Blog Entrevista o Gerente no ITA do Projeto ITASAT-1
Olá leitor!
Professor David Fernandes Gerente no ITA do Projeto ITASAT-1 |
Seguindo com as
entrevistas da série “Personalidades do Programa Espacial
Brasileiro”, segue abaixo a entrevista
com o gerente no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) do projeto do satélite universitário ITASAT-1, ou seja, o professor da Divisão de
Eletrônica do ITA, David
Fernandes, ao qual agradeço
publicamente mais uma vez por nos conceder essa nova entrevista esclarecedora
sobre esse importante projeto em curso no ITA, no INPE e em outras diversas
instituições universitárias do Brasil.
Vale lembrar que
o Prof. David Fernandes já havia nos concedido uma entrevista sobre o Projeto
ITASAT publicada aqui no blog em 08/07/2010, que pode ser acessada pelo leitor
clicando aqui.
Caro leitor, diante
do que foi dito pelo professor David Fernandes e pelo Dr. Luis Loures do IAE em sua
entrevista concedida ao blog recentemente (veja aqui), sobre a possibilidade técnica
de uma Missão Conjunta que envolvesse o lançamento do Microsatélite ITASAT-1
através do voo de qualificação do VLM-1 em 2015, é clara a sintonia de interesses entre as duas equipes, e sinceramente não vejo problema
para que se tenha esse objetivo como uma meta a ser cumprida, bastando para isso, em minha
opinião, que os playes envolvidos (ITA, INPE, IAE, entre outros) sejam
estimulados pelo 'Governo DILMA ROUSSEFF' a buscar essa conquista.
Assim sendo,
pergunto a você leitor: Você estaria realmente disposto em ajudar o blog, assinando
e divulgando uma Petição Pública Online que apoiasse a nossa campanha “MISSÃO
VLM-1/ITASAT-1 2015”? Estaria você realmente comprometido a trabalhar em busca
desse objetivo, fazendo valer a sua 'cidadania' lutando em prol do verdadeiro
Programa Espacial Brasileiro?
Bom, segue abaixo
a interessante entrevista com o Professor David Fernandes.
Duda Falcão
BRAZILIAN
SPACE:
Professor David Fernandes, para aqueles leitores que não o conhece nos fale
sobre o senhor. Sua idade, formação, onde nasceu, trajetória profissional e
desde quando o senhor trabalha no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA)?
PROF. DAVID FERNANDES: Tenho 59 anos, nasci na
cidade de São Paulo mas moro em São José dos Campos desde 1979, ano que
ingressei no CTA, inicialmente no setor de homologação aeronáutica do IFI e a
partir de 1982, até o presente momento, como professor do ITA na Divisão de
Engenharia Eletrônica. Sou engenheiro eletrônico pela Escola Politécnica da USP
(1977), mestre e doutor em engenharia eletrônica pelo ITA (1985 e 1993). A
partir de julho de 1995, por um período de 19 meses, fiz o meu pós-doutorado no
Instituto de Microondas e Radar do Centro Alemão de Pesquisa Aeroespacial
(DLR). Minha área de ensino e pesquisa é telecomunicações, com ênfase em processamento de sinais de
Radar e processamento de imagens de Radar de Abertura Sintética. A minha
participação no ITASAT iniciou em 2009 quando o Reitor do ITA me nomeou gerente
do projeto.
BRAZILIAN
SPACE:
Professor David, quando realmente teve início o desenvolvimento do
microsatélite ITASAT-1 e qual é o seu principal objetivo?
PROF. DAVID FERNANDES: A ideia de se projetar
implementar e operar um satélite
universitário, que foi chamado de ITASAT, começou se materializar, pelos registros que
eu tenho, no fim de 2005. Convém
informar que em anos anteriores a ideia já era discutida por alunos da
graduação do ITA com profissionais do INPE e da AEB.
Esse projeto financiado pela AEB, que também é o gerente
geral, teve duas grandes fases.
A primeira fase durou
até o final de 2008, onde se enfatizou bastante: a) formação de recursos
humanos (grande envolvimento de estudantes de graduação e pós- graduação não só
do ITA mas de outras instituições de ensino e b) concepções de microsatélites e
de seus subsistemas.
De uma resolução conjunta entre a AEB, o INPE (assessor
técnico do Projeto) e o ITA (responsável pela execução do Projeto) , a partir
de 2009, sem se perder o foco na formação de
recursos humanos, o projeto
começou a focar mais no projeto do satélite em si, procurando concentrar
esforços para se ter de fato um satélite concreto, o ITASAT-1.
Como resultado deste novo enfoque foram realizadas revisões
formais, com a presença de especialistas
do INPE do IAE e de especialistas do exterior, convidados pela AEB, com
experiência prática em microsatélites e em especial em satélites
universitários.
Foram realizadas as revisões
MDR (Mission Definition Review) em fevereiro de 2010, o PRR (Preliminary
Requiremente Review) em março de 2010, o SSR (System Requirement Review) em
setembro de 2010 e o PDR (Preliminary Design Review) em julho de 2011. A
próxima revisão é o CDR (Critical Design Review) que ainda não foi marcada mas
provavelmente ocorrerá em meados do segundo semestre de 2013.
Modelo do satélite
ITASAT-1 com painel
solar em quatro laterais e no topo
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Modelo da
configuração interna
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BRAZILIAN SPACE: Professor, quando o satélite
ficará pronto, já foi escolhido o lançador e já existe uma previsão realista de
quando será o seu lançamento?
PROF. DAVID FERNANDES: O CDR do satélite que ainda não
foi realizado é uma revisão muito importante e o êxito nesta etapa dará uma maior
garantia de quando o satélite ficará de fato pronto. Com o CDR realizado e
aprovado a próxima etapa e a de construção do modelo que irá ser lançado.
Como
previsão eu diria que meados de 2014 é uma data de referência para o satélite
estar pronto.
Ainda não
foi escolhido o lançador, mesmo porque a contratação de um lançador requer
bastante certeza na data em que o satélite estará pronto.
As
incertezas se devem a algumas características do projeto:
a) O Satélite
ITASAT-1 é um microsatélite universitário, isto é, projetado e em parte
construído por estudantes, com a supervisão de professores, pesquisadores e
engenheiros. Os estudantes ficam por tempos curtos no projeto, podem deixar o
projeto facilmente e a sua dedicação ao projeto é dividida com as suas
obrigações acadêmicas.
b) O
ITASAT-1 acabou ficando um satélite complexo (massa aproximada de 80 kg,
dimensões aproximadas de 60x60x58 cm),
que em nada pode ser comparado, por exemplo, com um CUBSAT de aproximadamente 10x10x10cm
e massa por volta de 1kg.
c) A procura
de componentes (sem restrições de importação, de qualidade elevada, quando for
o caso de baixo consumo etc) e a sua compra (prazo de entrega, quantidade,
restrições de legislação) também são tarefas de certa complexidade que impactam
o desenvolvimento do projeto.
Apesar do
lançador ainda não ter sido escolhido, no planejamento da missão ITASAT, considerando-se
que ele será lançada como carona (carga não principal de uma lançador),
examinou-se varias opções de possíveis lançadores e orbitas, de modo que o
projeto possa atender a uma ampla família de possíveis lançadores. Isso também
é um fator complicador para o projeto, pois o projeto estrutural da plataforma,
do seu acoplamento com o lançador, e o projeto dos equipamentos devem prever
esforços e vibrações a que serão submetidos.
BRAZILIAN SPACE: Professor, recentemente fizemos
uma entrevista com o Dr. Luis Loures, gerente do Programa do VLM-1 do IAE. Na
ocasião questionamos ao mesmo sobre a possibilidade de lançar o ITASAT-1 em
2015 através do voo de qualificação do VLM-1. Ele nos disse que certamente
existiria o potencial para o lançamento desse satélite pelo VLM-1 devido à sua
massa, mas essa possibilidade deveria ser avaliada em conjunto com a AEB e com
o DLR. Sob o ponto de vista técnico, eles teriam que avaliar a missão do
ITASAT-1 para verificar se poderiam atendê-la já nesta primeira versão do
veículo ou, em caso negativo, se haveria como alterar esta missão de maneira a
poderem atendê-la. Mesmo antes dessa entrevista o blog já havia lançado uma
campanha intitulada “Missão VLM-1/ITASAT-1” visando à mobilização de nossos
leitores e da sociedade como um todo para exigir da AEB e do governo DILMA
ROUSSEFF que estabelecesse junto aos players envolvidos (IAE, INPE, ITA entre
outros) a meta de realizar essa missão conjunta em 2015. Como coordenador do
Projeto do ITASAT-1, o que o senhor acha de nossa iniciativa e existiria
interesse de sua equipe em se articular com a equipe do Dr. Luis Loures visando
esse objetivo?
PROF. DAVID FERNANDES: A equipe do ITASAT já teve um
contato com o Dr. Loures do IAE e o dialogo entre nós é muito bom. Havendo uma
real possibilidade técnica dos projetos cooperarem, com certeza não haverá
nenhum obstáculo para que isso se realize, inclusive vale ressaltar que tanto o
IAE quanto ao ITA estão dentro do DCTA e por isso já estamos naturalmente
ligados.
De uma
reunião que tivemos a aproximadamente dois anos atrás, lembro que um problema
técnico que detectamos era a massa elevada do ITASAT e a sua orbita, entre 450km e 600km, impunham uma restrição na utilização
da primeira versão/missão do VLM-1, ou seja, o VLM-1, a principio, não atenderia este
requisito do ITASAT-1.
De qualquer
modo como estamos revisando os dados da massa do ITASAT, que deverá diminuir,
com a otimização das interligações dos equipamentos (cablagem) e o reprojeto de
algumas caixas de equipamentos, certamente teremos uma nova reunião com a
equipe do Dr. Loures, durante e após o CDR.
BRAZILIAN SPACE: Professor é sabido que durante o
processo do desenvolvimento do ITASAT-1 houve a participação de diversos alunos
do ITA e de outras instituições de ensino, inclusive uma alemã. Quantos
estudantes efetivamente fizeram parte do desenvolvimento desse satélite e quais
serão para eles os reais benefícios conquistados nesse processo?
PROF. DAVID FERNANDES: Em 2012 e 2013, alem dos alunos
de graduação e pós-graduação do ITA e de pós graduação do INPE, participaram ou
participam do projeto alunos da UFRN, UEL , UNIFESP-São José dos Campos, FATEC-São José
dos Campos, UNISINUS e ETEP Faculdade de São José dos Campos.
Como
referência, durante o ano de 2012,
tivemos no projeto, em média, 10 estudantes de pós-graduação e 18 de graduação.
Os alunos
envolvidos no projeto ITASAT são muito cobrados, pois temos muitíssimo trabalho
a ser realizado, mas dentre os benefícios que posso citar para o estudante
destaco:
a) Aprender a
trabalhar em um projeto multidisciplinar, onde, uma alteração em um subsistema
ou equipamento pode interferir em todos os demais subsistemas e equipamentos,
por este modo as soluções técnicas devem ser negociadas com os outros;
b) Aprender
a trabalhar com uma equipe de Engenharia de Sistemas, de modo que tudo concorra
para se ter o Satélite ITASAT-1;
c) Aprender
a especificar e cumprir requisitos técnicos;
d) Participar
da preparação dos documentos das revisões, das revisões e depois do atendimento
das recomendações do revisores;
e) Se
comprometer com prazos;
f) Ter uma
visão sistêmica de um projeto complexo; e
g) Aprender
a administrar conflitos que surgem no trabalho em equipe.
Estudantes
trabalhando em uma das salas do ITASAT no ITA
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BRAZILIAN SPACE: Professor, quais foram às instituições envolvidas com esse projeto desde o
seu início?
PROF. DAVID FERNANDES: Além dos alunos de graduação e
pós graduação do ITA e de pós graduação do INPE, já participaram ou participam do
projeto alunos da UnB, UNICAMP, UFRN, UEL, EESC-USP, UFCG, FEG-UNESP,
UNIFESP-São José dos Campos, FATEC-São José dos Campos, UNISINUS, ETEP
Faculdades de São José dos Campos e da TU-Berlin.
Da TU-Berlin
participaram quatro estudantes de graduação, permanecendo no projeto seis meses
cada um, com apoio do Programa UNIBRAL
da CAPES, que estava sendo desenvolvido no ITA e gerenciado por
professores do Curso de Engenharia Aeronáutica.
BRAZILIAN SPACE: Professor é de nosso conhecimento
que um dos grandes beneficiados com o lançamento desse satélite será o “Sistema
Brasileiro de Coletas de Dados Ambientais”. O senhor poderia explicar aos
nossos leitores a razão disso e quais são as cargas úteis do satélite?
PROF. DAVID FERNANDES: O ITASAT-1 terá quatro cargas
uteis experimentais. Uma delas é um experimento científico do INPE relativo a
um trocador de calor designado por TUCA. Outro experimento é uma plataforma com
sensores MEMS da Universidade Estadual de Londrina (UEL), outro experimento (a ser
confirmado) um sistema de comunicações entre satélites da TU Berlin. Temos
ainda uma quarta carga útil experimental que será um Transponder Digital de
Coleta de Dados que está sendo desenvolvido pelo INPR-CRN, com a
colaboração da UFRN. Esta ultima carga
útil, apesar de ser experimental, poderá ser utilizada pelo “Sistema Brasileiro
de Coletas de Dados Ambientais”.
Convém ressaltar
que o Microsatélite Universitário ITASAT-1, não é um satélite operacional de
prestação de serviços, mas sim um
satélite experimental científico. Logicamente que as cargas uteis podem ser
utilizadas para diversos fins, tais como o Transponder Digital de Coleta de
Dados que voará no ITASAT-1.
BRAZILIAN SPACE: Professor é de nossa crença que
para que as cargas úteis desse satélite fossem adequadamente alojadas foi
necessário o desenvolvimento de uma plataforma que desse esse suporte. Existe o
interesse de sua equipe e da AEB na industrialização dessa plataforma
universitária para microssatélites?
PROF. DAVID FERNANDES: Desde a minha entrada no projeto,
em 2009, a AEB sempre deixou claro que como o projeto ITASAT faz parte da Ação
da AEB 4934 do Plano Plurianual – PPA, de “Desenvolvimento e Lançamento de
Satélites Tecnológicos de Pequeno Porte” ele deveria gerar experiência para
outras iniciativas do gênero, sejam elas no ITA ou em outras instituições de
ensino, e que se levasse em conta que a plataforma ITASAT pudesse ser utilizada
em outras missões de satélites universitários.
Quanto a
industrialização dessa plataforma eu não participo e não tenho nenhum
envolvimento com uma possível iniciativa neste sentido. O que eu considero mais
importante é que se o projeto ITASAT-1 for bem sucedido, ele acarretará um nível
maior de maturidade tecnológica de todos os envolvidos (estudantes,
professores, pesquisadores e engenheiros) o que permitirá sem duvida o
surgimento de iniciativas acadêmicas e ligadas a indústria.
Teste de uma
interface de comunicações
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BRAZILIAN SPACE: Professor é de nosso
conhecimento que o microsatélite ITASAT-1 é o primeiro de um programa que
deverá ter sequência logo após o lançamento do mesmo. Já existe alguma discussão
em andamento em torno do projeto do ITASAT-2?
PROF. DAVID FERNANDES: Ainda não há discussão formal a respeito
de um ITASAT-2, mais acredito que após a finalização do CDR estas discussão
devem ocorrer.
BRAZILIAN SPACE: Para finalizar Professor, existe
algo a mais que o senhor gostaria de destacar para os nossos leitores?
PROF. DAVID
FERNANDES: Gostaria
de destacar que o projeto ITASAT, tendo a AEB como promotora, o INPE como
assessor técnico e laboratorial e o ITA como responsável pela construção e
operação do Microsatélite Universitário ITASAT-1, é um projeto audacioso e
complexo que envolve, além do ITA, uma serie de universidades e escolas
parceiras, o que a meu ver dá uma relevância maior ao projeto.
O
projeto tem três gerentes um da AEB, outro do INPE e um terceiro do ITA. Noto
que o trabalho é harmônico entre todos nós com o objetivo de termos êxito neste
projeto. As dificuldades que temos são de natureza operacional e técnica, que
vão sendo superadas e vão trazendo um aprendizado contínuo.
Por
ser uma iniciativa universitária, feito por estudantes, temos recebido, como é
natural, apoio não só do INPE mas de Institutos do DCTA, tais como o IAE e o
IEAv , que inclusive já usinaram partes
de equipamentos do satélite e do IFI que já colocou a nossa disposição a
sua Câmara Anecoica para alguns testes.
As equipes envolvidas no projeto ITASAT-1,coordenada pelo Prof. David Fernandes, estão dando a real resposta, para aqueles que estão simplesmente sentados em brasília, de como se deve realmente trabalhar, com muito estudo, pesquisa, dedicação, e acima de tudo com parcos salários, a vedadeira contribuição para o progresso sustentável do PEB, realmente eles fazem a diferença, para os que não fazem nada,.. siplesmente nada, nem um peqeuno circuíto de escuta e gravação, disso eles têm medo! Estamos agora diante de um amplo desafio: Lançar ou não com o nosso foguete, genuinamente brasileiro. Mudar o processo de prioridades com o lançador é uma grande espectativa para todos nós.Isto porque mostramos ao longo de todos os obstáculos superados financeiramente e embargos dos tais americanos, que nos somos um povo capaz e inteligente.
ResponderExcluirEste é o desafio informativo do blog: fazer com que todos os brasileiros, de cabeça erguida, digam: " O nosso BRASIL faz com qualidade. Vamos dar apoío, sequência e valorizar o trabalho de que produz realmente neste país de pioneiros passados e presente e transformar o PEB como exemplo para outros países que pensam, que somos bons só no carnaval e futebol, seremos um país melllllhor do mundo! Salve o nosso grande BRASIL!
Eu assinaria e garanto que levaria para um amigo meu que é aluno de engenharia aeroespacial na unb que poderia passar a petição para toda a turma
ResponderExcluirTudo muito bom, só faltou uma visão de produto industrializado:
ResponderExcluirPorque não oferecer a plataforma do satélite para a indústria nacional para produção em série e começar a planejar um novo ITASAT a cada ano?
Claro que corremos o risco de o "governo" atrapalhar, mas temos que continuar tentando.
Um satélite universitário por ano para o Brasil, acho até um objetivo razoável e plausível.