Artigo: É Possível Mensurar o Retorno do Investimento Público no Setor Espacial no Brasil?
Olá leitores e leitoras do BS!
Segue abaixo um interessante artigo postado hoje (06/04) no site “MundoGEO”, questionando se é possível ‘mensurar’ o retorno do investimento público no ‘Setor
Espacial no Brasil’?
Um artigo muito interessante
que não me sinto confortável em opinar. Diante disto, convido a todos vocês leitores e
leitoras do BS a acompanhar amanhã (07/04) a noite (20:00h) na nossa coluna 'ESPAÇO
SEMANAL' das quintas-feiras realizada na Brazilian Space TV (veja aqui), a opinião embasada do Prof. Rui
Botelho sobre este e outros assuntos.
Brazilian Space
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É Possível Mensurar o Retorno do Investimento Público
no Setor Espacial no Brasil?
Os investimentos realizados pela AEB provocaram um
retorno entre 9 (nove) e 16 (dezesseis) vezes os valores iniciais, demonstrando
o potencial de geração de benefícios socioeconômicos da tecnologia espacial
Por Michele Cristina Silva Melo*
06/04/22 15h54
O texto a seguir é um extrato do artigo “Uma tentativa
de mensurar o retorno do investimento público no setor espacial brasileiro” de
autoria de Michele Cristina Silva Melo e Lúcia Helena Michels Freitas. O artigo
completo pode ser encontrado aqui.
O setor espacial é reconhecido por ser um dos setores
mais transversais e de maior valor agregado existente. Diversos países têm
realizado investimentos nessa área como forma de promover o desenvolvimento
socioeconômico e as perspectivas futuras para o setor são extremamente
positivas, podendo atingir mais de US$ 1 trilhão de dólares já em 2040 (Morgan
Stanley, 2020).
Justamente por isso é importante ter medidas de
mensuração do seu impacto na economia, como forma de demonstrar os resultados
em termos de benefícios não apenas econômicos, mas também sociais.
No caso brasileiro, a adoção de metodologias de cálculos
de retorno de investimentos é dificultada pela falta de informações completas
sobre a indústria espacial, tais como: a falta de um código específico de
classificação econômica, a falta de um estudo sobre quais empresas efetivamente
compõem o setor espacial no Brasil (upstream e downstream) e informações
detalhadas sobre produção, exportação e emprego. Nesse cenário, como uma
primeira tentativa de mensurar o retorno dos investimentos no Brasil optou-se
por utilizar as taxas de impacto, direto e indireto, calculadas pela London
Economics (2015) para países pertencentes à Agência Espacial Europeia.
Compreende-se que a situação do Brasil é completamente
diferente dos países que compõe a ESA. Contudo, as características do setor
espacial são as mesmas, não importando o país que se analisa:
·
O setor espacial no Brasil também é um setor de
fronteira tecnológica;
·
Os projetos são de longo prazo, alto custo e
risco;
·
Geram impactos em diversos outros segmentos
econômicos;
·
Os investimentos são realizados pelo setor
público;
·
O INPE e o IAE atuam como prime contractors,
subcontratando a indústria para o desenvolvimento dos projetos; e
·
Grande parte das empresas do setor espacial no
Brasil não operam exclusivamente no setor espacial, mas tem o setor espacial
como fonte secundária de operação, novamente dificultando o acesso a dados
sobre produção, emprego, exportação e importação.
Assim, como forma de ter uma primeira medida do impacto
dos investimentos públicos realizados pela Agência Espacial Brasileira no setor
espacial, optou-se pela aplicação de taxas já calculadas para os projetos
financiados pela AEB durante o ano de 2020, a saber, os projetos CBERS-4ª,
AMAZONIA-1 e VLM-1.
A tabela a seguir lista os projetos e respectivos valores
finais, desconsiderando os custos indiretos (custos indiretos são os valores
destinados para manutenção dos institutos, como por exemplo, aluguéis,
manutenção e limpeza de imóveis, fornecimento de energia elétrica e água,
serviços de comunicação de dados e telefonia, taxa de administração
e consultoria técnica, contábil
e jurídica):
Tabela 1 – Projetos de Investimento da AEB Para 2020,
Valores a Serem Excluídos e Valores Finais
(*) Na LOA 2020, as despesas do VLM-1 são custeadas por
duas ações orçamentárias, 21AG – Desenvolvimento de sistemas espaciais e 21AI –
Infraestrutura e aplicações espaciais. Os custos indiretos desse projeto são
computados na ação 21AI.
Assim, foram aplicadas as taxas referentes ao impacto
direto, da ordem de 3 a 4 vezes; ao impacto indireto, da ordem de 6 a 12 vezes;
e o impacto total.
Para o caso do impacto direto, em um cenário mais
conservador (considerando o efeito de 3 vezes para cada R$ investido) os
investimentos totais realizados em 2020, na ordem de R$ 57.544.822,00, geraram
um retorno de R$ 172.634.466,00. No caso brasileiro, é mais interessante a
adoção de um cenário conservador, em virtude da atuação dos institutos públicos
como prime contractors e a não a contratação direta da indústria. Também
se destaca que, no caso do CBERS-4A, o investimento público se deve apenas a
50% do satélite, uma vez que o desenvolvimento seria 50% de responsabilidade da
China.
Para o caso do impacto indireto, o retorno para o cenário
conservador (considerando o multiplicador de 6 vezes por cada R$ investido)
somou R$ 345.268.932,00. Os impactos indiretos medem os efeitos gerados pelo
investimento no setor espacial em outros setores econômicos, que não o
espacial. No caso dos três projetos, o Amazônia-1 é o que possui a maior parte
dos seus componentes produzidos ou desenvolvidos no Brasil, o que contribui
para a maior geração de efeitos indiretos.
Dessa forma, sendo conservador, o total investido pela
AEB em 2020, desconsiderando os custos indiretos no valor de R$ 57.544.822,00,
gerou um efeito total de R$ 517.903.398,00. Ou seja, um efeito total de 9 vezes
sobre os valores iniciais investidos. Em um cenário mais otimista, o efeito
total seria de R$ 920.717.512,00, um efeito de 16 vezes sobre o valor inicial.
Percebe-se que mesmo em um cenário conservador, os números mostram o real
impacto do setor espacial sobre a economia e como driver de desenvolvimento
socioeconômico.
Tabela 2 – Impactos Diretos e Indiretos do
Investimento Público no Setor Espacial.
Um fator que deve ser levado em consideração e que pode
diminuir o efeito total calculado é o fato de que os pagamentos relacionados
aos lançamentos tanto do CBERS-4A quanto do Amazonia-1 serão feitos a empresas
no exterior, o que não gera os efeitos internamente no país.
Referências
Morgan Stanley. Space: investing in the Final Frontier.
Disponível em: https://www.morganstanley.com/ideas/investing-in-space. Acesso
em: 21 de julho de 2020.
London Economics. Return from public space investments:
an initial analysis of evidence on the returns from public space investments.
October, 2015.
*Michele Cristina Silva Melo – Servidora da
agencia espacial brasileira, cedida ao Inep no cargo de Diretora de Avaliação
da Educação Básica. Membro dos comitês de economia espacial e transporte
espacial da International Astronautical Federation (FAA). Professora da
disciplina Cadeia Produtiva Aeroespacial (Economia Espacial) do Mestrado
Profissional da Economia/UnB (convênio AEB/UnB).
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