O Que Falta Para Termos Mais Satélites 100% Brasileiros no Espaço?
Olá leitor!
Segue abaixo uma notícia postada hoje (31/11) no site da
“Revista Galileu”, destacando o que segundo a revista falta para termos mais Satélites
100% Brasileiros no espaço.
Duda Falcão
TECNOLOGIA
O Que Falta Para Termos Mais Satélites 100% Brasileiros
no Espaço?
O Brasil tem hoje 17 satélites artificiais ativos, todos
feitos ou operados em parceria com outros países. Ter tecnologia espacial
própria significa maior autonomia, segurança e desenvolvimento econômico
Por Marília Marasciulo
Revista Galileu
31 Jan 2020 - 17h29
Atualizado em 31 Jan 2020 - 17h33
(Foto: PIRO4D/Pixabay)
Brasil ainda avança em tecnologia de satélites.
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Existem hoje cerca de 20.232 objetos lançados pela
humanidade no espaço.
Neste exato momento, pouco mais de 2 mil devem estar cruzando o céu acima de
sua cabeça. E há uma grande chance de um deles ser um satélite artificial
ativo: no total, há cerca de 2.200 orbitando a Terra, possibilitando desde o
mapeamento de territórios e previsão do tempo até as telecomunicações.
Mas, de todos esses, somente nove são brasileiros — sendo
que apenas seis são satélites grandes (os outros são nanossatélites, usados
principalmente para fins educacionais). Em 2020, porém, um novo satélite
fabricado no país deve aumentar nosso portfólio. A expectativa é que o Amazônia-1,
primeiro satélite de monitoramento inteiramente desenvolvido pelo Brasil, seja
lançado de uma base na Índia, em setembro.
Em desenvolvimento desde 2001, o Amazônia-1 ficará em
órbita a 752 quilômetros da Terra, e terá como funções principais a observação
da vegetação amazônica, da Mata Atlântica, do Pantanal, além da região costeira
e bacias internas.
(Foto: Divulgação/INPE)
Amazonia-1, que será lançado em 2020, é o primeiro
satélite brasileiro.
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Mas, como dá para perceber pela nossa representatividade
em órbita, o Brasil ainda engatinha quando o assunto são satélites. “O programa
espacial brasileiro é modesto, não se compara com o dos Estados Unidos e da
China, que investem bilhões”, diz o engenheiro Marco Chamon, coordenador geral
de engenharia e tecnologia espacial no Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE).
A título de comparação, enquanto a NASA sozinha tem um
orçamento de cerca de US$ 20 bilhões, o de todo programa brasileiro não passa
de US$ 30 milhões.
O país tem hoje três tipos de satélites no espaço: os de
coleta de dados, identificados pela sigla SCD; os de sensoriamento remoto da
linha CBERS, uma parceria com a China que completou 31 anos em 2019; e um
geoestacionário de defesa e comunicação estratégica (SGDC), lançado em 2017
junto com a França.
Os Riscos da Dependência
Ter os próprios satélites é importante por diversos
motivos. Um dos principais é para a autonomia do país. “A dependência de
tecnologias externas é perigosa”, adverte Chamon. Ele lembra um episódio
histórico que ocorreu durante a Guerra das Malvinas, travada entre Argentina e
Reino Unido, em 1982. O Brasil, que nunca teve os próprios satélites
meteorológicos e, por isso, faz a previsão do tempo baseada em dados obtidos
gratuitamente de satélites estrangeiros, teve o acesso aos números bloqueado
pelos Estados Unidos. O país, que era aliado do Reino Unido, desconfiou que os
brasileiros estariam enviando dados aos argentinos.
Além dos riscos de depender de outras nações para
ferramentas cruciais ao desenvolvimento da nação, o pouco alcance da cobertura
também pode se tornar um entrave para resolver problemas internos importantes.
Um exemplo recente foi o do vazamento
de óleo no mar que atingiu a costa nordestina no segundo semestre de 2019.
As manchas poderiam ter sido detectadas – e controladas – muito antes se o país
tivesse um satélite-radar monitorando sua costa.
“Nós compramos imagens, mas [se tivéssemos nossos
próprios satélites] em situações de emergência poderíamos direcionar nossos
satélites para elas”, observa Chamon. Ele ressalta que existe um acordo mútuo
entre as nações de fornecer imagens em situações de emergência, como tsunamis
ou os atuais incêndios
na Austrália. “Mas não se vive só de perigo, queimadas e desastres, temos
também a agricultura, entre outras atividades que poderiam se beneficiar da tecnologia”,
completa.
A Grama do Vizinho é Mais Cara
Um dos maiores empecilhos para que o Brasil tenha seus
próprios satélites ainda são os altos custos para se construir um. Com seus 630
quilos, o Amazônia-1, por exemplo, custou R$ 300 milhões e exigirá mais US$ 25
milhões para ser inaugurado. Já o SGDC, lançado em 2017, pesa quase 6 toneladas
e custou R$ 2,8 bilhões. “Eles são caros, pois são feitos para durar bastante,
não podemos arriscar. Compramos tudo do bom e do melhor, e até coisas
duplicadas, para garantir que funcione”, comenta Chamon.
E, na maioria das vezes, o “do bom e do melhor” não é
feito no Brasil. Basta olhar para Amazônia-1: 30% dos componentes são
estrangeiros, entre eles o circuito integrado e os microprocessadores. O INPE
argumenta que o país ainda não tem tecnologia e indústria própria para fabricar
tudo — inclusive, um dos motivos para tamanha demora na fabricação do
Amazônia-1 teria sido a opção por maximizar a participação da indústria
nacional, tornando o processo mais devagar do que esperavam.
No entanto, na visão de Márcia Mantelli, professora de
Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o INPE
erra ao ignorar o trabalho feito nas universidades. Nos Estados Unidos, que têm
o maior número de satélites ativos e grandes investimentos em pesquisa
espacial, as universidades
têm um papel importante no desenvolvimento de tecnologia e inovação para a
área. “O INPE não leva as universidades a sério, diz que nosso trabalho não tem
qualificação”, diz. “Nós somos mais reconhecidos fora do Brasil do que dentro.”
Mantelli desenvolve tubos de calor em um dos laboratórios
da UFSC. Esses equipamentos são fundamentais para o controle de temperatura do
satélite, mas hoje são usados pela indústria petrolífera e aeronáutica. “O
Brasil compra tubos de calor de fora [para os satélites], porque nosso
principal cliente não acredita na gente, quem acredita é o setor privado”,
argumenta a professora.
Para o Caro Sair (Um Pouco Mais) Barato
É também da UFSC o cubesat, uma miniatura de satélite em
formato de cubo com 10 centímetros de cada lado e massa de até 1,33 quilo.
Lançado no fim de 2019 “de carona” no CBERS-4A, é o mais recente satélite da
série CBERS da parceria sino-brasileira. Batizado FloripaSat, ele foi
inteiramente desenvolvido por cerca de 40 estudantes da universidade, que desde
2012 trabalham no projeto.
(Foto: Divulgação/UFSC)
Réplica do FloripaSat, satélite miniatura desenvolvido
por estudantes da UFSC.
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Claro que, com o tamanho limitado, as funções do
FloripaSat também são restritas: por enquanto, a ideia é apenas monitorar seu
funcionamento para validar a tecnologia criada pelos estudantes. “Esse é nosso
maior diferencial, poderíamos ter comprado placas prontas, mas optamos por
desenvolver tudo aqui”, diz o engenheiro mecânico Edemar Morsch Filho,
doutorando no Programa de Pós-graduação em Engenharia Mecânica e líder da
equipe de montagem, integração e teste da missão. Ele estima que isso tenha
gerado uma economia de R$ 500 mil na construção do satélite, que custou R$ 300
mil, mais os US$ 70 mil para o lançamento.
E, talvez ainda mais importante do que o fator preço,
seja o treinamento de pessoas qualificadas para pesquisas espaciais. Ter uma
equipe capaz de desenvolver a tecnologia, como a de Morsch, é essencial para
não depender da importação de peças. O engenheiro explica que entidades
estrangeiras podem proibir a compra numa tentativa de barrar o desenvolvimento
alheio. “Se alguém resolve cortar, já era”, diz Morsch.
Investimento Que Compensa
A UFSC não é a única universidade brasileira a participar
do desenvolvimento de um cubesat. Esta modalidade de satélites, aliás, foi
criada no fim dos anos 1990 com a intenção justamente de inserir universidades
do mundo todo nas atividades práticas da exploração espacial. O primeiro modelo
lançado pelo Brasil, o NanosatC-Br1, foi desenvolvido em parceria com a
Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul.
Em 2015, um consórcio acadêmico das universidade de
Brasília (UnB), Federal do ABC (UFABC), Federal de Minas Gerais (UFMG), a
própria UFSC, além de parceiros estrangeiros, participou do desenvolvimento do
Serpens, um cubesat destinado a pesquisas e experimentos.
Marco Chamon, do INPE, concorda que as universidades
brasileiras não estão suficientemente envolvidas no programa espacial. “Tanto
que quando temos algo como o FloripaSat, praticamente inédito, comemoramos; se
fosse algo normal, não comemoraríamos”, diz. Mesmo assim, ele pondera, para
satélites grandes a prioridade é por tecnologias mais antigas e confiáveis, em
vez de apostar em novidades. “Fica difícil fazer recall para satélite
depois de lançado”, brinca.
Fato é que, seja para tecnologias antigas, seja para as
novas, temos muito o que avançar. E, ainda que os investimentos pareçam altos
demais, eles compensam: o desenvolvimento de satélites cria uma cadeia de
benefícios não só na área espacial, mas em diversos segmentos da economia. “Nós
até fazemos muito com pouco. Sob esse aspecto somos muito eficientes, e
construímos boas bases para avançarmos”, analisa o engenheiro do INPE. A
professora da UFSC concorda com ele neste ponto. “Não nos falta criatividade
nem competitividade; falta estabilidade [para pesquisas e inovação]”,
afirma.
OS SATÉLITES E SUAS ÓRBITAS
Satélites artificiais têm as mais variadas funções e
são distribuídos em órbitas diversas. Entenda:
Comunicação
São os satélites com maior valor comercial, pois fazem a
distribuição de sinais de telefone, internet e TV. Em geral, ficam em órbita
geoestacionária — se deslocam sobre o Equador de um ponto fixo, acompanhando a
rotação do planeta, a 35 mil quilômetros da Terra.
Observação da Terra
Podem ter diferentes utilidades dependendo do equipamento
acoplado a eles, que vão de câmeras de alta-resolução a sensores. Ficam em
órbitas mais baixas, entre 600 e 700 quilômetros, e são muito velozes. Também
podem ter órbita polar — como o nome diz, deslocam-se no sentido norte-sul,
cruzando o Equador em diferentes longitudes e mapeando todo o planeta.
Militares
Com sensores infravermelho, podem identificar alvos no
escuro ou camuflados. São também muito precisos, capazes de fotografar
territórios com precisão de centímetros.
Pesquisa Espacial
São satélites com telescópios acoplados capazes de fornecer imagens do espaço.
O mais conhecido é o Hubble,
em órbita desde 1990, a 600 quilômetros da superfície terrestre.
Navegação
Os mais famosos são os GPS, controlados pelo Departamento
de Defesa dos Estados Unidos, que compõem uma constelação de 24 satélites
capazes de detectar a posição de receptores na Terra. Costumam ficar em órbita
média, entre 1000 e 35.700 quilômetros da Terra.
Fonte: Site da Revista Galileu - https://revistagalileu.globo.com
A matéria é interessante no sentido de despertar a curiosidade dos jovens e da sociedade brasileira de um modo geral sobre a temática espacial, especialmente sobre satélites.
ResponderExcluirApoiada nos depoimentos de dois grandes pesquisadores brasileiros, o Dr. Chammon e a Dra. Mantelli, a matéria elenca alguns tópicos que são motivo de preocupação, mas que são lugar comum no cotidiano de um programa que é o 4º ou 5º programa espacial mais antigo do mundo, quais sejam: a dependência tecnológica, a baixa frequência de entregas, a necessidade de mais satélites, a necessidade de satélites radares, a potencialidade de pequenos satélites (mais baratos e de produição mais rápida) para suprir nossas necessidade, a questão da falta de recuros, etc.
No entanto, a matéria passa ao largo do grande entrave do PEB: A [baixa capacidade] de Governança e de Gestão. Desse modo, cai no lugar comum e acaba reproduzindo o mantra (ou justificativa honrosa) de que o problema é a falta de recurso, quando, na verdade, é falta de governança e de gestão que geram todas as mazelas do "patinho feio" [Falcão, E. 20??].
Além dessa superficialidade de entendimento do problema, existem algumas afirmações da matéria que não condizem com a realidade dos fatos, dentre outros:
1) "O Brasil tem hoje 17 satélites artificiais ativos, TODOS FEITOS OU OPERADOS EM PARCERIA COM OUTROS PAÍSES" - Em, verdade, os longevos e bem projetados SDS-1 e SCD-2 são projetos totalmente nacionais (exceto pelos componentes adquiridos no mercado internacional) e são exemplo da qualidade dos nossos engenheiros;
2) "um geoestacionário de defesa e comunicação estratégica (SGDC), lançado em 2017 junto com a França" - Em verdade, o Brasil comprou o satélite que foi todo fabricado e integrado na França, não sendo assim uma parceria.
Aqui tratamos com maior profundidade sobre esse tema: https://brazilianspace.blogspot.com/2019/11/artigo-revisao-da-realidade-brasileira.html