"Também no Brasil, é Tempo de Eficácia no Espaço Sideral"
Olá leitor!
Segue abaixo um interessante artigo publicado na revista “Tecnologia
e Defesa” de (set-out. de 2012) e postado no blog “Panorama Espacial” do
companheiro jornalista André Mileski, tendo como destaque a época de eficácia
que vive atualmente os programas espaciais mundo afora, e a esperança de que isso venha aconteçer no Brasil.
Duda Falcão
"Também no Brasil, é Tempo
de Eficácia no Espaço Sideral"
Tarcísio Takashi Muta
26/10/2012
Criada em 1958 para viver na fronteira do conhecimento, a
National Aeronautical and Space Administration (NASA) causou espanto em meados
de 2011, quando aposentou a sua frota de imponentes ônibus espaciais. O motivo
da inglória decisão foi logo atribuído aos percalços orçamentários então já
descritos como pragas endêmicas – mas eternamente toleráveis —, pois aos olhos
do povo, a ousadia científica justificava o empenho de gordas verbas públicas.
Se a grande crise que abalou os Estados Unidos da América
em 2008 sepultou o modelo de investimentos a fundo perdido, a perfeita
ancoragem da nave privada SpaceX Dragon à Estação Espacial Internacional, em
maio de 2012, revelou outra face pouco conhecida da resposta que o pragmatismo
da maior economia mundial oferece para resguardar sua liderança no ramo mais
complexo e desafiador da ciência e da tecnologia contemporâneas.
Agora, a pauta de responsabilidades da NASA se projeta
mais adiante, como no caso da missão do veículo robótico Curiosity ao solo de
Marte. Para a autarquia, a circulação humana nas proximidades da Terra será
responsabilidade de companhias privadas. Cargas entregues por naves não
tripuladas já se tornam rotineiras e empresas como a Boeing, a Spacex e Sierra
Nevada abiscoitaram, em 2012, contratos bilionários para construir naves com
capacidade para levar e trazer de volta sete astronautas em missões com alcance
lunar. Contarão para tanto com apoio financeiro do governo de Washington, que
também se compromete a contratar um lote de voos que assegure a sobrevivência
desses novos protagonistas, vencedores de uma competição aberta em 2004 e que
reuniu ao todo sete interessados em prover viagens para além da atmosfera
terrestre.
A mudança do modelo se apoia em subsídio? Sim. E qual é o
problema? Ninguém mais contesta a necessidade de verbas públicas para suportar
a evolução tecnológica de projetos desafiadores e relevantes para a evolução do
conhecimento. Essa guinada na condução do projeto espacial aplicada no governo
do presidente Barack Obama traz ao ambiente brasileiro uma lembrança e,
sobretudo, uma sugestão para ser levada a sério. A lembrança tem a ver com a
importância da continuidade de investimentos para o sucesso de empreendimentos
de vanguarda.
O Brasil tomou a decisão de atacar o desafio espacial em
1961, num programa contemporâneo aos congêneres da Índia e do Japão. Passado
meio século, a coleção de satélites lançados com êxito pelos indianos supera a
casa dos sessenta e cinco, sendo o primeiro de 1975; enquanto isso, após
começar discretamente em 1970, o retrospecto japonês alcança a marca de uma
centena de lançamentos bem sucedidos, a maior parte levados com propulsores
também desenvolvidos no país. O Brasil conseguiu lançar seis satélites, todos
via foguetes estrangeiros.
A explicação para a discrepância é complexa, porém há
fatores preponderantes. Um deles é a continuidade no investimento. As verbas
dispendidas na atividade espacial pelo governo brasileiro oscilam em torno de
R$ 200 milhões por ano – R$ 300 milhões nos últimos exercícios – tendo chegado
a zero na época da inflação galopante. Enquanto isso o Japão destina US$ 2,5
bilhões anuais e a Índia se mantém estável na faixa de US$ 1 bilhão de dólares.
Outro é a marcante presença do setor privado. No Brasil
ela é fragmentada e com a integração concentrada pelo governo, sendo que a
prioridade à indústria local ainda se encontra no plano da retórica. Na Índia
há uma fragmentação na presença privada, com uma forte mão do Estado, porém com
uma política de indução ao fortalecimento da indústria local. Já no Japão,
temos uma presença concentrada do setor privado, representado pelo grupo
Mitsubishi.
A preferência de Brasília por solução estatizada para o
ciclo da engenharia e da operação do programa espacial começa a ser quebrada,
com a definição da Embraer como principal fornecedor do projeto Telebrás, que
dotará o País com satélites próprios no caso das comunicações estratégicas –
civis e para a defesa. Reconhecida como empresa de classe mundial, a Embraer
representa uma possibilidade concreta de ação eficaz, sucedendo décadas de
peripécias acabrunhantes.
É uma reviravolta oportuna para que o Brasil se mantenha
no nível mais elevado do conhecimento. Destaque-se que a presente abertura para
soluções trazidas por protagonistas do setor privado surge ao mesmo tempo das
mudanças na NASA e nos Estados Unidos. Essa iniciativa do governo brasileiro
abre perspectivas numa atividade que, até então, juntou sonhos e dissabores
numa combinação decepcionante que perdurou por mais de cinco décadas.
A tecnologia feita com recursos continuados, dedicação e
competência agradece!
N. da R.: Tarcísio Takashi Muta é engenheiro e presidente
do Conselho de Administração da Atech.
Fonte: Revista Tecnologia & Defesa nº 130 - set-out
de 2012 - via Blog “Panorama Espacial“
Comentário: Se não estou enganado o senhor Tarcísio
Takashi Muta também já atuou no Programa Espacial Brasileiro e agora está na
Atech que presta alguns serviços ao PEB. Bom, apesar de concordar com grande
parte do que defende nesse artigo o Sr. Muta, discordo dele em alguns pontos.
Em primeiro lugar a iniciativa do governo de criar uma empresa com a Embraer e Telebrás
(a tal da Visiona) já começou com problemas de objetivos e metas e sinceramente
não acredito mais que essa iniciativa venha dar o resultado que se espera. Até por
que o que o Governo diz querer (leia-se Presidência da Republica e não MCTI) e
o que a EMBRAER defende são interesses conflitantes, e cá para nós leitor,
temos que de ser objetivos, a EMBRAER ou qualquer outra empresa que visa o
lucro jamais se comprometerá enquanto existir essa cultura de falta de
compromisso do governo brasileiro para com o PEB. Também não creio que o modelo
atualmente em uso no Brasil esteja errado e sim mal utilizado por essa falta de
compromisso do governo para com o programa. Minha tese parte do principio desse
modelo ser similar ao adotado pela NASA durante décadas (com grandes e inesquecíveis
resultados alcançados por eles), até o momento em que se chegou ao amadurecimento
e a infraestrutura física e de recursos humanos necessária na iniciativa
privada americana que viesse sustentar o que agora está acontecendo por lá. No
Brasil, a indústria que atende o setor é diminuta, depende em grande parte da infraestrutura
existente nos institutos públicos (civil e militar) e não dispõem de conhecimento,
experiência e de recursos humanos em quantidade necessária e preparada para
enfrentar esse desafio, bem diferente do que acontece nos EUA e em outros países.
Isso é um processo que leva tempo e que no Brasil não aconteceu porque nas
ultimas duas décadas os governos só fizeram boicotar o programa espacial com
suas atitudes absurdas. Num universo como esse é até louvável notar que algumas
empresas ainda continuam insistindo em trabalhar no setor. Assim sendo, amigo leitor, em nossa opinião o erro não
está no modelo e sim na falta de compromisso do governo para com mesmo. Mudem a
atitude do governo e talvez em uma década de trabalho sério e dedicado teremos
então condições de transferir para a indústria uma participação mais autônoma no setor.
Bom, sem entrar muito no mérito das nossas conhecidas discordâncias, esse Sr. Takashi Muta me parece estar querendo "tocar nas feridas", o fato de já ter estado dentro do sistema talvez seja um dos motivos...
ResponderExcluirSendo prático: existe uma diferença fundamental que explica o sucesso inicial quando acoisa estava mais na mão da Aeronáutica. Nos Estados Unidos o sistema de gestão é de capitalismo empresarial, já aqui, parece ser de capilalismo jurídico e corporativista.
O modelo da NASA deu muito certo aqui, nas décadas de 60 e 70, pelos motivos acima descritos, ou seja, o controle de praticamente tudo estava na mão do pessoal da Aeronáutica, e eles fizeram um excelente trabalho com o que tinham nas maãos.
Outra diferença fundamental é quanto aos centros de pesquisa. Enquanto lá eles possuem vários, espalhados pelo País, sendo boa parte deles com fortes laços com Universidades privadas, aqui, só temos praticamente dois nessa área sob jurisdições diferentes (Ministérios diferentes), e as nossas Universidades privadas (a enorme maioria) são meras fornecedoras de diplomas.
É um trabalho ingrato, que pode levar mais algumas gerações para mudar alguma coisa, mas a base de tudo é o ensino. Enquanto esse modelo estiver sendo seguido, apenas as Universidades da área de Direito vão prosperar, afinal laboratórios de pesquisa pra que? Se elas podem faturar alto apenas com aulas teóricas.
Tá dificil...