Eles Gostam de Ciência e Desafios
Olá leitor!
Segue abaixo uma interessante matéria publicada na edição
de março de 2013 da “Revista Pesquisa FAPESP” destacando que o avanço do Brasil em Olimpíadas Científicas movimenta estudantes do ensino médio e ajuda a formar
novos pesquisadores.
Duda Falcão
POLÍTICA C&T
Eles Gostam de Ciência e Desafios
Avanço do país em olimpíadas científicas movimenta
estudantes
do ensino médio e ajuda a formar novos pesquisadores
FABRÍCIO MARQUES
Edição 205 - Março de 2013
© LÉO RAMOS
O professor do ITA Ronaldo Pelá (à frente) e dois de seus alunos, Ivan Guilhon (sentado) e Cássio Sousa(em pé): medalhas olímpicas e gosto pela pesquisa |
Primeiro
brasileiro a ganhar uma medalha na Olimpíada Internacional de Física (bronze em
2002, na Indonésia), Ronaldo Pelá, hoje com 27 anos, diz que a experiência de
disputar competições científicas na adolescência teve grande influência em sua
decisão de se tornar um pesquisador – ele é professor do Departamento de Física
do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos. “Isso
foi decisivo para que eu descobrisse minha vocação”, diz Pelá, que concluiu o
doutorado em 2011 com bolsa da FAPESP. A participação em olimpíadas durante o
ensino médio, ele diz, é um tremendo estímulo para buscar conhecimento avançado
e tomar gosto por desafios intelectuais, habilidades valiosas em muitas áreas,
sobretudo na carreira científica. “A rotina incessante de provas faz com que, a
certa altura, você perca completamente o medo de fazer provas”, recorda-se. No
ano passado, Pelá recebeu o Prêmio de Melhor Artigo de Jovem Cientista, durante
a Conferência Internacional de Física de Semicondutores realizada na
Eidgenössische Technische Hochschule Zürich (ETH), em Zurique, na Suíça.
Atualmente é um dos líderes do Grupo de Materiais Semicondutores e
Nanotecnologia (GMSN) do ITA, em que trabalha com a simulação de materiais
semicondutores magnéticos.
Esse grupo, não
por acaso, conta com dois alunos de iniciação científica que acumularam
medalhas em olimpíadas científicas. É que Pelá sempre se interessou em conhecer
medalhistas que vão estudar no ITA e, há alguns anos, foi um dos criadores de
um grupo de estudos que ajuda alunos de graduação a participar de um prêmio
para jovens físicos organizado anualmente pelo Instituto de Física Teórica
(IFT) da UNESP. No ano passado, o aluno de engenharia Ivan Guilhon Mitoso
Rocha, de 21 anos, foi o primeiro colocado na competição do IFT e se diz
propenso a seguir carreira acadêmica. “Quero fazer mestrado em física. Fiz
recentemente um estágio em tecnologia da informação numa instituição financeira
e concluí que não é o que pretendo fazer no futuro”, afirma Ivan, que desenvolve
um trabalho de iniciação científica sobre a liga de três materiais, o grafeno,
o siliceno e o germaneno. Cearense de Fortaleza, sua coleção de medalhas inclui
uma prata na Olimpíada Internacional de Física (México, 2009), ouro na
Brasileira de Física e bronze nas brasileiras de Química e Matemática. Já o
paulista Cássio dos Santos Sousa, de 19 anos, balança entre a carreira
acadêmica e a iniciativa privada. Ainda acha cedo para decidir. “Participar de
olimpíadas dá uma bagagem enorme”, afirma Cássio, que ganhou medalha de prata
na Olimpíada Internacional Júnior de Ciências (Coreia do Sul, 2008), bronze na
internacional de Física (Croácia, 2010) e ouro nas olimpíadas brasileiras de
Física e de Robótica, entre outras. Sua pesquisa de iniciação científica é sobre
o grafano, variante do grafeno. “Uma característica comum dos medalhistas é que
eles gostam de ciência e de desafios. Esse gosto estimula o autodidatismo, eles
buscam o conhecimento por conta própria”, diz Lara Kühl Teles, professora do
ITA e uma das líderes do grupo de pesquisa, nucleado em 2007 por ela no âmbito
do programa Jovens Pesquisadores em Centros Emergentes, da FAPESP, e pelo
professor do ITA Marcelo Marques.
O exemplo do
ITA é revelador do espaço e da importância que as olimpíadas científicas vêm
conquistando no Brasil. A organização de olimpíadas regionais e a preparação
dos alunos para as disputas internacionais, feitas em geral com o suporte de
universidades, vêm elevando o desempenho do Brasil no quadro de medalhas,
criando um contraponto à má performance do país em rankings internacionais
de aprendizagem (ver Pesquisa FAPESP nº 153). O
professor Euclydes Marega Júnior, do Instituto de Física de São Carlos da USP,
há 14 anos participa da organização da Olimpíada Brasileira de Física e prepara
a equipe nacional na olimpíada internacional da disciplina. Ele conta:
“Aprendemos com a experiência, reforçamos o treinamento dos alunos e o
desempenho brasileiro cresceu bastante desde o bronze do Ronaldo Pelá, em 2002.
Nos últimos dois anos conseguimos ouro e prata”. Essa performance se
repete em outras competições. Na Olimpíada Internacional de Matemática o Brasil
conquistou no ano passado uma medalha de ouro, uma de prata e três de bronze,
desempenho superior ao de 2010 e 2011, quando não levou ouro. Já na Olimpíada
Internacional de Química de 2012, os brasileiros obtiveram uma prata e três
bronzes.
© AFP PHOTO / VALERIE
KUYPERS
Estudantes de mais de 100 países participam das provas da Olimpíada Internacional de Matemática, em Amsterdã (2011): os medalhistas brasileiros se tornam médicos, engenheiros e pesquisadores |
Outro
exemplo dessa profissionalização vem de um time de jovens engenheiros, na
maioria formados pela Escola Politécnica da USP, que montou uma empresa para
treinar o time brasileiro da Olimpíada Internacional Júnior de Ciências (IJSO)
e do Torneio Internacional de Jovens Físicos (IYPT). A B8 Projetos Educacionais
aproveita-se da experiência de vários de seus sócios, que disputaram essas
olimpíadas quando estavam no ensino médio. “Faltam estímulo e desafio para os
alunos mais brilhantes e estamos ajudando a reduzir esse problema”, diz o
engenheiro eletrônico Márcio Martino, um dos sócios, que tem no currículo uma
medalha de ouro no IYPT Brasil, além de prata e bronze na Olimpíada Brasileira
de Física. Desde 2007, a empresa criou uma etapa nacional da IJSO, para
selecionar a equipe da competição internacional, que no ano passado foi
disputada no Irã – o Brasil conquistou 1 medalha de ouro, 3 medalhas de prata e
2 medalhas de bronze, além de um inédito ouro na prova experimental. Em 2011
passou a organizar também a etapa brasileira do IYPT, competição de formato
diferente do tradicional. Vinte times de várias cidades do Brasil instalam-se
num auditório em São Paulo e participam de provas práticas, em que um time
tenta resolver um problema, o segundo time questiona a solução e um terceiro
avalia e questiona o desempenho dos dois primeiros, sob o olhar de um júri.
Cada um dos cinco melhores times fornece um representante para o Torneio
Internacional.
Naturalmente,
não é só o ambiente acadêmico que se beneficia dos talentos revelados. “Temos
medalhistas que se tornaram médicos, engenheiros, professores, e há os que
seguiram carreira acadêmica”, diz Nelly Carvajal, secretária da Olimpíada
Brasileira de Matemática (OBM), promovida pelo Instituto de Matemática Pura e
Aplicada (Impa). O próprio Impa se abastece desses talentos. O coordenador da
OBM, Carlos Gustavo Moreira, de 40 anos, ganhou ouro (China, 1990) e bronze
(Alemanha, 1989) na Olimpíada Internacional de Matemática. O matemático Artur
Ávila, que se divide entre o Impa e o Institut de Mathématiques de Jussieu, em
Paris, ganhou ouro na competição (Canadá, 1995). Ávila é apontado como
candidato à Medalha Fields, a mais importante honraria para matemáticos com
menos de 40 anos.
É certo que
o reconhecimento numa olimpíada internacional tornou-se uma credencial
poderosa, capaz de garantir bolsas de estudo em bons colégios do ensino médio e
propostas de emprego após a graduação. “As olimpíadas se mostraram uma
excelente maneira de selecionar os melhores e isso é reconhecido por grandes
empresas e instituições de pesquisa do mundo inteiro”, afirma Ricardo Anido,
professor do Instituto de Computação da Unicamp, que participa da organização
da Olimpíada Brasileira de Informática e das maratonas universitárias da
disciplina, realizadas pela Sociedade Brasileira de Computação, e também ajuda
a preparar a equipe brasileira na Olimpíada Internacional de Informática. Anido
observa que o que mais atrai medalhistas são empregos em conglomerados como o
Google e o Facebook. “As empresas disputam os profissionais talentosos e
algumas delas agem de forma que considero pouco ética. Até recentemente, uma grande
empresa tinha o costume de convidar todos os finalistas da maratona brasileira
de computação para estágios, embora a maratona fosse patrocinada por uma
concorrente. Agora pararam com isso”, diz Anido.
Gabriel
Dalalio, de 21 anos, cursa o último ano de engenharia de computação no ITA e
passa atualmente uma temporada de três meses na Califórnia, em estágio no
Facebook. “Pretendo trabalhar com programação e estou avaliando a experiência
nos Estados Unidos para decidir se fico aqui ou trabalho no Brasil”, diz o
estudante, que já ganhou medalhas de bronze em duas edições da Olimpíada
Internacional de Informática. “Coloquei isso no meu currículo, e informei que
vou participar da maratona mundial, em julho, na Rússia. Meu chefe no Facebook
disse que também já foi para a maratona. Eles têm como foco o pessoal com bons
resultados da informática. Medalha de bronze eles sabem bem o que é”, afirma.
© LÉO RAMOS
Matheus Camacho, que conquistou um ouro inédito na Olimpíada Internacional Júnior de Ciências, no Irã: queixas sobre o conteúdo repetitivo do ensino fundamental |
Um traço
comum de muitos medalhistas é a disposição para ajudar estudantes mais jovens
que começam a disputar olimpíadas. Ricardo Anido conta que costuma convocar
alunos premiados para ajudar a formular questões para as provas e eles aceitam
prontamente. “Recentemente, passamos quatro dias em Tiradentes debruçados sobre
questões da Olimpíada Brasileira de Informática. No final, eles é que
agradeceram”, diz o professor. Régis Prado Barbosa, cearense de 22 anos,
estudante de engenharia da computação do ITA, descobriu sua vocação de
professor de matemática ajudando a preparar estudantes de ensino médio para a
Olimpíada Internacional de Matemática – ele participou de várias edições da
competição, levando duas pratas (Vietnã, 2007, e Espanha, 2008) e um bronze
(Eslovênia, 2006). “Fiquei impressionado com essa experiência. Me divirto muito
criando problemas difíceis e me satisfaço mais ainda quando vejo um aluno
encontrando uma solução melhor do que a minha. Escolhi a engenharia de
computação para abrir horizontes, mas descobri que gosto mesmo de ser
professor”, afirma.
Uma grande
preocupação, contudo, ronda os organizadores das olimpíadas nacionais: a
tendência de medalhistas deixarem o Brasil já na graduação. “Estamos perdendo
talentos”, diz Euclydes Marega Júnior. “Nós organizamos as olimpíadas, ajudamos
a identificar os talentos precocemente e eles se candidatam para ingressar em
universidades estrangeiras como Harvard e o MIT e são aceitos”, queixa-se. “É
relativamente fácil para um medalhista conseguir uma bolsa na École
Polytechnique e ir estudar na França, com uma bolsa de € 1.000 mensais. Levam
nossos talentos por € 1.000! Precisamos criar mecanismos para mantê-los no
Brasil. Eles precisam de atrativos para ficar. Isso não se resume a bolsas, mas
inclui também oferecer desafios a que possam se dedicar, além de bons tutores”,
afirma o professor. Para Ricardo Anido, os medalhistas deveriam poder ingressar
nas universidades brasileiras sem precisar fazer vestibular. “Seria um estímulo
para que ficassem. As universidades estrangeiras os admitem apenas analisando o
currículo”, diz.
O estudante
Gustavo Haddad Braga, 18 anos, dono de uma das mais extensas coleções de
medalhas do país – são 50 medalhas nacionais e 7 internacionais, incluindo ouro
na Internacional de Física (Tailândia, 2011) –, deixou recentemente o Brasil
para fazer graduação no Massachusetts Institute of Technology. Criado em São
José dos Campos, ele chegou a cursar medicina na USP por seis meses, enquanto
esperava o processo seletivo no MIT. Aprovado, conseguiu uma bolsa do CNPq para
fazer a graduação nos Estados Unidos. Ele já acalentava o projeto de estudar
fora antes de seu desempenho olímpico no ensino médio. “A primeira vez que ouvi
falar no MIT foi na sétima série do ensino fundamental, quando conheci o pai de
um estudante aprovado no MIT. Pensei comigo: o MIT deve ser um lugar legal”,
recorda-se. Ele ainda não sabe se cursará computação ou engenharia elétrica no
MIT — a escolha só é feita depois do primeiro ano de curso —, mas planeja
voltar para o Brasil depois de se formar. Com verve empreendedora, ajudou a
criar com colegas três negócios promissores. Um deles é um site com
dicas sobre como se candidatar a vagas em universidades norte-americanas. Outro
é um serviço que busca aproximar estudantes com alto potencial de empresas
interessadas em patrocinar seus estudos no exterior que, em troca, receberiam o
estudante como estagiário por um período ao final do curso. O terceiro é um
aplicativo capaz de colocar em contato, de forma discreta, amigos do Facebook
com um interesse comum: a procura de um namorado/a. A ideia desse serviço
surgiu no ano passado, quando ele participou de um campeonato de programação e
empreendedorismo em Miami, que lhe rendeu um prêmio de US$ 50 mil, investido no
negócio.
A
experiência pessoal de um medalhista de olimpíada científica é incomum. Gustavo
Haddad Braga, por exemplo, conhece países que poucos jovens de sua idade
visitaram. Entre os lugares onde já participou de olimpíadas incluem-se nações
como Coreia do Sul, Azerbaijão, China, Croácia, Polônia e Tailândia. A rotina
de estudos é árdua e exige não apenas disponibilidade de tempo como também
interesse por desbravar conteúdos que só seriam explorados no ensino superior.
O mais novo destaque entre os medalhistas brasileiros chamou atenção justamente
pela facilidade em lidar com conhecimento avançado. Matheus Camacho, de 14 anos,
conquistou uma medalha de ouro na Olimpíada Internacional Júnior de Ciências,
disputada no Irã em dezembro. Acertou todas as questões de física, química e
biologia da prova prática, baseada num experimento de eletroforese (técnica de
separação de moléculas) de DNA, e também ganhou prata na classificação geral
individual, onde o desempenho do aluno é avaliado nas três provas: objetiva,
teórica discursiva e experimental.
O feito
impressiona por se tratar de um aluno que acaba de ingressar no 9º ano do ensino
fundamental — os outros dois membros de sua equipe eram alunos do ensino médio.
Só no ano passado teve o primeiro contato com conteúdos de química e biologia –
física, ele já conhecia, estudando por conta própria. Matheus, claro, gosta de
estudar, mas tem uma relação ambígua com a escola. De manhã frequenta o 9º ano
do Colégio Objetivo, em São Paulo, e acha as aulas muito repetitivas,
principalmente de física, química e biologia. Só considera que esteja
aprendendo coisas novas em português, que, admite, não é a sua matéria
preferida. Já na parte da tarde assiste a aulas preparatórias avançadas para
olimpíadas no mesmo colégio, inclusive aos sábados – e é nelas, que incluem
tópicos como cálculo diferencial, que ele se sente desafiado. À noite estuda uma
ou duas horas – mas faz questão de manter contato com amigos da escola em que
iniciou o ensino fundamental, faz exercícios físicos diariamente e desde
criança é fã dos Beatles. “Ele tinha uma queixa de desinteresse pela escola
porque considerava repetitivo”, diz a mãe, Simone. “A gente tenta dar o suporte
de que ele precisa. Se ele pede um livro, eu compro. Quando me disse,
confiante, que iria para o Irã, mesmo antes da última seletiva nacional, fiquei
admirado com sua convicção e só pude encorajá-lo, claro. No fundo, creio que
ele já sabia que iria atingir seu objetivo”, afirma o pai, Carlos Henrique,
coronel do Exército. “Conheci gente do mundo inteiro, foi uma experiência muito
interessante”, diz Matheus, que ainda não sabe que carreira quer cursar, mas gosta
de explorar os sites de Harvard e do MIT e mantém as duas
instituições no seu radar.
Fonte: Revista Pesquisa FAPESP - Edição 205 – Março de 2013
Comentário: Muito interessante essa matéria e gostaria de
agradecer ao leitor paulista José Ildefonso por nos ter enviado a mesma.
SOU PESQUISADOR DA FISICA E DA BIOFISICA. TUDO NO UNIVERSO SÃO SISTEMAS E BIOSISTEMAS. DO ÁTOMO ATÉ AS GALAXIAS OS SISTEMAS, TANTO DO MICRO COMO DO MACROCOSMO ,POSSUEM UM CENTRO. DEUS ESCREVE NA NATUREZA NA FORMA DE CÓDIGOS.
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