Bilhões Em Jogo: Brasil Já Negocia Para Lançar Microssatélites em Alcântara
Olá leitor!
Segue abaixo uma notícia postada hoje (21/01) no site de
tecnologia ‘Tilt’ do Portal UOL, destacando que Brasil já negocia para lançar
microssatélites em Alcântara.
Duda Falcão
NEGÓCIOS
Bilhões Em Jogo: Brasil Já Negocia Para Lançar Microssatélites
em Alcântara
Por Carlos Madeiro
Colaboração para Tilt
21/01/2020 - 04h00
Imagem: AEB/Divulgação
Centro de Lançamento de Alcântara (MA) mudará até de nome
para abraçar novos negócios.
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Sem Tempo, Irmão
* AEB já negocia com empresas estrangeiras interessadas
em usar centro de Alcântara
* Acordo aprovado no Senado permite uso comercial da base
situada no Maranhão
* Mercado de lançamentos de satélites movimenta trilhões
e Brasil quer abocanhar parte
* Há a expectativa de que surja um hub de empresas do
setor aeroespacial na região
* Alguns especialistas não veem viabilidade em criação de
ecossistema de empresas na região
A AEB (Agência Espacial Brasileira) está negociando com
empresas estrangeiras que demonstraram interesse em utilizar o CLA (Centro de
Lançamento de Alcântara), no Maranhão, para lançamento de microssatélites. De
olho em um mercado bilionário - e que deve triplicar de faturamento em duas
décadas -, o Brasil tenta se posicionar como polo lançador de pequenos
foguetes, apoiado pela localização estratégica do centro. Até por conta disso,
o CLA vai mudar de nome e será chamado de CEA (Centro Espacial de Alcântara).
Em novembro do ano passado, o Senado aprovou o Acordo de
Salvaguardas Tecnológicas para uso da base espacial de Alcântara, o que permite
o uso comercial do local. Com isso, o Brasil pode receber empresas e entrar no
mercado espacial, que movimenta hoje em torno de US$ 350 bilhões (R$ 1,5
trilhão) ao ano. Segundo a AEB, esse mercado deve alcançar US$ 1 trilhão (R$
4,4 trilhões) em 2040. A ideia "conservadora" do Brasil é fisgar ao
menos 1% desses negócios - ou seja, US$ 10 bilhões (R$ 44 bilhões) por ano a
partir de 2040.
Ao Tilt, o presidente da AEB, Carlos Augusto Teixeira de
Moura, afirmou que o Brasil já está em negociações com empresas, de pequeno e
grande porte, para uso do centro para lançar pequenos satélites. A ideia é que
existam acordos fechados em breve.
“Com o acordo passamos a ter conversas mais práticas.
Estamos vendo o que seria viável fazer em Alcântara. Saímos da fase de
especulação. Não posso divulgar nomes, mas existe, por exemplo, um grupo forte
querendo se instalar em Alcântara para lançamentos de grande porte. Estamos
abertos a todas as possibilidades.
Carlos Augusto Teixeira de Moura. presidente da AEB”
Alcântara é um dos melhores locais do mundo para lançamento
de foguetes por conta da localização: próxima à linha do Equador, ela faz com
que os custos sejam até 30% menores com a boa capacidade angular de órbitas.
Moura diz que, apesar de Alcântara não descartar projetos
maiores, o nicho a ser explorado neste primeiro momento são os pequenos
satélites de órbita baixa. "A gente quer demonstrar que Alcântara é um
local privilegiado e, viável", explica.
Qual a Estrutura do CLA
O CLA está preparado hoje para lançamento de pequenos
satélites, com até 200 kgs, para órbita baixa a média - a cerca de 600 km de
altitude. "Alcântara está preparado para lançar foguete de 50, 100
toneladas no máximo", diz o presidente da AEB.
Com essa estrutura, o centro pode receber empresas que
não precisariam adaptar nada. "Ela traz o foguete, chega lá nas áreas de
plataformas de lançamento e pronto. O restante (radares, aparelhos de
meteorologia, tecnologia) já temos", conta.
Com essa possibilidade, a AEB acredita que as negociações
podem render negócios fechados rapidamente. Caso isso ocorra, a movimentação no
centro levaria a um ecossistema de empresas do setor na região.
"No caso de Alcântara, vamos desenvolver um serviço
de lançamento espacial. Só que esses serviços precisam de uma série de apoios:
propelentes, querosene, oxigênio, hidrogênio etc.. Então esse serviço espacial
será o grande chamariz, vai necessitar de um conjunto muito grande de coisas. O
centro de lançamento plenamente operacional vai desenvolver a região, pois
vamos ter investirmos para ter técnicos bons, logística, energia", diz.
Mercado Bilionário
Segundo Dino Lincoln, professor de pós-graduação em
design e engenharia aeroespacial da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do
Norte), o mercado que o Brasil se lança é o mais promissor da área espacial.
"Aquele mercado de grandes satélites, mais pesados,
vai entrar em crise nos próximos anos, em contraste com os microssatélites.
Hoje em dia, com o avanço da tecnologia, a gente consegue miniaturizar melhor
os componentes. Então eles vão ser a próximo onde do mercado, vai girar em
torno de R$ 320 bilhões por ano", afirma.
Para ele, o número de satélites no espaço vai crescer em
grande número. "Para você ter uma ideia, temos hoje 2.500 satélites em
órbita. Nas próximas décadas, só a SpaceX quer lançar 42 mil. Esse mercado vai
pipocar nas próximas décadas. Não é coisa de um ano ou dois; é o mercado do futuro",
opina.
Formação Local
De olho no mercado aeroespacial que o Maranhão deve ter,
a UFMA lançou em 2018, em parceria com o CLA e com o ITA (Instituto Tecnológico
de Aeronáutica), um curso de graduação em engenharia aeroespacial.
Segundo o coordenador do curso, Carlos Brito, a criação
do ecossistema deve gerar uma série de oportunidades para os alunos na área. A
primeira turma deve se formar em 2023.
"O que é mais interessante nesse projeto é a
possibilidade de ter pequenas empresas participantes. Com isso, podem surgir
startups. Acredito que é aí que os cursos de engenharia e tecnologia do nosso
Estado devem atuar: na formação de alunos que tenham capacidade de serem
empreendedores, tenham suas microempresas", diz.
Existem discordâncias Apesar das vantagens apresentadas
pela AEB e por alguns especialistas, há pesquisadores que questionam o projeto.
José Dias, professor da UFRN e doutor em Astrofísica e
Técnicas Espaciais da Universidade Paul Sabatier, na França, afirma que o
projeto brasileiro "tem tudo para não dar certo.".
“Essa estratégia de rede num local longínquo não é
propício, não gera um parque naturalmente
José Dias, professor da UFRN e doutor em Astrofísica e
Técnicas Espaciais da Universidade Paul Sabatier, na França.”
"Primeiro pelo acesso, já que viajar não é coisa
simples. Mas o ponto principal, que alguns cientistas questionam, é que a
indústria de componentes espaciais possui qualificações muito exigentes. Não
faz sentido montar uma fábrica de componentes, por exemplo, próximo de onde um
foguete é lançado. Isso não existe em lugar nenhum do mundo. Por exemplo: o
centro espacial é na Guiana Francesa, e a fábrica é em Toulouse, na França,
próxima das grandes universidades", explica.
Para ele, devem se instalar na região de Alcântara apenas
empresas de serviço. "Por exemplo: empreiteiras, indústria de alimentos,
de limpeza; ou seja, uma cadeia secundária à atividade espacial", explica.
Outro ponto que ainda precisará ser resolvido é o litígio com os moradores da maior área quilombola de Alcântara, que está com processo
de titulação parado há 11 anos. A comunidade local é contra a ideia de expansão
do centro em detrimento a retirada de moradores do local. Em abril do ano
passado, quilombolas apresentaram à OIT (Organização Internacional do Trabalho)uma queixa formal contra o Estado brasileiro por violações diante dos planos de
expansão da base.
Segundo o presidente da AEB, não está prevista a
ampliação de área nesse momento. "Nosso foco prioritário, nosso nicho
preferencial, são pequenos satélites, pequenos lançadores. Isso podemos fazer
com a área que o CLA já ocupa", afirma.
Carlos Moura ainda questiona outro ponto levantado, de
que o acordo traria riscos à soberania nacional. "O acordo é muito claro
em dizer que o Brasil continua responsável pelo centro. A única coisa que
estamos declarando - e nossas leis já dizem isso - é que podem operar lá. É
como um aeroporto, que recebe voos de empresas internacionais. Não há qualquer
comprometimento de soberania ou de propriedade intelectual", finaliza.
Fonte: Site Tilt do UOL - https://www.uol.com.br/tilt
Comentário: Bom leitor, se essa notícia tiver veracidade,
é uma grande notícia sem dúvida nenhuma, mas por um outro lado me deixa a desconfiança
de que o governo irá empurrar a questão do Veículo Lançador de Satélites Brasileiro
para um segundo plano, transformando o país (CLA) num simples sitio de lançamento
de foguetes estrangeiros. Infelizmente não sinto até o momento por parte do MCTIC, nem da
AEB, e muito menos do Presidente Bolsonaro o firme propósito de finalmente dotar
o país de um Veículo Lançador de Satélites, condição ‘sine qua non’ para que
sejamos um player de voz ativa nos próximos anos nas decisões relativas aos
espaço, como justamente aconteceu na questão Antártica décadas atrás. Não vejo
no Governo Bolsonaro nenhuma movimentação nesta direção, como ocorreu no ano
passado, tanto na questão da Nova Base Comandante Ferraz como na questão do
Projeto Sirus. Infelizmente o que se vê é muito Blá-Blá-Blá e o tempo passando.
Tá feia a coisa amigo leitor, e não estranhem se daqui há algum tempo aparecer alguém
dizendo que o governo desistiu.
O acordo de salvaguardas está sendo encarado por parte do governo e da mídia de uma maneira errônea, o melhor do acordo é possibilidade de lançar artefatos com tecnologia americana a partir do CLA e não um aluguel simples de uma área, neste momento deveríamos estar incentivando a indústria nacional a novos projetos, principalmente na área satelital, e por outra lado acelerar o desenvolvimento do nosso lançador de satélites para cargas menores e órbitas baixas, deixando essa faixa de lançamento exclusivo para o nosso lançador, criando um mix por exemplo:
ResponderExcluirLançamentos para órbita baixa e pequenas cargas: VLM/AQUILA
Lançamentos para órbitas polares: Soyus
Lançamentos para órbitas geoestacionárias: SpaceX
Se aceitarmos que outra empresa estrangeira use o CLA para lançamentos em orbitas equatoriais e baixas, inviabilizaremos comercialmente qualquer lançador nacional para o segmento.
enfim
Eu acho que isso é um assunto morto no governo Duda, eles, no máximo, vão enrolar com aquele VLM, isso se sair, mas a tendência é que nos transformemos em um locador de espaço para empresas de outros países lançarem seus lançadores do Brasil
ResponderExcluirHá muito tempo a possível exploração comercial para lançamentos a partir de Alcântara se tornou a “Pedra Filosofal” que vai resolver todos os problemas do PEB.
ResponderExcluirCom a aprovação do AST, essa visão simplista e ingênua, propositalmente divulgada e superestimada em termos de resultados, vem sendo propagada aos 7 ventos como a bala de prata do nosso programa espacial que romperá o ciclo vicioso retroalimentado (má gestão e governança -> desperdício de tempo e recursos -> poucas entregas -> menos credibilidade -> menos recursos orçamentários -> má gestão e governança -> ...), pelo lado da injeção de recursos orçamentários, como se a má gestão / governança fosse fruto disso e não o inverso.
Quando se divulga números, mostram os valores de receitas (super)estimadas, para agradar os olhos grandes, mas omite-se os investimentos necessários para isso poder vir a ocorrer, inclusive com a insistência de se manter uma gestão operacional estatizada totalmente Old Space, que faz o Brasil seguir na contramão do mundo.
Em verdade, esses recursos vão demorar de 3 a 5 anos para começarem a pagar pela manutenção do centro, e quem sabe talvez, se pagar daqui a uns 10 a 15 anos, sem contar com futuros reinvestimentos e ampliações do CLA.
Alcântara é muito vantajosa para órbitas equatoriais ou de baixa inclinação (até uns 50 graus), mas, a partir daí, não compensa a logística de transporte de equipamentos e pessoal para lançar do CLA. Para que isso ocorresse seria necessário ter um preço por lançamento (e demais serviços correlatos) muito agressivos (para não dizer subsidiados) de modo a compensar a operação.
O mercado natural para Alcântara é o de órbitas altas (geoestacionárias), missões de injeção trans-lunar ou trans-marcianas, mas aí tem a concorrência com Kourou (com só 3 graus de diferença para o Equador em relação ao CLA), que já possui infra e logística bem estabelecidas para esse segmento, diferentemente do CLA.
Para órbitas polares ou de alta inclinação (que corresponde a mais de 70% das trajetórias de missões satelitais) não há vantagem em lançar de Alcântara.
Além disso, esse potencial mercado de microlançadores vai se fechar mais ainda com a entrada em operação do espaçoporto do Açores, próximo da Europa e rota entre os mercados americanos e europeu, o que demanda um estudo criterioso e um posicionamento no nicho de mercado preciso, para não ficar fora dos anseios da industria de lançamentos mundial.
Em termos de parcerias, o mais natural e viável seria com Israel, com o lançamento do Shavit a partir do CLA que, dado o alinhamento político atual com o Brasil, poderia permitir uma transferência de tecnologia. Além disso, em missões muito específicas, poderia realizar o lançamento de VLs do Japão ou Coreia do Sul, por exemplo.