Concreto Desobediente

Olá leitor!

Pois então, dando sequência com os seus ‘causos’ postados em seu novo "Blog Memórias de Um Pesquisador", o Dr. Waldemar Castro Leite Filho recentemente postou mais um interessante artigo que é um exemplo dos absurdos que ocorrem  no setor público. Essa é uma das coisas que precisam acabar no Setor Público se quisermos ser um dia uma Nação séria. Confira abaixo!

Duda Falcão 

Concreto Desobediente 

Por Waldemar Castro Leite Filho
24/07/2020

Essa história me foi contada logo que comecei a trabalhar.  Na década de 70, estava sendo construída, no Campo de Provas da Marambaia, uma grande caixa d’água sobre pilotis.  Para isso havia sido contratada uma empreiteira e o trabalho estava indo normalmente.  Então, o diretor do CPrM chamou o engenheiro responsável pela obra e explicou que se aproximava o dia de aniversário da instituição e ele queria inaugurar a caixa d’água naquele dia, como parte das comemorações.  O engenheiro então disse que seria impossível de se concluir a obra até aquela data.

Foi então que o diretor lhe disse: “isso não é um pedido, é uma ordem!” Incontinenti o engenheiro retrucou: “general, o senhor dê ordens para o concreto secar.  Se ele lhe obedecer, eu entrego a obra no prazo que o senhor quiser.”

Até entendo a boa intenção do general.  Entretanto, nem bons desejos nem ordens podem afetar a natureza.  Em muitos processos não é possível encurtar prazos.  Eles têm sua própria dinâmica e não se pode alterá-las simplesmente com ordens verbais.  Se uma mulher gera um filho em 9 meses.  Não adianta juntar 9 mulheres para produzirem 1 filho em 1 mês.  Você terá 9 filhos em 9 meses...

Muito embora eu não tenha presenciado esse episódio, ele se tornou icônico em minha vida.  Perdi as contas do número de vezes em que, durante uma reunião de planejamento, tive de contar esse episódio para explicar que não adianta dar ordens para o concreto secar.  Ele não obedece.

No fim da década de 80, durante a preparação de lançamento do Sonda-IV eu havia previsto que uma determinada atividade levaria um mês para ser executada.  Foi uma gritaria geral, pois isso impediria que o lançamento se realizasse na data previamente marcada.  Eu alertei que não seria possível encurtar o prazo.  Mesmo assim, atribuíram 4 dias para sua realização.

Adivinhe ?  Demorou 1 mês como eu havia previsto e depois disseram que o atraso no lançamento era culpa minha.

O concreto continuava desobediente!

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