Implicações do Programa Ciência sem Fronteiras
Olá leitor!
Segue abaixo um artigo postado dia (22/02) no site
“Monitor Mercantil Digital!” dando destaque as implicações do Programa Ciência
sem Fronteiras (CsF).
Duda Falcão
Opinião
Implicações do Programa
Ciência sem Fronteiras
Wanderley de
Souza*
22/02/2013 - 15:55:50
Em praticamente
todos os países o fortalecimento de sua atividade em Ciência e Tecnologia é
fruto do investimento feito em algum momento de sua história na cooperação
internacional. No caso do Brasil esta cooperação ocorreu no final do século XIX
e boa parte do século XX, inicialmente com a Europa (Portugal, França e
Inglaterra) e, em seguida, com os Estados Unidos da América do Norte.
A
primeira fase da cooperação dependeu muito mais de iniciativas individuais ou
mesmo de algumas instituições do que de políticas de governo. Foi a partir da
criação do CNPq e da Capes que a cooperação internacional passou a ser melhor
organizada e estimulada, com o estabelecimento de acordos de cooperação destas
agências com suas congêneres na maioria dos países desenvolvidos.
Os
dados disponíveis apontam para a existência de 224, 1.987, 3.910 e 5.388
bolsistas brasileiros no exterior nos anos de 1960, 1980, 1990 e 2010,
respectivamente. Somente em 2011 o Governo Federal resolveu priorizar o tema e
lançou um ambicioso programa de cooperação internacional, designado Ciência sem
Fronteiras, que espera propiciar estágios no exterior a cerca de 100 mil
brasileiros até 2015.
O
Ciência sem Fronteiras tem recebido aplausos e críticas por parte da comunidade
acadêmica brasileira. Aplausos, por finalmente despertar para a necessidade de
intensificar o processo de cooperação científica internacional e ampliar a
formação de pesquisadores brasileiros no exterior, sobretudo em áreas de
fronteira da ciência contemporânea e em áreas estratégicas.
Críticas,
pelo número elevado de bolsistas a serem enviados para o exterior e pelo volume
de recursos envolvidos, justamente em um momento em que o Governo Federal
reduziu de forma significativa os recursos disponíveis no Ministério de Ciência
e Tecnologia para apoio a projetos científicos desenvolvidos nos laboratórios
de pesquisa existentes no país.
Muito
provavelmente ambos os argumentos são válidos e somente em alguns anos
poderemos ter um quadro mais claro sobre o acerto ou não do lançamento do
programa. Incluo-me entre aqueles que preferem errar pela ousadia a manter o
status quo existente, que beirava a um estado de semiparalisia no intercâmbio
científico internacional.
Os
números divulgados pelo CNPq e pela Capes, as duas agências que efetivamente
são responsáveis pelo programa Ciência sem Fronteiras, apontam para o envio
para o exterior em 2012 de cerca de 20 mil bolsistas. Este número inicial, e
que tudo indica que crescerá em 2013, já representa um aumento significativo na
cooperação internacional quando comparado com os anos anteriores.
Muitos
perguntam sobre o impacto do Ciência sem Fronteiras na atividade científica no
Brasil nos próximos anos. Este é um questionamento importante, já que o
programa só se justificará se efetivamente tiver impacto positivo no
desenvolvimento da Ciência praticada no país. A seguir, comentarei alguns
pontos que considero relevantes para o bom êxito do programa.
Primeiro,
cabe destacar que desde o início, o programa deu grande ênfase ao envio de
estudantes de graduação para frequentarem, pelo período de seis meses a um ano,
instituições acadêmicas no exterior. A previsão é de que cerca de 25% do total
dos bolsistas (cerca de 27 mil estudantes) sejam de graduação.
Esta
é certamente a parte mais difícil do programa, já que está exigindo uma grande
articulação da Capes com dezenas de universidades tanto do país, de onde os
alunos provêm, como do exterior, para onde eles são enviados.
Para
o bom êxito deste componente é fundamental (a) a escolha de alunos com excelente
desempenho e elevado potencial de absorver experiências novas, bem como (b) a
escolha de centros de excelência internacional.
Esforços
estão sendo feitos pela Capes no sentido de que os alunos se dirijam para
instituições localizadas em países com grande tradição em pesquisa científica.
Por outro lado, é fundamental preparar as instituições brasileiras para receber
estes alunos de volta, criando condições para que o investimento feito não se
perca.
Neste
sentido três medidas são fundamentais: (1) ampliação do número de bolsas de
iniciação científica e de pós-graduação, assegurando que ao retornarem às suas
instituições de origem os estudantes possam integrar grupos de pesquisa nelas
existentes; (2) ampliação do financiamento aos laboratórios que irão receber
estes novos alunos; este ponto é crítico e os dados disponíveis indicam
decréscimo no valor médio dos auxílios por grupos de pesquisa nos últimos dois
anos; (3) condições efetivas de que a experiência positiva que estes alunos
irão trazer possa ser efetivamente implantada no país.
Aqui
prevejo dificuldades. Estes alunos estão sendo expostos a um sistema de ensino
dinâmico e que se caracteriza por poucas horas em sala de aula clássica e muitas
horas de leitura, seminários e frequência a laboratórios. Nas universidades
brasileiras ainda predomina a visão tradicional de manter os alunos por muitas
horas em salas de aula onde predominam as aulas teóricas expositivas. Se
conseguirmos gradualmente mudar este quadro, o programa já terá dado importante
contribuição para a melhoria do ensino superior no país.
Segundo,
é fundamental que nos preparemos para que os componentes do Ciência sem
Fronteiras venham a reforçar o quadro técnico-científico das instituições
brasileiras em três momentos diferentes: (1) um imediato, como consequência da
atração para o país de cerca de 1,3 mil pesquisadores de grande experiência;
(2) outro, de curto prazo, resultante dos 25 mil bolsistas na modalidade de
"doutorado sanduíche" e de 2 mil professores em programas sabáticos;
(3) e ainda um de médio prazo, que resultará do retorno ao Brasil dos 10 mil
estudantes que estão sendo enviados para realização do doutorado no exterior e
que regressarão em cerca de cinco anos.
Para
que o esforço que está sendo feito não se perca é fundamental aumentar
significativamente os recursos para custeio, triplicar imediatamente o valor do
edital universal do CNPq e otimizar a aplicação dos recursos do FNDCT para, de
forma planejada, adequar a infraestrutura laboratorial necessária, modificando
substancialmente o modo de organização laboratorial que prevalece no momento em
que cada pesquisador procura ter um laboratório completo, optando por novos
modelos de organização laboratorial que privilegiem a organização de
"laboratórios multiusuários".
* Professor titular da UFRJ,
diretor de Programas do INMETRO, é ex-secretário executivo do Ministério de
Ciência e Tecnologia.
Fonte: Site Monitor Mercantil Digital
- 22/02/2013
Fico abismado...
ResponderExcluirSerá que é tão difícil entender que o ÚNICO interesse deles é voto?
Claro que bolsistas estudando moda na Inglaterra por conta de mais esse "bolsa família", vão votar neles.
Foguete no espaço e alguns "cientistas malucos" não geram a massa de votos que é de interesse deles.
Eles querem transformar 5.388 votos de 2010 em mais de 100 mil a partir de agora.
Só não vê quem não quer!