Leonel Fernando Perondi - Entrevista

Olá leitor!

Segue abaixo uma entrevista com o novo diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Leonel Fernando Perondi, publicada na “Revista Espaço Brasileiro” (Jan – Jun de 2012), sobre os seus planos para o INPE e para o Programa Espacial Brasileiro.

Duda Falcão

INPE

Perondi: Integração Aumenta Eficácia

Leonel Fernando Perondi assumiu a direção do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)
em 1º de junho, sucedendo a Gilberto Câmara.
formado em Engenharia Mecânica Aeronáutica
pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA),
com mestrado em Engenharia e Tecnologia Espaciais
pelo INPE e doutorado em Física Teórica pela Universidade
de Oxford, Perondi atua há 30 anos no instituto. Já
coordenou a área de Engenharia e Tecnologia Espacial e o
programa de satélites CBERS, entre outros postos de gestão,
pesquisa e desenvolvimento. Nesta entrevista, Perondi fala
dos novos desafios do Programa Espacial Brasileiro e do INPE.


Qual sua visão sobre a nova política espacial brasileira?

Estão em curso iniciativas que buscam maior integração das atividades espaciais no país. O maior alinhamento entre a AEB e INPE, em particular, é de grande relevância para aumentar a eficácia do Programa Espacial Brasileiro, coordenado pela AEB. Há hoje uma conjunção de fatores que beneficiam muito o bom entendimento, a harmonia, a coesão e a eficácia no desenvolvimento de nossas atividades espaciais. O ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antônio Raupp, já foi presidente da AEB e diretor do INPE, e o atual presidente da AEB, José Raimundo Braga Coelho, também trabalhou por muitos anos no INPE. O cenário é altamente positivo para o programa espacial brasileiro. O entendimento e a articulação entre as instituições do setor são importantes para ampliar a capacidade de ação e fortalecer o sistema como um todo.

Quais as prioridades para os próximos quatro anos?

Com o apoio da AEB, devemos ampliar os programas de P&D, revigorar a infraestrutura do programa espacial no que tange ao instituto e apoiar as áreas de clima espacial, mudanças climáticas e previsão de tempo. Também vamos adotar uma política industrial para qualificar fornecedores e difundir novas tecnologias. De grande prioridade é o cumprimento do cronograma do CBERS (Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres, na sigla em inglês), importante ação do Programa Espacial Brasileiro. O CBERS-3, integrado na China, com lançamento originalmente previsto para 2008, tem, hoje, lançamento previsto para novembro próximo. O CBERS-4, que será integrado no Brasil, deve ser lançado em 2014. O INPE também dedicará grande atenção à área de Engenharia Espacial, fomentando e incentivando o desenvolvimento de projetos que permitam capacitação em tecnologias críticas.

“INPE vai
trabalhar
muito mais
com a indústria”

Quais são as perspectivas orçamentárias e de RH?

No INPE, a reposição estratégica de recursos humanos é, hoje, um desafio que exige atenção maior que até mesmo a da questão orçamentária. Precisamos contratar e treinar pessoal qualificado para repor aposentadorias e não perdermos capacitação no curto médio prazos. Levantamento recente indica que cerca de 63% do quadro de servidores poderiam se aposentar até 2020. A formação de um pesquisador ou tecnologista, para atuar com autonomia nas atividades do INPE, requer um tempo da ordem de cinco anos. Estima-se a necessidade de 200 a 300 contratações de jovens servidores nos próximos três anos, para o INPE manter capacitação que detém hoje.

Como o programa espacial mostra à sociedade que é importante para o desenvolvimento econômico e social do Brasil?

Os resultados da pesquisa de ciência e tecnologia têm que impactar o dia a dia do cidadão brasileiro. Os projetos do INPE, como parte do Programa Espacial Brasileiro, vão desde atividades de ciência básica, passando por pesquisa aplicada e desenvolvimento, até o produto. Nós não apenas buscamos a capacitação científica e tecnológica, mas também desenvolvemos as aplicações dela decorrentes. Desenvolvemos toda a engenharia de um satélite e seus instrumentos que irão gerar dados para monitorar nosso território e também ferramentas para transformar esses dados em informações relevantes em áreas como agricultura, por exemplo. Temos as atividades do CPTEC (Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos), os alertas de queimadas e eventos extremos, o monitoramento da Amazônia, a prestação de serviços a indústria nacional realizada por nossos laboratórios, entre outros. Um dos principais papéis do INPE é o de atuar como um instrumento de política industrial, exercitada através do fomento, estímulo e indução à inovação, com a qualificação de fornecedores e a contratação de serviços, partes, equipamentos e subsistemas diretamente junto a empresas nacionais.

É possível ser mais atuante no fomento à inovação na indústria nacional?

A política industrial hoje ainda se limita à contratação de empresas como fornecedoras dos programas institucionais e ações de desenvolvimento de projetos financiados com recursos de agências de fomento e fundos setoriais. No INPE, pretendemos ampliar os programas de qualificação de fornecedores de subsistemas e equipamentos para a área espacial, aumentar o número de projetos desenvolvidos em cooperação com a indústria e buscar, junto com a AEB, formas de aprimorar a difusão de conhecimentos tecnológicos, de e para o programa espacial, através, por exemplo, do estabelecimento de uma rede temática em tecnologia aeroespacial no âmbito do Sistema Brasileiro de Tecnologia (SIBRATEC). Vale destacar que um dos principais papéis do programa espacial é induzir a inovação e a melhoria da produtividade da indústria, por meio do desenvolvimento de programas especificamente voltados à transferência tecnológica das instituições públicas para as empresas.

Como o INPE se coloca frente aos desafios do desenvolvimento sustentável?

O CPTEC e o Centro de Ciência do Sistema Terrestre têm responsabilidades importantes na execução dos objetivos estratégicos da AEB e do MCTI relativos a mudanças climáticas e previsão de tempo e clima, com desafios de grande envergadura. Além das atividades desses centros do INPE, teremos articulação com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN), recentemente instalado no em área do INPE em Cachoeira Paulista. Nossa experiência em P&D nas áreas de Ciências do Sistema Terrestre, Meteorologia e Observação da Terra são fundamentais para o desenvolvimento sustentável, tendo em vista nossa capacidade de extrair e quantificar informações a partir de imagens da superfície do planeta e da atmosfera, para alimentar os modelos, a partir dos quais são geradas aplicações como os mapas de desflorestamento e de queimadas ou as previsões de tempo e clima.

Qual o papel do INPE no projeto primeiro do satélite geoestacionário brasileiro?

Junto a AEB, o INPE está apto e até ansioso para colaborar em várias fases do desenvolvimento do novo satélite. Vamos aplicar nossos conhecimentos e experiências no trabalho conjunto com a empresa Visiona, criada pela Embraer e Telebrás para desenvolver o satélite geoestacionário, que vem abrir nova e rica etapa na história das atividades espaciais no Brasil.


Fonte: Revista Espaço Brasileiro - Num. 13 – Jan – Jun de 2012 - págs. 10 e 11

Comentário: Bom leitor, após postar no blog as entrevistas do novo presidente da AEB e do novo diretor do INPE, não podia nos furtar de postar aqui a nossa opinião sobre o que nos foi passado por esses dois profissionais. É notório o grande entusiasmo que ambos passam em suas entrevistas, demonstrando estarem empenhados na busca por soluções que venham melhorar o desempenho do PEB em suas respectivas instituições. Entretanto temos de ser realistas, ou seja, bons planos e boas intenções sempre existiram em todas as instituições públicas que atuam nas atividades espaciais do país, e acredito que continuarão existindo por um bom tempo. Entretanto, o problema não está nessas instituições e nem em seus planejamentos de ação, e sim no próprio governo que sempre boicotou e atrapalhou (e ainda atrapalha e boicota) todo e qualquer planejamento desenvolvido a curto, médio e longo prazo realizado por essas mesmas instituições, ai incluído o próprio Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), tanto na área espacial como em outras áreas da ciência e tecnologia. A verdade é que o governo e a classe política desse país sempre constituiu um empecilho intransponível para o desenvolvimento da nação, buscando durante décadas seguidas privilegiar-se das benesses geradas na luta pelo poder. Assim sendo, infelizmente não compartilho do mesmo entusiasmo aqui exibido pelos senhores Leonel Fernando Perondi e José Raimundo Braga Coelho, apesar de acreditar que ambos trabalharão firmes para realizar seus objetivos. Espero sinceramente, mas não acredito, que daqui a quatro anos não estejamos repetindo a mesma ladainha de décadas quanto ao que se fazer para mudar a cara do PEB.

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