ON de Olho no Passado e com Foco no Futuro
Olá leitor!
Segue abaixo uma
interessante matéria postada hoje (29/10) no site do jornal “O Globo”
destacando que o Observatório Nacional (ON) segue de Olho no Passado e com o Foco
no Futuro.
Duda Falcão
CIÊNCIA
Observatório Nacional de Olho no
Passado e com
Foco no Futuro
Aos 185 anos,
instituição estuda alguns dos
maiores
mistérios da astronomia atual
Cesar Baima
O GLOBO
Publicado em 29/10/2012
-15h03
Atualizado em
29/10/2012 - 15h04
Fotos de
Divulgação/Observatório Nacional
RIO - No início do século XIX, a
astronomia moderna ainda engatinhava. Pouco mais de cem anos depois de Isaac
Newton publicar sua Teoria da Gravitação Universal, os cientistas ainda
recorriam a ideias surgidas na Antiguidade, como o éter e a quintessência, para
explicar como o Universo funcionava. Neste contexto, em outubro de 1827 Dom
Pedro I criava o Observatório Nacional (ON). A princípio, a instituição tinha
objetivos bem práticos e mundanos: aferir a hora oficial do país e demarcar as
fronteiras da então recém-nascida nação brasileira, ambas ações dependentes de
medições astronômicas em uma época em que não existiam sistemas de
posicionamento por satélite como o GPS, e os viajantes usavam bússolas e o
posicionamento das estrelas para se orientarem.
— O Observatório Nacional
acompanha o Brasil desde seu nascimento, tendo sido criado apenas cinco anos
depois da Independência — lembra Teresinha Rodrigues, pesquisadora da
instituição que prepara para publicação em breve do livro “Observatório
Nacional — Protagonista do desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil”.
— Ele teve papel central no levantamento de coordenadas geográficas,
fundamental para determinação das fronteiras do país que nascia.
Balão
Vermelho para Indicar o Meio-Dia
Já a aferição da hora certa foi
além de sua função para a navegação, entrando no dia a dia dos moradores do Rio
de Janeiro, então capital do país, conta Teresinha. Desde o século XIX e até o
início do século XX, um balão vermelho era içado em uma torre no topo do prédio
da instituição, no antigo Morro do Castelo, pouco antes das 12h, e seu
recolhimento do mastro marcava a chegada do meio-dia.
— Muitas relojoarias da cidade
instalavam balões próprios e “retransmitiam” o sinal do observatório, que assim
corria toda a cidade — diz a pesquisadora. — Quando da transferência do
observatório para São Cristóvão, em 1921, o balão já estava gasto e a torre foi
demolida, mas por força do costume e exigência da população o observatório
criou um sistema de luzes que continuou marcando a chegada do meio-dia até a
completa demolição do morro.
Mas se ao longo de boa parte de
sua história o Observatório Nacional foi importante para o desenvolvimento
científico e tecnológico do Brasil, sua atuação foi mais modesta no âmbito das
pesquisas mundiais. Isso não impediu, no entanto, que a instituição por vezes
assumisse um papel de coadjuvante de luxo em algumas descobertas
significativas. Jailson Alcaniz, chefe do Departamento de Astronomia, lembra,
por exemplo, a participação que os astrônomos da instituição tiveram em uma
expedição inglesa em 1919 que veio ao Brasil para acompanhar um eclipse total
do Sol na cidade de Sobral, no interior do Ceará, com o objetivo de verificar a
previsão feita apenas alguns poucos anos antes por Albert Einstein.
Em 1915, o cientista alemão
havia publicado sua Teoria da Relatividade Geral, que desde então tomou o lugar
da teoria de Newton como a mais completa a explicar como funciona a gravidade.
Pelos cálculos de Einstein, a luz de uma estrela distante deveria sofrer uma
deflexão maior do que a prevista pela física newtoniana ao passar pelas
proximidades do Sol, em razão da curvatura que sua gravidade provoca no
espaço-tempo, o que foi confirmado pela expedição inglesa.
— Foi o primeiro teste e a
primeira evidência de que a Teoria da Relatividade Geral estava certa e isso
aconteceu com uma participação ativa do Observatório Nacional — destaca
Alcaniz.
Hoje, o Observatório Nacional se
debruça sobre alguns dos maiores mistérios da cosmologia e astrofísica atuais —
a matéria e a energia escuras que comporiam cerca de 96% de tudo que há e cuja
natureza desconhecemos, o que curiosamente remete às explicações “esotéricas”
para o funcionamento do Universo, como o éter e a quintessência, que os
estudiosos usavam no tempo de sua fundação.
— Como todas as ciências, a
astronomia mudou muito no último um século e meio — diz Alcaniz. — Naquele
tempo, nossa compreensão do Universo era completamente diferente da que temos
hoje e não se imaginava que o espaço fosse o quase completo vazio que sabemos
que é. Saímos de um quadro obscuro para um de maior entendimento, um movimento
enorme graças a muita tecnologia, novos instrumentos e teorias. Mas agora
voltamos a um estágio de desconhecimento do Universo que achávamos que tínhamos
superado. Temos pela frente o desafio de explicar o que são esses 96% de tudo
que há, isto é, a matéria e a energia escuras, que simplesmente desconhecemos.
Essa mudança na astronomia,
porém, não se deu só pela tecnologia envolvida, mas também na forma de
trabalhar. Antigamente, era comum aquela figura do pesquisador solitário, o
astrônomo que passava noites sozinho observando o céu, enquanto hoje a ciência
está marcada pelas grandes colaborações, projetos que envolvem pesquisadores e
equipamentos espalhados ao redor do mundo. Um destes casos é o Levantamento
Astrofísico de Javalambre para a Física do Universo em Aceleração (J-PAS, na
sigla em inglês), uma parceria entre Brasil e Espanha que está construindo um
telescópio e uma câmera que terão como principal missão investigar a natureza
da matéria e energia escuras.
Instalado no topo de uma
montanha de 2 mil metros de altura, na serra espanhola de mesmo nome, o
Observatório Astronômico de Javalambre terá um telescópio com um espelho de 2,5
metros de diâmetro equipado com a segunda maior câmera do mundo, com uma
resolução de 1,2 gigapixels. Chamada de J-CAM, ela está sendo produzida no
Brasil e é uma das principais contribuições do país para o projeto, que tem um
orçamento total de 30 milhões de euros.
O conjunto deverá começar a
varrer o céu em 2014, produzindo, num prazo de quatro a cinco anos, um mapa em
três dimensões do Universo até uma distância de mais de 8 bilhões de anos-luz.
Com os dados, os cientistas esperam conseguir medir a influência da energia e
da matéria escuras na distribuição das galáxias, desvendando assim uma parte de
suas características.
— Independentemente de a matéria
ser escura ou luminosa, ela age gravitacionalmente, o que faria as galáxias
responderem — explica o astrônomo Luiz Nicolaci, também pesquisador do
Observatório Nacional e que coordena a participação brasileira em outra grande
colaboração internacional, o Levantamento sobre Energia Escura (DES, na sigla
em inglês).
Marcas
na Estrutura do Universo
Mas se a ação gravitacional da
matéria escura — que responderia por 80% de toda matéria do Universo, com os
20% restantes compostos pelos átomos e partículas comuns que formam as
galáxias, estrelas e nós mesmos, conhecida como matéria bariônica — a torna
mais fácil de ser detectada, apesar de invisível, o mesmo não acontece com a
energia escura. Neste caso, são várias as teorias dos cosmologistas para
explicar sua aparente ação repulsiva, que estaria compensando a gravidade das
matérias escura e bariônica e acelerando a expansão do Universo. Por isso,
projetos de levantamentos amplos sobre a estrutura do Cosmo como o J-PAS e o
DES, que já opera outra poderosa câmera instalada em um telescópio no Chile,
são promissores. Neles, os cientistas esperam ver sinais da chamada oscilação
acústica bariônica, o “eco” deixado no Universo pelas primeiras formações de
matéria logo depois do Big Bang, há cerca de 13,7 bilhões de anos.
— Voltamos a engatinhar na nossa
compreensão do Universo. O próprio termo “energia escura” é uma manifestação
disso e descobrir o que ela é pode ter implicações profundas na física
fundamental, talvez exigindo uma revisão da Relatividade Geral de Einstein —
diz Nicolaci. — Durante muito tempo o Observatório Nacional teve uma posição um
tanto irrelevante para as pesquisas mundiais, mas agora ele está inserido nos
assuntos mais quentes da cosmologia, participando de forma ativa de estudos de
ponta, em um processo de integração e interação com quem é quem na astronomia
mundial, o que é muito bom para a formação de nossos jovens estudantes. Nossa
próxima geração de astrônomos estará muito capacitada e em contato com os
principais centros de pesquisa do mundo de uma forma que era inconcebível até
um passado recente.
Alcaniz tem uma opinião
parecida:
— O Observatório Nacional é uma
instituição antiga, mas não está parada no tempo. Minha visão para o ON é de um
futuro ainda mais vibrante, com novos resultados e pesquisas sobre algumas das
principais questões da astrofísica e da cosmologia atuais.
Fonte: Site do Jornal
O GLOBO - 29/10/2012 - http://oglobo.globo.com/
Comentário: Só uma coisa a mais a acrescentar. Avante ON
e parabéns pelo trabalho de ontem, hoje e sempre.
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