado do INPE, e
atualmente sócio da startup espacial brasileira CRON Sistemas e Tecnologias Ltda, fui
informado de que o NCBR1 levou ao espaço um micro magnetômetro de 3 eixos
que mediu os valores do Campo Magnético na Anomalia do Atlântico Sul,
tornando-se assim os primeiros dados científicos coletados por um satélite
brasileiro.
“E isto por um satélite de 1kg e 1 litro de volume! E
continua a fazê-lo 6 anos depois do seu lançamento. Estes dados estão em um Banco de Dados e são
gratuitos e podem ser acessados por usuários após se cadastrarem no site do
INPE”, complementa o Dr. Durão.
NanosatC-Br2 |
Neste momento leitor, ainda no âmbito do Programa
NanosatC-BR, o CRS-INPE/UFSM agora também com a participação da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), da Universidade Federal do
ABC (UFABC), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
da Santa Maria Design House (SMDH), e dos AMSAT-Br e LABRE
(instituições de radioamadores) estão finalizando o seu segundo satélite, o ‘NanosatC-Br2
(NCBR2)’, este um CubeSat 2U onde uma de suas unidades (1U)
será destinada exclusivamente para as cargas úteis, o que dará a este nano
satélite muito mais possibilidades do que com um CubeSat 1U como o seu
antecessor. O NCBR2 está previsto para ser lançado em
novembro deste ano (2020) novamente da Rússia, e dessa vez
através de um foguete lançador Soyuz da Agência Espacial Roscosmos.
Segundo o Dr. Otávio Durão, o NCBR2 levará
ao espaço um magnetômetro idêntico ao do NCBR1, que terá o mesmo objetivo,
ou seja, medir os valores do Campo Magnético na Anomalia do Atlântico Sul, mas
agora com mais informações sobre as coordenadas desse campo nos pontos de
leitura da órbita.
“Os dados do NCBR-1 foram comparados com modelos
teóricos e de outras missões, com muito boa aproximação entre eles. Vê-se
claramente, o “mergulho” do Campo Magnético na região. Estes dados
do NCBR-1 foram recebidos na Estação de Santa Maria-RS operada
por alunos da UFSM.”, diz o Dr. Durão.
Abaixo segue as cargas úteis do NCBR2:
* SDATF – Sistema de Determinação de Atitude
Tolerante à Falha: Feito em cooperação pelo MCTIC/INPE (Dr. HelioKuga),
UFMG.(Dep. Engª Eletrônica - Dr. Ricardo Duarte) e UFABC (Dep. Engª
Aeroespacial - Dr. Luiz Siqueira Fº);
* Sonda de Langmuir – Desenvolvido pelo INPE: Dr.
Polinaya Muralikrishna;
* Experimento de comunicação de pacotes (store
forward) – AMSAT-Br e LABRE; Eng.º responsável: Edson Pereira;
* Placa com 3 experimentos: FPGA - UFRGS - Profa.
Fernanda Kastensmidt; MAG – Dr. Nelson Schuch; IC – SMDH/UFSM – Prof. João
Baptista Martins.
E para completar, vale dizer leitor que, para esta Missão
NCBR2, a startup brasileira EMSISTI
Sistemas Aeroespaciais & Tecnologia voltou a ser contratada (desta vez
via FATEC, fundação ligada a UFSM) para assim conjuntamente com a
LSITEC, realizar melhorias e a customização das ferramentas anteriormente
desenvolvidas para o NCBR1, bem como no software de voo desse novo
satélite. “Inclusive, se vale, fomos a primeira startup brasileira a
desenvolver sistema de software para comunicação solo-bordo para nanossatélites
no Brasil", disse o jovem Eng. Marcelo Essado, CEO da EMSISTI.
Porém leitor, a infraestrutura para as pesquisas
brasileiras em torno dessa Anomalia do Atlântico Sul não se encerra com
o lançamento do NCBR2, já que nesse momento o Instituto Tecnológico
de Aeronáutica (ITA) em parceria com a NASA (Marshall Space Flight
Center), o próprio INPE e as Universidades de Utah, do
Alabama e do Texas (EUA), já trabalham no desenvolvimento de
um outro nano satélite, este denominado SPORT (Scintillation Prediction
Observation Research Task), um cubesat 6U com previsão para ser
lançado em 2021 a partir da Estação Espacial Internacional (ISS) tendo
como objetivo o estudo da Ionosfera, a camada superior da atmosfera
terrestre que se estende de 50 km a 1000 km de altitude, esta composta
basicamente por elétrons e átomos carregados eletricamente devido à
forte incidência da radiação solar que induz estes estados.
Nano satélite SPORT |
Caberá ao ITA o projeto, a integração e os ensaios
da plataforma, enquanto as universidades americanas serão responsáveis
pela carga útil, ou seja, em elaborar os instrumentos de medição da ionosfera.
Já o INPE terá a tarefa de coordenar o segmento de
solo, ou seja, controlar o satélite, receber os dados, tratá-los e
disponibilizá-los para a comunidade científica.
“O Projeto SPORT permitirá ao instituto a
consolidação de sua competência na área de cubesats, criando as condições para
uma evolução constante na pesquisa em engenharia de pequenos satélites”, disse
o Dr. Luís Loures, gerente da plataforma e professor do ITA.
“Há um interesse operacional muito grande neste assunto
ligado a essa Anomalia do Atlântico Sul por causa dos erros de navegação
e comunicação que ela acarreta. O Brasil estuda o assunto desde a década
de 50 com lançamentos de foguetes com a NASA da Praia de Cassino,
RS, sendo que o INPE possui uma Divisão para o estudo da Ionosfera,
incluindo a região desta anomalia, tendo por conta desta já realizado
experimentos com mais de 10 cargas uteis em lançamentos suborbitais com foguetes
do Instituto de Aeronáutica e espaço (IAE)”, informou o Dr. Otávio
Durão.
Tubesat Tancredo -1 |
E para finalizar leitor, vale dizer que o NCBR1
foi o primeiro equipamento do país a fornecer dados sobre esta anomalia a 600km de altitude, e
posteriormente o Tubesat Tancredo - 1 (um picosatélite) do fantástico Programa
UbatubaSat, aquele mesmo da galerinha de Ubatuba, levou uma Sonda
de Langmuir fornecida pelo INPE que também gerou dados sobre esta
anomalia. Lembrando que tanto o NCBR2 como o SPORT também
levarão como carga útil Sondas de Langmuir, sendo uma brasileira e a
outra americana respectivamente.
Duda Falcão
Eu acharia maravilhoso se o governo tivesse um programa de desenvolvimento desses cubesats, ao menos um por estado. Se tivessemos que fazer parcerias com outros países, que seja, o importante seria aprender e tentar criar tecnologia propria com o tempo.
ResponderExcluirOu pelo menos um programa de lançamento de Balões de Alta Altitude. Não seria 'espaço' de verdade, admito, mas já seria o suficiente para testar comunicação, logistica, funcionamento dos componentes, etc. E seria barato.
Olá Wagner!
ExcluirSeria o ideal, mas o PEB é uma piada, não tem ainda o reconhecimento do Governo como 'Programa de Estado', como é a Saúde, a Educação, a Infraestrutura, enfim, e assim fica muito complicado, valeu?
Abs
Duda Falcão
(Blog Brazilian Space)