Balões, Amigos Infláveis
Olá leitor!
A conceituada revista científica Nature, em sua edição de 31 de janeiro passado, anuncia, em editorial, que os balões de pesquisa científica que tanto nos ensinaram sobre a atmosfera, irão agora prestar serviços no espaço exterior. Eles seriam práticos, baratos, eficientes e seguros.
Segue abaixo mais um artigo do Sr. José Monserrat Filho
postado hoje (04/02) no site da Agência Espacial Brasileira (AEB) destacando o uso
dos balões para pesquisas na atmosfera e futuramente no espaço.
Duda Falcão
Balões, Amigos Infláveis
José Monserrat Filho*
“Há alguma coisa no ar além
dos aviões de carreira.”
Aparício Torelly, o Barão de Itararé (1895-1971)
A conceituada revista científica Nature, em sua edição de 31 de janeiro passado, anuncia, em editorial, que os balões de pesquisa científica que tanto nos ensinaram sobre a atmosfera, irão agora prestar serviços no espaço exterior. Eles seriam práticos, baratos, eficientes e seguros.
O editorial começa lembrando o físico suíço Auguste
Piccard (1884-1962), pioneiro dos balões pesquisa, que, além de pesquisador
emérito, projetou-se também como inventor.
Conta a lenda, e a Nature a
confirma, que o famoso cartunista bela Hergé, criador das aventuras de Tintin
em quadrinhos, hoje conhecidas em praticamente todo o mundo, inspirou-se no
estranho perfil de Piccard para conceber a figura do cientista amigo de Tintin,
o Professor Cuthbert Calculus, cujo nome, por si só, já é um enigma. Hergé o
teria visto uma vez numa rua de Bruxelas e nunca mais o esquecera.
“A pesquisa é esporte de cientista”, disse uma vez
Piccard, recorda o editorial.
Em 1930, Piccard projetou uma gôndola de aço pressurizado
pendurada num balão para transportar passageiros e equipamentos de laboratório.
A gôndola logo converteu-se naquele tipo de submarino que hoje conhecemos como
batiscafo, destinado a investigar as profundezas oceânicas. Mas, um ano depois,
em 1931, Piccard e seu colega Paul Kipfer começaram a usar o novo balão dotado
de uma gôndola especial no estudo da atmosfera, em alturas de até 15.785
metros, sobretudo na busca de raios cósmicos, que haviam sido descobertos em
1912 pelo físico austríaco Victor Hess.
Desde então, diz a Nature, os balões de pesquisa foram
mais alto e mais longe. Na semana passada, um balão de longa duração da NASA
rompeu o recorde de permanência no ar ao registrar 46 dias sobre o Polo Norte,
sob o impacto de ventos fortes e do céu gelado. Não há cientistas a bordo, mas
o objetivo é o mesmo dos tempos de Piccard: o balão flutua a cerca de 39km da
face da Terra e transporta o Super Trans-Iron Galactic
Element Recorder, que peneira os raios cósmicos de alta energia à
procura de elementos pesados raros.
Mas os balões podem ir ainda mais longe. Podem ir ao
espaço, garante a revista. A NASA pensa num balão enlaçado à Estação
Espacial Internacional. A agência o batizou de “módulo de atividade de
expansão”, enquanto alguns jornais e revistas o chamaram de “balão espacial
gigante” e “castelo inflável”. Esse balão espacial poderá prestar bons serviços
não apenas às pesquisas científicas. Ele tem condições também de ajudar na
construção de estações espaciais, como base dos astronautas operários e do
material necessário ao trabalho. As vantagens parecem óbvias: o balão espacial
é compacto, muito mais barato de ser lançado e de permanecer lá em cima. Um
requisito, contudo, é vital: ele deve ser efetivamente capaz de repelir a
radiação e os micrometeoritos ponte-agudos, os inimigos da vida no espaço. Por
tudo isso, a NASA negocia com a entidade que desenvolveu o revolucionário
balão, a empresa Bigelow Aerospace (Las
Vegas, Nevada, EUA), sobre como testá-lo em órbita com gente vivendo e
trabalhando lá dentro.
Balões, digamos, corajosos também foram lançados no
passado. Os rockoons, criados por James Van
Allen, da Universidade de Iowa, EUA, em 1950, carregavam foguetes de sondagem
até grande altura na atmosfera e dali os lançavam a altas órbitas. Ao
caírem de volta na Terra, eles traziam registros de camadas de radiação
concentrada além da atmosfera. Isso levou à descoberta do Cinturão de Van
Allen, anunciada em 1958, importante conquista dos cientistas americanos.
Balões, aliás, também já foram usados para lançar foguetes ao espaço.
No currículo dos Balões constam, igualmente, o transporte
de câmeras e telescópios para sondar diferentes regiões do espectro
electromagnético, bem como o envio de plantas e animais à estratosfera.
Fabricados de plástico e borracha, e usados individualmente ou em frotas, eles
seguem sendo “plataformas silenciosas e surpreendentemente estáveis para a
ciência”, afirma a Nature. Ademais,
são competentes bases para testar instrumentos e técnicas, que um dia voarão no
espaço. A
revista conclui, prestando reverência ao “humilde balão”, que, modestamente,
tem um brilhante futuro pela frente.
Os Nossos Balões
O Brasil avançou muito na técnica dos balões
meteorológicos, que em geral sobem até a estratosfera (entre 7 e 17 até 50 km
de altitude), mas podem chegar à mesosfera (entre 50 a 85 km de altitude). As
sondas (sensores que transmitem informações em tempo real) que os balões
transportam medem a pressão atmosférica, a temperatura e a umidade relativa do
ar, em altitude. O processo, chamado radiossondagem, analisa dados para as
previsões meteorológicas, determinando com mais eficiência a possibilidade de
chuvas, frentes frias e tormentas.
Indispensáveis à meteorologia de hoje, os balões são
lançados por estações meteorológicas, pertencentes a institutos de pesquisas,
universidades, entidades públicas e privadas, e às Forças Armadas. A maioria
dessas estações está subordinada ao Comando da Aeronáutica.
Mais de três mil balões, segundo se calcula, são laçados
diariamente na atmosfera.
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mantém
o Setor de Lançamento de Balões (SLB), criado em 1969, para prestar apoio
técnico e de infra-estrutura aos nossos pesquisadores e a instituições
nacionais ou estrangeiras que careçam de um equipamento espacial de baixo custo
para efetuar pesquisas em ambiente fora da superfície da Terra. O SLB gerencia,
planeja e executa lançamentos, rastreio e recuperação da carga útil. E já
realizou mais de cem lançamentos de balões estratosféricos, envolvidos com
pesquisas em muitas áreas do conhecimento.
De acordo com o site do INPE, o SLB tem doze funcionários:
dois tecnologistas, seis técnicos, três bolsistas e uma secretária. O chefe do
setor é o tecnologista José Oscar Fernandes.
A base de lançamento de balões do SLB situa-se na unidade
do INPE em Cachoeira Paulista, São Paulo, onde fica também o Centro de Previsão
de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC).
Lançamentos de balões estratosféricos já foram
realizados, entre outros, nos seguintes locais: Campus
da Universidade Federal de Santa Maria, em Santa Maria, Rio Grande do Sul;
Aeroporto Domingos Rego, em Timon, Maranhão; e Aeroporto de Nova Ponte, em Nova
Ponte, Minas Gerais.
O Brasil, claro, ainda não tem planos nem a ambição
remota de criar e/ou usar balões no espaço exterior. Mas não se pode excluir a
possibilidade de que, mais cedo ou mais tarde, esse novo veículo espacial ¨C de
perspectivas cada vez mais exploradas ¨C venha a nos desafiar, como já o fez
com tantos outros países, inclusive com o nosso parceiro estratégico global, a
China.
Enfim, como acreditar que a Nature
tivesse decidido usar seu poderoso espaço editorial para escrever sobre balões
se algo novo e promissor não estivesse de fato pintando no horizonte?
* Chefe da Assessoria de
Cooperação Internacional da AEB.
Fonte: Agência Espacial Brasileira
(AEB)

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