Despedida em Kiev
Olá leitor!
Segue abaixo um interessante
artigo postado ontem (15/06) no blog "Teoria de Tudo" do site do jornal “Folha de
São Paulo” dando destaque as notícias negativas saídas nesta semana sobre a
Alcântara Cyclone Space (ACS).
Duda Falcão
Despedida em Kiev
POR RAFAEL GARCIA
15/06/2012 - 15:15
Como seria o Cyclone-4, se tivesse decolado (Imagem: ACS) |
LEIO NOS JORNAIS brasileiros desta semana que
a ACS, a conturbada parceria do Brasil com a Ucrânia para lançar satélites a
partir do Maranhão, está sob risco de acabar. Anos atrás, escrevi algumas
reportagens sobre os percalços do projeto, mas um episódio que vivi em 2009 foi
o que me marcou. Em dezembro daquele ano, viajei a Brasília para entrevistar
Stanislav Konyukhov, diretor da empresa ucraniana que projetou o foguete
Cyclone-4, o veículo lançador da ACS. Fui recebido por um assessor de imprensa
que me entregou um questionário na mão:
“Esta vai ser sua entrevista”, disse. “Como
assim?”, retruquei. “Na Ucrânia, jornalismo funciona assim: você só pode fazer
as perguntas determinadas pelo diretor. Afinal, é um projeto de importância
estratégica.”
O assessor, claro, sabia que eu iria reclamar
e já tinha explicado a Konyukhov que não era preciso ter medo de mim. Ele
poderia se recusar a responder algumas de minhas perguntas se quisesse. E eu
não seria preso pelo governo caso minha reportagem o desagradasse.
O clima de segredo em que o projeto se
arrastava era algo inadequado para uma iniciativa tocada com dinheiro público.
Não era só culpa do autoritarismo soviético que ainda contamina a maneira com
que Kiev faz as coisas. Roberto Amaral (PSB-CE), ex-ministro da ciência que
dirigia a ACS, nunca deixou que jornalistas tivessem acesso ao plano de
negócios da empresa. “É para a nossa concorrência não ver”, me dizia.
Amaral idealizou o projeto quando ainda era
ministro, em 2003, discursando sobre sua importância para a soberania nacional.
Na época, a imagem do ministro já estava manchada pela entrevista na qual dera
uma declaração dúbia sobre o desejo do Brasil de produzir armas nucleares.
Entre jornalistas, a piada é que ele tinha “uma bomba na cabeça e um foguete na
mão”. Uma pessoa como essa reputação no primeiro escalão do governo era, no
mínimo, desconfortável para o Brasil, país signatário de tratados de
não-proliferação nuclear.
Ao cair do ministério, porém, Amaral foi
presenteado por Lula com a diretoria da ACS, e o projeto continuou sendo tocado
aos trancos e barrancos. A empresa, que perdeu uma disputa por território com
comunidades quilombolas em Alcântara (MA), ganhou um terreno na base local da
Aeronáutica, mas teve atrasos por causa de problemas com licenciamento
ambiental e da demora do governo falido da Ucrânia em repassar sua parte do
dinheiro. Os problemas que podem selar o destino da empresa, porém, são outros
dois, conforme relata reportagem do
incansável Claudio Angelo.
Um deles é a falta de um acordo de
salvaguardas tecnológicas do Brasil com os EUA para impedir que satélites
comerciais sejam vistoriados em Alcântara e acabem sendo “copiados” (quase
todos os satélites têm peças americanas). Ironicamente, o Brasil negociava tal
acordo em 2003, mas o próprio Amaral trabalhou para sabotar sua aprovação,
alegando, também, questão de soberania. O ex-ministro mudou de ideia depois,
claro, mas o acordo continua emperrado.
O outro problema que a ACS enfrenta agora é a
revisão, para baixo, da perspectiva de lucro. Amaral estimava fazer sete
lançamentos de satélites comerciais por ano, mas a nova diretoria da empresa
fala em, no máximo, cinco. Quando contabilizados os gastos imprevistos que
tornaram o projeto dez vezes mais caro que
a estimativa inicial, fica difícil saber quando a empresa vai recuperar o
investimento.
O governo brasileiro tem agora duas opções:
ou injeta R$ 536 milhões extras para fazer o projeto decolar com pouca
perspectiva de lucro, ou desiste de tudo e vê ir por água abaixo os R$ 197
milhões já investidos.
Caso decida salvar a ACS, é preciso levar em
conta também o custo político de continuar fazendo negócio com a Ucrânia, país
onde as instituições democráticas estão em crise. A ex-premiê Yulia Tymoshenko,
que assinou acordos científicos com Lula, é hoje prisioneira política após o
partido rival ter ganho uma eleição suspeita de fraude. Foi condenada a sete
anos de prisão por improbidade administrativa num julgamento de fachada
criticado pela ONU e pela UE.
Ainda assim, diplomaticamente talvez seja difícil
demais para o Brasil pular fora do projeto da ACS agora. A falta de
transparência impediu que uma decisão mais informada pudesse ter sido tomada
antes. Se a empresa binacional naufragar por razões técnicas ou financeiras,
porém, Brasília não sentirá saudades de Kiev.
Fonte: Site do Jornal
Folha de São Paulo - 15/06/2012
Comentário:
Diz o autor: “A falta de transparência impediu que uma decisão mais informada
pudesse ter sido tomada antes”. Não posso concordar com essa colocação do
autor. Na verdade o que faltou foi vergonha na cara e ouvir quem é do ramo e
não políticos mal intencionados, despreparados, de reconhecida incompetência, e
de massa cinzenta menor do que um grão de feijão. Se tivessem ouvido o COMAER,
o Ministério da Defesa e a Comunidade Científica, esse acordo jamais teria sido
realizado com a Ucrânia, e hoje não estaríamos nessa situação. Gostaríamos de
agradecer ao leitor Heverton Coneglian
pelo envio desse artigo.
ao inves de encerrar essa empresa de uma so vez, nos podiamos nos comprometer a pagar a parte da Ucrâniano acordo e eles transferirem toda a tecnologia do cyclone-4 pra nos se a Dilma quiser levar esse acordo pra frente e for esperta ela vai no minimo fazer isso ne.
ResponderExcluirOlá Persona!
ResponderExcluirEspero que não e torço para que esse pesadelo acabe mesmo em setembro. Do Cyclone-4 pouco se aproveitaria que já não possamos fazer aqui no Brasil se o governo tivesse seriedade. Devo lhe lembrar que esse foguete é nada mais, nada menos que um lixo tóxico.
Abs
Duda Falcão
(Blog Brazilian Space)
Senhores, pensem um pouco. O valor da construção do "Itaquerão" é maior. E ninguém cogitou a ideia de suspender a construção que, ao contrário do que se diz, tem dinheiro público.
ResponderExcluirO investimento da ACS é de fato investimento. Mesmo com a turbulência na Ucrânia.
E aí, mano?
ExcluirPoderia terminar o sítio e dar outro fim. Servir pro VLS-beta e superiores. Espero uma parceria entre Embraer e Avibras no ramo de foguetes. Quem sabe?
Olá Emerson!
ExcluirOs prédios que já estão em construção se finalizados certamente poderiam ser utilizados pelo COMAER. No entanto, é preciso que se entenda que essa conversa toda de fim da ACS por enquanto é ainda pura especulação.
Abs
Duda Falcão
(Blog Brazilian Space)
Caro Denio Robson!
ResponderExcluirPercebe-se que você desconhece o assunto, já que o problema não é esse, e sim o fato desse acordo ser um péssimo negócio para o país em todos os sentidos.
Abs
Duda Falcão
(Blog Brazilian Space)
Duda
ResponderExcluirAcho que este acordo só pode permanecer se houver desenvolvimento conjunto (com transferencia de tecnologia para fazer AQUI no Brasil) de um veículo maior que o Cyclone-4 (com mais de 5 ton. GEO : filé do mercado), usando querosene nos 2 primeiros estágios, ao invés de Hydrazyna.
Mas sem enrolação : começar já.
Essa história "que vamos estudar", não !
Ou se não, indenizar os ucranianos e fazer algo com os russos.
Fazer sozinho um lançador deste porte é inviável.
Olá Iurikorolev!
ResponderExcluirNão é só isso amigo, seria preciso que o novo acordo transformasse a ACS em uma empresa de capital misto (privado e público) sob a direção de executivos preparados e não políticos, e principalmente que o Brasil e EUA assinassem e ratificassem um acordo de Salvaguardas tecnológicas. Se não, de nada adiantaria, a não ser para atender as necessidades brasileiras e ucranianas, o que é muito pouco comercialmente falando. Aliás é preciso dizer também que o uso comercial do futuro VLM-1 ou de qualquer lançador desenvolvido no Brasil também passa pelo problema da falta desse acordo de salvaguardas tecnológicas com os EUA.
Abs
Duda Falcão
(Blog Brazilian Space)
Olá, amigos.
ResponderExcluirEu, com certeza, torço p/ o fim desse desastre econômico/político/tecnológico chamado ACS. Entretanto, fica a pergunta: o q acontecerá c/ os recursos financeiros alocados p/ esse projeto e c/ as obras já em andamento p/ o sítio de lancamento, entre outros? Como aproveitar esses recursos em benefícios dos nossos projetos?
Vi, nos comentários, menção aos lançadores de alta capacidade p/ órbitas geoestacionárias serem o filé. Porém, lembro q c/ a miniaturização de componentes e melhor eficiência, os pequenos satélites poderão se tornar o grande filão desse negócio. Veja esse artigo: http://www.defesanet.com.br/space/noticia/6459/Russia-aposta-em-satelites-pequenos.
Abs,
Élvio
Olá Élvio!
ResponderExcluirRealmente esse novo nicho de mercado irá crescer nos próximos anos, mas somente para certos casos específicos que não incluem os satélites geoestacionários de comunicações e meteorológicos. Para esse novo nicho o Brasil já está se preparando com o VLM-1 e suas derivações, mas necessitará de veículos lançadores maiores para atender cargas úteis como o Satélite SGB, ou seja, algo em torno de 5 a 6 mil toneladas.
Abs
Duda Falcão
(Blog Brazilian Space)
1)Penso que transformar a ACS em uma empresa de capital misto (privado e público) não resolve a questão, nem é necessário.
ResponderExcluirO Brasil já teve exemplos de estatais mistas que eram ineficientes, e estatais de capital 100 % publico que são eficientes (veja a CEF).
Cada caso é um caso. Depende de como vc administra.
Ela não é uma estatal comum, é uma binacional, daí uma grande vantagem.(um país fiscaliza o outro)
Ela poderia contratar sua diretoria entre os executivos do mercado, sem nenhum problema.
Os 2 Governos poderiam apenas manter membros no conselho de Administração ou no Conselho Fiscal.
2)O que vc chama de "acordo de Salvaguardas tecnológicas."
É aquele que não permite que o Brasil absorva tecnologia ?
Abrs
Olá Iurikorolev!
ResponderExcluirQueria que as coisas fossem simples assim como você visualiza, mas infelizmente não é. O desempenho público administrativo brasileiro é um dos mais baixos do mundo, mesmo em áreas que não envolvem tanta tecnologia, chega até ser sofrível, e achar que uma empresa pública brasileira, sob a direção de políticos, sobre a influência de interesses políticos (os mesmos que a geraram), será capaz de enfrentar um mercado estabelecido, pequeno, eficiente e altamente competitivo como o mercado internacional de lançamentos de satélites é pura fantasia. Não é atoa que as empresas do setor jamais levaram a ACS a sério. Quanto ao acordo de Salvaguardas ele é necessário nessa área comercial devido o fato de 75% das cargas úteis (satélites e sondas espaciais) lançadas ao espaço hoje em dia, ou são americanas ou utilizam equipamentos e subsistemas de origem americana. Assim sendo, sem o acordo nenhuma carga nessas condições poderá ser lançada por um foguete brasileiro ou bi-nacional, o que inviabiliza a operacionalidade da empresa. Uma coisa que não se tem falado na mídia é que essa mesma situação vale não só para o Cyclone-4, como também para o VLS-1 ou mesmo VLM-1, caso ambos venham ser utilizados nesse mercado. Dito de outra forma, caso o Brasil um dia queira atuar no mercado internacional de lançamento comerciais, irá necessitar desse acordo.
Abs
Duda Falcão
(Blog Brazilian Space)
Duda, não sei qual a sua experiencia profissional, mas penso que conheço bastante o mundo empresarial do Brasil, inclusive as estatais. Acredito que tenha bem mais experiencia que vc.
ResponderExcluirRealmente, falou em estatal, falou em ineficiencia.
E não só : roubalheira também.
Isso é verdade em qualquer parte do mundo, mesmo no hemisf. Norte.
Isso que vc quer para a ACS só funcionaria se fosse 100% empresa privada.
O problema é convencer alguém investir em espaço, que pelo que sei em termos de grana não é bom investimento.
Por esta razão o karma do setor espacial é este.
Só existe com iniciativa do Estado.
Estão criando nos EUA as 1as empresas de turismo espacial, mas só lá mesmo e mesmo assim creio que é bem mais rentável investir na Coca Cola ou na Apple rsrsrsrs
Caro Iurikorolev!
ResponderExcluirA eficiência publica não é utopia, e ela existe em vários países do mundo e em várias áreas, mesmo em países de origem latina, como a França. Países como a Suécia, Suíça, Bélgica, Alemanha, Reino Unido, Austrália e tantos outros, mesmo nos EUA (com algumas exceções como na área de saúde) ela funciona muito bem, mas isso acontece principalmente devido a cultura. No Brasil, o desempenho público é desastroso, não só pela má administração, incompetência, corrupção, mas também pela influência política danosa e irresponsável da classe política nas administrações dessas empresas, prática usual mais que centenária em nossa sociedade. Não estou dizendo que um empresa 100% privada não seria um opção melhor, mas como você mesmo disse hoje isso ainda não é possível. Por conta disso, uma empresa de capital misto é hoje uma melhor opção, desde que a mesma seja controlada pela parte privada do negócio e o poder de veto do governo se resuma a não permitir a venda da empresa para estrangeiros. O caso da Visiona é um avanço, mas em minha opinião o tipo de poder de veto do governo e o fato da mesma está dividida entre apenas uma empresa privada e o governo (quando deveria ser um consórcio de empresas realmente brasileiras do setor aeroespacial) pode facilitar negociatas e diminuir a eficiência da mesma.
Abs
Duda Falcão
(Blog Brazilian Space)
Bem, uma coisa pelo menos sei dessa ACS : ela foi construída no Brasil. Os investimentos em infraestrutura não se perderão.
ResponderExcluirSe ela falir, vai cada um para o seu lado e ficamos com a infraestrutura aqui.
DEpois a gente vê o que faz com ela.
Algo com os russos, sei lá.
Os ucranianos a gente indeniza com titulos federais resgatáveis em 20 anos.
Po, mas pelo menos até lá eles recebem os juros...rs
ou se não, não indeniza p... nenhuma.
Eles vão ver o que é lidar com brasileiro...rsrsrsrsrrs
Imagine se no voo de qualificação esse troço explode. Quanta contaminação por hidrazina teríamos. Lembrando que na União Soviética, Korolev combateu Glushko, pois mesmo Glushko sendo o melhor projetista de motores de foguetes, Korolev não aceitava o uso de combustíveis altamente tóxicos nos foguetes. O resultado foi que em uma das tentativas de Glushko, a Ultradimetil Hidrazina e Tetróxido de nitrogênio provocaram um desastre, matando os técnicos que trabalhavam na montagem do foguete na rampa de lançamento. Com mais investimento o Brasil poderia utilizar uns cachos de L15 e lançar cargas úteis ao espaço. Poderia mesclar um cluster de S50 no primeiro estágio e segundo e terceiro líquidos, numa versão evoluída do VLM-1.
ResponderExcluirIsso também é outra coisa que teremos de aguardar para vê Iurikorolev. Caso em setembro a presidente DILMA dê fim nesse pesadelo (o que não acreditamos) a obra do sitio ainda não estará pronta e necessitará de muitos recursos ainda para sua finalização. Em outras palavras, podem acabar se deteriorando abandonadas até que se tenha algum interesse nelas.
ResponderExcluirAbs
Duda Falcão
(Blog Brazilian Space)
Pois é Emerson!
ResponderExcluirMas a contaminação não virá só com a explosão, mesmo que não exploda o uso do foguete já contaminará a região.
Abs
Duda Falcão
(Blog Brazilian Space)
ola querido Duda, espero que já esteja melhor.
ResponderExcluirnao vou mentir, depois de tanto visitar seu blog, de saber do perigo que essa bomba poderia trazer ao nosso meio-ambiente -- nem consigo imaginar ter chuva acida aq pq de um Foguete estrangeiro! seria o cumulo. pois é, nao minto, o dinheiro deve ir mesmo para o ralo -- alias, como quase tudo vai aq o Brasil, ja estamos até acostumados -- doq esse desastre aportar por aq. sem contar q aumentaremos o investimento nos Nossos programas -- o VLS, o projeto SARA, o projeto dos lasers com o usa, o 14X; o VLM msm tenho grande confiança e orgulho pela parceria com a alemanha.
bom, tomara q o negocio trave msm, para o nosso proprio bem.
ps:isso mostra q corrupção nao existe so entre os nossos.
abraços a todos!
Olá Tassio!
ResponderExcluirJá estou melhor sim amigo, obrigado. Pois é Tassio, a esperança de todos que que a presidente DILMA tenha juízo e dê um fim nesse pesadelo, mas sinceramente não acredito nisso. Minha aposta é que ela infelizmente irá seguir com o acordo ou empurrar o problema para o próximo governo cozinhando o acordo.
Abs
Duda Falcão
(Blog Brazilian Space)