Base de Alcântara: O Que Falta Para Decolar
Olá leitor!
Segue abaixo uma matéria publicada hoje (22/09) no site
da “Revista VEJA” tendo como tema a Base de Alcântara e o que falta para a mesma
decolar.
Duda Falcão
CIÊNCIA
Base de Alcântara: O Que Falta Para Decolar
Por Eduardo Geraque
Revista Veja
22 mar 2019, 07h00
Único resultado concreto da visita do presidente Jair
Bolsonaro aos EUA, o acordo envolvendo a base
espacial brasileira em Alcântara, no Maranhão, ainda tem futuro
incerto. Localizada num ponto estratégico do globo, próxima da Linha do
Equador, a instalação ainda carece de infraestrutura, investimentos e
negociação política para que possa entrar num mercado estimado em três bilhões
de dólares ao ano.
O que foi acertado em Washington — segundo relatos do
embaixador Sérgio Amaral a empresários brasileiros presentes na cerimônia de
assinatura — não significa uma cessão do local para os americanos, mas é um
primeiro passo para que empresas do país presidido por Donald Trump possam
alugar as instalações daqui para lançamentos espaciais.
O ponto principal do acordo é salvaguardar a tecnologia
dos Estados Unidos. Pelo texto, não haverá transferência de conhecimento entre
os dois países. O grande medo dos EUA é de que suas técnicas sejam copiadas e
usadas para fins militares. Há dez anos, o programa espacial brasileiro — que
incluía a montagem dos satélites Cbers, em parceria com a
China — sofreu problemas de importação de peças americanas. A venda foi barrada
porque havia receio de que a tecnologia caísse nas mãos dos chineses.
Foto: Adriano Machado/Reuters
Vista aérea das instalações do Centro de Lançamento
de
Alcântara (CLA), no Maranhão - 14/09/2018.
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Empresários e especialistas brasileiros do setor espacial
avaliam que o novo acordo vai na direção certa ao tentar alavancar Alcântara,
uma base subutilizada há 15 anos, desde a tragédia que matou 21 pesquisadores
brasileiros (leia mais na reportagem abaixo). Mas todos são
unânimes em dizer que o país ainda precisa fazer muita lição de casa até
conseguir lucrar com o negócio, o que não ocorreria antes de três ou quatro
anos, tempo necessário para que todos os trâmites sejam acertados — se não
houver imprevistos. Passo semelhante chegou a ser dado em 2000, durante o
governo de Fernando Henrique Cardoso, mas a iniciativa foi barrada pelo Congresso
Nacional dois anos depois.
Para que o mesmo problema não se repita, o acordo
assinado neste ano, que começou a ser costurado ainda no governo de Michel
Temer, não prevê desta vez que os americanos tenham acesso exclusivo a
determinadas áreas dentro de Alcântara. Agora, desde que respeitem a
propriedade intelectual americana, brasileiros poderão acompanhar todos os
processos. Com isso, o governo Bolsonaro espera que a crítica anterior, de que
o texto prejudicaria a soberania nacional, não volte a ser motivo de debate
entre os congressistas.
“Um acordo de salvaguardas, se bem conduzido, é, sim, de
interesse do Brasil”, afirma Waldemar de Castro Leite Filho, especialista e
consultor do setor espacial. Mas ele faz ressalvas: “Se não forem resolvidos os
problemas que paralisaram o nosso programa espacial, dificilmente esse acordo
trará algum proveito concreto”, diz.
O principal obstáculo, segundo o consultor, é a falta de
investimentos. A posição geográfica de Alcântara é estratégica principalmente
para o lançamento de um tipo específico de satélite, colocado no espaço em
foguetes robustos. Atualmente, a estrutura da base não permite a operação. Não
há estimativas orçamentárias específicas para essa adaptação, mas a FAB (Força
Área Brasileira) estimou no ano passado que a área precisaria de 70 milhões de
reais para ser modernizada. Sem isso, o local seria menos interessante para ser
locado por empresas estrangeiras. Na última década, a União destinou em média
28 milhões de reais por ano ao programa espacial brasileiro.
Localização Estratégica
A posição privilegiada de Alcântara, por estar perto da
Linha do Equador, é que gera a cobiça de outros países pelo local, como é o
caso dos Estados Unidos. A situação geográfica peculiar é interessante
principalmente para colocar em órbita um tipo de específico de satélite,
chamado de geoestacionário, usado para comunicação. Esses equipamentos, mais
pesados, precisam de foguetes robustos, que exigem controle absoluto do consumo
de combustível. A partir do Maranhão a economia do líquido seria de 23% em
relação a um procedimento semelhante feito pelo Cabo Canaveral, na Flórida — o
local no Brasil permite usar ao máximo a rotação da Terra para impulsionar os
lançamentos. No entanto, a instalação brasileira não tem condições de fazer
esse tipo de operação atualmente.
“Para satélites de imageamento terrestre, Alcântara não é
o melhor lugar para soltar. Estes equipamentos precisam ser colocados perto dos
polos para uma cobertura global. Por isso, bases muito próximas da Linha do
Equador não são as mais indicadas”, afirma o empresário Lucas Fonseca, CEO da
Airvantis, empresa do setor espacial.
Porém, além da posição geográfica, Alcântara tem outras
características importantes para o setor espacial. As condições meteorológicas
daquele trecho do litoral do Maranhão, com ventos em níveis aceitáveis e regime
de chuva definido, permitem que os lançamentos ocorram praticamente o ano todo.
Esses benefícios foram decisivos para a construção do
centro espacial no Maranhão. Depois de muitas discussões e estudos detalhados
sobre o litoral brasileiro, a área para implantação das instalações foi
desapropriada em 1980. Chegou-se a cogitar uma ampliação da base da Barreira do
Inferno, em Natal, no Rio Grande do Norte, mas limitações físicas na região
impediram que a ideia prosperasse. O lugar era pequeno para ser expandido.
O Centro de Lançamento de Alcântara foi criado em março
de 1983 por um decreto assinado pelo presidente João Figueiredo. O objetivo era
executar e apoiar as atividades de lançamento e rastreamento de equipamentos
espaciais, além de realizar e testar experimentos da Aeronáutica relacionados
com a Política Nacional de Desenvolvimento Aeroespacial da época.
A base tem uma área de 620 quilômetros quadrados. Para a
construção das instalações, cerca de 300 famílias foram transferidas do local.
De acordo com a Força Aérea Brasileira, apenas um terço do espaço é utilizado
para fins operacionais. O restante é voltado para os reassentamentos e
preservação ambiental.
Hoje, Alcântara conta com uma infraestrutura tímida, que
permite apenas o lançamento de foguetes com experimentos científicos a bordo,
como o sub-orbital VS-30, que partiu às 13h43 do dia 9 de dezembro do ano
passado. Quase 700 pessoas participaram do projeto.
Tragédias e Fracassos
Foto: Evaristo Sá/AFP
Explosão do VLS-1 (veículo lançador de satélites) matou
21 pessoas, entre técnicos, engenheiros e cientistas, no
Centro de Lançamento
de Alcântara (MA) - 25/08/2003.
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Em três décadas, ocorreram mais reveses do que sucessos
no centro de Alcântara. No dia 22 de agosto de 2003, às 13h30, a explosão do
VLS-1 (veículo lançador de satélites) entrou para a história como o pior
acidente do Programa Espacial Brasileiro. Na tragédia, 21 pessoas, entre
técnicos, engenheiros e cientistas, perderam a vida. As investigações mostraram
que um problema em uma pequena peça que ligava o motor causou a
explosão. Desde então, a base está subutilizada — não houve nenhum
lançamento de satélite ao espaço no período.
Ainda em 2003, um tratado assinado entre o Brasil e a
Ucrânia previa que a Alcântara não apenas seria a sede de uma empresa criada
entre os dois países, como dali partiria o Cyclone-4, um foguete que seria
desenvolvido pelos ucranianos. Em 2015, a parceria foi encerrada sem nada
ter sido feito. As instalações da Alcântara Cyclone Space ainda existem no
Maranhão, mas terão que ser readaptadas para a utilização em outros projetos.
Na prática, elas não têm mais serventia. O fracasso custou mais de 500 milhões
de reais aos cofres públicos.
As dificuldades operacionais para o lançamento de
satélites de grande porte também impuseram limitações a uma parceria com a
China, batizada como China-Brazil Earth Resources Satellite (Cbers). As cinco
operações, feitas entre 1999 e 2014, não ocorreram no Brasil, mas no Centro de
Lançamento de Taiyuan (TSLC), que fica a aproximadamente 750 quilômetros de
Pequim, na província chinesa de Shanxi.
No caso do lançamento do Cbers-3, em 2013, uma falha no
foguete durante o voo fez com que o satélite não entrasse em órbita e se
perdesse. Cada equipamento custou por volta de 50 milhões de dólares.
Futuro Espacial
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Foguete é visto nas instalações do Centro de Lançamento
de Alcântara (CLA), no Maranhão - 14/09/2018.
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Mesmo com o recente acordo assinado entre Brasil e
Estados Unidos, não há nenhuma garantia de que os americanos usarão o centro de
Alcântara. Como atualmente os lançamentos de satélites são negócios movidos
principalmente pelo setor privado, sem empresas do setor interessadas nas
instalações brasileiras não haverá lançamentos no local.
“Este acordo é muito importante para um mercado que ainda
não existe. É uma tendência”, analisa Lucas Fonseca, CEO da Airvantis, empresa
do setor espacial. “A importância de se usar a base brasileira é posicionar
geopoliticamente o país como um ator da área espacial.”
Para isso, o local precisaria receber adaptações e
modernizações necessárias para o lançamento de qualquer tipo de foguete, com
plataformas específicas para cada equipamento.
As salas de comando e vários outros tipos de serviços
também precisam ser atualizados. Se conseguir fazer as implantações, pelas
estimativas do setor privado, o Brasil poderia abocanhar 10% do mercado mundial
de lançamentos espaciais em 5 anos, algo em torno de 1 bilhão de reais
anualmente. “As empresas de pequeno porte, as enxutas startups, estão
elaborando projetos de negócios que envolvem desde os satélites convencionais
até turismo espacial, passando por um conjunto de produtos que poderão ser
oferecidos em até dez anos, como a exploração de asteroides”, diz Fonseca.
Foto: Evaristo Sá/AFP
Vista interna de torre de lançamento de foguetes, localizada
no CLA - Centro de Lançamento de Alcântara (MA) - 14/09/2018. |
No caso das viagens espaciais para pessoas comuns,
deslocamentos em voos suborbitais — que atingem o limite entre a atmosfera e o
espaço — podem ser uma realidade trivial em uma década. Nestes casos, os
turistas poderão experimentar, por até 17 minutos, como é sentir o efeito da
falta de gravidade.
“Alcântara tem um potencial imensurável, mas para se
tornar o que se pretende é preciso um investimento massivo do governo,
inclusive para atrair novos investidores para a região”, afirma o empresário.
Fonte: Site da Revista VEJA - 22/03/2019
Comentário: Pois é leitor, como venho dizendo, há uma excessiva
e exagerada ansiedade sobre o AST assinado pelo Brasil com os EUA, porém o
mesmo ainda não foi divulgado para Sociedade e só peru morre de véspera. Sendo
assim, vamos aguardar a divulgação para que possamos fazer uma analise embasada
sobre o mesmo. Não se discute aqui o mérito da questão, ou seja a necessidade
do Acordo, e muito menos se deve colocar a carroça na frente dos cavalos,
portanto vamos aguardar caro leitor. Entretanto, vale dizer que as questões
aqui levantadas pelo Dr. Waldemar Castro Leito Filho e pelo Eng. Lucas Fonseca devem
ser consideradas na futura analise a ser feita sobre o teor desse acordo.
Saravá meu pai.
Eu só não entendo uma coisa: (Com exceção das órbitas geoestacionárias) é mesmo tão vantajoso assim lançar foguetes do Equador? A diferença de velocidade tangencial da Terra, comparada à Flórida, é de menos de 70m/s, os custos adicionais com a logística extra (falo só de transporte, já que o ITAR torna a construção de foguetes americanos em solo brasileiro economicamente impossível) e da órbita da ISS ser inclinada em mais de 50 graus com o Equador não tornaria a economia de combustível (que corresponde a 3~5% do custo total do foguete) irrelevante para foguetes de médio e grande porte?
ResponderExcluirOlha, desde os anos 60 que os EUA tem infraestrutura de lançamento de foguetes no atol de Kwajalein (Ilhas Marshall) quase na mesma latitude que Alcântara... e ainda assim eles sempre preferiram lançar seus foguetes da Flórida! Além disso, eles também têm bases militares e aeródromos no Panamá em posições muito melhores do que Alcântara... e ainda nem sequer consideraram usar essa infra-estrutura para lançamentos espaciais comerciais ou militares! Por quê? Porque eles não precisam disso!! O custo do combustível é quase insignificante nos lançamentos atuais. Eu realmente acredito que toda essa propaganda, toda essa exageração, está escondendo algo realmente escuro. Eu gostaria muito de saber quanto esse negócio vai acabar custando aos brasileiros!! abraço
Excluirfalta a Aeronáutica, o comando maior tomar vergonha na cara !
ResponderExcluirtrabalhar com patriotismo e cobrar justiça aos governantes corruptos, que a Nação decola rapidinho.
fazendo o correto , sobrará dinheiro para fazer o PEB funcionar.